quarta-feira, 18 de julho de 2018

Luiz Werneck Vianna: Discurso no Ato do Polo Democrático e Reformista (14/7/2018)

Proposta do pré-candidato: Geraldo Alckmin PSDB

Formado em Medicina, governou o Estado de São Paulo por quatro mandatos (2001-2002; 2003-2006; 2011-2014 e 2015-2018). Disputou a Presidência em 2006. É um dos fundadores do PSDB e preside o partido desde dezembro 2017

- Valor Econômico

Nº DO PARTIDO: 45
FORMAÇÃO: Superior Completo
IDADE: 65 anos (nascido em 07/11/1952)
WEBSITE: www.geraldoalckmin.com.br
CAMPANHA: gastos a definir
VICE: a definir

ECONOMIA
1) Dobrar a renda da população depois de um tempo pré-determinado, ainda a ser definido

2) Corrigir o FGTS pela Taxa de Longo Prazo (TLP), para garantir ganhos reais acima da inflação

3) Privatizar estatais

4) Posição ambígua sobre a venda da Petrobras. Já defendeu privatizar todos os setores da petrolífera, mas recuou

5) Criar o Imposto sobre Valor Agregado (IVA)com alíquota única cobrado no destino para substituir ICMS, ISS, PIS, Cofins e IPI

6) Manter o teto de gastos. Responsável pelo programa econômico de governo, o economista Persio Arida defende a manutenção do teto de gastos nos moldes atuais, mas diz que poderá fazer uma revisão depois de dois anos

7) Contra aumentos expressivos na carga tributária , segundo Persio Arida. O economista defende mudanças para simplificar o sistema tributário

8) Reduzir Imposto de Renda para empresas. Segundo Alckmin, a medida deve estimular novos investimentos. Ao mesmo tempo, o responsável pelo programa econômico de governodefende taxar a distribuição de dividendos e acabar com a isenção da LCA e da LCI

9) Desconstitucionalizar temas relacionados à gestão econômica do país, segundo o coordenador do programa econômico. Para Arida, a política econômica precisa ter flexibilidade. O economista fala em apresentar uma emenda constitucional transformando tudo que é pertinente à gestão pública, do ponto de vista econômico – a gestão fiscal – em leis complementares. Tudo o que for pertinente à gestão da política econômica, como gastos, tributos, teto de gastos, regra de ouro deve ir para nível infraconstitucional
SEGURANÇA
1) Defende o porte de armas para quem mora no campo. A proposta representa uma mudança de posição de Alckmin ao longo da pré-campanha, diante do crescimento de Bolsonaro

2) Aumentar o tempo de internação do menor que cometer crime hediondo, de três para oito anos, e aumentar a pena para adultos que usem menores de idade em crimes

3) Criar uma agência nacional de inteligência para combater tráfico de armas, de drogas e lavagem de dinheiro

4) Defende a intervenção federale a manutenção do Ministério da Segurança

5) Criar metas nacionais para elucidação e redução de homicídios com regras nacionais para a integração das polícias militar, civil e técnico-científica

6) Estabelecer metas e repassarmais recursos para os municípios, além de fazer parcerias na área de prevenção
PREVIDÊNCIA
1) Criar regime único para servidores públicos e do setor privado. Teto do INSS será o benefício máximo

2) Fazer a reforma da Previdência no primeiro ano do governo, com idade mínima, aumento de contribuição e manutenção do sistema de repartição, segundo o coordenador do programa econômico de governo, Persio Arida

3) Considera inviável o sistema de capitalização, segundo o coordenador do programa econômico de governo, Persio Arida. Para o economista, os custos fiscais tornam a ideia inexequível, porque aumentariam ainda mais o já elevado déficit público
SAÚDE
1) Cobrar da seguradora de saúde o atendimento feito no SUS aos segurados
EDUCAÇÃO
1) Ganhar 50 pontos no ranking do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), que afere o desempenho de estudantes em Língua Portuguesa, Matemática e Ciências. Nas contas da campanha tucana, isso faria o PIB brasileiro crescer em 1%. O prazo para alcançar o objetivo ainda não foi definido. O país ocupa a 60º posição em um ranking de 76 países elaborado pelo Pisa

2) Apoio à reforma do ensino médio feita pelo governo Michel Temer
POLÍTICA EXTERNA
1) Manter a política externa do governo Michel Temer, segundo o coordenador da área na equipe de Alckmin. Para a candidatura tucana, não há como promover uma liberalização econômica no “front” doméstico sem um esforço de ajuste a regras globais de comércio, eliminação de subsídios e parcerias com grandes blocos econômicos intercontinentais

2) Apostar na Aliança do Pacífico e na possibilidade de o Brasil ingressar no futuro na Parceria Transpacífico (TPP). Com os Estados Unidos, enquanto durar a presidência de Donaldo Trump, a perspectiva é a de identificar áreas de interesse comum para negociações ponto a ponto. Alckmin diz que irá trabalhar pela consolidação de um acordo Mercosul-União Europeia e abrir negociação com países do Pacífico

Proposta do pré-candidato: Marina Silva REDE

Historiadora e professora, é ex-senadora e foi ministra do Meio Ambiente na gestão Luiz Inácio Lula da Silva. Foi filiada ao PT, PV, PSB e fundou o Rede. Disputou a Presidência em 2010 pelo PV e em 2014 pelo PSB

- Valor Econômico

Nº DO PARTIDO: 18
FORMAÇÃO: Superior completo
IDADE: 60 anos (nascida em 08/02/1958)
WEBSITE: marinasilva.org.br
CAMPANHA: gastos a definir
VICE: a definir

ECONOMIA
1) Privatizar a Eletrobras

2) Contra a privatização da Petrobras e do Banco do Brasil

3) Aumentar a tributação sobre herança, segundo os coordenadores do programa econômico de governo

4) Reduzir impostos sobre medicamentos

5) Contra o teto de gastos, considerado como medida "inexequível" pela equipe de Marina

6) Criar o Imposto sobre Bens e Serviços . A taxa agregaria cinco tributos atuais (PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS), em imposto não cumulativo e que poderia incidir sobre uma base ampla de bens e serviços

7) Banco Central deve ter autonomia para definir a política monetária

8) Criar bases para sustentabilidade fiscal de longo prazo, segundo os coordenadores do plano de governo de Marina

9) Não se compromete com a redução de impostos e diz que seria demagogia prometer reduzi-los. Diz que fará uma reforma tributária e afirma que o compromisso deve ser o de para simplificar a carga tributária

10) Contra a política de preços da Petrobras. Defende que o reajuste nas refinarias não deve ser repassado diariamente para o consumidor. Analisa que a Petrobras precisa estar integrada com a economia de mercado, mas deve ter mecanismos para assimilar variações do preço do barril do petróleo

11) Defende alterações na reforma trabalhista . Diz que o negociado não pode se sobrepor ao legislado. O economista Eduardo Gianetti, um dos responsáveis pelo programa de governo, no entanto, defende a orientação geral da reforma aprovada pelo governo Michel Temer e diz que é preciso simplificar a legislação trabalhista

12) Não tributar a cesta básica. Diz que é uma medida para a distribuição de renda
SEGURANÇA
1) Contra a redução da maioridade penal

2) Contra alterações que flexibilizem o acesso ao uso de armas

3) Contra o porte de arma para defesa pessoal do cidadão

4) Criar o Sistema Nacional de Segurança Pública para integrar o trabalho das polícias. Valorizar economicamente os policiais, com melhores salários e dar a eles formação continuada. Fortalecer os trabalhos de inteligência para a abordagem policial
PREVIDÊNCIA
1) Unificar regras do setor público e privadoe introduzir na nova proposta elementos de um regime de capitalização. O comando da pré-campanha diz que a reforma da Previdência será prioridade

2) Definir idade mínima de 65 anos para homens e 62 anos para mulheres
POLÍTICA EXTERNA
1) Defende a união de países "hermanos" para dar ajuda humanitáriaà Venezuela. Diz que não há democracia naquele país, mas sim autoritarismo. Afirma que o Brasil deve ter um programa para recrutar venezuelanos de "alta qualidade" para trabalharem no país

Rosângela Bittar: Medo de ficar com o mico na mão

- Valor Econômico

Agora é política, a fase do leilão é depois da eleição

O que está acontecendo na campanha eleitoral atualmente é um pouco diferente do que se viu antes e durante a Copa, mas muito pouco diferente mesmo pois o principal, as indefinições, continuam. Chegado o momento final para as opções de aliança, importante para definir o tempo que o candidato terá de propaganda na TV, um passo crucial da campanha, os partidos permanecem divididos, não deram um passo pela união, quebrados em três, quatro tendências, e os candidatos viáveis, não sendo óbvios, não conseguem atrair o apoio e juntar as facções.

O PR, o PSB, o Centrão estão dando um show de indecisão. Não é, como muitos podem pensar, que estejam fazendo um leilão agora, dando seu tempo a quem lhes der mais. Os candidatos, por enquanto, só têm o cargo de vice a oferecer. E o que adianta ser vice de quem vai perder? A fase do leilão é depois da eleição. Primeiro é preciso ganhar, depois distribuir o poder.

Os partidos que ainda negociam aliança provavelmente não querem nem Jair Bolsonaro nem o candidato do PT, a disputa que se desenha para o segundo turno nas previsões mais frequentes. Mas não decidem aliar-se a Ciro Gomes ou Geraldo Alckmin porque querem adivinhar quem pode tirar Bolsonaro ou quem pode tirar o PT do segundo turno. Portanto, fica claro que no momento há apenas dúvida política, o leilão mesmo é depois da eleição.

E nessa tentativa de adivinhar o que vai dar, os partidos se digladiam internamente entre Alckmin, Ciro, e até Bolsonaro leva uma casquinha. A ala bolsonariana do DEM está crescendo e quase rivalizando com a maior das divisões, que pende para Ciro, ou a politicamente mais forte, que quer Alckmin.

É só disso que se trata e, enquanto não conseguem respostas, os partidos, que ficam nervosos porque nunca foi tão difícil adivinhar quem vai ganhar, coisas estranhas vão acontecendo.

Vera Magalhães: Ciro total flex

- O Estado de S.Paulo

Ciro Gomes defende a expropriação dos campos de petróleo privatizados no governo Michel Temer e a reversão do regime de concessão para o de partilha, que vigia sob Dilma Rousseff. Ou não.

O pré-candidato do PDT vai rever nos primeiros dias de seu mandato, caso eleito, a reforma trabalhista, essa “excrescência” proposta por Temer e aprovada pela Câmara presidia por Rodrigo Maia. Mas isso pode mudar.

Ciro quer fazer referendo e plebiscito para votar uma reforma da Previdência que mude o atual sistema para o de capitalização. Mas isso vai depender.

Depender de quê? Da direção da aliança partidária que conseguir costurar para si.

Todas essas promessas, feitas com a assertividade que só Ciro Gomes sabe ter, não são de 1998 ou de 2002, as duas eleições anteriores em que o ex-governador do Ceará e ex-ministro foi candidato a presidente. São de 2018, repetidas pela última vez para um grande público na sabatina da CNI em Brasília, no início deste mês.

Mas Ciro está na muda. E mudo. E mudando o que disse. Disposto, inclusive, a desdizer por escrito.

Se tudo der muito certo, aquele que chegou a vislumbrar a possibilidade de ser o candidato apoiado por Lula pode, diante da frustração desse plano, ter em seu palanque o DEM de ACM Neto e Maia, o PP de Ciro Nogueira, o PRB da Igreja Universal, o Solidariedade da Força Sindical e até, quem sabe, alguma esquerda, com PCdoB e/ou PSB.

A depender de quantos e quais desses partidos estiverem no barco, alguma ou todas as propostas podem vingar ou cair.

A estratégia de Ciro emula em tudo a de Lula em 2002. Tudo mesmo: o vice dos sonhos do pedetista é Josué Gomes, filho do vice que assegurou ao petista, hoje preso, a aceitação do empresariado antes receoso. É difícil para o eleitor compreender como um grupo de partidos pode estar tanto com Ciro quanto com Geraldo Alckmin, cujos estilos e programas são como gasolina e álcool.

Ou como o próprio candidato pode transigir com a mudança de propostas que até ontem defendia com uma crença embebida em retórica inflamável. Para o Ciro de algumas semanas atrás, o Brasil tinha duas opções: seguir o que ele pregava em matéria econômica ou cair do desfiladeiro. Agora, a depender de quais partidos o seguirem, ele pode encontrar um caminho alternativo que evite o penhasco. Nasce um candidato total flex.

Bruno Boghossian: O capitão e o general

- Folha de S. Paulo

Candidato desiste de conversas com PR, mas terá que explicar flerte com Valdemar

A negociação frustrada de Jair Bolsonaro (PSL) com o PR de Valdemar Costa Neto encolhe a campanha do capitão reformado. O presidenciável dava como certa a formalização da aliança, que emprestaria uma máquina partidária de peso a sua candidatura. As dificuldades de articulação, porém, devem obrigá-lo a se recolher às próprias fileiras.

Além de perder os 45 segundos que o PR agregaria aos 8 do seu diminuto PSL, Bolsonaro precisará explicar a contradição de ter cortejado Valdemar até os acréscimos do segundo tempo. Como vai sustentar seu discurso raivoso contra a velha política se esteve prestes a abraçar um condenado por corrupção?

O revés ainda força o candidato a abandonar um vice dos sonhos, o senador e cantor evangélico Magno Malta (PR-ES). O capitão reformado recuou à caserna para buscar um novo parceiro, o general da reserva Augusto Heleno Pereira (PRP).

A sigla do novo vice acrescenta apenas quatro segundos a cada programa do deputado na TV e tem poucas candidaturas a governador e deputado, que costumam impulsionar as campanhas presidenciais.

Bernardo Mello Franco: O plano de Renan para sabotar Meirelles

- O Globo

Não é fácil a vida de Henrique Meirelles. O ex-ministro da Fazenda já estava empacado na lanterna da corrida presidencial, com 1% das intenções de voto. Agora enfrenta um adversário de peso no próprio partido: o senador Renan Calheiros.

Hoje o alagoano dará início a uma guerrilha telefônica para sabotar a candidatura. Ele promete ligar para quase 800 políticos que participarão da convenção do MDB, no dia 2.

“Vou fazer o dever de casa”, desafia Renan. “Insistir no Meirelles é uma estupidez. Ele tem atributos para ser um bom presidente da Febraban. Não para ser presidente do Brasil”, ataca. “O doutor Ulysses se lançou anticandidato, mas estava contra quem fazia coisa errada. O Meirelles é a favor desse pessoal”.

O senador pretende usar a disputa para medir forças com Michel Temer, padrinho político do ex-ministro. Os dois já se enfrentaram na convenção de 2006, quando o atual presidente apoiava Anthony Garotinho. Renan venceu o duelo, e o partido não teve candidato próprio.

Ricardo Noblat: A solidão de Bolsonaro

- Blog do Noblat

Chapa de farda

O que dirá Jair Bosonaro (PSL) em 11 míseros segundos quando tiver início no próximo dia 31 de agosto o período de propaganda no rádio e na televisão dos candidatos às eleições gerais de outubro?

(A leitura em voz alta das linhas acima consome 14 segundos. A leitura silenciosa, pouco mais de seis.)


Foi por isso que ele correu atrás do apoio do Partido da República (PR) que lhe acrescentaria mais 45 segundos. Correu e perdeu. Queria o senador Magno Malta (PR-ES) como candidato a vice. Ficará com o general da reserva Augusto Heleno Ribeiro Pereira.

O general disse que está pronto para enfrentar sua nova missão. Ex-capitão do Exército, Bolsonaro não precisa de um general que lhe bata continência para se tornar confiável à gente que usa farda ou que gosta de uma mesmo sem usá-la. Confiável ele já é.

Precisava de mais tempo de propaganda. E também de um contingente de vereadores, deputados estaduais e federais espalhados pelo país capazes de ajudá-lo na caça ao voto. Diz que 240 deputados federais de vários partidos o apoiam. A ver depois.

Se ele antes cogitou de não comparecer a debates eleitorais no rádio e na televisão para escapar a críticas dos seus adversários, agora não poderá perder um só deles. As redes sociais não lhe bastarão. Como, de resto, a nenhum dos candidatos.

Nas eleições de 2014, ao virar candidata do PSB a presidente da República, a ex-ministra Marina Silva disparou nas pesquisas de intenção de voto. Dilma e Aécio Neves se juntaram para massacrá-la. Era mínimo o tempo de Marina no rádio e na televisão.

Desta vez também será mínimo. Como Bolsonaro, Marina é candidata de um partido minúsculo. Como ele, não atraiu outros partidos – sequer tentou. Bolsonaro é o segundo colocado nas pesquisas. Hoje, só Marina o derrotaria no segundo turno.

Fabio Alves: Alianças decisivas

- O Estado de S.Paulo

A propaganda na TV ainda terá um peso decisivo no pleito presidencial deste ano

Os indicadores econômicos vão dar lugar ao cenário político como o catalisador mais importante para os investidores no curto prazo: a partir desta sexta-feira começam as convenções partidárias que escolherão os candidatos a presidente, muito provavelmente, definirão as alianças entre presidenciáveis e partidos.

Diante do quadro de incerteza em relação ao desfecho da eleição presidencial, o anúncio das alianças entre candidatos e partidos poderá injetar otimismo ou azedar de vez o humor dos investidores em relação às chances de que o próximo presidente seja um reformista, ou seja, demonstre disposição e força para aprovar as reformas necessárias, como a da Previdência, para conter a escalada dos gastos públicos.

As alianças partidárias podem alterar de forma significativa a fotografia atual mostrada pelas últimas pesquisas de intenção de voto em termos de preferência dos eleitores, uma vez que elas podem aumentar o tempo de propaganda eleitoral na TV, que tem início no dia 31 de agosto. Mesmo com o prazo encurtado em relação a eleições passadas e a maior relevância das redes sociais, a propaganda na TV ainda terá um peso decisivo no pleito deste ano.

A consultoria Arko Advice fez um levantamento que mostrou que o tempo de TV é fundamental nas eleições presidenciais. “Nas últimas sete disputas ao Palácio do Planalto (1989 a 2014), ocorreram mudanças no cenário duas semanas após o início da propaganda eleitoral gratuita na TV”, dizem analistas da consultoria em nota a clientes.

As negociações em torno das alianças seguem a todo o vapor, mas estão chegando num momento de definição à medida que se aproximam dois divisores de água: 5 de agosto, quando termina o prazo das convenções partidárias para a definição dos candidatos, e 15 de agosto, prazo para o registro das candidaturas.

Elio Gaspari: As tungas dos sindicalismos

- O Globo

Como a bolsa da Viúva deu sopa, maganos que se dizem representantes de patrões e de empregados fazem a festa

Quem leu a reportagem de Philipe Guedes constrangeu-se. O Sindicato dos Trabalhadores em Entidades de Assistência e Educação à Criança e ao Adolescente cobrava uma “taxa negocial” aos seus 40 mil filiados, e quem não quisesse pagá-la deveria ir à sua sede para carimbar um documento. As vítimas tiveram três dias para cumprir a exigência, e o resultado foi a formação de uma fila de quase um quilômetro nas ruas vizinhas à sede do Sitraemfa.

Esse truque está sendo usado por inúmeros sindicatos desde que a reforma trabalhista desmamou-os, tirando-lhes o dinheiro do imposto sindical. (Um dia de suor de cada empregado formal, gerando uma caixa de R$ 3 bilhões em 2017.) Os sindicatos poderiam receber os documentos pela internet, mas criam uma burocracia intimidatória que supera, de muito, o tempo que um trabalhador perde para tirar uma carteira de identidade no Poupatempo de São Paulo.

É razoável que um sindicato cobre taxas por ter negociado o dissídio de uma categoria, desde que o tenha negociado. Milhares de sindicatos nada mais fazem do que cuidar da vida de seus dirigentes. Os mandarins dizem que as taxas foram aprovadas em assembleias dos associados, mas ganha uma visita ao sítio de Atibaia frequentado por Lula quem já foi a uma assembleia de sindicato. (“Nosso Guia” entrou na política combatendo o imposto sindical.)

A questão acabaria se fosse aberto o cadeado que blinda o peleguismo sindical de empregados e patrões. Bastaria abolir o dispositivo que obriga todos os trabalhadores e empresários de uma categoria a serem filiados a um só sindicato. Uma profissão ou atividade poderia ter inúmeros sindicatos, e o trabalhador escolheria o que lhe presta melhores serviços. Poderia até não se filiar a nenhum.

Luiz Carlos Azedo: O candidato dos violentos

- Correio Braziliense

É cultura política arraigada, fingir que a violência não é um problema do presidente da República, é agenda de governador. Era, não é mais

De onde vem a resiliência do deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ), que lidera as pesquisas de intenção de voto para a Presidência da República com Lula fora da disputa? Com toda certeza, vem da violência presente no cotidiano da população, que tem raízes profundas na sociedade brasileira, por causa do nosso passado escravocrata, mas ganhou contornos de guerra civil não declarada em razão do tráfico de drogas e da explosiva situação dos presídios brasileiros.

Há outras causas para o enraizamento popular de sua candidatura, como o desemprego escandaloso, que atinge 13 milhões de trabalhadores, e a desestruturação da família unicelular patriarcal em decorrência da revolução dos costumes, mas são temas em disputa eleitoral que não foram monopolizados por Bolsonaro. O tema da violência, não, é dele e ninguém tasca, porque Bolsonaro tem uma proposta de tratamento de choque para o problema: a pena de morte. Ou seja, tratar os criminosos com intensidade igual ou superior à natureza de suas ações, em todos os casos. Música para os violentos.

Ironicamente, o maior legado que o presidente Michel Temer deixará para os seus sucessores é a organização do Sistema Unificado de Segurança Pública (SUSP), recentemente criado, cuja implantação está a cargo do ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann. Pela primeira vez na história, o governo federal assumirá responsabilidade em relação ao problema em caráter nacional e permanente. Desde a Constituição de 1924, era assunto dos estados, fazia parte da política de conciliação do poder central com as oligarquias regionais.

O combate à violência era uma das bandeiras de Temer para tentar a reeleição, mas o presidente da República foi engolido pelas duas denúncias do ex-procurador-geral Rodrigo Janot e por investigações em curso da Operação Lava-Jato, sob orientação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Barroso. A economia não cresceu como se esperava e a intervenção federal no Rio de Janeiro, ato de grande repercussão, não deu os resultados que o governo esperava.

A mudança que Temer promoveu foi estrutural e terá resultados a longo prazo, com a criação de um fundo de financiamento do sistema, uma escola de segurança e inteligência e um sistema integrado de dados. Como a abertura comercial feita pelo ex-presidente Collor de Mello, que renunciou ao mandato para evitar o impeachment, somente com o tempo a mudança será sentida pela população. Mas estarão dadas condições efetivas para que o futuro governo lidere o combate à violência e ao crime organizado, que se tornou um problema de segurança nacional.

Acontece que nenhum candidato, com exceção de Bolsonaro, pretende tratar desse assunto como prioridade. É cultura política arraigada, fingir que a violência não é um problema do presidente da República, é agenda de governador. Era, não é mais. Vejam o caso do governador do Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB). Em 2010, deixou o governo com uma crise nos presídios que arranhou sua imagem de político comprometido com os direitos humanos e a questão social. Agora, encerra o terceiro mandato sem condições de disputar a reeleição, desgastado em razão da crise do sistema de segurança pública capixaba, cujo ápice foi a greve dos policiais militares.

Seria melhor para o país se PSDB e PT fossem mais fortes, diz cientista político

Para Bruno P. W. Reis, ter partidos muito fracos é um dos problemas da democracia brasileira

Marco Rodrigo Almeida | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Ruim com os partidos, pior sem eles.

Na contramão do amplo sentimento de repúdio à classe política tradicional, o cientista político Bruno Pinheiro Wanderley Reis defende que partidos fortes são fundamentais para a longevidade de uma democracia.

Em artigo recente, “Um réquiem para os partidos”, o professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) expõe suas preocupações a respeito do declínio, talvez irreversível, da identificação do eleitorado com as legendas em todo o mundo.

Para ele, um dos problemas da democracia brasileira é termos siglas fracas demais.

• O declínio dos partidos é um caminho sem volta? 

Eu receio que realmente estejamos migrando para um quadro tecnológico que torne toda aquela estrutura meio obsoleta. Toda aquela ideia de militância, diretórios, reuniões.

• A democracia pode se tornar mais efetiva nesse quadro de partidos enfraquecidos? 

Creio que não. Espero, na verdade, mais instabilidade política. Se o quadro partidário é fluido, e os alinhamentos não são muito dados, as opções estão todas abertas. Seja ganhar a próxima eleição, seja tentar derrubar alguém.

Quando há mais estabilidade partidária, você cria identidades e polarizações mais ou menos estáveis. Há uma elite política comprometida com a manutenção do status quo, o que favorece a estabilidade do regime.

• A ironia é que, na visão popular, essa elite política tornou-se o grande alvo a ser abatido, no Brasil e no mundo. 

Sim, as pessoas desconfiam dos partidos no mundo inteiro. Essas instâncias burocráticas ficaram pesadas. E com as redes sociais nos habituamos a um certo ativismo social meio imediato. Para que vou ficar enfiado anos a fio em reuniões de diretório e executiva?
Essas manifestações mais fluidas ocasionalmente alcançam seus objetivos, jogam 1 milhão de pessoas numa praça para protestar contra os políticos.
Mas assim como se constituem do nada, evaporam também. Um bom exemplo disso é Junho de 2013.

• Retomando o ditado popular: ruim com os partidos, pior sem eles? 

Exatamente. É ruim com eles, é fácil ver como tudo isso está aquém de uma idealização da política, mas é preciso tomar cuidado com a ideia de que tudo irá melhorar sem eles. Não, eu acho que ficará pior.

Partidos fortes significam um processo decisório na cúpula fortemente conectado com a sociedade, com muito mais capilaridades.

• Critica-se muito, aqui e lá fora, a hegemonia dos mesmos partidos, mas o senhor diz que um dos problemas de nossa democracia é ter partidos fracos.
Ao contrário do que dizem, nossos partidos são fracos. Tudo bem que PT e PSDB são mais fortes do que parecem. Não é trivial essa sequência de seis eleições seguidas para a Presidência polarizadas por eles.

Mas, nas eleições de 2014, 28 partidos elegeram representantes para a Câmara. Precisamos de tudo isso?

Por que PT e PSDB não têm perto de 50% da Câmara cada um deles, restando espaço para mais outros cinco ou seis partidos?

Houve relativa decantação nas identidades em torno de PT e PSDB, e o sintoma é a eleição presidencial, mas o sistema eleitoral joga contra a produção de bancadas grandes no Congresso.
Precisamos fortalecer nossos partidos. Hoje os maiores têm menos de 15% no plenário [PT tem cerca de 12% da Câmara; PSDB e PMDB, quase 10% cada um].

• Seria melhor para o país se PSDB e PT fossem mais fortes no Congresso? 

Seria, sem dúvida nenhuma. Isso não ocorre por causa da interação do sistema proporcional de lista aberta [em que as cadeiras obtidas pelo partido ou coligação são atribuídas aos candidatos mais votados] com nosso modelo de financiamento de campanha. Cada estado tem dezenas de cadeiras no Congresso, então temos milhares de candidatos tentando o voto de milhões de eleitores

O partido vai em busca de candidatos que puxam votos, e não necessariamente do candidato em que ele confia. Isso não favorece a identificação nem do ponto de vista do eleitor nem do ponto de vista do representante.

Com a lista fechada [modelo no qual os partidos apresentam uma lista de candidatos previamente ordenada e o eleitor vota apenas no partido, e não em candidato], o partido sai da convenção com a chapa. Isso tornaria a campanha ao Congresso mais partidária, pois as legendas terão que articular alguma plataforma coletiva.

Marina tenta atenuar 'marinês' e mostrar lado bem-humorado

Pré-candidata da Rede passou a adotar tom menos rebuscado em discursos

Joelmir Tavares | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO- Marina Silva em fevereiro, ao comentar em entrevista à Folhaa desistência do apresentador Luciano Huck de disputar a Presidência:

“Eu acho que é fundamental que haja um adensamento em termos de suas participações no processo político para poder otimizar e potencializar sua contribuição”.

A mesma Marina, dias atrás, falando da eliminação da seleção brasileira da Copa antes de começar bate-papo ao vivo com seguidores no Facebook:

“Na política eu sou contra reeleição, mas, no futebol: fica, Tite”, disse ela, sorrindo.

No que depender da equipe da pré-candidata da Rede, o tom mais direto, com palavreado acessível e pitadas de humor, ocupará o lugar do linguajar rebuscado do passado, jocosamente chamado por adversários de “marinês”.

Em sua terceira tentativa de chegar ao Planalto, a ex-senadora vem sendo aconselhada por pessoas de seu entorno a transmitir suas mensagens de forma mais clara, principalmente nas participações em canais de TV e rádios.

Como ela terá apenas 8 segundos no horário eleitoral obrigatório (caso dispute a eleição sem se coligar com outros partidos), as aparições são consideradas essenciais na campanha. A ordem é aproveitar as chances e aceitar o máximo possível de convites.

A pré-candidata vem adaptando o estilo aos poucos —segundo sua assessoria, sem “media training” (treinamento para lidar com a imprensa).

Parlamentar por mais de 15 anos (ela foi vereadora, deputada estadual e senadora), Marina é avaliada como boa oradora, especialmente quando fala para plateias com nível educacional mais alto ou quando precisa tratar de assuntos técnicos que domina.

PPS quer Rede e PSDB juntos no Rio

Objetivo da legenda é unir partidos que fizeram oposição aos governos de Sérgio Cabral (MDB) em torno do pré-candidato Rubem César

Marianna Holanda | O Estado de S.Paulo

O PPS quer juntar dois partidos nas eleições 2018 que disputam vaga no Planalto em torno de uma candidatura única no Rio de Janeiro, a Rede e o PSDB. Apesar de publicamente declarar apoio ao presidenciável tucano, Geraldo Alckmin, setores do PPS ainda defendem coligação com Marina Silva no âmbito nacional e reconhecem que conversas no Rio poderiam impulsionar a aliança.

O objetivo seria juntar as siglas que fizeram oposição ao governo de Sérgio Cabral (MDB), de 2007 a 2014, em torno do pré-candidato do PPS, Rubem César, diretor-executivo da ONG Viva Rio. Apesar de Rubem brincar que “quanto mais palanques, melhor”, no PSDB e na Rede a possibilidade de duplo palanque é vista com resistência.

“Nossa aliança poderia ser uma alternativa de renovação do Rio”, defende o presidente do PPS, Roberto Freire. “Se resolver a vida no Rio, em outros Estados, isso pode ajudar a gente a começar a ver que é possível resolver a vida nacional”, completou.

A legenda sinaliza que conversas estaduais podem favorecer um acordo em nível nacional. Caso o PPS decida fechar com Alckmin ou Marina, para o pré-candidato, Rubem César, não será um problema.

“Podemos ter mais de um palanque, desde que não seja na mesma hora, senão fica confuso. A crise é tamanha que estamos precisando nos unir”, disse o diretor-executivo da Viva Rio.

Apesar das tentativas do PPS, a possibilidade de mais um presidenciável no palanque carioca é vista com dificuldade entre as outras siglas. Questionado, o deputado federal e presidente estadual do PSDB, Otávio Leite, disse que quer “um palanque genuíno para o Geraldo (Alckmin), essa é nossa meta”.

O deputado federal Miro Teixeira (Rede), por outro lado, diz que a “conversa é enorme” e que o apoio não é condicionado necessariamente à aliança nacional. Mas admite que um eventual apoio poderia ajudar. “A discussão no Rio poderia avançar se o PPS já apoiasse Marina no âmbito nacional”, afirmou.

Miro é colocado como um possível pré-candidato no Rio também. Segundo o Estado apurou, ele poderia entrar como vice em uma eventual chapa com o PPS.

Para ele, contudo, há ainda resistência dentro da Rede com o nome de Rubem. Um nome que poderia trazer mais consenso seria o de Marcelo Calero, ex-ministro da Cultura de Michel Temer. “Estava no governo, denunciou Geddel (Vieira Lima). Poderia ter ficado quieto e não aceitou intimidação. Tem qualidades já testadas na vida pública”, elogiou.

Calero ganhou notoriedade quando deixou o governo, após denunciar que vinha sofrendo pressões do então ministro Geddel para liberar um empreendimento imobiliário em Salvador, que beneficiaria sua família.

País chega às eleições 'em colapso'

Por Ana Conceição, Hugo Passarelli, Ricardo Mendonça e Sergio Lamucci | Valor Econômico

SÃO PAULO - Com uma combinação de severas crises nos três Poderes, o Brasil vive um momento de anomalia, o que torna o jogo eleitoral excessivamente complicado e incomparável com experiências de eleições passadas. A avaliação é do cientista político Carlos Melo, professor do Insper, que participou de evento no Valor, em São Paulo, junto com o presidente do Insper, Marcos Lisboa, e o professor Ricardo Paes de Barros. Para Melo, o país vive situação de "colapso" na economia, por causa da crise, e na política, devido ao presidencialismo fisiológico.

Para Lisboa, o desequilíbrio das contas públicas e as distorções que afetam a atividade e levam à baixa produtividade são os dois principais problemas da economia. Paes de Barros disse que apesar de ter um "orçamento fantástico" (6% do PIB), a educação brasileira se recente da falta de gestores e de planejamento setorial.

País vai às urnas com fraturas expostas
O Brasil que vai às urnas em 2018, em alguns aspectos, pode não ser tão radicalmente diferente do que se viu quatro anos atrás, mas certamente está com suas fraturas mais expostas. Após a pior recessão já vista, gargalos históricos na produtividade e na estrutura tributária, além da trajetória insustentável das contas públicas, ficaram incomodamente evidentes.

O país mostrou que, num dos mais importantes campos para seu desenvolvimento, a Educação, estava estacionado em um mau desempenho e longe de cumprir as metas do Plano Nacional de Educação (PNE) para conter a evasão escolar, apesar do gasto ser de 6% do PIB - bom nível, na comparação internacional. No campo político-institucional, as crises foram ainda mais intensas, com judicialização da política, avanço da Lava-Jato, mudança completa no sistema de financiamento eleitoral, além do avanço do fisiologismo e de uma crise evidente no presidencialismo de coalizão.

Estes são alguns dos diagnósticos feitos pelo presidente do Insper, Marcos Lisboa, e pelos professores da instituição, Ricardo Paes de Barros, economista, e Carlos Melo, cientista político. Reunidos ontem na sede do Valor para falar dos desafios do Brasil de 2018, eles apontaram um momento difícil para o país.

A necessidade de ajustar as contas públicas e enfrentar as distorções que afetam a evolução da economia se mostra mais evidente do que nunca, disse Lisboa. "São os dois grandes problemas no país hoje", afirmou.

"Quase todos os Estados estarão quebrados nos próximos anos pois não terão nem dinheiro para pagar a folha", apontou ele, para sentenciar: "Se não fizermos reforma das regras do servidor público, da Previdência, da estrutura tributária, não tem saída. A gente quebra".

Será preciso construir maiorias, disse o economista, sem as quais não há como tirar o país da crise. "Infelizmente estamos chegando a esse debate sem coordenação, num país dominado por grupos de interesse. Mas tudo estava aí seis anos atrás. Demorou para a gente reconhecer o problema fiscal", observou Lisboa, que não vê consenso entre os pré-candidatos à Presidência em torno desses problemas.

Para Carlos Melo, o cenário complexo do país dificultará o aprofundamento de tópicos importantes. "A disputa eleitoral não vai se dar em torno de temas como a reforma da Previdência", disse o cientista político. "Imaginar que o debate vai ser sobre isso é um pouco de ilusão. O Brasil não é a Avenida Faria Lima, não dá para achar que a pauta da eleição é essa." Confira, nos links abaixo, os principais pontos discutidos.

Bolsonaro já está em queda, diz guru do DEM

"Pesquisas mostram que Bolsonaro já perdeu pessoas que pensaram em votar nele e já não pensam mais"

"Lula transfere de 20% a 22% para o candidato do PT, seja o Haddad ou Wagner, mas depende de conseguir fazer campanha"

Por Raphael Di Cunto | Valor Econômico

BRASÍLIA - Com 29 anos de atuação em campanhas eleitorais de todos os partidos, do Psol e PT ao PSDB e DEM, o estatístico Paulo Guimarães afirma que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem potencial para elevar para 20% a 22% as intenções de voto do candidato do PT, seja Fernando Haddad ou Jaques Wagner, e que isso pode colocar a sigla no segundo turno da eleição presidencial. Mas a transferência de votos não superará esse percentual e dependerá das condições de Lula, que está preso, fazer campanha. Se conseguir, quem mais perderá votos será Ciro Gomes (PDT).

Guru do ex-prefeito do Rio de Janeiro César Maia (DEM), que ele ajudou a eleger em 1992 numa eleição que muitos davam como perdida - aparecia em terceiro no dia anterior ao primeiro turno -, "Paulinho" é responsável pela pesquisa encomendada pelo DEM para orientar os partidos do "Centrão" na busca pelo presidenciável mais competitivo. Para ele, nesse cenário fragmentado, a ida ao segundo turno está aberta a todos os candidatos, até João Amoêdo (Novo), mas a união dessas siglas será decisiva.

O deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ) já é dono do discurso anti-PT e está inflado pelo erro dos adversários em bater em Lula. O caminho para crescer, aponta, é ser reconhecido como o opositor do governo Temer. Hoje ninguém ocupa esse espaço, nem o PT. "Tem aí 42% dos votos voando a espera de alguém", diz.

Bolsonaro, afirma o professor aposentado da Unicamp, que trabalhou na campanha de Aécio Neves (PSDB) em 2014, é vítima do mesmo movimento que derrubou Marina Silva (Rede) naquela eleição: a suposta estabilidade ou crescimento nas pesquisas esconde um percentual elevado de eleitores que pensaram em votar nele e desistiram. O brasileiro primeiro diz que vai votar em alguém para depois prestar atenção nas ideias. "Ele vê uma mulher bonita e diz: é essa. Mas depois percebe que tem mau hálito e vai atrás de outra. Esse movimento é constante na eleição".

Mais conhecido no meio político pelas inúmeras campanhas que fez no GPP, no Rio, "Paulinho" fundou com o filho em 2017 uma empresa nova, o Instituto Guimarães. A sede é em Campinas, mas ele viaja o país para dar consultoria a candidatos e, numa parada em Brasília na quinta-feira passada, conversou com o Valor. Além de campanhas estaduais já acertadas, ele estuda os convites para fazer as pesquisas e estratégia de uma candidatura presidencial, mas ainda não fechou com ninguém. A exemplo dos partidos, está esperando o cenário clarear.
Valor: O cenário na esquerda está mais favorável para quem ir ao segundo turno: Ciro ou o PT?

Paulo Guimarães: É mais difícil para o Ciro. Não se trata de direita/esquerda. É que, dentro da imagem positiva do Lula, daqueles que simpatizam com ele, quem tem mais voto é o Ciro. Se o Lula participa ativamente da campanha, ele vai tirar de quem tem mais voto ali e transferir para o candidato dele. Temos milhares de pesquisas que comprovam isso. O apoio de uma pessoa transfere 50% dos votos dela para outra, se for para o mesmo cargo. O Lula empresta algo em torno de 20% a 22% para o candidato do PT, seja o Haddad ou Jaques Wagner. Isso com o Lula atuante. O difícil é saber qual o tamanho dessa atuação pela condição que ele se encontra hoje.

Valor: Vídeos e bilhetes não são suficientes para transferir os votos?

Paulo Guimarães: Teria que medir, não gosto de chutar. Mas o Lula participando de palanque é uma coisa, com pessoas de porta-voz é outra. Um bilhete do Lula, se eu ler, não terá efeito nenhum. Se for de parceiro dele já vão acreditar, mas terá outra conotação, outro tom de voz, e isso é importante na campanha.

Valor: A esquerda é quem mais se beneficia da rejeição ao governo?

Paulo Guimarães: Aí discordo um pouquinho de quase todo mundo. Na eleição em Brasília, pega o [governador Rodrigo] Rollemberg, que é tido como de esquerda, e o [senador] Reguffe, que também é. Ambos estão no mesmo campo, mas o Reguffe é oposição ao Rollemberg. A pesquisa define claramente qual é o campo vencedor de uma eleição, se a situação ou a oposição. Em 2018, o campo vencedor para ir ao segundo turno é a oposição.

Valor: Então é o Lula?

Guimarães: Posso garantir que nem o Lula, nem Bolsonaro, nem os outros 15 ou 16 pré-candidatos, são opositores ao Temer. Para ser opositor a sua intenção de voto, dentro dos que têm avaliação ruim ou péssima do governo, tem que ser maior que a sua média. E ninguém se posiciona aí. Hoje é espaço desocupado e é onde tem 42% do eleitorado sem candidato, voando. E isso coloca qualquer um no segundo turno.

Valor: O combate as reformas do governo Temer, como faz a oposição, não é suficiente para ser visto como opositor? Como se posicionar aí?

Guimarães: Os outros 40% do ruim/péssimo do Temer já tem algum candidato, mas é o campo com mais votos soltos. É fácil? Aí é com os marqueteiros. Eles têm um problema para resolver: o Temer não é candidato, e ele tem que ter candidato para ficar personificado o governo. Não posso ser opositor a uma pessoa que não é candidata, é muito frágil.

Valor: Esse candidato é o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles (MDB), mas ele tenta se distanciar do Temer e se aproximar do Lula, de quem foi presidente do Banco Central. Pode dar certo?

Guimarães: Não, não é assim. O que tem força é o Lula falar "o Paulinho é meu candidato". Com o [José] Serra para prefeito de São Paulo em 2004 já passamos por isso. Dentro da imagem positiva do Alckmin, que era governador, quem ganhava era a [então prefeita] Marta Suplicy. Quando o Alckmin falou "peraí, meu candidato é o Serra", acabou com a Marta, destruiu a Marta. É assim que funciona. Não adianta eu falar "sou amigo do Lula também" porque na hora que o Lula disser "é mentira, ele não é meu amigo", desmorona.

Alexandre Schwartsman: Tragédia

- Folha de S. Paulo

Ungir um candidato que prometa sangue, suor e lágrimas parece pouco provável

Samuel Pessôa, para variar, publicou, no domingo (15), mais uma excelente coluna (sempre começo a leitura dominical da Folha por suas colunas e as de Marcos Lisboa), sobre a necessidade do ajuste fiscal, concluindo que, independentemente de quem seja eleito neste ano, ele virá.

Seu argumento é simples e direto. Caso a próxima administração não ponha as contas públicas em ordem, enfrentará sérias dificuldades na economia: a dívida pública continuará crescendo mais rápido que o PIB, levando a uma situação em que o Banco Central não mais será capaz de manter a inflação controlada.

Nesse cenário, não só a inflação acelerará mas também o desemprego permanecerá elevado, combinação que eliminará quaisquer chances de reeleição em 2022.

Assim, conclui, “os incentivos da política conspiram para que o próximo (ou a próxima) presidente empregue todos os instrumentos ao seu alcance para ajustar a política fiscal”.

Não tenho nenhum reparo a fazer ao raciocínio econômico do Samuel: se não arrumarmos a casa, teremos um sério desarranjo ainda no mandato do eleito em 2018. Por outro lado, não tenho tanta certeza quanto à alta probabilidade (ia escrever “inevitabilidade”, mas não foi isso que ele afirmou) de que algum ajuste, mesmo de baixa qualidade, nos espera.

Da forma como vejo o problema, não se trata apenas do incentivo ao ajuste, mesmo dando de barato que o ocupante da cadeira a partir de janeiro do ano que vem compartilhe da mesma visão que eu e o Samuel temos sobre a dimensão fiscal (é sempre bom lembrar que não falta quem se oponha ao óbvio); o ponto central da história, no meu entendimento, está intimamente ligado ao mandato que emergirá das urnas em outubro.

Cristiano Romero: A escalada do gasto da União com educação

- Valor Econômico

Número de servidores do MEC aumentou em 109 mil em dez anos

Um dos mitos mais disseminados na sociedade brasileira é o de que o país gasta pouco com a educação pública. Talvez, gaste mal, mas pouco, não. O Brasil desembolsa hoje, nessa área, o equivalente a 6% do Produto Interno Bruto (PIB) por ano, valor superior à média dos países da OCDE - 5,5% - e de nações como Argentina (5,3% do PIB), Colômbia (4,7%), Chile (4,8%), México (5,3%) e Estados Unidos (5,4%). Olhando globalmente, o Brasil gasta mais com ensino público do que cerca de 80% dos países.

E a despesa vem crescendo rapidamente. Nos últimos dez anos, período que coincide com o aumento descontrolado dos gastos públicos, principalmente nos últimos três anos da gestão Lula (de 2008 a 2010) e no governo Dilma (2011-2016), os desembolsos da União para a área de educação cresceram impressionantes 91% acima da inflação do período - de R$ 61,4 bilhões para R$ 117,2 bilhões (a preços de 2017) - ou 7,4% ao ano, em média, em termos reais. Para se ter uma ideia, no mesmo período a receita corrente da União avançou apenas 6,7% em termos reais (0,7% ao ano).

Como proporção da receita corrente, a despesa federal com educação quase dobrou entre 2008 e 2017, passando de 4,7% para 8,3%. Em proporção do PIB, saltou de 1,1% para 1,8%.

Os dados foram compilados pela Secretaria do Tesouro Nacional e constam de estudo, intitulado "Aspectos Fiscais da Educação no Brasil", que acaba de sair do forno. O documento faz parte do esforço do secretário Mansueto Almeida de dar a maior publicidade possível à tragédia fiscal brasileira. O objetivo é mostrar à sociedade, por meio de textos claros, didáticos e rigorosamente técnicos, a difícil realidade das contas públicas - desde 2014, o setor público consolidado (União, Estados e municípios) gera déficits primários (conceito que não inclui o gasto com juros da dívida) e, por isso, a dívida pública entrou em trajetória perigosamente explosiva.

Congresso desmoralizado: Editorial | O Estado de S. Paulo

O Congresso Nacional é, por definição, o esteio da democracia representativa. Não seria exagero dizer que é ali que a vontade popular se manifesta de maneira mais clara, e disso deriva sua força no sistema de freios e contrapesos ao qual os Poderes republicanos estão submetidos. Por essa razão, tudo o que emana do Congresso deveria ser lido como a expressão soberana dos desejos do povo, cabendo aos demais Poderes fazer com que essa vontade seja transformada em realidade. No entanto, quando o Congresso se degrada a tal ponto que os interesses da coletividade são sistematicamente desprezados para garantir os privilégios de corporações bem organizadas, mesmo diante da evidente incapacidade do Estado de arcar com essas benesses, cria-se uma situação em que, para o bem do País, é melhor que o Executivo encontre maneiras de ignorar certas determinações dali originadas, de tão flagrantemente inconstitucionais e danosas que são ao bem público.

Esse tem sido o caso da chamada “pauta-bomba” do Congresso, que, em ano eleitoral, cria uma série de despesas e concede benefícios a setores específicos, medidas que, no conjunto, podem ter impacto de R$ 100 bilhões nos próximos anos. Um exemplo é o perdão de dívidas tributárias de produtores rurais – o Congresso derrubou o veto do presidente Michel Temer a mais essa farra. Além disso, tramita projeto que determina a transferência de R$ 39 bilhões por ano a Estados como compensação por perdas – há muito já absorvidas – com a Lei Kandir, que em 1996 desonerou de ICMS a exportação de produtos primários e semielaborados. Outro absurdo é a concessão de diversos benefícios para transportadores, depois da criminosa greve dos caminhoneiros que sufocou o País em maio. Por fim, mas não menos obscena, foi a exclusão, da Lei de Diretrizes Orçamentárias, da proibição de reajuste salarial para os servidores públicos em 2019.

Com voto, sem aliado: Editorial | Folha de S. Paulo

Jair Bolsonaro e Ciro Gomes têm dificuldades na busca por parcerias ao centro

A corrida presidencial de 2018 entrará numa nova fase com as convenções marcadas para o fim desta semana, em que dois dos principais competidores terão suas indicações chanceladas por seus partidos.

Será o início de uma etapa movimentada, ao final da qual se espera encontrar, além da definição das candidaturas, maior clareza sobre suas plataformas e as coalizões que irão sustentá-las na campanha.

Na sexta (20), o PDT confirmará a indicação do ex-ministro Ciro Gomes, que as pesquisas apontam em segundo lugar nos cenários que excluem da disputa o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), preso em Curitiba desde abril.

No domingo (22), o PSL se reunirá para aclamar o deputado Jair Bolsonaro (RJ), que assume a dianteira nas pesquisas sem o líder petista.

Apesar de bem colocados nos levantamentos, os dois têm enfrentado dificuldades para conquistar o apoio de outros partidos e usarão suas convenções para exibir força e acenar a potenciais aliados.

Ciro se movimenta a fim de ocupar espaço à esquerda desde a prisão de Lula, mas esbarra no apelo eleitoral do ex-presidente e na disposição do PT de registrá-lo candidato, a despeito do veto imposto pela Lei da Ficha Limpa.

Mesmo na cadeia e impedido de falar em público, Lula conserva 30% das preferências nas pesquisas e tem chances de transferir boa parte do seu prestígio a outro nome que indicar se não puder concorrer. Essa perspectiva tem feito o PSB hesitar em vez de embarcar na caravana de Ciro.

É essencial a Eletrobras privatizar distribuidoras: Editorial | O Globo

Nem a holding estatal nem o Tesouro podem arcar com os custos de liquidação das empresas, cuja sobrevivência depende da mudança para a gestão privada

Entre os diversos obstáculos que aparecem nesta fase final da gestão Temer, com reflexos na próxima administração, existe o problema do virtual veto às privatizações baixado em medida cautelar, monocraticamente, pelo ministro do STF Ricardo Lewandowski.

Ao exigir, na decisão tomada a partir de ação de sindicalistas contra a Lei das Estatais, que qualquer privatização passe antes pelo Congresso, na prática o ministro aparentemente suspendeu essas operações neste ano eleitoral. Num grande equívoco, político teme afrontar eleitor, em vez de explicar-lhe que vender estatais significa protegê-lo como contribuinte.

Foi criado um problema sério para a venda de subsidiárias da Eletrobras, inviáveis se continuarem sob o controle da holding do setor elétrico, colocando em risco o fornecimento de energia em Amazonas, Rondônia, Acre, Piauí e Roraima.

Guerra comercial entra de vez nos cenários de curto prazo: Editorial | Valor Econômico

Os efeitos da guerra comercial deslanchada pelos Estados Unidos contra tudo e todos - União Europeia, Japão, parceiros do Nafta, China - começaram a aparecer nos cenários de curto prazo. O Fundo Monetário Internacional calculou que em 2020 ela será capaz de retirar 0,5 ponto percentual do crescimento global, uma previsão muito moderada que pode ser rapidamente suplantada pelo ativismo do presidente Donald Trump. Pesquisa do Bank of America com 231 gestores de fundos, com ativos de US$ 663 bilhões, aponta a guerra comercial como o principal risco global. Eles reduziram a alocação em ações por acreditarem que a perspectiva de lucros crescentes das empresas deixou de existir.

Trump está deixando de surpreender com suas iniciativas, entre outros motivos por sua coerência em promover um unilateralismo extremado, capaz de atropelar as leis mais elementares da economia e, politicamente, por cortejar líderes autoritários, como Vladimir Putin, e desdenhar dos aliados tradicionais dos EUA. Com uma equipe de fanáticos, que compartilha das severas limitações intelectuais do chefe, Trump deve mesmo seguir em frente e ampliar as retaliações comerciais contra os países que qualifica de "inimigos" dos americanos.

A ofensiva de Trump é um elemento especialmente perturbador agora, depois que a economia americana, sob os efeitos do pacote de corte de impostos, caminha para o aquecimento e para uma gradual - "por enquanto", segundo disse o presidente do Fed, Jerome Powell, ontem, no Senado - elevação da taxa de juros. Como o diferencial de crescimento entre as economias desenvolvidas se acentuou a favor dos Estados Unidos, a valorização do dólar deve prosseguir, ampliando as dificuldades de economias com altos déficits externos e modificando, em direção aos EUA, o fluxo de investimentos em portfólio.

Luiz Werneck Vianna: lançamento de livro


Maria Rita - E vamos à luta (Ao vivo na Lapa)

Fernando Pessoa: A Verdadeira Liberdade

A liberdade, sim, a liberdade!
A verdadeira liberdade!
Pensar sem desejos nem convicções.
Ser dono de si mesmo sem influência de romances!
Existir sem Freud nem aeroplanos,
Sem cabarets, nem na alma, sem velocidades, nem no cansaço!

A liberdade do vagar, do pensamento são, do amor às coisas naturais
A liberdade de amar a moral que é preciso dar à vida!
Como o luar quando as nuvens abrem
A grande liberdade cristã da minha infância que rezava
Estende de repente sobre a terra inteira o seu manto de prata para mim...
A liberdade, a lucidez, o raciocínio coerente,
A noção jurídica da alma dos outros como humana,
A alegria de ter estas coisas, e poder outra vez
Gozar os campos sem referência a coisa nenhuma
E beber água como se fosse todos os vinhos do mundo!

Passos todos passinhos de criança...
Sorriso da velha bondosa...
Apertar da mão do amigo [sério?]...
Que vida que tem sido a minha!
Quanto tempo de espera no apeadeiro!
Quanto viver pintado em impresso da vida!

Ah, tenho uma sede sã. Dêem-me a liberdade,
Dêem-ma no púcaro velho de ao pé do pote
Da casa do campo da minha velha infância...
Eu bebia e ele chiava,
Eu era fresco e ele era fresco,
E como eu não tinha nada que me ralasse, era livre.
Que é do púcaro e da inocência?
Que é de quem eu deveria ter sido?
E salvo este desejo de liberdade e de bem e de ar, que é de mim?

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Álvaro de Campos, in "Poemas (Inéditos)"
Heterónimo de Fernando Pessoa