Folha de S. Paulo
Eduardo Bolsonaro queria fechar o STF. Este
agora pode mandar o soldado e o cabo para fechá-lo
Um dia, um fanfarrão disse para uma plateia de
estudantes em Brasília:
"Se quiser fechar o STF, sabe o que você faz? Não manda nem um jipe. Manda
um soldado e um cabo. Não quero desmerecer o soldado e o cabo. O que é o STF?
Tira a caneta de um ministro do STF, e você acha que vai ter manifestação
popular a favor dele? Milhões na rua?".
Pode-se imaginar a cena. Depois de cruzar assobiando a praça dos Três Poderes, o soldado e o cabo chegam ao Supremo Tribunal Federal. Metem-lhe o pé na porta, adentram o plenário em sessão e, com uma simples ordem de "Passa fora!", enxotam os ministros do recinto. De toga, tíbios, derrotados, eles saem um a um. O cabo bate a porta ao sair, passa-lhe um ferrolho e vai à Câmara entregar a chave a quem lhe dera a ordem: o deputado federal Eduardo Bolsonaro.
Isso foi em 2018, quando os Bolsonaros, já se
vendo no poder a que de fato chegariam dali a meses, faziam seus planos para
dominar o Brasil. O STF, em que pressentiam um inimigo, não seria um problema.
Mas a realidade provou o contrário. O STF não dá expediente num prédio —como o
descobririam os golpistas que tentaram depredá-lo no 8/1—, mas nas entrelinhas de um livro: a Constituição
Federal. A mesma onde residem as famosas quatro linhas que Jair
Bolsonaro, pai de Eduardo, dizia cinicamente respeitar, mas que não
conhecia nem de vista e levou quatro anos querendo rasgar.
O fato é que, anos depois, o STF continua
aberto, cumprindo seu dever de guardar as instituições democráticas, habilitado
inclusive a dar 43 anos de prisão para quem tentou destruí-las. E Eduardo
Bolsonaro está foragido nos EUA, a prudente distância de Brasília e sob as asas
de Donald
Trump, que por enquanto vê nele alguma utilidade e o tolera. Eduardo sabe
que, se descer a escadinha de qualquer avião em solo nacional, levará um par de
algemas assim que chegar ao último degrau.
Ou no interior da própria aeronave, talvez
até pelos mesmos soldado e cabo —sem jipe— com que se jactava de poder fechar
o STF.
Nenhum comentário:
Postar um comentário