- O Estado de S.Paulo
A propaganda na TV ainda terá um peso decisivo no pleito presidencial deste ano
Os indicadores econômicos vão dar lugar ao cenário político como o catalisador mais importante para os investidores no curto prazo: a partir desta sexta-feira começam as convenções partidárias que escolherão os candidatos a presidente, muito provavelmente, definirão as alianças entre presidenciáveis e partidos.
Diante do quadro de incerteza em relação ao desfecho da eleição presidencial, o anúncio das alianças entre candidatos e partidos poderá injetar otimismo ou azedar de vez o humor dos investidores em relação às chances de que o próximo presidente seja um reformista, ou seja, demonstre disposição e força para aprovar as reformas necessárias, como a da Previdência, para conter a escalada dos gastos públicos.
As alianças partidárias podem alterar de forma significativa a fotografia atual mostrada pelas últimas pesquisas de intenção de voto em termos de preferência dos eleitores, uma vez que elas podem aumentar o tempo de propaganda eleitoral na TV, que tem início no dia 31 de agosto. Mesmo com o prazo encurtado em relação a eleições passadas e a maior relevância das redes sociais, a propaganda na TV ainda terá um peso decisivo no pleito deste ano.
A consultoria Arko Advice fez um levantamento que mostrou que o tempo de TV é fundamental nas eleições presidenciais. “Nas últimas sete disputas ao Palácio do Planalto (1989 a 2014), ocorreram mudanças no cenário duas semanas após o início da propaganda eleitoral gratuita na TV”, dizem analistas da consultoria em nota a clientes.
As negociações em torno das alianças seguem a todo o vapor, mas estão chegando num momento de definição à medida que se aproximam dois divisores de água: 5 de agosto, quando termina o prazo das convenções partidárias para a definição dos candidatos, e 15 de agosto, prazo para o registro das candidaturas.
O economista-chefe de uma grande corretora cita as principais negociações nas quais o mercado está de olho. Uma delas é se o deputado Jair Bolsonaro (PSL) fechará um acordo com o Partido da República (PR), sob a influência do ex-deputado Valdemar Costa Neto. “Se esse acordo vingar, Bolsonaro ganha 2 minutos de TV, o que é muito importante”, diz.
Para esse economista, a definição para que lado penderá o PSB também afetará o humor dos investidores. A disputa pelo apoio do partido está bastante acirrada entre o presidenciável Ciro Gomes (PDT) e o PT. Com dificuldade de chegar a um consenso sobre para qual lado deve ir, o PSB pode até mesmo surpreender e lançar na última hora um nome próprio. E, por fim, a fonte acima cita a negociação mais importante para o mercado: com quem o chamado Centrão – formado por DEM, PP, PRB e Solidariedade – vai fechar uma aliança.
O temor de muitos investidores é que, como dificilmente as pesquisas de intenção de voto mudarão o quadro atual na corrida presidencial nos próximos 15 dias, o bloco terá que fazer suas escolhas a partir dos números que já saíram nos últimos levantamentos.
Notícias de bastidores ora dão conta que esse bloco está próximo de anunciar o seu apoio a Ciro Gomes, ora dizem que o Centrão vai acabar fechando com o ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB). Em razão do número de deputados e senadores que aglutina, além de uma fatia importante do tempo de TV na propaganda eleitoral, o apoio do Centrão pode desequilibrar a disputa a favor de seu candidato escolhido.
“Não se espera que Bolsonaro ou Marina Silva (Rede) obtenham muito apoio. O foco então é como fica o tempo de TV do Alckmin e o do Ciro”, diz um renomado economista. “O mercado pode reagir caso um dos dois ganhe tempo significativamente maior do que o esperado.”
Caso haja um anúncio oficial, como a definição pelo Centrão de qual candidato vai ter seu apoio, as notícias em torno das alianças entre presidenciáveis e partidos devem ser o gatilho mais importante para os preços dos ativos até, ao menos, o fim do prazo das convenções partidárias.
Até porque provavelmente esses eventuais anúncios vão ser as únicas “novas” informações sobre o cenário eleitoral até lá, uma vez que as mais recentes pesquisas de intenção de voto vêm mostrando um quadro estagnado em termos de preferência do eleitorado. À exceção seria algum novo desenrolar da novela envolvendo os pedidos de soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesse meio tempo.
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