Folha de S. Paulo
Derrubada de vetos presidenciais por
parlamentares é reflexo de mudança na correlação de força entre Poderes
O governo levou outra surra no Congresso. Parlamentares derrubaram vários vetos que o
presidente Lula apusera
a projetos de lei. É sintoma de uma mudança tectônica na política nacional.
Nos não tão longínquos anos 1990, tínhamos uma Presidência imperial, com
poderes até para legislar sozinha através da reedição ilimitada de medidas provisórias (MPs). Enquadrar parlamentares era
ainda mais fácil, já que o Executivo tinha total discrição para definir se
liberaria ou não o dinheiro para emendas individuais.
Parte desse rearranjo de forças se deve a
mudanças legislativas, como as que alteraram o trâmite de MPs e de emendas parlamentares. Outra parte, porém, pode ser
descrita como o Congresso descobrindo um poder que sempre teve, mas não usava.
Um bom exemplo é justamente o das derrubadas de veto presidencial. Elas passaram de
raríssimas nos anos 1990 a corriqueiras agora, mas a única mudança legislativa
nesse mecanismo foi que as votações deixaram de ser secretas —o que em tese
facilitaria a vida do governo.
O Parlamento é um órgão multifacetado, que
reúne gente com diferentes ideologias, agendas e prioridades. Isso significa
que ele só consegue se impor quando há relativo consenso em torno da matéria. E
isso só tende a ocorrer em pautas corporativistas ou no esquema "eu o
ajudo com o seu projeto e você me ajuda com o meu". Ambos os modelos
favorecem o paroquialismo de curto prazo.
Não penso que seja possível —e talvez nem mesmo desejável— retornar ao
"statu quo" dos anos 1990. O caminho para encontrar um ponto de
equilíbrio mais saudável passa por fazer os parlamentares responderem mais por
suas decisões. Só não me perguntem como fazer isso.
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