O Globo
No dia em que o Supremo começou a julgar a
denúncia contra Jair Bolsonaro e seus generais de estimação, os ministros da
Corte formaram maioria para condenar e cassar o mandato de Carla Zambelli. A
deputada escapou de ser processada pela tentativa de golpe. Deve ser
responsabilizada por outros crimes: porte ilegal de arma e constrangimento
ilegal.
O episódio ocorreu na véspera do segundo turno da eleição de 2022. Após se envolver em bate-boca na rua, Zambelli sacou um revólver e saiu correndo atrás de um eleitor do PT. Só parou dentro de uma lanchonete, onde ordenou que o homem deitasse no chão sob a mira da arma. A cena de faroeste expôs a insanidade da política armamentista patrocinada pelo capitão.
Zambelli era uma das estrelas da tropa
bolsonarista. Desde que chegou ao Congresso, na onda reacionária de 2018,
notabilizou-se por ameaçar adversários, divulgar informações falsas e incitar
ataques ao sistema eleitoral. Na pandemia, a deputada inventou que o governo do
Ceará estaria enterrando caixões vazios para inflar o número de mortos pela
Covid-19. Em outro episódio, disse ter se curado do coronavírus graças à
cloroquina. Era lorota. O hospital esclareceu que ela estava internada para
tratar outra doença.
A mitomania de Zambelli também marca o caso
da perseguição nos Jardins. Os vídeos e os depoimentos de testemunhas indicam
que ela tentou enganar a polícia ao menos duas vezes: ao dizer que foi
empurrada e ao afirmar que a vítima também sacou um revólver. De acordo com as
investigações, a deputada tropeçou no meio-fio e o simpatizante do PT estava
desarmado.
O julgamento foi paralisado por pedido de
vista do ministro Nunes Marques, nomeado por Bolsonaro. O capitão não teve a
mesma benevolência. Em entrevista na segunda-feira, culpou a antiga aliada por
sua derrota nas urnas.
O caso pode parecer menor diante da ficha
corrida de Zambelli, mas mostra como a extrema direita naturalizou a
intimidação e a violência como práticas políticas. Ao votar pela condenação, o
ministro Flávio Dino anotou: “É uma contradição insanável que um representante
político ameace gravemente um representado, como se estivesse acima do cidadão
ao ponto de sujeitá-lo com uma arma de fogo”.
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