Folha de S. Paulo
Existe uma categoria de políticos
carismáticos que podem dizer e fazer barbaridades sem perder o apoio dos
eleitores mais fiéis
A essa altura, podemos dar como favas
contadas que Jair
Bolsonaro será condenado a
uma longa pena de prisão. Sua carreira política acabou? Adoraria responder
afirmativamente à pergunta, mas a experiência recomenda certa cautela.
Lula, que também
parecia um caso perdido após ser preso, com condenação por corrupção em três
instâncias, voltou e reassumiu a Presidência. Isso não é exclusividade
brasileira. Napoleão
Bonaparte, derrotado na Batalha de Leipzig e exilado em Elba, também deu um
jeito de voltar.
A situação de Bolsonaro, porém, me parece mais difícil que a de Lula e Napoleão. Ao contrário do que ocorreu com o petista, o capitão reformado será julgado pelo STF, o que significa que não existe corte superior que possa depois anular tudo, como é padrão por aqui.
Uma anistia, hoje, parece difícil,
especialmente se for ampliada para abarcar os mandantes da tentativa de golpe.
Bolsonaro poderia fugir do país, mas isso teria custos. Napoleão não fugiu para
Elba; o exílio lhe foi imposto.
A alternativa menos irrealista para Bolsonaro
é apostar na vitória de um aliado em 2026, que, uma vez empossado, usaria do
poder de graça presidencial para perdoá-lo. Mas mesmo isso é bastante incerto.
São grandes as chances de o STF considerar
uma manobra dessas inconstitucional. De mais a mais, a última coisa que um
presidente de direita recém-eleito desejaria é ver Bolsonaro livre e de volta à
política para atrapalhar seu governo.
Num mundo razoável, seriam os próprios
eleitores que encerrariam as carreiras de políticos sobre os quais pairem
dúvidas. E é o que o eleitorado faz, na maioria dos casos. Há, contudo, uma
categoria de líderes mais carismáticos, que inclui Bolsonaro, Lula e Donald Trump,
que parece imune a esse tipo de controle. São chamados de políticos teflon.
Eles podem dizer e fazer qualquer coisa e ainda conservar o apoio de fatias
consideráveis do eleitorado.
O que eles têm que os outros não têm? Esse é
o fenômeno psicológico intrigante que mereceria mais investigação.
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