sábado, 6 de setembro de 2014

Opinião do dia: Marina Silva

A presidente Dilma sinaliza que vai mudar sua equipe econômica, mas talvez seja tarde o que ela está fazendo. A sociedade brasileira vai mudá-la e, mudando-a, a equipe econômica será outra: uma equipe econômica que tem compromisso com a meta de inflação, que tem compromisso com os juros baixos, recuperação da credibilidade para que haja investimento e nosso país volte a crescer.

Marina Silva, ex-senadora, ex-ministra do Meio Ambiente e candidata a presidente da República, O Globo, 6 de agosto de 2014.

Ex-diretor da Petrobrás delata propina a deputados, senadores e governador

• À Polícia Federal, Paulo Roberto Costa menciona pagamento de comissão sobre contratos da estatal a pelo menos 32 parlamentares, um governador e cinco partidos

Andreza Matais, Fausto Macedo e Ricardo Brito - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O delator Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás, citou pelo menos 32 deputados e senadores, um governador de cinco partidos políticos, incluindo do PT e do PMDB, os dois maiores do Congresso, como supostos beneficiários de um esquema de propinas na estatal.

Ele afirmou que as maiores empreiteiras do País - das quais revelou os nomes, inclusive de diretores - formaram um cartel dentro da Petrobrás. Contou que os políticos e as agremiações recebiam o equivalente a 3% de comissão sobre o valor de cada contrato firmado durante sua passagem pela estatal (2004 a 2012), conforme antecipou nesta sexta-feira o portal www.estadao.com.br.
Nos depoimentos que tem prestado desde sexta-feira da semana passada como parte da tentativa de um acordo de delação premiada, Costa disse que teve pagamento de propina na operação de compra da refinaria de Pasadena, nos EUA.

O negócio passou a ser investigado por duas CPIs no Congresso após o Estado revelar em março que a presidente Dilma Rousseff votou a favor da compra da refinaria quando presidente do conselho de administração. O aval do colegiado garantiu a realização do negócio, que, de acordo com o Tribunal de Contas da União,, causou um prejuízo de US$ 792 milhões à estatal.

Inicialmente, o alvo de Costa na delação era abrir o esquema de corrupção das empresas. Mas ele passou a mencionar os políticos beneficiados com propinas. De acordo com o ex-diretor, partidos políticos eram beneficiários de recursos desviados por meio de comissões em contratos arranjados. E exemplificou: “Todo dia tinha político batendo em sua porta”. Num depoimento, ele citou uma conta de um “operador do PMDB” em um banco europeu.

Por causa da citação aos parlamentares, que têm foro privilegiado perante o Supremo Tribunal Federal, os depoimentos serão remetidos para a Procuradoria Geral da República.
Costa também apontou nomes de outros dirigentes da Petrobrás que teriam recebido dinheiro do esquema. O ex-exeucutivo contou que os desvios nos contratos da Petrobrás envolviam desde funcionários do terceiro escalão até a cúpula da empresa, durante os oito anos em que foi diretor de Abastecimento. Ele chegou e se manteve no cargo com o apoio de um consórcio de partidos: PT, PMDB e PP.

O ex-diretor falou ainda sobre as atividades de sua empresa, a Costa Global, de "consultoria e assessoria", à qual passou a se dedicar depois que deixou a Petrobrás. A PF e a Procuradoria suspeitam que o ex-diretor abriu as portas para fornecedores da Petrobrás por meio da Costa Global. Todos os que tiveram relações com a empresa de Paulo Roberto estão intimados a entregar cópias dos contratos.

Desde o dia 29 de agosto, Costa está depondo ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal no Paraná em regime de delação premiada. Os depoimentos do delator têm sido longos. No primeiro dia foram mais de quatro horas.

Lavagem. Ele é alvo da Operação Lava Jato, da PF, que desmantelou uma trama de lavagem de dinheiro e corrupção na Petrobrás e em outros órgãos públicos. Costa e seu parceiro, o doleiro Alberto Youssef, estão presos desde março. Youssef não quis fazer delação porque teria que ficar pelo menos 3 anos em regime fechado, mesmo contando tudo o que sabe.

Calcula-se que Costa poderia pegar pena superior a 50 anos de cadeia se respondesse a todos os processos derivados da Lava Jato - já é réu em duas ações penais, uma sobre lavagem de dinheiro desviado da Petrobrás, outra sobre ocultação e destruição de documentos e é investigado em vários outros inquéritos.

Angustiado com a possibilidade de não sair tão cedo da prisão, ele decidiu delatar como operava a rede de malfeitos na Petrobrás. O acordo prevê que, em troca de suas revelações, Costa deverá sofrer uma pena tão reduzida, que se aproxima do perdão judicial. Nos próximos dias, quando esgotar a bateria de depoimentos, ele já deverá ganhar a liberdade como prevê o pacto. Mas terá de permanecer em seu apartamento, em Ipanema, no Rio, com uma tornozeleira eletrônica.

O ex-diretor faz relatos diários na Custódia da Polícia Federal em Curitiba. A PF filma as sessões.

Procuradores da República lacram os depoimentos que, depois, são criptografados (textos com abreviaturas e siglas) enviados à Procuradoria Geral da República, em Brasília. O número de políticos citados foi mencionado por Costa primeiros depoimentos, mas pode crescer até o final da delação.

A investigação da PF mostra que o esquema de lavagem de dinheiro movimentou R$ 10 bilhões em quatro anos, com ramificações na Petrobrás, no Ministério da Saúde e em partidos como PT, PP, PMDB e SD.

Malas. A PF já descobriu também que o doleiro Youssef, suposto controlador da UTC Participações, intermediou a liberação de um superprecatório do governo Roseana Sarney (PMDB), do Maranhão. Para liberar R$ 120 milhões para a Constran, vinculada à UTC, integrantes da Casa Civil de Roseana teriam recebido "malas pretas" com propina.

Renan Calheiros é citado em depoimentos de delator da Operação Lava Jato

• Segundo Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobrás que fechou acordo de delação premiada, empresas ganhariam contratos em troca do pagamento de propina de 3% para deputados e senadores

Andreza Matais, Fausto Macedo e Ricardo Brito - O Estado de S. Paulo

O nome do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), foi mencionado pelo ex-diretor da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, em depoimento prestado à Justiça na tentativa de conseguir o perdão judicial por meio da delação premiada. O peemedebista também foi citado por outros colaboradores da Justiça flagrados na Operação Lava Jato.

Um dos negócios mencionados supostamente envolvendo Renan é um acerto com o doleiro Alberto Youssef para que o fundo de pensão dos Correios, o Postalis, comprasse R$ 50 milhões em debêntures (um título que confere a seu detentor um direito de crédito contra a companhia emissora) emitidos da Marsans Viagens e Turismo, que tinha Youssef como um dos investidores.

Segundo o relato de um colaborador ao Ministério Público Federal no Paraná, o doleiro teria se reunido com Renan, em Brasília, no início de março, para acertar a comissão do PMDB nesse negócio. O negócio não ocorreu porque Youssef e Paulo Roberto foram presos antes. A Marsans fechou seus escritórios e pediu recuperação judicial após as prisões.

O fundo de pensão dos Correios é controlado pelo PMDB e PT. Em julho, os quatro integrantes da cúpula do Postalis tiveram sua exoneração pedida por dois conselheiros. A acusação é que a interferência dos partidos políticos no Postalis levou a “operações suspeitas” que explicam o rombo de R$ 2,2 bilhões acumulado de 2013 a junho de 2014.

Procurada na tarde desta sexta-feira, 5, a assessoria de Renan Calheiros afirmou que não localizou o senador para comentar o assunto até o fechamento desta edição. O Estado também tentou falar com o senador pelo celular, mas o aparelho estava desligado.

As investigações também revelaram que um apadrinhado de Renan tinha contato com Paulo Roberto. Na agenda e cadernos de anotação do ex-executivo, quando este já havia deixado a Petrobrás e operava negócios na iniciativa privada, o nome do presidente da Transpetro, Sérgio Machado, constava quatro vezes em anotações nos anos de 2012 e 2013.

A Transpetro é o braço da Petrobrás em processamento de gás natural e transporte e logística de combustível. Indicado para o cargo ainda no governo Luiz Inácio Lula da Silva, Sérgio Machado se mantém há dez anos e quatro meses no posto com o apoio de Renan. Na agenda de Paulo Roberto há registros da anotação de celulares de Machado e de uma menção a "curso c/ Sérgio Machado, 5%", ao lado do valor R$ 5 mil e da inscrição "dois meses". A PF tenta decifrar a anotação. Em julho de 2012, Paulo Roberto, já ex-servidor da estatal, chamou a atenção ao comparecer a uma cerimônia de entrega do navio petroleiro Sergio Buarque de Holanda para a Transpetro.

Deputados. As investigações da Lava Jato pela Polícia Federal apontaram nomes de vários parlamentares e partidos supostamente envolvidos no esquema de corrupção. Entre eles, o tesoureiro do PT, João Vaccari, os deputados André Vargas (sem partido-DF), Luiz Argôlo (SD-BA) e o senador Fernando Collor (PTB-AL). Todos negam envolvimento em esquema de propina, mas não que tenham relações com o ex-diretor.

Por causa do envolvimento dos parlamentares, o depoimento de Paulo Roberto será encaminhado para à Procuradoria Geral da República ao final para ser submetido ao Supremo Tribunal Federal (STF), que decidirá sobre a validade da delação. O procurador-geral, Rodrigo Janot, acompanha com atenção o acordo de delação premiada que está sendo feita por Paulo Roberto Costa a colegas da força-tarefa da Procuradoria da República no Paraná que cuidam do caso. A reportagem apurou que Janot já foi informado da menção de autoridades com foro privilegiado nos depoimentos que estão sendo dados por Costa diariamente.

Com a palavra, a Transpetro. A Transpetro esclareceu que "não há novidade" em relação a seu presidente. Em abril, a empresa já havia se manifestado ao Estado sobre a citação a Machado na agenda do ex-diretor da Petrobrás. Na ocasião, a Transpetro informou que as reuniões ocorreram a pedido de Costa para tratar de um pleito do Sindicato Nacional dos Mestres de Cabotagem e Contramestres em Transportes Marítimos. "O sindicato solicitava que a Transpetro patrocinasse um curso para que contramestres pudessem se formar mestres de cabotagem. A companhia reuniu-se com o sindicato e recebeu deste o pleito para realizar o curso. A Gerência de Recursos Humanos estudou o assunto e elaborou documento em que listava ao sindicato as razões pelas quais não era de interesse da Companhia patrocinar o curso. A Transpetro possui apenas contramestres em seu quadro funcional, os quais não pilotam embarcações da empresa. O curso não foi realizado."

Políticos receberam propina, diz ex-diretor da Petrobras

• Paulo Roberto Costa acusa senadores, deputados federais e um governador

• Executivo que decidiu colaborar com a Justiça afirma que partidos dividiam 3% do valor dos contratos da estatal

Mario Cesar Carvalho – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa disse que 12 senadores, 49 deputados federais e pelo menos um governador receberam dinheiro desviado da estatal, de acordo com pessoas familiarizadas com as investigações da Operação Lava Jato.

Os políticos ficavam com 3% do valor dos contratos da Petrobras na época em que Costa era diretor da estatal, entre 2004 e 2012, segundo o relato feito pelo executivo a procuradores e policiais. Costa decidiu em agosto colaborar com as autoridades para tentar reduzir sua pena quando o caso chegar à Justiça.

O ex-diretor da Petrobras apontou políticos de três partidos, o PT e dois dos principais integrantes da coalizão que apoia o governo petista no Congresso, o PMDB e o PP. Costa foi indicado ao cargo pelo PP, mas depois ganhou o respaldo do PT e do PMDB.

Logo depois de sua prisão pela Polícia Federal, em março, Costa disse em sua cela que não haveria eleições neste ano se ele revelasse tudo o que sabe sobre os parlamentares. Sua decisão de colaborar com as autoridades espalhou o pânico entre políticos e dirigentes de empreiteiras.

O depoimento de Costa chegou no começo desta semana ao Supremo Tribunal Federal para que o ministro Teori Zavascki homologue o acordo de delação premiada feito pelo executivo com os procuradores. Os políticos citados por Costa só poderão ser investigados com autorização do STF, onde parlamentares têm foro privilegiado.

A Folha não teve acesso à íntegra do depoimento do executivo, que é mantido em sigilo pelas autoridades.

O ex-diretor decidiu fazer um acordo de delação premiada no último dia 22, depois que a Polícia Federal fez buscas em empresas de suas filhas e de um amigo dele.

Numa das empresas, a PF encontrou indícios de que Costa tem mais contas no exterior do que aquelas que já foram descobertas na Suíça.

Em junho, autoridades suíças enviaram ao Brasil documentos que mostram que Costa e seus familiares tinham US$ 23 milhões (R$ 52 milhões) em contas secretas.

A descoberta das contas na Suíça foi o motivo citado pelo juiz federal Sergio Moro para decretar a prisão de Costa pela segunda vez, em 11 de junho. Ela havia sido preso pela primeira vez em 20 de março, sob acusação de destruir documentos, mas foi libertado por decisão do Supremo.

Costa é acusado de ter dirigido um esquema de corrupção que teria desviado recursos da Petrobras em parceria com o doleiro Alberto Youssef, que também está preso numa cela da PF em Curitiba.

Assessores da presidente Dilma Rousseff disseram nesta sexta-feira (5) que as consequências das revelações de Costa para a campanha eleitoral são imprevisíveis. Eles acham que Dilma não será pessoalmente atingida, mas temem estragos na imagem da Petrobras e do governo.

Dilma foi ministra de Minas e Energia e da Casa Civil e presidiu o conselho de administração da Petrobras.

Sem citar diretamente o ex-diretor da Petrobras, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta sexta que quando aliados cometem erros precisam ser punidos.

Lula disse que alguns aliados às vezes causam problemas, mas que um partido não pode ser responsabilizado.

"Se dentre nós, alguém cometer erro, que pague. O que a gente não pode é perder o orgulho de ser petista".

Colaborou Valdo Cruz, de Brasília, e Márcio Falcão, de São Paulo

Reunião de emergência no Planalto avalia estrago causado por delator

• Auxiliares de Dilma veem prejuízo na base aliada, mas lembram que Costa mantinha contato com os mais variados partidos

Tânia Monteiro - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O alívio que as recentes pesquisas eleitorais deram à campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff foi interrompido nesta sexta-feira, 5, depois que o portal do Estado revelou que o ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa apontou em seu depoimento à Polícia Federal que pelo menos 32 parlamentares, um governador e cinco partidos políticos receberam propina decorrentes de contratos negociados pela estatal com outras empresas.

Assim que desembarcou em Brasília, no final da tarde desta sexta, depois de dias de uma agenda carregada em campanha nos últimos dias, Dilma convocou uma reunião de emergência no Palácio da Alvorada para avaliar o estrago da denúncia. O ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, foi o primeiro a se reunir com ela.

À espera. No Alvorada, todos aguardavam a divulgação dos termos e possíveis envolvidos na delação premiada que motivou o depoimento de Costa à Polícia Federal para ter ideia exata do estrago que isso possa ocorrer no governo e na campanha à reeleição.

No círculo próximo à presidente, a primeira avaliação foi a de que até aquele momento as informações com os nomes das pessoas que estavam sendo citadas eram as mesmas que circulavam nos bastidores, como o do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) e dos deputados André Vargas (sem partido-PR) e Luiz Argôlo (SD-BA). Há preocupação com o que ainda está por vir e qual o tamanho do estrago que isso poderá provocar na campanha dos aliados do governo.

Um dos interlocutores da presidente lembrou que Costa, na Petrobrás, não tinha vínculos apenas com o governo, mas com inúmeros partidos. O problema, portanto, pode se espalhar em várias direções.

Ex-diretor da Petrobras delata parlamentares, governadores e ministro em esquema de corrupção

• Paulo Roberto Costa aceitou termos de acordo de delação premiada e prestou depoimento na PF de Curitiba

Jailton de Carvalho / Simone Iglesias / Luiza Damé – O Globo

BRASÍLIA — A revelação de parte do conteúdo dos depoimentos do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa provocou, nesta sexta-feira à noite, muita tensão nos comitês das campanhas da presidente Dilma Rousseff (PT) e da ex-senadora Marina Silva (PSB). Numa série de depoimentos iniciados semana passada, o ex-diretor apontou o envolvimento de deputados e senadores, governadores e de pelo menos um ministro com os desvios de dinheiro de contratos da estatal com grandes empresas.

Costa denunciou pelo menos 25 políticos vinculados a cinco partidos (PT, PMDB, PP, PR e PTB). A maioria é de parlamentares federais em campanha pela reeleição. Outros ocupam cargos executivos no governo federal e em governos estaduais. Costa apontou, entre outros, um “operador do PMDB”, político fluminense, atribuindo-lhe o papel de intermediário de aliados do governo em negociações com empresas fornecedoras de bens e serviços à Petrobras. A atuação desse político se estenderia à distribuição de propinas a partir de contas no exterior.

Costa aceitou fazer acordo de delação premiada e, desde então, passou a dar detalhes aos procuradores federais sobre a estrutura de corrupção e lavagem de dinheiro entre políticos e empresas contratadas pela Petrobras em negócios intermediados pelo doleiro Alberto Youssef. O ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), Thomas Traumann, que viria para o Rio nesta sexta-feira, desistiu da viagem e permaneceu em Brasília para monitorar os desdobramentos da situação. A presidente Dilma Rousseff e o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil), por sua vez, reuniram-se à noite no Palácio da Alvorada.

— A crise é séria — desabafou um assessor do Planalto.

Em São Paulo, o comando da campanha de Marina convocou nesta sexta-feira uma reunião de última hora. Assessores e colaboradores chegaram ao comitê da candidata sem esconder um certo clima de tensão. Marina, que inicialmente não participaria do encontro, chegou ao local depois do vazamento de informações sobre a delação premiada de Costa. Oficialmente, o assunto da reunião seria a estratégia para rebater ataques dos adversários. No partido, chegou-se a prever que Marina poderá cancelar compromissos de campanha no fim de semana.

Ao final da reunião, perguntada sobre o assunto, Marina desconversou:

— Não li a matéria.

Diante da insistência dos jornalistas que queriam saber se há envolvimento de políticos do PSB, apenas comentou:

— Vou ler a matéria.

Com o depoimento iniciado na quarta-feira da semana passada, Costa deixou os procuradores com a impressão de que o mecanismo de cobrança e partilha de propinas em contratos da Petrobras funcionou para políticos e partidos aliados ao governo como uma espécie de continuação do mensalão. As investigações já atingiram parlamentares da base governista e podem respingar também na campanha do PSB. Um dos principais focos da investigação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal são contratos de empreiteiras com refinaria a Abreu e Lima, em Pernambuco.

Procurador-Geral enviará nomes ao STF
A refinaria foi o centro de uma queda de braço entre petistas e socialistas durante a criação de duas CPIs da Petrobras no Congresso Nacional no primeiro semestre. O PSB se opôs fortemente à inclusão das obras da refinaria entre os alvos de uma das comissões de inquérito.

Durante uma década, Costa foi responsável direto por empreendimentos importantes da estatal. O maior foi o Abreu e Lima, onde a empresa gastou nove vezes mais do que previa inicialmente — depois de mais de uma centena de aumentos de preços nos contratos originais, a refinaria deverá ser inaugurada a um custo estimado em US$ 20,1 bilhões, recorde mundial no setor.

Segundo o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, todos os nomes dos políticos mencionados por Costa serão enviados ao Supremo Tribunal Federal (STF). O procurador-geral não quis confirmar nomes e nem mesmo o número de políticos mencionados. Ele argumenta que o sigilo faz parte do acordo de delação premiada, que pode ou não ser mantido até o final da apuração das novas acusações.

— Todos os termos da delação premiada serão encaminhados ao Supremo. Cabe ao Supremo decidir o que é e o que não é (consistente) — disse Janot ao GLOBO.

O relator do caso no STF é o ministro Teori Zavascki. Na primeira etapa da investigação, bem antes do início das negociações com Costa, o ministro decidiu abrir inquérito contra os deputados André Vargas (sem partido-PR) e Luiz Argôlo (SDD-BA) e o senador Fernando Collor (PTB). Relatório da Polícia Federal aponta que os três receberam vantagens da organização de Youssef. Pelas investigações da polícia, Youssef pagou um voo em um jato para André Vargas.

O voo teria custado mais de R$ 100 mil. Vargas teria ajudado o Labogen, um laboratório comprado por Youssef, com o Ministério da Saúde. Argôlo já admitiu que recebeu entre R$ 180 mil e R$ 200 mil, mas negou qualquer ligação com os negócios do doleiro. Collor teria sido agraciado com R$ 50 mil em oito parcelas. Vargas e Argôlo já estão sendo processados por quebra de decoro.

Os depoimentos de Costa têm sido explosivos, mas estão sendo encarados com toda reserva pelos procuradores. Ao final de cada interrogatório, as declarações são criptografadas e guardadas num computador sem internet. Os depoimentos começaram semana passada e ainda não há prazo para conclusão da nova etapa da chamada Operação Lava-Jato. Segundo uma autoridade que está à frente do caso, a cautela é necessária porque as informações são fortes e podem comprometer o processo eleitoral.

— A eleição é daqui a um mês. Essa investigação vai durar muito mais tempo. É um caso complexo, que exige muito cuidado. Temos que checar todas as informações — disse o investigador, que pediu para não ter o nome revelado.

Mas, apesar de toda preocupação, parte das revelações começaram a vazar nesta sexta-feira. Pelo acordo de delação premiada, o ex-diretor terá que apresentar provas ou indicar aos investigadores os caminhos para comprovar cada uma das acusações. Segundo uma das autoridades que está à frente do caso, só ao final da apuração será possível definir os benefícios a serem concedidos a Costa. A redução das penas depende da comprovação das denúncias.

Empreiteras fizeram pagamentos suspeitos
Pelas investigações da Polícia Federal, empreiteiras com contratos com a Petrobras fizeram pagamentos suspeitos ao doleiro Alberto Youssef e a Paulo Roberto Costa a partir de transações com empresas laranjas. Ainda na primeira fase, a Receita Federal apontou o repasse de mais de R$ 90 milhões de empreiteiras com contratos com a refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, para a MO Consultoria, empresa de Youssef, entre 2009 e 2013.

A suspeita é que, a partir daí, o dinheiro teria abastecido campanhas eleitorais de deputados, senadores, governadores e até de um ministro. Um dos supostos chefes da estrutura de desvio seria Paulo Roberto. Durante as investigações, a polícia recebeu a informação de que o ex-diretor mantinha US$ 23 milhões em 12 contas na Suíça. O dinheiro foi bloqueado e o ex-diretor passou a ser investigado por autoridades suíças por lavagem de dinheiro.

O deputado Fernando Francischini (SDD-PR) vai pedir que o MP compartilhe os depoimentos do ex-diretor com a CPMI da Petrobras. Para o deputado, as informações são essenciais para as investigações do Congresso.

Paulo Roberto Costa começa a revelar nomes dos beneficiários do esquema de corrupção da Petrobras

• Sergio Cabral, Roseana Sarney, Eduardo Campos, Renan Calheiros e Edison Lobão estão entre os citados nos depoimentos do ex-diretor da Petrobras

Rodrigo Rangel - Veja

Preso em março pela Polícia Federal, sob a acusação de participar de um mega esquema de lavagem de dinheiro comandado pelo doleiro Alberto Youssef, o ex-diretor de Abastecimento e Refino da Petrobras Paulo Roberto Costa aceitou recentemente os termos de um acordo de delação premiada – e começou a falar.

No prédio da PF em Curitiba, ele vem sendo interrogado por delegados e procuradores. Os depoimentos são registrados em vídeo — na metade da semana passada, já havia pelo menos 42 horas de gravação. Paulo Roberto acusa uma verdadeira constelação de participar do esquema de corrupção.

Entre eles estão os presidentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), além do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB-MA). Do Senado, Ciro Nogueira (PI), presidente nacional do PP, e Romero Jucá (PMDB-RR), o eterno líder de qualquer governo. Já no grupo de deputados figuram o petista Cândido Vaccarezza (SP) e João Pizzolatti (SC), um dos mais ativos integrantes da bancada do PP na casa. O ex-ministro das Cidades e ex-deputado Mario Negromonte, também do PP, é outro citado por Paulo Roberto como destinatário da propina. Da lista de três “governadores” citados pelo ex-diretor, todos os políticos são de estados onde a Petrobras tem grandes projetos em curso: Sérgio Cabral (PMDB), ex-governador do Rio, Roseana Sarney (PMDB), atual governadora do Maranhão, e Eduardo Campos (PSB), ex-governador de Pernambuco e ex-candidato à Presidência da República morto no mês passado em um acidente aéreo.

Paulo Roberto também esmiúça a lógica que predominava na assinatura dos contratos bilionários da Petrobras – admitindo, pela primeira vez, que as empreiteiras contratadas pela companhia tinham, obrigatoriamente, que contribuir para um caixa paralelo cujo destino final eram partidos e políticos de diferentes partidos da base aliada do governo.
Sobre o PT, ele afirmou que o operador encarregado de fazer a ponte com o esquema era o tesoureiro nacional do partido, João Vaccari Neto, cujo nome já havia aparecidao nas investigações como personagem de negócios suspeitos do doleiro Alberto Youssef.

Conheça, nesta edição de VEJA, outros detalhes dos depoimentos que podem jogar o governo no centro de um escândalo de corrupção de proporções semelhantes às do mensalão

Contas que não fecham no programa de Marina: O Globo - Editorial

• Campanha é um pregão de oferta de sonhos, e por isso as propostas precisam ser esmiuçadas. Nas do PSB, promessas são incompatíveis com vida real das contas públicas

Não se pode acusar a candidata Marina Silva (PSB) de incoerência. Se o seu discurso vai contra o dueto que PT e PSDB executam nos últimos 20 anos da política brasileira, mas promete governar com o que considera os melhores quadros dos dois partidos e políticas de respectivas administrações, seu programa é cópia fiel do que afirma.

Na parte econômica, Marina Silva adota o eixo tucano de estabilidade econômica, batizado de “tripé”: metas de inflação, responsabilidade fiscal e câmbio flutuante. O oposto do praticado no governo Dilma, com efeitos conhecidos, diga-se. E na esfera social, mantém os ditos avanços sociais dos governos do PT, com destaque para o Bolsa Família.

O ponto a discutir é se uma política equilibrada, sem arroubos expansionistas e que até precisará estabilizar a economia no início de 2015, é coerente com aumento de despesas sociais. Parece incoerência.

Tanto mais se considerarmos que a solução de praxe, acionada toda vez que tucanos e petistas precisaram financiar orçamentos crescentes, o aumento de impostos, já não pode mais ser adotada. A carga tributária, sempre em elevação nestes vinte anos de domínio tucano-petista, já ultrapassou o limite do razoável (37% do PIB).

O economista Mansueto de Almeida, do Instituto de Planejamento de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), estima em R$ 150 bilhões as despesas adicionais, em quatro anos, para Marina cumprir o que promete no Bolsa Família — incluir 10 milhões de famílias no programa —, na gratuidade do transporte de estudantes, compromisso de Eduardo Campos, e na habitação popular (4 milhões de novas moradias).

Seriam gastos do tamanho de três pontos percentuais de PIB, algo como dobrar o déficit público. Algum crítico malicioso pode dizer que Mansueto, por assessorar o candidato Aécio Neves (PSDB), tenderia a inflar os números. Porém, mesmo que a estimativa seja cortada pela metade, a conta apresentada ao contribuinte continua impagável.

A projeção não inclui acenados projetos de mobilidade urbana para todas as cidades com mais de 200 mil habitantes, orçados em no mínimo R$ 300 bilhões. Diante da ausência de folga nas contas públicas — o próprio governo Dilma precisa usar da “contabilidade criativa” para tentar salvar as aparências —, todos os investimentos teriam de ser privados e/ou financiados a perder de vista e juros ínfimos.

Campanha eleitoral costuma ser um grande pregão de oferta de sonhos. Eis por que programas precisam ser esmiuçados. Marina Silva fez bem ao se apressar para lançar o seu. Ainda virá o de Aécio, e cresce o suspense sobre o que apresentará Dilma, além da troca de equipes e de “políticas públicas".

Desafios de Marina: O Estado de S. Paulo - Editorial

Recentes pesquisas de opinião indicam Marina Silva empatada no primeiro turno com Dilma Rousseff, e vencendo a disputa pela Presidência da República com boa margem no segundo turno. Sua atual força política supera com folga o resultado das eleições de 2010, em que obteve perto de 20 milhões de votos. De onde vem essa força de Marina?

Sem dúvida, a repentina morte de Eduardo Campos gerou, além da comoção nacional, uma exposição que Marina soube aproveitar para se transformar na candidata que, no momento, mais se beneficia com o desejo de mudança manifestado pela população. Moderou o discurso e cercou-se de poucos, mas bem conceituados colaboradores, e manteve a capacidade de inspirar mudança. Dificilmente ela poderia imaginar melhor cenário para o seu projeto de presidir o País, nem mesmo se tivesse conseguido criar o seu próprio partido no ano passado. A fortuna sorriu-lhe.

Mas qual será a mudança - ou as mudanças - que Marina propõe implantar? A esta importante pergunta os seus correligionários responderam afirmando que a apresentação do seu programa de governo, já alinhavado com Eduardo Campos, dissiparia todas as dúvidas. Um extenso programa, com 244 páginas, foi recentemente apresentado, mas o fato é que ele não traz grandes novidades nem oferece respostas às dúvidas. Apenas confirmou aquilo que ela e os seus colaboradores já vinham dizendo em grandes linhas.

A atual força de Marina nas pesquisas parecer basear-se no fato de que, não se identificando com nada propriamente - já nem é mais a candidata da "sustentabilidade ambiental a qualquer preço", isto é, neutralizou em boa dose a principal característica da sua anterior identidade política -, sua imagem pública se tornou passível de comportar todas, ou quase todas, as aspirações presentes na sociedade.

O eleitor pode projetar nela o que bem quiser. Sustentabilidade? Tripé econômico? Manutenção dos programas sociais? Não se identificando com nada em concreto, e nada negando, Marina pode ser identificada com tudo. E assim vem andando de braços dados com todas as aspirações que surgem das ruas.

O seu grande mote eleitoral - a bandeira da "nova política" - é uma ideia que, de tão aberta, se mostra na prática impossível de ser contestada. Ninguém em sã consciência pode ser contrário a mais transparência, a mais lisura nos negócios públicos, etc. Nas atuais circunstâncias, bater na "nova política", mesmo que seja para apontar suas inconsistências, é apresentar-se como a "velha política". Ou seja - é contraproducente.

No entanto, se Marina Silva pretende, de fato, governar um país com os problemas que tem o Brasil, ela precisa ser mais específica que o clamor das ruas. Pois a sua "versatilidade" é, ao mesmo tempo, a sua fragilidade. As urnas são, de fato, uma preliminar necessária para que se complete o jogo democrático. Mas, quando o eleitor deposita nelas o seu voto, está fazendo mais do que manifestar uma esperança. Ele está confiando a seu representante o poder de tomar decisões fundamentais para o País - e delas quer ter conhecimento prévio, para que depois possa cobrar o seu bom e pronto desempenho. Esta é a outra face da democracia.

Falar apenas de uma nova política, sem explicitá-la, é uma atitude cômoda. O Brasil precisa mais do que isso: há problemas que, se não são bem enfrentados, podem ocasionar um significativo retrocesso em relação ao que se alcançou desde o Plano Real.

Também não basta ser apenas a candidata capaz de tirar o PT do governo, ainda que o mercado pareça dar mostras de se satisfazer com essa perspectiva. Isso seria pouco para quem se apresenta como porta-bandeira da "nova política".

Revigorar a democracia é, em primeiro lugar, extrair do voto de cada cidadão todo o seu potencial. E isso só ocorre quando o candidato revela desde o início como concebe as necessidades nacionais e como de fato governará o País.

É preciso, portanto, que cada eleitor tenha a possibilidade de votar em algo mais concreto do que vagos desejos de mudança.

Lula ataca Marina e diz que ‘governar um país não é clube de amigos’

• Ex-presidente afirma que candidata não leu seu programa de governo ou “não aprendeu nada” quando passou pelo PT

Tatiana Farah – O Globo

SÃO PAULO - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva atacou, nesta sexta-feira, pela primeira vez a candidatura de Marina Silva (PSB), ex-petista que hoje é a maior adversária da presidente Dilma Rousseff na corrida eleitoral. Segundo ele, ou Marina não leu seu programa de governo ou “não aprendeu nada” com os mais de 20 anos como integrante do PT.

— Estou destrinchando o programa da Marina, o programa econômico. Não vou ter divergência pessoal com a Marina. Mas governar um país não é um clube de amigos, é a gente saber com quem vai governar e para quem, qual a orientação econômica deste país — disse Lula, que também falou: — Não sei se a companheira Marina leu o programa que fizeram para ela. Se ela leu, significa que não aprendeu nada nas discussões que fizemos quando ela estava no partido.

Em uma plenária com centenas de dirigentes partidários, candidatos, parlamentares e ministros, o ex-presidente cobrou empenho dos petistas na campanha de Dilma e Alexandre Padilha em São Paulo e criticou a campanha da presidente por mais mostrar obras do governo do que discutir política. Já alertado sobre depoimentos do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, que envolvem parlamentares no escândalo, o ex-presidente disse que “dentre nós, se alguém cometer erro, que pague”.

— Muitas vezes, nós, petistas, ficamos acabrunhados porque alguns companheiros, uma pessoa individualmente comete um erro e causa problema para nós — disse Lula, que, depois, se dirigiu a Alexandre Padilha, candidato ao governo de São Paulo: — Nem que seja por um segundo, o teu programa tem de defender a honra deste partido.

Lula disse que o julgamento do mensalão não influiu nas eleições de 2012 em São Paulo, quando Fernando Haddad foi eleito prefeito. Ele citou por duas vezes que integrantes do partido podiam cometer erros, mas que os petistas precisavam “defender a honra” do partido.

— Se dentre nós alguém cometer erro, que pague. Agora, o que a gente não pode é deixar de ter orgulho e auto-estima por ser petista.

Segundo Lula, não há “explicação sociológica” para que Dilma esteja sendo derrotada em São Paulo e amargue 23% das intenções de voto segundo a última pesquisa Datafolha.

— Não há nenhuma explicação para Dilma estar perdendo as eleições aqui. Alguns dizem que é ódio. Eu não acredito. Possivelmente não tenhamos encontrado o tom correto e as palavras corretas para mostrar as qualidades da presidente Dilma.

De acordo com o ex-presidente, é “questão de honra” fazer Dilma vencer em São Paulo. Por considerar esta a “mais difícil” campanha eleitoral do PT, Lula defendeu que ministros e dirigentes tirem férias para participar das mobilizações de rua e disse que vai concentrar sua agenda em São Paulo.

— Não é possivel que a Dilma tenha 23% aqui. Cadê o PT, as mulheres do PT, os deputados do PT? — questionou ele: — Estranho profundamente que a gente tenha demorado tanto para reagir a esse tratamento que estamos recebendo em vários lugares desse estado. Podemos admitir que as pessoas não concordem com a gente ideologicamente, o que não aceitaremos é sermos tratados como se fôssemos de segunda classe aqui nesta cidade ou em qualquer lugar do país.

Lula ironizou a “previsibilidade” citada por Aécio Neves durante entrevista ao Jornal da Globo nesta semana e, quando falou de Marina, disse que ela era um “caso à parte” porque não iria atacá-la. No entanto, atacou seu programa de governo dizendo que, quando foi eleito em 2002, acabou com “essa papagaiada” de autonomia do Banco Central.

— Aécio falou umas 200 vezes a palavra previsibilidade. Fiquei pensando como é que um cara que gosta tanto de previsibilidade não previu que já ia acabar a campanha?

Ele criticou ainda a falta de protagonismo do pré-sal no programa de Marina, dizendo que ela adotou a medida para agradar os usineiros, de forma desnecessária, e defendeu ainda os subsídios dos bancos públicos como forma de desenvolver o país.

PT aprova ataque a Marina, diz que ela coloca em risco ‘futuro do país’

• Diretório nacional do partido discutiu as estratégias para os últimos 30 dias da campanha

Germano Oliveira – O Globo

SÃO PAULO — O Diretório Nacional do PT aprovou, na tarde desta sexta-feira, uma resolução que faz duras críticas à candidata do PSB Marina Silva (PSB) à presidência da República, dizendo que ela representa o retrocesso. Em um documento intitulado “Um momento decisivo para a história do Brasil”, o Partido dos Trabalhadores conclama a militância a reeleger a presidente Dilma Rousseff, pois o que está em jogo não é apenas a continuidade do atual governo, mas “o futuro do país”. Dando sequência à sua política de afirmar que a candidatura da ex-senadora coloca o país em risco, o documento afirma que o PSB deseja liquidar o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e o BNDES, além de enfraquecer a Pebrobras.

“Destacam-se nos programas da oposição, sobretudo no da candidata adversária (Marina), algumas propostas radicais, que temos combatido com veemência desde a sua divulgação. Ortodoxo na economia, conservador no plano dos direitos individuais, regressivo nas propostas de reforma política, o plano de governo da candidata defende, entre tantas concessões: a autonomia do Banco Central e a redução do papel dos bancos públicos; a mudança na política externa; e a revisão das regras do pré-sal”, diz o documento, acrescentando:

“Propõem subtrair da Presidência da República e do Congresso a condução da política econômica para entregá-lo a um banqueiro de confiança dos rentistas e especuladores. Não satisfeitos, acenam para as multinacionais do petróleo ao colocarem em xeque o modelo de partilha em vigor para substituí-lo pelo regime de concessões. E, tão grave quanto, jogam para segundo plano a exploração do petróleo do pré-sal, esta imensa riqueza nacional, verdadeiro passaporte para o futuro do país”.

Em entrevista coletiva, o presidente do PT, Rui Falcão explicou os riscos especificados no documento do diretório do Nacional petista.

— Ao formalizar a autonomia do Banco Central, o nosso entendimento é que eles querem deixar a condução da política econômica para alguém que não foi eleito e colocar o BC nas mãos de um representante do sistema bancário. Querem também colocar num plano secundário o BNDES, a Caixa e o BB para enfraquecê-los e colocá-los na perspectiva de uma privatização. E falam de não dar prioridade ao pré-sal, que é um projeto de futuro, que vai garantir os investimentos para educação e saúde. E não está descartado que isso possa também enfraquecer a própria Petrobras perante as petroleiras estrangeiras. O passo seguinte pode ser vender a empresa — declarou Falcão.

O documento do PT também diz que os dois candidatos da oposição “vestem a fantasia da mudança e de uma suposta nova política, mas seus programas de governo, semelhantes em muitos aspectos no conteúdo, revelam que a mudança propalada serve mais aos grupos que os apoiam do que àquela desejada pela maioria da população”.

Negando que os petistas já estejam colocando em prática o segundo turno, Rui Falcão disse que os últimos 30 dias da campanha eleitoral serão utilizados tanto no horário eleitoral, quanto para os militantes do partido, para debater o projeto político do PT e o dos adversários, incluindo Marina.

— Sempre trabalhamos com a perspectiva de uma eleição em dois turnos e tudo indica que disputaremos o segundo turno contra a Marina. Por isso, estabelecemos que o debate político será no confronto do nosso projeto com o projeto de nossa adversária, cujo programa é modificado a todo instante.

Dentro dessa polarização com Marina, Falcão nega que esteja perseguindo a ex-senadora, como ela reclama, sobretudo no episódio das palestras que ela proferiu e pelas quais ganhou R$ 1,6 milhão.

— Não foi o PT que levantou essa história das palestras, foi a imprensa. Ela disse que não iria revelar valores por causa da confidencialidade pedida pelas empresas, mas agora ela vai ter a oportunidade de dizer isso na Justiça. Não queremos fazer nenhum prejulgamento, mas no passado também se questionou as consultorias dadas pelo ex-ministro Antonio Palocci e nós demos todas as informações pedidas — explicou Falcão.

Ele espera que com o maior envolvimento da militância, a campanha de Dilma possa passar para o segundo turno à frente de Marina. Para ele, Dilma vai mostrar que tem a melhor proposta para a economia, com os empregos sendo gerados, reservas cambiais de US$ 380 bilhões e inflação dentro da meta. Falcão disse que o PT ainda não tem um plano de governo “fechado”, mas que o importante é que Dilma está assumindo compromissos mais firmes do que sua adversária.

— Dilma já disse que pretende criminalizar a homofobia — provocou Falcão.

Sobre o fato do Clube Militar, do Rio, ter manifestado apoio à candidatura de Marina, o presidente do PT explicou que “é um direito deles” se manifestar.

— Esses militares normalmente são aposentados na carreira militar e em geral são pessoas que não gostam muito da democracia e muitos ligados à ditadura e à tortura no regime militar. Espero que não sejam esses que estão dando apoio à Marina — disse o presidente do PT.

Rui Falcão diz que é preciso preparar volta de Lula

• "Temos que eleger a Dilma para dar continuidade nesse processo e preparar a volta do Lula em 2018", disse o presidente do PT

Carla Araújo e Ricardo Galhardo – O Estado de S. Paulo

Mais cedo, Falcão descartou movimento de ''volta Lula'' para essas eleições. Questionado sobre rumores de que a ideia teria ganhado força novamente nos últimos dias, Falcão afirmou que "nunca soube disso". "O que eu vi foi um site fake que por sinal já foi retirado do ar."

Em seu discurso, Falcão reforçou que a campanha de Dilma não vai atacar a figura pessoal da Marina Silva (PSB). "Nós não temos absolutamente nada contra a Marina Silva, o que nós temos contra é o programa que ela encampou, as ideias que ela passou a defender", disse.

O petista também ironizou as recentes alterações no programa de governo de Marina. "(somos contra) o programa que ela escreveu como oficial, embora tenha mudado alguns pontos depois de um twitter", disse em referência a alteração de pontos do programa a respeito das causas LGBT, que teriam sido feitas após críticas de lideranças evangélicas. "(A campanha) Não é uma disputa de personalidades, não é um ataque às pessoas, é ataque duro aquelas ideias que representam um retrocesso", reforçou.

Falcão criticou novamente a política econômica do programa de Marina e disse que "não dá cheque em branco nem para as pessoas que a gente elege, porque queremos fiscalizar" e disparou: "Não dou cheque em branco para o banco Itaú", em referência a participação da herdeira da instituição, Neca Setúbal, fazer parte da campanha de Marina.

Falcão também fez uma defesa da candidatura de Padilha e disso que ela está muito vinculada a campanha de Dilma em São Paulo. Além disso, Falcão afirmou que a eleição de Padilha "é uma grande, radical e profunda transformação em São Paulo".

*Miguel Reale Júnior: Temperaturas da disputa presidencial

- O Estado de S. Paulo

O clima eleitoral estava absolutamente morno até a morte trágica de Eduardo Campos. A distância do embate e a Copa do Mundo seriam explicações. Mas o quadro da disputa era desinteressante: de um lado, Dilma Rousseff, figura que em nada encanta como personalidade, sempre com cara de maus amigos, dona de uma linguagem incompreensível; de outro, dois ex-governadores mais conhecidos em seus Estados, com biografias semelhantes, buscando obter dimensão nacional.

Aécio Neves e Eduardo Campos eram antes candidatos à Presidência da República do que líderes dotados de personalidade marcante no cenário brasileiro, sem posições que no passado recente lhes tivessem dado forte identidade.

Dilma, cria de Lula, desgastou-se com os clamores de volta do seu criador e vive um contexto econômico desastroso, além da sua antipatia natural. Em suma, tinha-se, e tem-se, uma candidata sem graça, que levava a uma eleição desinteressante: mais do mesmo. Já os dois bem-sucedidos governadores buscavam tornar-se conhecidos, pois não haviam ainda se apresentado à Nação como formadores de opinião, portadores de ideias-força mobilizadoras da população. Apareceram, e bem, como candidatos, mas não como condutores independentemente da eleição.

Como disse, a semelhança entre ambos era curiosa: Aécio Neves, nascido em 1960, entrou na política pela mão de seu avô Tancredo, que o chamou do Rio de Janeiro, onde cursava Administração de Empresas, para, com 21 anos, assessorá-lo na vitoriosa campanha para governador de Minas Gerais.

No governo, veio a ser secretário particular do avô governador. Eduardo Campos, nascido em 1965, também com 21 anos abriu mão de estudar Economia nos Estados Unidos para participar da campanha do avô Miguel Arraes em 1986. Depois da vitória, tornou-se chefe de gabinete do avô governador de Pernambuco.

Aécio foi por quatro vezes consecutivas eleito deputado federal por Minas Gerais. Campos foi deputado estadual por um mandato e deputado federal por três. Ambos sempre alcançaram votações expressivas nas eleições parlamentares.

Aécio governou Minas de 2003 a 2010. Campos foi governador de Pernambuco de 2007 até abril de 2014. Ambos, que entraram na política bem cedo e tiveram sucesso, chegando à presidência de seus partidos, sofriam do mesmo mal: precisavam fazer-se conhecidos. Por ironia do destino, Eduardo Campos só alcançou repercussão em todo o País com sua trágica morte, lançando na véspera uma frase notável: "Não vamos desistir do Brasil".

Outra semelhança a notar entre ambos os ex-governadores está na atenção que deram a dois setores-chave: segurança e educação. No campo da segurança, Campos implantou com sucesso o projeto Pacto com a Vida, que reduziu significativamente o número de homicídios em Pernambuco. Aécio, em Minas Gerais, também realizou o Programa de Controle de Homicídios Fica Vivo, com queda por vezes de 50% de casos de assassinato em algumas regiões. Na área da educação, Campos promoveu avanços, com resultados altamente positivos no Índice de Educação Básica (Ideb). Aécio, em Minas, criou o programa de educação em tempo integral, ganhando o reconhecimento no Ideb de ter a melhor educação do Brasil.

No início de agosto, no entanto, Aécio tinha 23% das intenções de voto e Campos, 9%, prevendo-se, ainda dentro da margem de erro, a possibilidade de haver segundo turno graças à votação do pastor Everaldo e de outros nanicos. Os destaques de Aécio e de Campos, com tradição política e trajetórias recheadas de vitórias e muito parecidas, não tiveram o condão de, somados, superar uma candidata tão contornada de dificuldades pessoais, com uma conjuntura econômica e política complicada.

Com a assunção de Marina Silva à condição de candidata, aqueceu o confronto e operou-se uma reviravolta, devida, apenas em pequena monta, à comoção pela morte de Eduardo Campos. São os reflexos do descontentamento manifestado em 2013 e do desejo de mudança que não encontraram resposta nos talentosos e bem-sucedidos governadores Eduardo Campos e Aécio Neves. Percebe-se uma busca do novo com forte identidade, antes líder do que candidato, um novo confiável no plano emocional e racional.

Marina Silva teve percurso bem diverso dos netos de grandes homens. Viveu até os 16 anos em seringais, contraiu malária e leishmaniose, alfabetizando-se adolescente para, mais tarde, se formar em História e em Psicopedagogia. Também com trajetória política no Legislativo - vereadora, deputada, senadora - e candidata à Presidência em 2010, sua força advém menos dos cargos ocupados, mesmo no Executivo, como ministra do Meio Ambiente, e mais das bandeiras que sempre empunhou e da firmeza pessoal havida na luta pela sustentabilidade.

Assim, a "onda" Marina, com perspectiva de vitória nas eleições de outubro, não decorre apenas da presença anterior no cenário político, que tanto ela como Aécio e Campos tiveram. Deflui, sim, da sua personalidade, da sua figura física e moral, que neste instante se casa com o tipo de governante desejado por grande parte da população, como se vê ao atrair votos nulos e em branco e bom número de indecisos.

No quadro de desânimo com os políticos, depois de tantos escândalos, a começar pelo mensalão, o eleitor deve examinar compromissos e programas de governo para decidir seu voto, mas em geral o dado emocional da confiança pode preponderar, com vantagem para Marina Silva, que melhor personifica a garantia de mudança na forma de fazer política.

Confrontam-se a figura de Marina, dotada de intensa identidade, e a de um governador de sucesso, com experiência administrativa e apoio de partidos e pessoas de peso. Bom é que ambos têm condições de mudar o que aí está e, para tanto, devem caminhar juntos no segundo turno.

*Advogado, professor titular aposentado da Faculdade de Direito da USP, membro da Academia Paulista de Letras, foi ministro da Justiça

Merval Pereira: Velha política em xeque

- O Globo

O que na verdade vai movimentar a campanha presidencial nos próximos dias, podendo até mesmo definir as reais possibilidades competitivas da presidente Dilma, é o depoimento do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, que já começou a denunciar deputados, senadores e governadores que estavam no esquema de corrupção na estatal dominada pelos interesses políticos do PT.

A candidata Marina Silva se tornou necessariamente o alvo de seus adversários, a presidente Dilma, a quem venceria no 2º turno hoje, e o senador Aécio Neves, a quem deslocou do 2º lugar. Há quem veja um erro de estratégia de Aécio nos ataques que vem desferindo contra Marina, como se a tentativa de desconstruir a candidata do PSB só ajudasse o PT.

Aécio estaria fazendo o mesmo esforço inútil que o tucano José Serra fez em 2002, destruindo, com sucesso, as candidaturas de Roseana Sarney e Ciro Gomes para depois ser derrotado por Lula no segundo turno. Há no entorno do PSDB quem defenda uma “renúncia branca” de Aécio, que deveria se dedicar mais à eleição de Minas para garantir seu cacife político.

Melhorando em Minas, onde segundo o Datafolha está em 3º lugar, Aécio melhoraria indiretamente no plano nacional, já que Minas é o segundo maior colégio eleitoral do país. Também em São Paulo haveria espaço a recuperar ao lado do governador Geraldo Alckmin. Na realidade, os ataques que Aécio vem fazendo a Marina são sinalizações de que não pretende desistir da candidatura, mas sua tarefa principal a essa altura é mesmo garantir que Minas não caia nas mãos do PT.

Vencer a eleição para presidente por lá também seria fundamental para melhorar seu cacife político para futuros acordos internos dentro do PSDB e no apoio a Marina no 2º turno. O fato é que Marina, transformada no alvo preferencial dos adversários, está assumindo o papel de representante da sociedade contra os velhos métodos de fazer política no país.

A candidata do PSB já se utiliza da vitimização para se defender, e lança ao eleitorado a tarefa de defendê-la pelo boca a boca, já que tem menos tempo de propaganda oficial que os adversários. Marina acena com a chegada ao 2º turno para equilibrar a disputa, pois nele os tempos são iguais para os dois pretendentes.

Marina caracterizou os ataques que vem recebendo como oriundos de um sentimento de desespero de seus adversários que fizeram “uma frente” para tirá-la da competição, na tentativa de colocar à margem a sociedade civil organizada que ela representaria.

Os integrantes da “velha política” teriam receio de disputar com movimentos espontâneos do eleitorado, e gostariam de circunscrever as possibilidades de chegar ao poder aos dois partidos que polarizam as disputas desde 1994, PT e PSDB, um preferindo ter o outro como opositor, e os dois temendo enfrentar Marina e a espontaneidade da sociedade organizada.

Ela citou ontem especificamente a ação de seus adversários no Rio, onde lidera a recente pesquisa Datafolha com 37% no estado e 41% na capital. Enfrentando as máquinas estadual e federal, que têm como candidatos a presidente Dilma e o senador Aécio, Marina vem confirmando o caráter libertário do eleitorado do Rio, que já deu a ela em 2010 uma votação expressiva.

Marina se mostrou irritada especialmente com o que chamou de “máquina de boatos” que tem espalhado que ela é contra a distribuição dos royalties do petróleo em proporção maior para o Rio, uma antiga disputa no Congresso que agora surge na campanha presidencial.

Esse seria um tema obrigatório caso Eduardo Campos estivesse na disputa, pois ele foi um dos defensores da distribuição mais igualitária dos royalties, em defesa dos interesses do Nordeste. Marina acabou sendo atacada por outro flanco, o da prioridade do pré-sal.

Alegam que ao reduzir a importância do petróleo na estratégia de energia do país, Marina acabará reduzindo o valor dos royalties para estados e municípios. Há ainda a esperteza política de sindicatos de petroleiros ligados à CUT que querem fazer um protesto contra a suposta política do pré-sal de Marina, o que não passa de um ato politiqueiro.

Discutir os programas partidários, atacar suas contradições e imperfeições e mostrar as debilidades de Marina faz parte do jogo. Mas tentar usar a religião como instrumento de desqualificação política ou inventar posições inexistentes para fazer a “luta política” é realmente usar o pior da velha política. Que estará mais uma vez em xeque a partir deste fim de semana com as revelações da delação premiada do ex-diretor da Petrobras.

Cláudio Couto: Política negativa

- O Estado de S. Paulo

A "nova política" de Marina Silva é uma negação. Ela se afirma por oposição lógica à "velha política", negando características estruturais e conjunturais do sistema político brasileiro. Mais do que na verbalização clara do conteúdo dessa "nova política", é no simbolismo da imagem negadora do status quo que Marina constrói sua imagem e se fortalece na disputa contra rivais dotados de recursos materiais mais robustos. Todavia, é na falta de substância - ou de uma positivação - de sua proposta que residem suas fragilidades.

A negação estrutural se dirige contra o presidencialismo de coalizão. Ao afirmar que governará com os melhores, independentemente das agremiações em que estejam e permitindo-se até listar nomes, Marina nega de uma só vez os partidos (substituídos por pessoas), as coalizões (substituídas por apoios difusos) e a classe política profissional (substituída pelos "melhores"). Numa síntese notável, diz: "O problema é que essas pessoas estão no banco de reservas, e as pessoas que foram às ruas em junho de 2013 vão escalar uma nova seleção".

Há, porém, um segundo problema derivado do primeiro. Se os "melhores" estão no banco de reservas, é porque não foram eleitos. E, se não forem eleitos, não poderão apoiar as iniciativas governamentais no Congresso.

Hoje, partidos de adesão como PMDB, PP, PSD, PR, PTB, SDD e PROS perfazem 56% da Câmara e pouco mais de 50% do Senado. O maior deles, o PMDB, é uma agremiação que escolhe para seus líderes no Legislativo personagens como Renan Calheiros, José Sarney e Eduardo Cunha. Figuras elencadas por Marina entre os "melhores", como Pedro Simon, são francamente minoritárias - tanto que não conseguem eleger outros "melhores" para liderarem-nos. A situação não é melhor no PR de Valdemar Costa Neto e no PTB de Roberto Jefferson. Haverá na próxima legislatura uma proliferação de "melhores" no Congresso, elegendo-se uma maioria afeita ao perfil de aliado buscado pela candidata? Improvável.

Uma opção pode ser a de não construir uma coalizão no Congresso, tornando-se um governo minoritário e negociando pontualmente com partidos e políticos, mesmo não sendo os "melhores". Não é o caso de comparar Marina a Collor e Jânio, como fez o PT em sua propaganda. Tal comparação é injusta, pois a trajetória política da candidata é muito distinta da seguida por aqueles. Mais correto seria compará-la com Luiza Erundina, que hoje coordena sua campanha.

Ao se eleger prefeita de São Paulo, em 1988, Erundina foi questionada sobre a formação de uma coalizão. Respondeu: "Não, isso não está em cogitação, embora a gente pretenda convidar outras forças, que possam colaborar conosco, mas não em termos de uma coalizão e compromissos mais formais". Quase seis anos depois, encerrado seu mandato, declarou: "Meu maior erro na Prefeitura foi não ter composto uma coalizão logo no primeiro dia de governo". As imensas dificuldades enfrentadas por Erundina na relação com a Câmara Municipal fizeram-na mudar de ideia.

PT, PSDB e a polarização por eles constituída encarnam conjunturalmente o status quo negado pela "nova política". Nos últimos 20 anos, construíram coalizões ao estilo tradicional: cedendo cargos, liberando verbas, promovendo as trocas de partidos e compondo com os "piores" de adesão, que eram a maioria disponível. E deverão continuar sendo, acrescidos ainda de PT, PSDB e seus próprios "piores".

Como então fazer uma "nova política" com velhos políticos? Atropelar o Congresso, como fez o presidente equatoriano Rafael Correa em seu primeiro mandato, não parece ser a opção de Marina, líder de estilo diferente do agressivo bolivarianismo de Correa, Chávez e Morales, dados ao atropelo da institucionalidade que estiver no caminho.

Já ficou claro o que a "nova política" não seria. Falta dizer positivamente - e de forma crível - o que será.

Fernando Rodrigues: A delação e a eleição

- Folha de S. Paulo

O mundinho da política ferve com a possibilidade de se tornar conhecido o conteúdo dos depoimentos do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. Preso há meses, ele fez um acordo de delação premiada. Conta o que sabe em troca de uma pena reduzida.

Ontem (5), soube-se que Costa já teria relacionado os nomes de 12 senadores, 49 deputados federais e de um governador. Esse grupo estaria envolvido em traficâncias com a estatal. Pelo menos três partidos políticos também ficam encrencados nesse escândalo --PT, PMDB e PP.

Em algum momento, o ex-diretor da Petrobras declarou que não haveria eleição neste ano se ele revelasse tudo o que sabe. Um exagero. Eleição, haverá. Mas de outra natureza.

A revelação de corrupção a granel no plano federal terá impacto nas urnas. Quando políticos tradicionais aparecem relacionados ao jeito antigo de tratar o Estado, crescem as chances de novatos terem sucesso nas urnas. No mínimo, fica mais difícil para os agentes, vamos dizer, ortodoxos se manterem no poder.

A democracia brasileira tem um exemplo assim na eleição de governadores de 1994. No ano anterior, o Congresso havia assistido ao escândalo do anões dos Orçamento. Uma tropa de deputados e senadores foi flagrada rapinando dinheiro público. Muitos foram cassados ou renunciaram. O resultado foi que, em 1994, só nove Estados resolveram suas disputas para governador no primeiro turno. Foi a eleição estadual mais puxada e apertada até hoje.

Agora, de acordo com os levantamentos disponíveis, 11 Estados tendem a escolher seus governadores no primeiro turno. Dos 18 que disputam a reeleição, só 6 estão em primeiro lugar. O páreo está duríssimo.

No caso da corrida presidencial, o Petrobrasgate é ruim para Dilma Rousseff na mesma proporção do benefício possível para Marina Silva. É outro capítulo na mais imprevisível de todas as eleições recentes.

Cristovam Buarque: Paz nas escolas

• Alunos não espelham seus futuros nos professores

- O Globo

Recente estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico e nossos jornais no dia a dia mostram o Brasil como o país com maior violência na escola. O futuro de um país tem a cara de sua escola no presente. Por isso, é urgente entender as causas da violência e como corrigi-las.

A primeira causa é a pouca valorização do professor. Em uma sociedade movida pelo consumismo e renda, ao perceberem que os professores têm baixos salários, os alunos valorizam mais outras profissões, não espelham seus futuros nos professores em frente. Todas as categorias profissionais são mais reconhecidas do que o magistério. Os professores, ao não serem reconhecidos, justificadamente, diminuem a dedicação, criando um circulo vicioso de desrespeito mútuo, mesmo implícito, quando não explicitado.

Este sentimento se agrava, quando os alunos sentem as semanas ou os meses sem aulas por causa das greves para as quais os professores são jogados em busca de aumentos mínimos nos seus salários. Se as escolas podem ficar meses sem aulas, é porque não são vistas com importância pela sociedade, o que leva alunos a também não darem importância a elas. Nem sentem amor por uma instituição na qual percebem que estão por poucos anos, antes de abandoná-la sem concluir os estudos, como fizeram seus pais e irmãos mais velhos.

Acostumados a ver o conforto nos demais prédios da sociedade, os alunos sentem a degradação que vai dos banheiros às salas de aulas e adquirem o indecente direito de depredar o que a sociedade não valoriza. Acostumados aos modernos equipamentos de tecnologia da informação, sentem-se torturados pelas aulas em arcaicos quadros-negros.

Soma-se a isto a realidade social, na qual a violência obscena ficou banal, com a mídia passando violência, inclusive em programas infantis e de adolescentes.

Sentindo-se violentados pela escola degradada, alunos ficam violentos, pois vítimas de violência reagem com violência. A escola brasileira é tão violenta com os alunos que não há razão para surpreender-se com a violência dos alunos contra ela, mas há para assustar-se com as consequências trágicas da violência na depredação do futuro.

É difícil resolver a causa externa da violência escolar, que vem da sociedade violenta, mas não seria difícil quebrar as causas internas com um programa pelo qual nossos professores sejam valorizados e, em consequência, dedicados, competentes e admirados pelos alunos; em prédios bonitos, confortáveis, equipados ao gosto dos jovens; e com as instalações necessárias para escola em tempo integral, longe das tentações e ameaças da violência das ruas.

É suicídio esperar o fim da violência urbana para só então termos escolas pacíficas, mas a valorização da escola vai colaborar para pacificar a sociedade. O Brasil dispõe dos recursos para mudar esta maldita realidade da violência nas escolas e, com uma escola pacificada, construirmos a paz na sociedade ao redor. Mas ainda não temos a mentalidade social e política necessária. Ainda preferimos as UPPs aos Cieps, e tentamos corrigir a violência de fora, deixando-a dentro das escolas.

Cristovam Buarque é senador (PDT-DF)

*Rolf Kuntz: A inflação ganha impulso, a estagnação continua

- O Estado de S. Paulo

A calmaria passou, a inflação voltou a subir, bateu em 0,25% em agosto e a taxa de 12 meses, 6,51%, superou de novo o limite de tolerância, imprópria e teimosamente rotulado como "teto da meta". A meta, um ponto sem teto, continua em 4,5%, onde sempre esteve a partir de 2005. Também continua a estagflação, mistura tóxica de preços em alta com produção emperrada ou em queda. Depois de noticiada a recessão no primeiro semestre, o governo e cidadãos de boa vontade - muitíssimo boa - andaram comemorando os números da atividade industrial em julho. Deveriam esperar um pouco mais, para evitar um provável desperdício de foguetes e de champanhe.

A festejada reação apontada pelo IBGE, um crescimento de 0,7%, veio depois de uma contração de 1,4% em junho. A atividade nem retornou, portanto, ao nível de maio. Além disso, a produção acumulada no ano ficou 2,8% abaixo da calculada para o período de janeiro a julho de 2013. Em 12 meses a queda foi de 1,2%. Só uma reação bem mais forte, nestes últimos meses, poderá impedir uma nova queda anual. Os dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) podem até parecer animadores, mas a boa impressão logo desaparece quando o quadro é examinado com mais atenção.

Pelos cálculos da CNI, as horas de trabalho na produção aumentaram 2,6% de junho para julho e o uso da capacidade instalada subiu 0,6 ponto porcentual, atingindo 81%. Mas o aumento da atividade é em parte explicável pelo menor número de folgas depois de encerrada a Copa da Fifa. A advertência, incluída no informe divulgado pela entidade, foi realçada pelo gerente executivo de Política Econômica da confederação. A expectativa, segundo ele, ainda é de resultado negativo para a indústria neste ano. Apesar do aumento em julho, o indicador de horas de trabalho ainda ficou 2,3% abaixo do de julho de 2013. Além disso, o nível de emprego continuou em queda, com redução de 0,2% de junho para julho. A massa real de salários também caiu 0,2%.

A diminuição do emprego industrial é uma das tendências mais preocupantes observadas na economia brasileira nos últimos dois anos ou pouco mais. A criação de postos de trabalho tem dependido principalmente do setor de serviços e da administração pública. Isso é uma clara indicação de perda de qualidade e de produtividade da maior parte do emprego gerado no País. Essa tendência é perfeitamente compatível, também, com a prolongada estagnação da economia, compensada parcialmente só pelo bom desempenho do agronegócio.

Os primeiros dados de agosto são também negativos. No mês passado, a produção de autoveículos foi 22,4% menor que a de um ano antes, segundo informou na quinta-feira a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). O número acumulado de janeiro a agosto, 2,08 milhões, foi 18% inferior ao de igual período de 2013. Na mesma comparação, o licenciamento de veículos diminuiu 9,7%.

As vendas internas de máquinas agrícolas e rodoviárias também recuaram, embora a agropecuária continue saudável e o governo continue exibindo a construção de estradas como grande realização. Até agosto, as vendas no atacado recuaram 18,9% em relação ao nível de um ano antes. O valor das exportações de veículos e máquinas agrícolas, US$ 8 bilhões, também despencou no ano e diminuiu 27,2%. No mês passado, o número de empregados nas montadoras, 148,9 mil, foi bem menor que o de um ano antes (157,6 mil) e inferior até ao de agosto de 2012 (149,8 mil).
Por enquanto a produção prevista para o ano é 5,4% menor que a de 2013, segundo o presidente da Anfavea, Luís Moan.

Até agora, o novo lance do Banco Central (BC) para reanimar a economia deu em nada. Com a liberação de recursos dos depósitos compulsórios, o setor financeiro passou a dispor de mais dinheiro para emprestar a consumidores e a empresas. Parte da liberação foi destinada explicitamente ao setor automobilístico, mas nada ou quase nada aconteceu. Segundo o governo, os bancos estão sendo excessivamente conservadores e dificultando os negócios. Grandes bancos até anunciaram redução dos juros, mas sem efeito sensível. Parte do problema, segundo as avaliações conhecidas até agora, está do outro lado do balcão. Consumidores e empresas parecem, neste momento, menos dispostos a correr atrás de novos empréstimos, embora os dados do BC ainda mostrem alguma expansão do crédito.

De toda forma, o governo insiste num jogo de possibilidades limitadas, com estímulos especiais - tributários e financeiros - dirigidos a alguns setores selecionados. O destaque, naturalmente, continua sendo a indústria automobilística. Esse tipo de aposta obviamente fracassou nos últimos quatro anos, embora alguns segmentos da indústria tenham aproveitado os incentivos para vender mais e ganhar um dinheiro extra. Mas o resultado geral para a economia é bem visível nas taxas de crescimento do produto interno bruto (PIB). A expansão foi de 2,7% em 2011, 1% em 2012 e 2,5% em 2013. A recessão do primeiro semestre deste ano combinou muito bem com esses antecedentes. Mas a história vai além, porque a queda do investimento compromete o potencial de expansão econômica.

Mas o resto do mundo, insiste a presidente Dilma Rousseff, está em situação muito pior. Empenhada na campanha, ela deve continuar sem tempo para ler jornais. O presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, acaba de anunciar um corte de juros e emissão de dinheiro para animar a economia. Segundo previsões do banco, a economia da região deve crescer 0,9% neste ano e 1,6% no próximo, com inflação abaixo de 1% e risco de deflação. Quadro ruim, sem dúvida. E no Brasil?

Segundo pesquisa do BC de 29 de agosto, as projeções indicam crescimento de 0,52% neste ano e 1,10% em 2015, com inflação sempre acima de 6%. Na zona do euro, o desafio é elevar a inflação até 2% e movimentar a produção. No Brasil, cortar a inflação sem jogar mais para baixo uma economia já arrasada. Alguém devia contar isso à presidente.

*Jornalista

Alberto Carlos Almeida: Não é fácil perder uma reeleição

- Valor Econômico – Eu & Fim de Semana

Desde 1936, somente três presidentes americanos que disputaram uma reeleição foram derrotados. Naquele ano, Franklin Delano Roosevelt foi reeleito pela primeira vez. Ele viria a disputar novamente com sucesso o cargo de dirigente máximo dos EUA duas vezes, em 1940 e em 1944. A reeleição era então permitida sem limite para o número de mandatos. O sucesso avassalador de Roosevelt fez com que a reeleição passasse a ser limitada a somente uma vez. Roosevelt morreu no cargo e Truman assumiu, disputou a reeleição em 1948 e venceu.

A lista daqueles que disputaram com sucesso a reeleição é longa: Dwight Eisenhower (1956), Lyndon Johnson (1964), Richard Nixon (1972), Ronald Reagan (1984), Bill Clinton (1996), George W. Bush (2004) e Barack Obama (2012). Os presidentes pós-Roosevelt que não conseguiram se reeleger foram Gerald Ford (1976), Jimmy Carter (1980) e George H. W. Bush (1992). O placar foi de 11 a 3: de todos que disputaram uma reeleição, 11 saíram vitoriosos e três foram derrotados. Ou seja, em mais de 73% das disputas nas quais alguém disputava a reeleição, venceu aquele que ocupava o cargo. Essa enorme assimetria está devidamente incorporada nos modelos estatísticos de previsão de resultados eleitorais, conferindo-se maior probabilidade de vitória a quem disputa a reeleição.

No Brasil, Fernando Henrique foi reeleito em 1998 e Lula, em 2006. Nos dois casos, vitória folgada: FHC ganhou no primeiro turno e Lula venceu com aproximadamente 20 pontos percentuais de vantagem no segundo turno.

No parlamentarismo, em que o voto não é na pessoa de um líder, mas em um partido, a reeleição também é mais frequente. Apenas para lembrar alguns casos: Tony Blair disputou e venceu duas reeleições; na Alemanha, o chanceler Helmut Kohl foi reeleito três vezes, seu sucessor, Gerard Schroeder, foi reeleito uma vez (e perdeu uma) e, mais recentemente, Angela Merkel foi reeleita duas vezes. De volta ao presidencialismo, mas ficando na Europa, perder uma reeleição é tão mais raro do que sair vitorioso. Em 2012, Nicolas Sarkozy foi o primeiro presidente da França a perder uma reeleição nos últimos 30 anos.

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André Lara Resende: Riqueza, crescimento e desigualdade

• O conceito de PIB deixou de fazer sentido em seu duplo papel de aferidor de desempenho e de qualidade de vida

• Na democracia contemporânea, a desigualdade precisa ser vista como resultado da meritocracia, sem a qual todos perderiam

- Valor Econômico – Eu & Fim de Semana

A taxa relativamente modesta de crescimento demográfico mundial, de 0,8% ao ano, nos últimos três séculos, é suficiente para mais do que dobrar o número de pessoas sobre a Terra a cada 100 anos e de multiplicá-lo por 10 a cada 300 anos. Já se dá um início de reversão. A população mundial cresce hoje a taxas muito inferiores, com sinais de que deve voltar a se estabilizar, ou até mesmo decrescer, a partir de algum momento da segunda metade do século XXI. O crescimento demográfico terá, então, completado um ciclo de aceleração e desaceleração que levou a população mundial a saltar de menos de 600 milhões para mais de 7 bilhões de pessoas em menos de quatro séculos.

Sem crescimento demográfico, o que esperar do crescimento da renda? Como parte do crescimento da renda é derivada do componente demográfico, seria natural que, uma vez a população estabilizada, o crescimento da renda ficasse limitado às taxas observadas para a renda per capita. A renda passaria, então, a crescer a uma taxa mais próxima de 2% do que dos 4%, ao ano, observados no apogeu do século XX. O crescimento da renda per capita dos países avançados já foi bem menor de 1990 para hoje: na Europa, 1,6% ao ano; nos EUA, 1,4%; no Japão, 0,7. Os fatos confirmam a lógica. Daqui para a frente, ao menos nos países avançados, é ilusório contar com taxas de crescimento de 3% ou 4% ao ano. Interrompido o crescimento demográfico e atingida a fronteira tecnológica, será preciso contar com o avanço da tecnologia para garantir o crescimento da produção e da renda.

Papel do progresso tecnológico
Essa é a lição do modelo de referência do crescimento conhecido como o modelo de Solow-Swan. Até que se tenha acumulado capital suficiente e se tenha atingido a fronteira tecnológica, o crescimento depende das taxas de poupança e de investimento. Quanto mais se poupa e se investe, mais se cresce, mas, atingida a relação capital/produto de equilíbrio de longo prazo, o crescimento se torna independente das taxas de poupança e de investimento. Passa a depender do progresso tecnológico. No modelo original, o crescimento atribuído ao progresso tecnológico é estimado por resíduo, pela parcela do crescimento que não advém nem do capital nem do trabalho. Estudos posteriores, que desenvolveram o modelo original, procuraram encontrar os fatores explicativos do progresso tecnológico. A maioria o associa primordialmente à educação - que aumentaria o que se convencionou chamar de capital humano - e à pesquisa, que aceleraria a descoberta de novas tecnologias. O debate sobre o futuro do crescimento econômico, atingida a fronteira tecnológica e estabilizada a população, gira em torno do ritmo do progresso tecnológico. A questão passaria, assim, da tentativa de promover o crescimento para a - ainda mais complexa - de acelerar o ritmo do progresso tecnológico.

Em trabalho recente ("Is Economic Growth Over?"), Robert G. Gordon sustenta que o crescimento econômico, como o conhecemos, foi um fenômeno do século XX. Só foi possível devido à Revolução Industrial do século XIX, quando o progresso tecnológico deu um salto excepcional. Muitos novos produtos permitiram profunda mudança nas formas de viver, produzir e consumir. Estimularam, simultaneamente, a oferta e a demanda. É possível que o progresso tecnológico mais recente, com a revolução da informática, embora igualmente impressionante, não tenha a mesma capacidade transformadora, que não seja capaz de aumentar a produtividade e estimular a demanda da mesma forma que as inovações da Revolução Industrial. Os computadores e a internet deixam claro que a inventividade humana não dá sinais de arrefecer, mas os efeitos transformadores dessa inventividade sobre a produção, o consumo e a renda parecem não escapar à lei dos rendimentos decrescentes.

Não é preciso compartilhar do ceticismo tecnológico de Gordon para concluir que o crescimento, como o conhecemos no século XX, não deverá continuar até o fim deste século XXI; basta a lógica das taxas compostas. Assim como a população mundial deverá se estabilizar dentro de algumas décadas, também o crescimento, da renda e do consumo, dá sinais de desaceleração. Embora a qualidade de vida possa continuar a melhorar, a renda como a medimos, associada primordialmente à produção de bens, não poderá continuar a crescer indefinidamente.

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