sexta-feira, 14 de junho de 2024

Ruy Castro - Desmemória coletiva

Folha de S. Paulo

Por esquecer ou desconhecer o passado, as pessoas querem a volta de um país que nunca existiu

Ivan Lessa se queixava de que, no Brasil, a cada 15 anos esquecemos o que aconteceu nos 15 anos anteriores. Ivan, sempre tão rigoroso com o Brasil. Mas, digo eu, em outros lugares, até mais cultos, não é muito melhor. Só varia o tempo da desmemória. Muito do que de pior acontece hoje no mundo tem como causa o fato de grande parte da população ignorar o passado de seu país, dando de barato certos privilégios e conquistas e achando que é preciso mudar tudo.

Essa desmemória parece coletiva na Europa, com a extrema direita a ponto de tornar-se a segunda força política do continente. Já está no poder na Hungria, Eslováquia, Itália, Finlândia, República Tcheca e Países Baixos e começa a chegar perto em Portugal, Áustria, França, Espanha e, incrível, a Alemanha. Em todos, a mesma receita: populismo, nacionalismo, negacionismo, xenofobia, racismo, homofobia, ódio ao imigrante e slogans neonazistas.

O discurso com que seus líderes se vendem como solução para os problemas econômicos de seus países se baseia em demagogia, dados falsos e no desconhecimento da história pela população mais jovem. Em Portugal, o grosso dos adeptos do Chega, novo partido de extrema direita, tem entre 18 e 34 anos. Como vão se lembrar de que, antes de 25 de abril de 1974, seu país era o mais triste e atrasado da Europa?

No Brasil, os seguidores de Bolsonaro acreditam em tudo o que ele diz sobre os 21 anos da ditadura e sonham com a volta de um país que não conheceram e nunca existiu. É normal. Nasce um otário por minuto e o ser humano tem uma irresistível tendência a ser tapeado.

Mais incrível ainda é o culto a Donald Trump nos EUA. Nesse caso, trata-se de uma desmemória de quase 250 anos. Os constituintes de 1776, que julgavam estar fundando uma democracia para sempre, não contavam com um celerado que se valeria dela para tentar destruí-la e seria apoiado por milhões.

 

4 comentários:

Anônimo disse...

O colunista tem certa razão. Mas, nos EUA, haveria também uma desmemória de 3 a 7 anos? Pois este é o tempo em que Trump tentou golpear a eleição na qual foi derrotado e a duração do seu mandato com todas as milhares de mentiras que contou e todos os absurdos que comandou com quase total apoio dos republicanos.

Anônimo disse...

E por falar e apagar a memória, Ha todo um trabalho da mídia em fazer o povo esquecer o que o PT com Lula na presidência fez com o Brasil . A lava jato mostrou as entranhas da corrupção empresário estatal e pelas contas do prejuízo total chegou a 1 trilhão de reais , dinheiro tirado do imposto suado do cidadão e não que não retornou em benefício para esse povo sofrido Em nenhum país do mundo um preso condenado em três instâncias por nove juízes a mais de 20 anos de prisão , seria retirado da cadeia para concorrer e ganhar presidência com a ajudinha dos amigos do Judiciário
Aqui hoje falar que o Lula é ladrão dá processo e cadeia ,
Isso sim é querer apagar o passado

ADEMAR AMANCIO disse...

O problema é que no Brasil,a alternativa a Lula era muito pior.

Daniel disse...

Os processos contra Lula foram conduzidos por um juiz CORRUPTO, PARCIAL e sem isenção, ou seja, os princípios básicos do Direito não foram obedecidos neles, o que os tornou imprestáveis. O juiz combinava ações e decisões com o acusador, o Ministério Público, o que é ilegal e inaceitável, causando a NULIDADE de suas decisões desde o início. Outras instâncias não perceberam e não levaram em conta TANTAS ILEGALIDADES. Todas estas decisões com base em processos irregulares FORAM ANULADAS, por falhas evidentes DESDE O INÍCIO DOS PROCESSOS.