Recentes pesquisas de opinião indicam Marina Silva empatada no primeiro turno com Dilma Rousseff, e vencendo a disputa pela Presidência da República com boa margem no segundo turno. Sua atual força política supera com folga o resultado das eleições de 2010, em que obteve perto de 20 milhões de votos. De onde vem essa força de Marina?
Sem dúvida, a repentina morte de Eduardo Campos gerou, além da comoção nacional, uma exposição que Marina soube aproveitar para se transformar na candidata que, no momento, mais se beneficia com o desejo de mudança manifestado pela população. Moderou o discurso e cercou-se de poucos, mas bem conceituados colaboradores, e manteve a capacidade de inspirar mudança. Dificilmente ela poderia imaginar melhor cenário para o seu projeto de presidir o País, nem mesmo se tivesse conseguido criar o seu próprio partido no ano passado. A fortuna sorriu-lhe.
Mas qual será a mudança - ou as mudanças - que Marina propõe implantar? A esta importante pergunta os seus correligionários responderam afirmando que a apresentação do seu programa de governo, já alinhavado com Eduardo Campos, dissiparia todas as dúvidas. Um extenso programa, com 244 páginas, foi recentemente apresentado, mas o fato é que ele não traz grandes novidades nem oferece respostas às dúvidas. Apenas confirmou aquilo que ela e os seus colaboradores já vinham dizendo em grandes linhas.
A atual força de Marina nas pesquisas parecer basear-se no fato de que, não se identificando com nada propriamente - já nem é mais a candidata da "sustentabilidade ambiental a qualquer preço", isto é, neutralizou em boa dose a principal característica da sua anterior identidade política -, sua imagem pública se tornou passível de comportar todas, ou quase todas, as aspirações presentes na sociedade.
O eleitor pode projetar nela o que bem quiser. Sustentabilidade? Tripé econômico? Manutenção dos programas sociais? Não se identificando com nada em concreto, e nada negando, Marina pode ser identificada com tudo. E assim vem andando de braços dados com todas as aspirações que surgem das ruas.
O seu grande mote eleitoral - a bandeira da "nova política" - é uma ideia que, de tão aberta, se mostra na prática impossível de ser contestada. Ninguém em sã consciência pode ser contrário a mais transparência, a mais lisura nos negócios públicos, etc. Nas atuais circunstâncias, bater na "nova política", mesmo que seja para apontar suas inconsistências, é apresentar-se como a "velha política". Ou seja - é contraproducente.
No entanto, se Marina Silva pretende, de fato, governar um país com os problemas que tem o Brasil, ela precisa ser mais específica que o clamor das ruas. Pois a sua "versatilidade" é, ao mesmo tempo, a sua fragilidade. As urnas são, de fato, uma preliminar necessária para que se complete o jogo democrático. Mas, quando o eleitor deposita nelas o seu voto, está fazendo mais do que manifestar uma esperança. Ele está confiando a seu representante o poder de tomar decisões fundamentais para o País - e delas quer ter conhecimento prévio, para que depois possa cobrar o seu bom e pronto desempenho. Esta é a outra face da democracia.
Falar apenas de uma nova política, sem explicitá-la, é uma atitude cômoda. O Brasil precisa mais do que isso: há problemas que, se não são bem enfrentados, podem ocasionar um significativo retrocesso em relação ao que se alcançou desde o Plano Real.
Também não basta ser apenas a candidata capaz de tirar o PT do governo, ainda que o mercado pareça dar mostras de se satisfazer com essa perspectiva. Isso seria pouco para quem se apresenta como porta-bandeira da "nova política".
Revigorar a democracia é, em primeiro lugar, extrair do voto de cada cidadão todo o seu potencial. E isso só ocorre quando o candidato revela desde o início como concebe as necessidades nacionais e como de fato governará o País.
É preciso, portanto, que cada eleitor tenha a possibilidade de votar em algo mais concreto do que vagos desejos de mudança.
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