sábado, 8 de agosto de 2015

Miriam Leitão - Crescimento zero

- O Globo

O governo Dilma pode ter crescimento zero ao longo do segundo mandato. A recessão deste ano será seguida de uma pequena melhora no ano que vem, mas com o PIB entre o levemente negativo e o positivo. Nos dois anos seguintes, as previsões são de crescimento baixo. Na média, teremos um longo período de estagnação. Já a inflação, que se aproxima de 10%, deve cair no ano que vem, na previsão dos economistas.

Quando falam sobre os próximos meses, os economistas apontam alta de desemprego, inflação, aumento de inadimplência, baixa confiança e retração dos investimentos. Mas há um certo consenso de que a inflação cairá em 2016 e que o rigor da recessão diminui no ano que vem.

O economista Sérgio Vale, da MB Associados, é um dos que calculam que o país terá crescimento médio zero no segundo mandato. Para este ano, ele estima uma recessão de 2,1%, seguida de uma nova queda de 0,6% no ano que vem. Em 2017, alta de 1,4%, com aumento de 1,7% em 2018. Tudo calculado, uma média de 0,1% de crescimento anual entre 2015 e 2018.

— Como no ano passado já não houve crescimento, o país ficará praticamente cinco anos sem crescer. A boa notícia é que esse longo período de baixa atividade vai ajudar o Banco Central no controle da inflação — disse Sérgio Vale.

Ontem, o IBGE divulgou o dado que já era esperado, mas que, de qualquer maneira, impressiona: a inflação chegou a 9,56%. Sérgio Vale acha que ela deve fechar assim, encostada em 10%, este ano, mas cairá para perto de 6% no ano que vem. Essa descompressão nos preços também está na conta do economista-chefe do Banco Votorantim, Roberto Padovani, que estima o IPCA no centro da meta de 4,5%, e de Armando Castelar, do Ibre/FGV, que calcula entre 5,5% e 6%. Ou seja, os três economistas acreditam que a inflação terá um cenário mais benigno a partir do ano que vem.

— Em 2016, sai da conta o choque dos administrados, com um aumento menor da energia elétrica. Temos projeção de metade do ano com bandeira vermelha e a outra metade de bandeira amarela. Além disso, os serviços podem cair para algo na casa de 7% — disse Roberto Padovani.

A queda da inflação de serviços será consequência da piora do mercado de trabalho. A estimativa de Sérgio Vale é de que o fechamento de vagas formais medido pelo Caged vai aumentar de 590 mil, em 12 meses até junho, para próximo de 1 milhão, entre janeiro e dezembro. Pela Pnad, a taxa de desemprego pode chegar a 10%.

— Não acredito em inflação na meta no ano que vem, entre outros motivos, porque o salário mínimo terá um reajuste de 10%. A meta de 4,5% deve ficar para 2017. De qualquer forma, em dois anos, podemos ter um horizonte muito mais favorável para os preços, e isso vai ajudar na recuperação da confiança dos empresários e da economia como um todo — disse Vale.

A perda do grau de investimento é uma grande preocupação dos três economistas. Se acontecer, a recuperação será mais lenta, explica Armando Castelar. Ele diz que isso fará o dólar subir mais, pressionando a inflação, e obrigará o Banco Central a manter os juros elevados por mais tempo. Por isso, o esforço fiscal e o ajuste das contas públicas continuam sendo fundamentais.

— Pelo meu cenário, o BC começa a pensar em reduzir os juros no primeiro trimestre de 2016, quando saírem da conta em 12 meses os índices de inflação do início deste ano. Se o dólar subir mais e pressionar os preços, o BC não reduzirá os juros e isso atrasará a recuperação para 2017 — disse Castelar.

O economista também explica que parte da dívida pública interna é financiada por investidores estrangeiros. Sem o grau de investimento, eles vão vender papéis do governo brasileiro, encarecendo o custo da dívida e desordenando ainda mais as contas públicas.

Padovani acredita que a recuperação do crescimento vai começar pelo comércio internacional, antes dos investimentos. Primeiro, haverá retração nas importações, para só depois subir as exportações. Por ora, as duas coisas estão caindo, mas ele acha que, com o tempo, as vendas externas vão crescer. De qualquer forma, o país já voltou a ter superávit comercial, de US$ 4,6 bilhões de janeiro a julho deste ano. Castelar também diz que haverá ganhos com substituição de importação, e isso vai beneficiar a indústria.

Mesmo em cenários desfavoráveis, é possível tomar medidas que levem a um novo ciclo de crescimento.

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