• Segundo Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobrás que fechou acordo de delação premiada, empresas ganhariam contratos em troca do pagamento de propina de 3% para deputados e senadores
Andreza Matais, Fausto Macedo e Ricardo Brito - O Estado de S. Paulo
O nome do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), foi mencionado pelo ex-diretor da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, em depoimento prestado à Justiça na tentativa de conseguir o perdão judicial por meio da delação premiada. O peemedebista também foi citado por outros colaboradores da Justiça flagrados na Operação Lava Jato.
Um dos negócios mencionados supostamente envolvendo Renan é um acerto com o doleiro Alberto Youssef para que o fundo de pensão dos Correios, o Postalis, comprasse R$ 50 milhões em debêntures (um título que confere a seu detentor um direito de crédito contra a companhia emissora) emitidos da Marsans Viagens e Turismo, que tinha Youssef como um dos investidores.
Segundo o relato de um colaborador ao Ministério Público Federal no Paraná, o doleiro teria se reunido com Renan, em Brasília, no início de março, para acertar a comissão do PMDB nesse negócio. O negócio não ocorreu porque Youssef e Paulo Roberto foram presos antes. A Marsans fechou seus escritórios e pediu recuperação judicial após as prisões.
O fundo de pensão dos Correios é controlado pelo PMDB e PT. Em julho, os quatro integrantes da cúpula do Postalis tiveram sua exoneração pedida por dois conselheiros. A acusação é que a interferência dos partidos políticos no Postalis levou a “operações suspeitas” que explicam o rombo de R$ 2,2 bilhões acumulado de 2013 a junho de 2014.
Procurada na tarde desta sexta-feira, 5, a assessoria de Renan Calheiros afirmou que não localizou o senador para comentar o assunto até o fechamento desta edição. O Estado também tentou falar com o senador pelo celular, mas o aparelho estava desligado.
As investigações também revelaram que um apadrinhado de Renan tinha contato com Paulo Roberto. Na agenda e cadernos de anotação do ex-executivo, quando este já havia deixado a Petrobrás e operava negócios na iniciativa privada, o nome do presidente da Transpetro, Sérgio Machado, constava quatro vezes em anotações nos anos de 2012 e 2013.
A Transpetro é o braço da Petrobrás em processamento de gás natural e transporte e logística de combustível. Indicado para o cargo ainda no governo Luiz Inácio Lula da Silva, Sérgio Machado se mantém há dez anos e quatro meses no posto com o apoio de Renan. Na agenda de Paulo Roberto há registros da anotação de celulares de Machado e de uma menção a "curso c/ Sérgio Machado, 5%", ao lado do valor R$ 5 mil e da inscrição "dois meses". A PF tenta decifrar a anotação. Em julho de 2012, Paulo Roberto, já ex-servidor da estatal, chamou a atenção ao comparecer a uma cerimônia de entrega do navio petroleiro Sergio Buarque de Holanda para a Transpetro.
Deputados. As investigações da Lava Jato pela Polícia Federal apontaram nomes de vários parlamentares e partidos supostamente envolvidos no esquema de corrupção. Entre eles, o tesoureiro do PT, João Vaccari, os deputados André Vargas (sem partido-DF), Luiz Argôlo (SD-BA) e o senador Fernando Collor (PTB-AL). Todos negam envolvimento em esquema de propina, mas não que tenham relações com o ex-diretor.
Por causa do envolvimento dos parlamentares, o depoimento de Paulo Roberto será encaminhado para à Procuradoria Geral da República ao final para ser submetido ao Supremo Tribunal Federal (STF), que decidirá sobre a validade da delação. O procurador-geral, Rodrigo Janot, acompanha com atenção o acordo de delação premiada que está sendo feita por Paulo Roberto Costa a colegas da força-tarefa da Procuradoria da República no Paraná que cuidam do caso. A reportagem apurou que Janot já foi informado da menção de autoridades com foro privilegiado nos depoimentos que estão sendo dados por Costa diariamente.
Com a palavra, a Transpetro. A Transpetro esclareceu que "não há novidade" em relação a seu presidente. Em abril, a empresa já havia se manifestado ao Estado sobre a citação a Machado na agenda do ex-diretor da Petrobrás. Na ocasião, a Transpetro informou que as reuniões ocorreram a pedido de Costa para tratar de um pleito do Sindicato Nacional dos Mestres de Cabotagem e Contramestres em Transportes Marítimos. "O sindicato solicitava que a Transpetro patrocinasse um curso para que contramestres pudessem se formar mestres de cabotagem. A companhia reuniu-se com o sindicato e recebeu deste o pleito para realizar o curso. A Gerência de Recursos Humanos estudou o assunto e elaborou documento em que listava ao sindicato as razões pelas quais não era de interesse da Companhia patrocinar o curso. A Transpetro possui apenas contramestres em seu quadro funcional, os quais não pilotam embarcações da empresa. O curso não foi realizado."
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