• Campanha é um pregão de oferta de sonhos, e por isso as propostas precisam ser esmiuçadas. Nas do PSB, promessas são incompatíveis com vida real das contas públicas
Não se pode acusar a candidata Marina Silva (PSB) de incoerência. Se o seu discurso vai contra o dueto que PT e PSDB executam nos últimos 20 anos da política brasileira, mas promete governar com o que considera os melhores quadros dos dois partidos e políticas de respectivas administrações, seu programa é cópia fiel do que afirma.
Na parte econômica, Marina Silva adota o eixo tucano de estabilidade econômica, batizado de “tripé”: metas de inflação, responsabilidade fiscal e câmbio flutuante. O oposto do praticado no governo Dilma, com efeitos conhecidos, diga-se. E na esfera social, mantém os ditos avanços sociais dos governos do PT, com destaque para o Bolsa Família.
O ponto a discutir é se uma política equilibrada, sem arroubos expansionistas e que até precisará estabilizar a economia no início de 2015, é coerente com aumento de despesas sociais. Parece incoerência.
Tanto mais se considerarmos que a solução de praxe, acionada toda vez que tucanos e petistas precisaram financiar orçamentos crescentes, o aumento de impostos, já não pode mais ser adotada. A carga tributária, sempre em elevação nestes vinte anos de domínio tucano-petista, já ultrapassou o limite do razoável (37% do PIB).
O economista Mansueto de Almeida, do Instituto de Planejamento de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), estima em R$ 150 bilhões as despesas adicionais, em quatro anos, para Marina cumprir o que promete no Bolsa Família — incluir 10 milhões de famílias no programa —, na gratuidade do transporte de estudantes, compromisso de Eduardo Campos, e na habitação popular (4 milhões de novas moradias).
Seriam gastos do tamanho de três pontos percentuais de PIB, algo como dobrar o déficit público. Algum crítico malicioso pode dizer que Mansueto, por assessorar o candidato Aécio Neves (PSDB), tenderia a inflar os números. Porém, mesmo que a estimativa seja cortada pela metade, a conta apresentada ao contribuinte continua impagável.
A projeção não inclui acenados projetos de mobilidade urbana para todas as cidades com mais de 200 mil habitantes, orçados em no mínimo R$ 300 bilhões. Diante da ausência de folga nas contas públicas — o próprio governo Dilma precisa usar da “contabilidade criativa” para tentar salvar as aparências —, todos os investimentos teriam de ser privados e/ou financiados a perder de vista e juros ínfimos.
Campanha eleitoral costuma ser um grande pregão de oferta de sonhos. Eis por que programas precisam ser esmiuçados. Marina Silva fez bem ao se apressar para lançar o seu. Ainda virá o de Aécio, e cresce o suspense sobre o que apresentará Dilma, além da troca de equipes e de “políticas públicas".
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