Folha de S. Paulo
Pressão após sobretaxa de Trump ajuda a
manter em pé promessa de campanha
Após o anúncio da sobretaxa de 50% dos EUA, o
meme que ainda viraliza nas redes —com a frase "Lula quer taxar o rico e o
Bolsonaro quer taxar o Brasil"— é prova de que ação de Donald Trump ajudou
Lula. O governo ficou numa situação mais confortável na votação do projeto que
cria o imposto dos milionários para financiar a ampliação da faixa de isenção
do Imposto de Renda —promessa de campanha do presidente para a classe média.
Relator do projeto, o deputado Arthur Lira dizia a interlocutores, há menos de dois meses, que não tinha nenhum compromisso com a compensação da isenção por meio de uma tributação das rendas mais altas, como foi proposto pela Fazenda.
Teve que mudar. No mesmo dia que o noticiário
fervia com a notícia da sobretaxa, divulgado na véspera, Lira recuou e manteve
a alíquota de 10%. A pressão das redes sociais contra ele dar alívio aos
super-ricos pesou na decisão. A essência da proposta de Haddad foi mantida.
No anúncio do relatório, o ex-presidente da
Câmara já tinha admitido a pressão ao reclamar das reportagens dos jornais
apontando que ele queria isentar os mais ricos do Brasil quando propôs
inicialmente a redução da taxação dos milionários: "É muito difícil a
gente fazer discussão nesse nível de manchete".
Não resta dúvida de que o relatório é
resultado do acordo que lhe garantiu a indicação por Lula de uma aliada para o
Judiciário, além de uma costura antecipada para as eleições de 2026 em Alagoas.
Mas a reação negativa da sociedade foi um ingrediente com o qual Lira não
contava e que o obrigou a ceder mais.
Enquanto a guerra política aumenta com a
sobretaxa de Trump, outros acordos já estão sendo costurados. O próximo será em
torno do decreto do IOF, com uma
modulação da alta das alíquotas pelo STF para cada
lado. Ninguém perde ou ganha sozinho.
Depois será a vez de um acordo para o impasse
dos precatórios, a maior bomba fiscal para o Orçamento em 2026. Mesmo que seja
mais um remendo, o acordo virá. Contanto que todos cheguem vivos a 2027.
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