quarta-feira, 18 de julho de 2018

Rosângela Bittar: Medo de ficar com o mico na mão

- Valor Econômico

Agora é política, a fase do leilão é depois da eleição

O que está acontecendo na campanha eleitoral atualmente é um pouco diferente do que se viu antes e durante a Copa, mas muito pouco diferente mesmo pois o principal, as indefinições, continuam. Chegado o momento final para as opções de aliança, importante para definir o tempo que o candidato terá de propaganda na TV, um passo crucial da campanha, os partidos permanecem divididos, não deram um passo pela união, quebrados em três, quatro tendências, e os candidatos viáveis, não sendo óbvios, não conseguem atrair o apoio e juntar as facções.

O PR, o PSB, o Centrão estão dando um show de indecisão. Não é, como muitos podem pensar, que estejam fazendo um leilão agora, dando seu tempo a quem lhes der mais. Os candidatos, por enquanto, só têm o cargo de vice a oferecer. E o que adianta ser vice de quem vai perder? A fase do leilão é depois da eleição. Primeiro é preciso ganhar, depois distribuir o poder.

Os partidos que ainda negociam aliança provavelmente não querem nem Jair Bolsonaro nem o candidato do PT, a disputa que se desenha para o segundo turno nas previsões mais frequentes. Mas não decidem aliar-se a Ciro Gomes ou Geraldo Alckmin porque querem adivinhar quem pode tirar Bolsonaro ou quem pode tirar o PT do segundo turno. Portanto, fica claro que no momento há apenas dúvida política, o leilão mesmo é depois da eleição.

E nessa tentativa de adivinhar o que vai dar, os partidos se digladiam internamente entre Alckmin, Ciro, e até Bolsonaro leva uma casquinha. A ala bolsonariana do DEM está crescendo e quase rivalizando com a maior das divisões, que pende para Ciro, ou a politicamente mais forte, que quer Alckmin.

É só disso que se trata e, enquanto não conseguem respostas, os partidos, que ficam nervosos porque nunca foi tão difícil adivinhar quem vai ganhar, coisas estranhas vão acontecendo.

Por exemplo: Josué Gomes. Pode um quadro desse quilate ficar como alma penada na campanha, em um silêncio agressivo, porque escolheu para filiar-se um partido, o PR, que nesta fase tem seu tempo de televisão disputado por quase todos os candidatos, não dando espaço para ele?

Não se sabe o que está pensando, quem gostaria de apoiar, em que momento as águas correrão para o seu lado, se é que correrão. É verdade que ele nunca foi muito loquaz, mas para um candidato é extraordinária a discrição: calado estava, calado ficou.

No PR ao qual se filiou, a pedido do PT, não exerce um comando sequer. Valdemar da Costa Neto é dono do ponto, serve a que freguês quiser. Só ele manda.

Bolsonaro não consegue se acertar com o PR, embora fique atrás do partido e tenha em seu calcanhar o Centrão pressionando contra. Valdemar mesmo não queria o senador Magno Malta de vice, representando o partido. Mas uma parte do PR quer. Outra parte quer Geraldo Alckmin, outra ainda quer Ciro. E Josué não tem a menor condição de intervir nisso. É assim que os partidos se fracionam.

O filho de José Alencar, grife do atual quadro eleitoral, poderia ter sido candidato de Lula ou até mesmo vice do candidato do PT, mas, ao que consta, não quis.

Um setor do PT queria fazer dele candidato mas não teve força para isso. Parte do PDT queria que ele fosse vice do Ciro, mas outra parte resiste. Josué não é político, não seria nunca interlocutor do Centrão, que correria para os braços do adversário de Ciro.

Então ele não é dono do próprio destino.

Ciro Gomes oscila entre PSB e Centrão. Não importa agora o que o Centrão vai pedir ou o PSB vai exigir. Importa o que podem dar, segundos no horário eleitoral gratuito, o que importa nesta fase da campanha. O candidato tinha no seu campo de opção também o PT, que fechou as portas para ele logo no início desse movimento de articulação de alianças.

Não se pode negar que a consolidação do Centrão, mesmo rachado em vários pedaços, é um fato político que acabou influindo decisivamente na composição das alianças da disputa de 2018, depois de irradiar forte influência na Câmara dos Deputados. Todos os candidatos querem o Centrão, que quer todos os candidatos, por isso seu de TV ainda não vai para nenhum.

O PSB está rachado entre Ciro, Alckmin e PT mas ainda se fala lá em uma candidatura própria. Que já foi Joaquim Barbosa, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, e agora é o auto-lançado Julio Delgado, um deputado mineiro. O PSB de Pernambuco decidiu apoiar Lula, ou seu candidato no PT. Minas não sabe o que faz, Brasília também não. O do Espírito Santo está desorientado.

O PT também está dividido, embora isso não impeça que retome seu vigor de militância e capacidade de mobilização, como se futuro houvesse. Da presidente do partido aos advogados, das bancadas aos dirigentes sociais, o partido mantem a campanha eleitoral viva, fiel ao seu estilo. Até os aliados do PT agem como se problemas não existissem. Renan Calheiros (PMDB), com um grupo de amigos, visitou Lula ontem em Curitiba, e em seguida colocou no ar um video em sua defesa, além de dar entrevista com ataques ao candidato do seu partido. Gleisi Hoffmann (PT) foi a Pernambuco e, mesmo o PT tendo candidata a governadora, o atual governador (PSB) candidato à reeleição declarou apoio a Lula. Isso anima a torcida mas mostra a confusão reinante na campanha.

O partido considera que, em 1989, Lula foi para o segundo turno, devido à fragmentação partidária, com 14% dos votos. Se conseguir 14, 15, ou até 16% no primeiro turno, estará certamente no segundo, e Lula pode transferir esses votos necessários ao seu indicado.

O DEM quer Ciro mas também quer Alckmin e quem sabe Bolsonaro. O Centrão quer Alckmin mas teme que ele não ganhe. Quer apoiar Ciro mas também acha que ele não vai ao segundo turno. Todos desejam ir na boa, na vitória certa, em quem vai derrubar Bolsonaro ou o candidato de Lula do segundo turno. Ninguém quer ficar com o mico na mão mas é provável que a maioria vá ficar.

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