Nova reforma da Previdência se tornou mais urgente
O Globo
Com envelhecimento mais veloz da população,
efeitos das mudanças de 2019 se esgotarão já em 2027
Foi-se o tempo em que o termo “pirâmide
etária” descrevia a distribuição da população brasileira por idade. O país
envelhece, cai o número de filhos por mulher, e hoje o gráfico nada mais tem a
ver com a clássica pirâmide, em que a grande quantidade de jovens na base
sustenta os mais velhos no topo. Ao longo dos próximos anos, como mostram as
projeções do IBGE,
seu formato se aproximará mais e mais de um pentágono, com uma população de
jovens bem menor que a dos idosos na posição superior do gráfico.
O sistema brasileiro de Previdência, por ser de repartição — contribuintes que entram no mercado formal pagam a aposentadoria dos que saem —, sofrerá impacto imediato do envelhecimento populacional. A tendência de queda nos contribuintes do INSS e de crescimento no contingente de aposentados levou à reforma aprovada em 2019, estabelecendo idades mínimas mais altas (62 anos para mulheres e 65 para homens) — com inúmeras exceções e regras de transição que permitem aposentadoria mais cedo.
Mas demógrafos e economistas já avisam: os
efeitos da reforma se esgotarão em 2027. O INSS não deixou de acumular déficit,
que foi apenas atenuado. Como o envelhecimento populacional acelerou, a
economia propiciada pelas mudanças de 2019 está prestes a acabar. Mais uma vez
será preciso aumentar a idade mínima para a aposentadoria e estimular a
permanência no mercado de trabalho. Não fazer nada equivalerá a não dispor de
recursos para arcar com as obrigações previdenciárias — a um rombo fiscal
maior.
A proporção de contribuintes que sustentam
cada beneficiário do INSS, conhecida tecnicamente como “razão de dependência”,
tem caído a cada dia. Hoje são quatro por aposentado. Em 2070, considerando
também a Previdência do funcionalismo público, os mesmos quatro contribuintes
terão de sustentar aproximadamente três aposentados, segundo cálculos do
economista Rogério Nagamine apresentados em reportagem do GLOBO. Muito antes
disso o sistema terá de ser atualizado para atender uma população cuja
expectativa de vida vem aumentando e que tende a parar de crescer.
Até 2054, a população de idosos (60 anos ou
mais) deverá dobrar de 34,2 milhões para 68,9 milhões. Dezesseis anos depois,
em 2070, haverá 75,3 milhões, e os contribuintes do INSS, hoje 136,4 milhões,
cairão para 100,1 milhões. “Há cada vez menos gente para sustentar o conjunto
de aposentados”, afirma o economista Fabio Giambiagi, que acompanha a
Previdência há anos. Em 2018, diz ele, o IBGE projetou que haveria 43,8 milhões
de crianças em 2024 e que esse número cairia a 33,6 milhões em 2060. Pela
última revisão, ele já caiu para 41,1 milhões e chegará a 26,6 milhões em 2060
— 7 milhões de crianças a menos.
A Previdência requer do Executivo e do Congresso ações em várias frentes. Uma delas é combater a informalidade, criando alternativas para quem não contribui, diz o economista-chefe da Leme Consultores, José Ronaldo de Souza Júnior. Ele também chama a atenção para a produtividade. Com a tendência de encolhimento da população ativa, será preciso que cada um produza mais no mesmo tempo de trabalho para manter a renda per capita. Isso exige mão de obra mais preparada para um mercado de trabalho dominado por novas tecnologias. A tudo isso, se adiciona a atualização das regras previdenciárias — tarefa prioritária desde já.
Doenças respiratórias são efeito nefasto das
mudanças climáticas
O Globo
Internações de bebês bateram recorde no ano
passado e continuam em alta neste ano
As doenças agravadas pelas mudanças
climáticas atingem toda a população, mas em especial os mais
novos. As internações de bebês com menos de 1 ano por pneumonia, bronquite e
bronquiolite no Sistema Único de Saúde (SUS) bateram recorde no ano passado,
com 153 mil casos, pouco mais de 419 por dia, constatou estudo do Observatório
de Saúde na Infância (Observa Infância), da Fiocruz,
e da Faculdade de Medicina de Petrópolis (Unifase). De acordo com dados dos
primeiros seis meses deste ano, a incidência dessas doenças entre
recém-nascidos levou a 71,5 mil internações. Se o segundo semestre mantiver a
tendência do primeiro e houver 143 mil internações, 2024 só será superado por
2023.
Mudanças bruscas na umidade do ar e variações
de temperatura afetam os mecanismos de defesa do corpo humano. Indefinição nas
estações do ano, outro efeito das transformações no clima, altera a
distribuição dos agentes infecciosos e a sua sazonalidade. O relógio biológico
fica confuso. Recém-nascidos, cujo sistema imune ainda está em formação, são as
maiores vítimas das oscilações. Dados da organização de saúde pública Umane
revelam que crianças de até 14 anos responderam por 55% das hospitalizações no
ano passado. Infecções de ouvido, nariz e garganta representaram 67,5% dos
casos.
Soma-se a tudo isso a deficiência na
vacinação de mães e bebês. Durante a pandemia, a cobertura foi reduzida, e mais
crianças crescem num ambiente de vulnerabilidade. Um exemplo é a vacina
tríplice contra difteria, tétano e coqueluche.
Sua cobertura esteve abaixo de 50% entre 2020 e 2022. Já se recuperou e está
hoje em 61,9%, mas ainda longe do nível ideal de 95%.
É conhecida a sazonalidade das internações ao
longo do ano, mas surtos inesperados ou fora de época, como o de dengue,
têm sobrecarregado os hospitais neste ano. É preciso que a cobertura vacinal,
em queda desde 2015, continue a subir para reduzir a pressão sobre o sistema de
atendimento. Mas em 2023 nenhuma vacina atingiu 90% do seu público-alvo. “Temos
avanços, no ano passado não tivemos casos de sarampo no país, mas precisamos
bater as metas, que não são um valor administrativo, mas uma necessidade real
para barrar doenças”, afirma Evelyn Santos, gerente da Umane.
O clima continua a preocupar. A forte seca
na Amazônia e
no Pantanal tem favorecido grandes incêndios, e a fumaça com fuligem é
transportada para Sul e Sudeste em direção ao Atlântico. Degrada-se a qualidade
do ar, já afetado pelo clima muito seco, facilitando a propagação das doenças
respiratórias. A piora na saúde da população é mais uma consequência nefasta
das mudanças climáticas.
Preço
de importações cai e reduz pressão do dólar
Valor
Econômico
Recuo para bens intermediários, insumos para a indústria foi de 10,3% no ano
Com
a demanda doméstica em aceleração, os saldos comerciais do Brasil começaram a
cair. A balança teve seu menor resultado positivo em agosto, de R$ 4,82
bilhões. No acumulado do ano, o superávit encolheu de R$ 62,4 bilhões, no mesmo
período de 2023, para US$ 54,07 bilhões agora. A situação é muito confortável
nas contas externas e o país pode conviver com saldos menores por um bom tempo.
O
aumento das importações, de 13% no acumulado do ano, apesar da queda de 6,5%
nas vendas externas, traz boas notícias. Uma delas é que as compras de bens de
capital foram robustas: avançaram 18%, convivendo com a elevação da produção
doméstica desse setor. Esse é um sinal positivo de aumento de investimentos.
A
diminuição do tamanho dos superávits afeta de imediato o câmbio contratado. Até
há pouco, os recursos internalizados com as exportações ajudaram a equilibrar o
balanço cambial, que acusou saídas significativas pelo câmbio financeiro.
Haverá alguma inversão agora. Em agosto o saldo cambial foi negativo em US$
2,69 bilhões, fruto da diferença de saídas financeiras de US$ 5,18 bilhões e
ingressos de vendas externas de US$ 2,48 bilhões. O desempenho do balanço de
pagamentos, que é o mais relevante, segue tranquilo. O déficit em julho foi de
1,56% do PIB, coberto com folga com os investimentos diretos no país, de 3,21%
do PIB.
Com
a valorização do dólar, o aumento das importações contribui para alguma pressão
sobre os preços internos. O Copom registrou essa preocupação em sua última ata,
mostrando que essa seria a consequência de o dólar encontrar um novo patamar no
curto prazo. No ano, até sexta-feira, a moeda americana aumentou 14,8% em
relação ao real, alta de considerável magnitude.
No
entanto, os preços das importações estão caindo bem. No acumulado do ano até
agosto, eles recuaram 7,8%. Mais importante, em relação às principais compras
que influem nos preços dos bens industriais, também há queda de preços. No caso
dos bens de capital, segundo dados da Secex, as importações estão 3,9% mais
baratas no ano, e no dos bens intermediários, insumos que entram na produção de
bens finais, o recuo é expressivo, de 10,3%. O mesmo fenômeno não acontece nas
compras externas de bens de consumo, para as quais os preços caíram apenas
0,3%.
Há
algum alívio para os preços domésticos com as commodities em agosto. Vários
bens agrícolas, de energia e minerais seguem as cotações externas e, no mês
passado, elas mantiveram tendência de queda. Em dólares, os bens agrícolas
encolheram 2,78%, os da energia, 2,52% e os dos metais, 1,71%. Essa evolução
prejudica até certo ponto a remuneração dos exportadores de commodities, nas
quais se destacam nas primeiras posições a soja e o petróleo e seus derivados.
No entanto, a queda dos preços das vendas externas foi de 3,3%, menos da metade
da ocorrida nas importações, indicando que a relação de trocas foi vantajosa
para o país.
A
comparação entre os preços das importações dos países que vendem mercadorias ao
Brasil mostra que a queda vem quase que inteiramente da China, seu maior
parceiro comercial. Os US$ 41,2 bilhões importados - praticamente um quarto do
total geral - foram a preços 14,2% menores. Não há queda remotamente parecida
registrada com outras nações. Nas exportações brasileiras para China, Hong Kong
e Macau, de US$ 70,3 bilhões, praticamente um terço dos US$ 227 bilhões
vendidos pelo Brasil no exterior, os preços recuaram menos, 6,7%.
Outro
dado positivo da balança é que o Brasil aumentou suas exportações para os
Estados Unidos e a União Europeia, além de China e Ásia. A nota negativa é a
Argentina, cujas vendas caíram 34,1% no acumulado do ano. É uma queda
relevante, porque a Argentina, como os vizinhos da América do Sul, adquirem
principalmente bens manufaturados do Brasil. O Brasil teve pequenos déficits no
ano no comércio com EUA e UE, e manteve um resultado positivo grande com os
chineses, de US$ 29 bilhões, garantindo mais da metade do superávit da balança,
de US$ 54,07 bilhões.
O
avanço das importações a um ritmo mais intenso que exportações reduziu as
previsões do saldo comercial para US$ 78 bilhões, na estimativa da Secex, e bem
abaixo disso pelo Banco Central, US$ 59 bilhões. Pela evolução da balança, o
saldo deverá ultrapassar com alguma folga a previsão do BC, a menos que o
resultado passe a ser deficitário em um ou mais dos quatro meses que faltam
para fechar o ano. Caso prossiga o aquecimento do mercado interno, expresso no
crescimento do PIB do segundo trimestre, de 3,3% em doze meses, a redução do
resultado positivo entre compras e vendas externas é possível.
Por outro lado, quanto aos preços domésticos, há previsão de queda ou estabilidade nas principais commodities, em especial porque a China deve crescer menos, o que ajuda a inflação se o dólar ficar bem comportado ou recuar com mais força a partir deste mês, quando o Federal Reserve dos Estados Unidos começará a reduzir sua taxa de juros. Uma reversão da trajetória do dólar retiraria um fator de pressão importante sobre o IPCA.
Tebet acerta ao defender aperto no Simples
Folha de S. Paulo
É preciso aperfeiçoar programa, que sofreu
expansão exagerada, é sujeito a fraudes e gera renúncia de R$ 128 bi ao ano
Na coletânea numerosa de subsídios e
renúncias tributárias que oneram as finanças públicas, um dos mais custosos é o
Simples Nacional. Diante da
penúria do Orçamento federal, é urgente um esforço de racionalização
do programa.
É boa notícia, assim, que o governo federal
se disponha a rever os critérios de acesso ao benefício, conforme
relatado pela ministra do Planejamento, Simone Tebet,
em entrevista à Folha.
Segundo estimativas oficiais para 2025, o
montante dos chamados gastos tributários chegará a exorbitantes R$ 536,4
bilhões, equivalentes a 4,33% do Produto Interno Bruto previsto.
Desse total, nada menos que 23,87%, ou R$ 128
bilhões, decorrem do Simples. Tão caro quanto popular no mundo político, o
programa proporciona coleta simplificada e redução na carga de impostos para
micro e pequenas empresas com faturamento de até R$ 4,8 milhões anuais.
São abarcados tributos federais, estaduais e
municipais, além da contribuição para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Como resultado, a carga efetiva sobre empresas que aderem às regras é sempre
inferior a 20%.
A depender do setor e do faturamento, a
taxação não raro fica abaixo de 10%, nível muito inferior ao praticado em
outras modalidades para pessoas jurídicas, como o também favorecido lucro
presumido e o mais oneroso regime de lucro real.
O objetivo do Simples é incentivar empresas
de menor porte, o que decerto é meritório. Entretanto os excessos foram se
acumulando com o tempo, a começar pelo patamar máximo de faturamento para
enquadramento no programa, progressivamente elevado pelo Congresso
Nacional —sempre permeável aos lobbies de setores influentes.
Em outros países, o favorecimento a micro e
pequenas empresas se dá em valores menores. Num país de renda média como o
Brasil, não faz muito sentido estabelecer que receitas mensais de R$ 400 mil
devam ser objeto de incentivos especiais.
Basta imaginar margens de lucro moderadas, de
10% por exemplo, para verificar que os acionistas dessas empresas estariam no
topo da distribuição de renda com seus dividendos.
Ademais, não há limites para a multiplicação
de pessoas jurídicas com os mesmos controladores no Simples. Assim que o
faturamento cresce além do teto, basta criar um novo CNPJ —num óbvio abuso do
conceito, brecha que deve ser eliminada.
Por fim, o dono da empresa e seus
funcionários também se aposentarão à custa do erário, de modo que é
questionável a diferença na contribuição à Previdência
Social em relação a outras modalidades de contratação.
Diante do gigantismo dos valores envolvidos e
da deturpação dos objetivos originais, passa da hora de reavaliar os custos e
benefícios do Simples, bem como iniciar com urgência um esforço de combate a
fraudes e aperto dos critérios de acesso.
O crime organizado mora ao lado
Folha de S. Paulo
Com 14% da população em bairros sob jugo de
facções e milícias, deve-se focar em inteligência para desmonetizar grupos
Pesquisa do Datafolha encomendada
pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública estima que, entre junho de 2023 e
junho de 2024, mais de 23 milhões de brasileiros moraram em locais com presença
de facções criminosas ou milícias —o que
significa 14% da população.
O dado mostra que, para parcela considerável
dos habitantes do país, o encontro com a violência urbana
não é algo esporádico ou fortuito, mas recorrente.
Mesmo que a grande maioria deles não more em
região controlada por criminosos, os milhões que moram evidenciam a banalização
da presença do crime organizado nas cidades brasileiras e, por consequência, a
falência de políticas na segurança pública.
No Rio de
Janeiro, levantamento da Universidade Federal Fluminense em parceria
com o Instituto Fogo Cruzado mostra que 18,2% da área
construída na região metropolitana estava sob jugo armado ilegal em
2023 —ante 8,8% em 2008. Desse total, 51,9% eram dominados pelo Comando
Vermelho, e 38,9%, por milícias.
As duas maiores facções do país —Primeiro
Comando da Capital (PCC)
e CV— já estão presentes em mais de 20 estados, segundo a Secretaria Nacional
de Políticas Penais, e atuam em prisões de 24 estados e do Distrito Federal,
além de estarem expandindo seu raio de ação para territórios vizinhos na América
Latina.
Para enfrentar essa tragédia, é preciso atuar
com inteligência investigativa e em parcerias internacionais. Só assim é
possível desvendar e bloquear fontes de financiamento e relações de grupos
armados com o Estado.
O poder público brasileiro, no entanto,
insiste em políticas de grandes operações policiais que não raro
descambam para a violência contra a população que mora em
bairros controlados por facções e milícias —e não produzem efeito duradouro na
diminuição da criminalidade.
O perigo é que os dados da pesquisa Datafolha
estimulem a manutenção da truculência policial por parte dos gestores. De forma
compreensível, sondagens mostram que a segurança pública se destaca entre os
temas de maior preocupação dos brasileiros.
Mas só policiamento ostensivo e grandes
operações são medidas populistas baseadas em punitivismo, que servem mais a
propósitos eleitoreiros do que para solucionar um problema complexo.
A expansão territorial de facções e milícias tem sido possível com o aumento da influência econômica e do nível de organização desses grupos. Desmonetizar o crime é, portanto, fundamental. Sem isso, o perigo continuará morando ao lado.
A indolência de Lula na crise ambiental
O Estado de S. Paulo
Na mitologia lulopetista, o Estado é a
solução para tudo. Mas nas áreas que de fato dependem da ação do Estado, como a
ambiental, governo Lula oscila entre negligência e demagogia
Embriagado por sua ideologia estatólatra, o
governo de Lula da Silva gosta de enfiar a mão grande e mui visível do Estado
em tudo, seja na governança da Petrobras, seja nos projetos da ex-estatal Vale.
Não é por acaso que o PT andou a dizer por aí que o modelo chinês, de
capitalismo de Estado, é seu sonho de consumo. E também não é por acaso que o
governo reduziu o Ministério da Fazenda a um “Ministério da Arrecadação”, visto
que não há outra maneira de sustentar o Estado pantagruélico e insaciável que Lula
e o PT julgam ideal. No entanto, quando se faz realmente necessário, o Estado
sob administração lulopetista é intoleravelmente ausente.
Tome-se o exemplo da área de meio ambiente,
uma pauta não só consagrada, como urgente por todo o mundo, mas que poderia ser
um poderoso ativo do Brasil e – o mais surpreendente – que é sacrossanta para
as novas esquerdas.
Depois do governo de um rematado
antiambientalista como Jair Bolsonaro (o folclórico “BolsoNero”), até um poste
faria boa figura. Mas Lula é um formidável animal político que fareja como
ninguém oportunidades propagandísticas. Ele encheu os bolsos de seus
marqueteiros, subiu a rampa do Planalto com um indígena de cocar, fez as pazes
com a popstar Marina Silva e deu a ela um ministério de butique, afinou o gogó
e correu o mundo se autoproclamando, em pajelanças cuidadosamente
coreografadas, como um herói da floresta e salvador do planeta. Para carimbar
sua obra redentora, concertou com a ONU a hospedagem da COP-30.
Mas a pouco mais de um ano da COP e próximo à
metade de seu mandato, “os esforços do governo estão um pouco dispersos”, sem
“a intensidade necessária”, “um pouco lento”. Foram as palavras diplomáticas
que o empresário Pedro Wongtschowski, uma das lideranças mais competentes e
comprometidas com a causa ambiental no Brasil, encontrou para dizer a este
jornal o que este jornal pode dizer sem meias palavras: que o governo está
fazendo muito pouco e bem menos do que se esperava.
A Amazônia queima. O Pantanal queima. O
Cerrado queima. Marina Silva, que saiu do PT, mas manteve os cacoetes
lulopetistas, saiu a terceirizar responsabilidades: a culpa ora é de El Niño,
ora de La Niña; ora do Congresso, ora do crime organizado. O sucateamento dos
órgãos de fiscalização promovido por Bolsonaro foi desastroso, mas a greve que
paralisou o Ibama por meio ano, já sob Lula, não foi menos. O morticínio dos
yanomamis já neste governo quebrou o recorde do governo Bolsonaro. Nos tempos
de Bolsonaro, petistas e seus simpatizantes usaram a expressão “genocídio”;
hoje, o termo foi aposentado.
Lula cobra caro dos países “ricos”, mas aqui
não hesita em subsidiar a produção de automóveis e sobretaxar veículos
elétricos. Em soluções ambientais urgentes, como o Marco do Saneamento, andaria
para trás se não fosse barrado pelo Congresso.
No governo, Marina Silva é um vaso chinês –
de grande valor, mas com utilidade meramente decorativa. Esse vaso, por sinal,
está cheio até a boca de boas intenções, mas sustentadas em propostas
irrealistas, contraproducentes ou irresponsáveis. Marina é refratária a
soluções que dariam sustentabilidade a ações ambientais, como a exploração do
petróleo da Margem Equatorial. Ela reclama recursos para prevenção e adaptação
aos extremos climáticos, mas não apresentou nada concreto ao Congresso e flerta
com novas maquiagens fiscais.
Wongtschowski listou iniciativas que poderiam
rechear uma cesta de ofertas do Brasil na COP: créditos de carbono,
agropecuária sustentável, reflorestamento de áreas degradadas, regularização
fundiária e tecnologias verdes. Nesta última – mas o mesmo se diria das outras
–, o problema, como lembrou o empresário, “não é a falta de recursos” é “a
falta de projetos viáveis para absorver esses recursos”.
Tal como faz aqui com a malfadada “Frente
Ampla Democrática”, Lula continua a desfilar nos palcos do mundo sua cantilena
salvacionista sobre o meio ambiente. Mas, enquanto as plateias se esvaziam ao
som de sua voz rouca e desafinada, as florestas brasileiras viram fumaça – e o
Brasil perde uma chance de ouro de liderar uma área crucial para o mundo.
Um dia na vida dos sindicalistas de toga
O Estado de S. Paulo
Responsável por fiscalizar os juízes, novo
corregedor de Justiça se preocupa com ‘pauta remuneratória’ dos colegas, em um
discurso alinhado com o corporativismo que capturou o CNJ
O ministro do Superior Tribunal de Justiça
(STJ) Mauro Campbell acabou de tomar posse como corregedor nacional de Justiça.
No novo cargo, o ministro terá de cuidar de correições, inspeções, reclamações
e denúncias contra magistrados, mas, em seu primeiro discurso, demonstrou
bastante aflição mesmo com as reivindicações salariais de seus colegas.
Na presença de altas autoridades da
República, no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) Campbell expôs preocupações
corporativistas, embora os juízes brasileiros estejam entre os servidores mais
bem pagos da elite do funcionalismo. O novo corregedor disse que a carreira tem
“pautas remuneratórias ingentes e que precisam ser equacionadas como forma de
conter a perda de bons quadros”.
Esse alarmismo, digamos assim, denota uma
gravidade inexistente. Primeiro, porque não há notícia de abandono em massa dos
postos. Segundo, porque, em meio a tantas demandas do funcionalismo, não são as
do Judiciário as mais urgentes do País. Não é novidade que a magistratura é uma
das carreiras com mais privilégios, estampados frequentemente no noticiário com
a alcunha de “penduricalhos”.
E é por isso que o Judiciário pesa bastante
nos Orçamentos da União e dos Estados. Vale lembrar que, de acordo com o
relatório Justiça em Números, do próprio CNJ, os gastos com esse Poder
equivalem a 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto que o valor médio é
de 0,3% do PIB em economias avançadas, segundo estudo do Tesouro. Além disso,
os 18,2 mil magistrados do Brasil custam, em média, R$ 68 mil por mês – um
claro drible no teto constitucional de R$ 44 mil.
Mas todo esse dinheiro parece ser
insuficiente. Por isso, para que os colegas consigam salários mais polpudos,
Campbell aconselha que se faça um trabalho de convencimento junto à sociedade.
De acordo com o novo corregedor, “magistradas
e magistrados” devem voltar “a estar em escolas, hospitais, penitenciárias,
beiradões, Caatinga, Cerrado, Pampas, vivendo e convivendo com os problemas da
nossa comunidade”. Talvez assim possam sensibilizar os mais vulneráveis da
urgência de suas benesses.
Dadas diante do presidente do Senado, Rodrigo
Pacheco (PSD-MG), as declarações de Campbell têm caráter providencial. É
naquela Casa Legislativa que tramita atualmente a Proposta de Emenda à
Constituição (PEC) do quinquênio, de autoria do próprio Pacheco, junto com
dezenas de senadores, e defendida pelo presidente do CNJ e pelo presidente do
Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso. Trata-se de um adicional
de 5% no salário a cada cinco anos, limitado a 35%, faça chuva ou faça sol – um
estímulo à ineficiência por ignorar critérios de desempenho.
Se o corregedor nacional já abraça essa pauta
classista, tudo indica que as associações da magistratura poderão continuar a
atuar firmemente na sua busca incessante por mais privilégios. As falas de
Campbell, que não fariam feio numa assembleia da Central Única dos
Trabalhadores (CUT), têm o condão de animar o sindicalismo de toga. E não é de
hoje que esses sindicalistas togados ocupam espaço privilegiado e se mobilizam
por mais benefícios que se convertem em maiores rendimentos.
É no âmbito do CNJ que essas entidades obtêm
vitórias em série. O conselho já autorizou, por exemplo, o pagamento de 20 dos
60 dias de férias de magistrados e aprovou resolução que garante equiparação
“de direitos e deveres” com o Ministério Público – assim, quando um
penduricalho for criado para promotores e procuradores, juízes não ficarão
desassistidos. Numa relação simbiótica, ex-presidentes de associações ocupam
hoje assentos no CNJ, o que, em linguagem popular, significa colocar a raposa
para tomar conta do galinheiro.
Criado para fazer controle administrativo e
financeiro, além de fiscalizar os juízes, segundo a Constituição, o Conselho
Nacional de Justiça virou arena de reivindicação de alegados direitos dos
juízes, que já não são poucos. Se o sindicalismo fosse posto de lado, à
magistratura talvez sobrasse mais tempo para melhorar a prestação
jurisdicional, o que sensibilizaria bastante a sociedade. O trabalho é grande –
ou ingente, como diria Campbell –, com 84 milhões de processos à espera de
solução.
Combustível do passado
O Estado de S. Paulo
Senado aprova jabuti em projeto de lei e
prorroga prazo de subsídios para empresas de energia solar
Seis meses depois de passar pela Câmara, o
projeto do “combustível do futuro” foi aprovado no Senado, prevendo aumento da
mistura de etanol à gasolina e de biodiesel ao diesel, além da criação de
programas para ampliar a oferta de diesel verde, biometano e combustível
sustentável de aviação. Mas o projeto, aprovado em votação simbólica, deixou a
Casa com 13 emendas, entre elas um “jabuti”, e terá de retornar ao plenário da
Câmara, o que é esperado para os próximos dias.
Como é amplamente sabido, “jabuti” é um termo
popularizado no Congresso que define matéria estranha ao projeto que é
“pendurada” ao texto em discussão. O “jabuti” da vez, apresentado pelo PSD,
incluiu nas normas para o combustível do futuro um artigo para beneficiar a
minigeração de energia solar.
Aprovado em 2022, o marco da geração
distribuída deu prazo de 12 meses, após a aprovação pelas distribuidoras, para
que essas empresas concluíssem seus empreendimentos e mantivessem isenção de
tarifas pelo uso da rede de distribuição. Com a emenda, quem havia perdido o
prazo terá até 30 meses para viabilizar suas obras sem perder o subsídio.
A isenção tarifária, nunca é demais lembrar,
é uma benesse que não é bancada pelo governo. Para permitir o desconto, os
valores são rateados nas contas de luz de todos os consumidores de energia do
País.
Vale ressaltar que a minigeração de energia
solar não tem como público-alvo a demanda residencial, que forma a denominada
microgeração. Com potência de até 5 megawatts, as miniusinas solares são
empreendimentos de grandes empresas, especialmente as que vendem assinaturas
solares, modelo contestado pelo Tribunal de Contas da União (TCU).
Se a manutenção de subsídios para a
instalação dos painéis fotovoltaicos em telhados residenciais – alternativa
normalmente à disposição de consumidores com poder aquisitivo mais alto – já
era motivo de questionamento, não há explicação plausível para beneficiar
indústrias e outras empresas de grande porte com isenção tarifária à custa da
transferência de ônus aos demais consumidores.
Esse subsídio foi criado para incentivar
energias renováveis quando seu desenvolvimento era incipiente e economicamente
inviável. Hoje, no entanto, pode-se afirmar, sem risco de erro, que essa fonte
não necessita mais de estímulos extras para operar.
Os dados da Empresa de Pesquisa Energética
(EPE) mostram avanço contínuo e firme no País. O mais recente Balanço
Energético Nacional (BEN) apontou aumento de 68,1% na geração solar
fotovoltaica no curtíssimo prazo de um ano, entre 2022 e 2023. No mesmo período,
a geração eólica cresceu 17,4%.
A Conta de Desenvolvimento Energético (CDE),
que concentra todos os incentivos concedidos pelo governo e os divide entre
todos os consumidores de eletricidade, por meio da conta de luz, chegou a
absurdos R$ 40,3 bilhões em 2023.
É uma fatura anual indigesta a encarecer
orçamentos familiares, enquanto o governo mantém o discurso enganoso de estar
empenhado em reduzir as tarifas de energia. O projeto aprovado no Senado mostra
que a redução, quando ocorre, é sempre seletiva.
Violência no trânsito e saúde pública
Correio Braziliense
Em sua Agenda 2030, a Organização das Nações
Unidas coloca aos países a meta de diminuir pela metade as ocorrências de
mortes e lesões
A violência no trânsito brasileiro é um
problema que afeta milhares de pessoas todos os anos. Seja nas metrópoles ou
nas cidades de médio e pequeno portes, seja nas ocorrências que marcam famílias
pelo país. No lançamento de campanha de conscientização, o Ministério dos
Transportes, que monitora as mortes e as internações no trânsito, divulgou
dados mostrando que, em 2022, 34 mil pessoas perderam a vida no território
nacional em razão de acidentes. Segundo as informações do órgão, foram
contabilizadas ainda 212 mil internações, representando um custo total de R$
350 milhões para o setor.
As causas da violência no trânsito são
diversas. Entre elas, destacam-se o investimento limitado em infraestrutura
viária, a falta de respeito dos motoristas e a impunidade para quem comete
infrações e crimes na direção. O comportamento que coloca em risco a segurança
e a integridade física dos condutores, além de passageiros, pedestres e demais
usuários das vias públicas, é determinante para os números elevados.
A atenção para a gravidade do problema tem de
partir de cada agente do processo, começando com a consciência que cada
indivíduo precisa ter sobre a responsabilidade de fazer a sua parte para
garantir um deslocamento seguro para todos — em áreas urbanas ou nas estradas.
O combate à "direção distraída" — provocada principalmente pelo
uso dos aparelhos celulares — é um desafio da atualidade.
Os governos também precisam cumprir seu
papel. Pistas bem sinalizadas e iluminadas, espaços adequados para pedestres e
ciclistas, campanhas de educação e orientação que disseminem boas práticas,
fiscalização efetiva, transporte público de qualidade e acessível são ações
essenciais.
A adoção de tecnologias, tanto para os
veículos particulares quanto para os sistemas coletivos, é outra saída para
atacar o quadro assustador de mortos e feridos. O monitoramento das frotas
também precisa ser considerado em um cenário de controle de riscos.
Várias medidas devem ser combinadas e
aplicadas de forma coordenada, envolvendo poder público, empresas,
instituições, organizações e a sociedade. A mudança de cultura para um trânsito
seguro requer esforços persistentes e contínuos, além de inovação para superar
os obstáculos que se colocam neste caminho. Da mesma forma que a prevenção de
doenças, é fundamental ter uma circulação de veículos que provoque cada vez
menos óbitos e ferimentos e, assim, deixe de sobrecarregar o sistema de saúde.
Em sua Agenda 2030, a Organização das Nações
Unidas (ONU) coloca aos países a meta de diminuir pela metade as ocorrências de
mortes e lesões. No Brasil, atingir essa recomendação vai exigir muito empenho
e projetos capazes de dar resultados eficientes em curto prazo.
É inaceitável que os brasileiros sigam sendo vítimas de um sofrimento evitável. O respeito às leis e o investimento necessário nas vias não são opções, mas, sim, deveres a serem cumpridos. Acabar com a violência envolvendo o tráfego é um objetivo complexo e que exige ações integradas em diferentes níveis, partindo da educação até chegar à infraestrutura ideal. Porém, o país não pode ficar parado diante dessa situação, que causa dor e prejuízo financeiro. É preciso reconhecer os problemas e agir de forma acelerada para diminuir progressivamente a perda de vidas no trânsito.
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