Valor Econômico
Índice de Confiança do Consumidor (ICC) de
março registrou uma alta de 0,7 ponto, para 84,3 pontos, depois de três quedas
seguidas
Meses atrás, um estudo publicado pelo
National Bureau of Economic Research (NBER), reconhecida instituição privada
apartidária sem fins lucrativos dos Estados Unidos, chamou a atenção de
integrantes do governo e circulou pela Esplanada dos Ministérios. A campanha
presidencial americana corria solta e o texto, na visão dessas autoridades,
explicava as dificuldades enfrentadas pelo então presidente Joe Biden na
disputa contra Donald Trump. Era um alerta para quem estivesse preocupado com a
queda na popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Intitulado “O Custo do dinheiro é parte do custo de vida: novas evidências sobre a anomalia no sentimento do consumidor”, o artigo apontava que a confiança do cidadão americano estava insistentemente reduzida, apesar do baixo desemprego e da inflação em queda, e a explicação para isso era o encarecimento do acesso ao crédito. Ou seja, uma variável que não era captada pelos índices de inflação, mas afetava diretamente a vida de milhões de famílias.
Seus autores, renomados economistas com
atuação na academia ou instituições multilaterais (Marijn Bolhuis, Judd Cramer,
Karl Oskar Schulz e Lawrence Summers), acrescentavam que isso criava um cenário
confuso para os especialistas. Afinal, sempre se considerou esses dois fatores,
taxa de desemprego e inflação, para avaliar como os consumidores percebem a
economia. Mas agora o problema era que os custos dos empréstimos vinham
crescendo a taxas não vistas há décadas e isso não estava sendo incluído nos
índices tradicionais de preços. Como resultado, havia uma desconexão entre os
custos efetivos enfrentados pelos cidadãos e as medidas preferidas para a
aferição do sentimento dos consumidores - ou, em última instância, o humor dos
eleitores.
“Mostramos que as quedas no sentimento do
consumidor nos EUA, que não podem ser explicadas pelo desemprego e pela
inflação oficial, estão fortemente correlacionadas com os custos de empréstimos
e a oferta de crédito ao consumidor”, resumiram os economistas, complementando
que havia uma correlação entre o sentimento da população e mudanças nas taxas
de juros.
Esse fenômeno não era exclusivo dos EUA nem
daquele momento histórico, apontavam os autores. Para eles, inclusive, foram
encontradas poucas evidências de que os Estados Unidos se diferenciavam
significativamente de outras democracias ocidentais, apesar do aumento do
sectarismo partidário e dos crescentes níveis de desconfiança. O mesmo ocorria
em outros países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE).
O artigo não cita especificamente o Brasil.
Mas, lido hoje, ele pode ajudar a explicar o que pesquisas de opinião têm
captado e o que o governo passou a fazer para melhorar a avaliação do
presidente Lula.
No Palácio do Planalto, reconhece-se que
existe uma decepção com a atual gestão e pessimismo de parte considerável da
população, ainda que o Brasil tenha voltado a ser uma das dez maiores economias
do mundo, o salário mínimo esteja apresentando alta real contínua, a pobreza
esteja caindo e o país apresente a menor taxa de desemprego da série histórica.
A inflação está acima da meta, mas mercado e governo dão sinais de que preveem
uma queda dos preços, ainda que relativamente pequena, já neste ano.
Destaca-se no governo, por outro lado, que o
clima não é de revolta. E cabe ao Executivo reforçar a comunicação sobre como
encontrou o país, como estão agora as diversas políticas públicas setoriais e o
que vem por aí.
Uma novidade que já veio, aliás, foi o
programa de crédito consignado para o trabalhador privado, lançado no Planalto
na semana passada justamente para atacar o problema mencionado no artigo
publicado pelo NBER: o custo do acesso ao crédito.
Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego,
desde sexta-feira foram fechados mais de 48 mil contratos, com valor médio de
R$ 7 mil por trabalhador. Ao todo, 8,7 milhões de solicitações de crédito foram
registradas e 64,7 milhões de simulações realizadas. Uma movimentação que
petistas já tentam capitalizar politicamente, dando publicidade ao programa em
que o trabalhador pode acessar linhas de crédito a juros mais baixos como se
seu nome fosse “Empréstimo do Lula”.
Nessa terça-feira (25), o Instituto
Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) divulgou que o
Índice de Confiança do Consumidor (ICC) de março registrou uma alta de 0,7
ponto, para 84,3 pontos, depois de três quedas seguidas que somaram o total de
10,8 pontos de recuo. O resultado não foi visto como reversão de uma tendência,
mas apenas uma calibragem. As expectativas em relação à situação da economia e
compras de bens duráveis melhoraram, enquanto as perspectivas para a situação
financeira das famílias recuaram.
Já há quem aponte a possibilidade de que estejam sendo observados alguns efeitos políticos de três notícias: o anúncio do consignado para trabalhadores da iniciativa privada, alterações na tabela do Imposto de Renda (IR) e a liberação dos recursos de quem optou pelo saque aniversário do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Seus impactos na política monetária e na inflação, contudo, ainda são incertos.
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