- O Globo
O que na verdade vai movimentar a campanha presidencial nos próximos dias, podendo até mesmo definir as reais possibilidades competitivas da presidente Dilma, é o depoimento do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, que já começou a denunciar deputados, senadores e governadores que estavam no esquema de corrupção na estatal dominada pelos interesses políticos do PT.
A candidata Marina Silva se tornou necessariamente o alvo de seus adversários, a presidente Dilma, a quem venceria no 2º turno hoje, e o senador Aécio Neves, a quem deslocou do 2º lugar. Há quem veja um erro de estratégia de Aécio nos ataques que vem desferindo contra Marina, como se a tentativa de desconstruir a candidata do PSB só ajudasse o PT.
Aécio estaria fazendo o mesmo esforço inútil que o tucano José Serra fez em 2002, destruindo, com sucesso, as candidaturas de Roseana Sarney e Ciro Gomes para depois ser derrotado por Lula no segundo turno. Há no entorno do PSDB quem defenda uma “renúncia branca” de Aécio, que deveria se dedicar mais à eleição de Minas para garantir seu cacife político.
Melhorando em Minas, onde segundo o Datafolha está em 3º lugar, Aécio melhoraria indiretamente no plano nacional, já que Minas é o segundo maior colégio eleitoral do país. Também em São Paulo haveria espaço a recuperar ao lado do governador Geraldo Alckmin. Na realidade, os ataques que Aécio vem fazendo a Marina são sinalizações de que não pretende desistir da candidatura, mas sua tarefa principal a essa altura é mesmo garantir que Minas não caia nas mãos do PT.
Vencer a eleição para presidente por lá também seria fundamental para melhorar seu cacife político para futuros acordos internos dentro do PSDB e no apoio a Marina no 2º turno. O fato é que Marina, transformada no alvo preferencial dos adversários, está assumindo o papel de representante da sociedade contra os velhos métodos de fazer política no país.
A candidata do PSB já se utiliza da vitimização para se defender, e lança ao eleitorado a tarefa de defendê-la pelo boca a boca, já que tem menos tempo de propaganda oficial que os adversários. Marina acena com a chegada ao 2º turno para equilibrar a disputa, pois nele os tempos são iguais para os dois pretendentes.
Marina caracterizou os ataques que vem recebendo como oriundos de um sentimento de desespero de seus adversários que fizeram “uma frente” para tirá-la da competição, na tentativa de colocar à margem a sociedade civil organizada que ela representaria.
Os integrantes da “velha política” teriam receio de disputar com movimentos espontâneos do eleitorado, e gostariam de circunscrever as possibilidades de chegar ao poder aos dois partidos que polarizam as disputas desde 1994, PT e PSDB, um preferindo ter o outro como opositor, e os dois temendo enfrentar Marina e a espontaneidade da sociedade organizada.
Ela citou ontem especificamente a ação de seus adversários no Rio, onde lidera a recente pesquisa Datafolha com 37% no estado e 41% na capital. Enfrentando as máquinas estadual e federal, que têm como candidatos a presidente Dilma e o senador Aécio, Marina vem confirmando o caráter libertário do eleitorado do Rio, que já deu a ela em 2010 uma votação expressiva.
Marina se mostrou irritada especialmente com o que chamou de “máquina de boatos” que tem espalhado que ela é contra a distribuição dos royalties do petróleo em proporção maior para o Rio, uma antiga disputa no Congresso que agora surge na campanha presidencial.
Esse seria um tema obrigatório caso Eduardo Campos estivesse na disputa, pois ele foi um dos defensores da distribuição mais igualitária dos royalties, em defesa dos interesses do Nordeste. Marina acabou sendo atacada por outro flanco, o da prioridade do pré-sal.
Alegam que ao reduzir a importância do petróleo na estratégia de energia do país, Marina acabará reduzindo o valor dos royalties para estados e municípios. Há ainda a esperteza política de sindicatos de petroleiros ligados à CUT que querem fazer um protesto contra a suposta política do pré-sal de Marina, o que não passa de um ato politiqueiro.
Discutir os programas partidários, atacar suas contradições e imperfeições e mostrar as debilidades de Marina faz parte do jogo. Mas tentar usar a religião como instrumento de desqualificação política ou inventar posições inexistentes para fazer a “luta política” é realmente usar o pior da velha política. Que estará mais uma vez em xeque a partir deste fim de semana com as revelações da delação premiada do ex-diretor da Petrobras.
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