quarta-feira, 26 de março de 2025

Bolsonaro acabou? - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Existe uma categoria de políticos carismáticos que podem dizer e fazer barbaridades sem perder o apoio dos eleitores mais fiéis

A essa altura, podemos dar como favas contadas que Jair Bolsonaro será condenado a uma longa pena de prisão. Sua carreira política acabou? Adoraria responder afirmativamente à pergunta, mas a experiência recomenda certa cautela.

Lula, que também parecia um caso perdido após ser preso, com condenação por corrupção em três instâncias, voltou e reassumiu a Presidência. Isso não é exclusividade brasileira. Napoleão Bonaparte, derrotado na Batalha de Leipzig e exilado em Elba, também deu um jeito de voltar.

A situação de Bolsonaro, porém, me parece mais difícil que a de Lula e Napoleão. Ao contrário do que ocorreu com o petista, o capitão reformado será julgado pelo STF, o que significa que não existe corte superior que possa depois anular tudo, como é padrão por aqui.

Uma anistia, hoje, parece difícil, especialmente se for ampliada para abarcar os mandantes da tentativa de golpe. Bolsonaro poderia fugir do país, mas isso teria custos. Napoleão não fugiu para Elba; o exílio lhe foi imposto.

A alternativa menos irrealista para Bolsonaro é apostar na vitória de um aliado em 2026, que, uma vez empossado, usaria do poder de graça presidencial para perdoá-lo. Mas mesmo isso é bastante incerto.

São grandes as chances de o STF considerar uma manobra dessas inconstitucional. De mais a mais, a última coisa que um presidente de direita recém-eleito desejaria é ver Bolsonaro livre e de volta à política para atrapalhar seu governo.

Num mundo razoável, seriam os próprios eleitores que encerrariam as carreiras de políticos sobre os quais pairem dúvidas. E é o que o eleitorado faz, na maioria dos casos. Há, contudo, uma categoria de líderes mais carismáticos, que inclui Bolsonaro, Lula e Donald Trump, que parece imune a esse tipo de controle. São chamados de políticos teflon. Eles podem dizer e fazer qualquer coisa e ainda conservar o apoio de fatias consideráveis do eleitorado.

O que eles têm que os outros não têm? Esse é o fenômeno psicológico intrigante que mereceria mais investigação.

 

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