Quanto mais eu acompanho o noticiário brasileiro, mais preocupado fico. A impressão que tenho é que o populismo (dito de "direita" ou de "esquerda") aposta deliberadamente em uma crise institucional, insuflando o confronto entre os poderes da República.
Para alguns, o Executivo é melhor do que o Legislativo e este pior do Judiciário e por aí vamos. Um setor batendo cabeça com o outro, como se diz. Na base disso, dessa visão, temos os interesses eleitoreiros, imediatistas, uma vez que o Brasil não tem projeto de nação e sequer de governo. Nesse caso, tudo parece convergir para a manutenção do poder pessoal e das conveniências corporativas. Mergulhamos no império do "nós contra eles". Decididamente, a mediocridade pode ser muito significativa. No Brasil dessas primeiras décadas do século XXI tem sido assim.
Sob essa ótica, afloram também falsos
debates. Um deles é o conflito estatal x mercado, quando na realidade o núcleo
da contradição ocorre entre capital e interesse social. Outro falso debate tem
que ver com a tentativa de apresentar a Democracia como uma prática esvaziada
de conteúdo social e econômico. Ampliar a Democracia ou democratizar a
Democracia, se preferirmos, é cada vez mais necessário, reconhecendo que ela
pressupõe um sistema múltiplo de representações, deveres e direitos. Mais: a
Democracia tem que integrar o dia a dia das pessoas.
Acredito que a questão principal a ser enfrentada por nós reside na ausência de um projeto de nação. É preciso urgência na elaboração de uma proposta clara de refundação do país. O termo não me parece exagerado: é necessário refundar mesmo a nação. A sensação que dá é que estamos de volta aos tempos da República Velha.
Eixos fundamentais
como as mudanças no mundo do trabalho, o aprofundamento da Democracia, uma nova
relação dos homens entre si e com a natureza precisam ocupar novamente o centro
das nossas preocupações. Os partidos que compõem o Campo Democrático têm
que enfrentar esse desafio, organizando a população, sob pena de serem
atropelados ou ultrapassados historicamente.
Se os partidos do Campo Democrático
entenderem que terão que se apresentar como os intérpretes da
sociedade junto ao Estado e não o contrário, como até aqui têm feito,
então estaremos dando um passo gigantesco e revolucionário no sentido de
refundar o país a partir da sua sociedade, sempre maior do que o Estado.
Trabalho por conta própria, anseios por transparência administrativa e luta contra a corrupção, soluções para o angustiante problema do saneamento básico como parte integrante da sustentabilidade ambiental, enfrentamento da questão da segurança pública, luta por uma divisão mais equitativa da renda e por uma nova ordem econômica mundial - a pauta de questões colocadas à nossa frente não é pequena e a ela podemos acrescentar ainda o indispensável combate pela Educação, Saúde, Cultura e Pertencimento.
*Historiador
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