Folha de S. Paulo
Ex-presidente rifaria até os filhos se puder
posar de injustiçado, de mártir
Nenhuma surpresa de que Jair
Bolsonaro siga abandonando aliados pelo caminho quando não precisa
mais deles. Nesta terça (25), deu mais um empurrão em Carla
Zambelli rumo ao ostracismo político —não que ela não mereça,
mas não é a primeira vez que ele a culpa pela derrota na eleição.
A atitude apenas reforça que o ex-presidente rifaria até os filhos se puder
posar de injustiçado, de mártir.
A declaração de hoje é um aceno a seus cupinchas para que não se empenhem em salvar o mandato da deputada, se confirmada a sua condenação pelo STF, pelas acusações de porte ilegal de arma e constrangimento ilegal com emprego de arma de fogo. A Constituição estabelece que a Câmara deve analisar casos assim, transitados em julgado. Até lá, Bolsonaro já deve ter sido julgado e preso, mas não sem deixar um rastro de destruição.
Parece óbvio que a cena de Zambelli nas ruas
de São Paulo, arma
em punho, atrás de um cidadão, pode não ter agradado um número considerável
de eleitores. Mesmo para bolsonaristas de carteirinha, ela atravessou a linha
da barbárie, mas colocar em sua conta a perda da reeleição é só mais uma
demonstração de covardia de Bolsonaro. A deputada entra para uma enorme lista
de importantes figuras do bolsonarismo que foram escanteadas, a maioria por
divergências políticas, mas ela é uma das únicas que segue fiel até quando não
serve mais e é chutada feito cachorro morto, sem reagir.
A mensagem para seus seguidores é de que ele
é um grande injustiçado, prejudicado por ter se cercado de gente incompetente e
traiçoeira. Jair nunca tem culpa de nada. Da sua derrota, dos milhares de
mortos pela demora na compra das vacinas, pela crise
democrática em que mergulhou o país, pela falsificação de documento,
por ter embolsado presentes milionários em viagens oficiais, pelo negacionismo
ambiental, pelo autoritarismo, pelos ataques às instituições, por aprofundar a
polarização, por ter feito do Brasil chacota internacional, pelas ameaças aos
jornalistas, em especial às mulheres.
Resta saber quem não abandonará Jair
Bolsonaro quando ele for preso. Peguem a pipoca.
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