sábado, 4 de outubro de 2014

Opinião do dia: Fernando Henrique Cardoso

Se houver 2.º turno, e acho que vai haver, necessariamente os que estão na oposição terão de apoiar uns aos outros. E quem mais necessitaria seria Marina, para mostrar que tem capacidade de, juntado-se a outros, governar. O Aécio não precisa mostrar isso, o partido dele já governou.

Acho que os eleitorados dos dois lados se juntarão independentemente das decisões da cúpula. Mas, para poder dar mais firmeza e mostrar que governa, aí precisa de decisão da cúpula também. O PSDB, como partido, tem de dizer de que lado está. Estamos elegendo governadores, uma bancada, essa gente toda vai ter de se pronunciar. E o PSDB é um partido que sempre assumiu sua responsabilidade.

Fernando Henrique Cardoso, sociólogo e ex-presidente da República, em entrevista. O Estado de S. Paulo, 3 de outubro de 2014.

Em Alagoas, campanha de Renan Filho une Dilma, Lula e Collor

• O peemedebista, que é líder das pesquisas de intenção de votos no Estado, utiliza estrutura de disputa presidencial

Ricardo Brandt - O Estado de S. Paulo

A campanha do candidato ao governo de Alagoas Renan Filho (PMDB) uniu a presidente Dilma Rousseff (PT) e dois ex-presidentes, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Fernando Collor de Mello (PTB). O filho do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), lidera a disputa com 46% dos votos, segundo levantamento do Ibope divulgado nesta sexta-feira, 3.

Integrantes de partidos da mesma coligação, Renan Filho aparece nos materiais de campanha em fotos entre Dilma e Lula e ao lado de Collor nas caminhadas e eventos por Alagoas. O ex-presidente, alvo do primeiro processo de impeachment da República, é senador e candidato à reeleição.

Collor tem 43% das intenções de voto, seguido pela candidata do PSOL, a atual vereadora de Maceió Heloísa Helena, com 26%.

Com mais de R$ 50 milhões declarados para a eleição, Renan Filho fez uma campanha profissional, com militância paga, estrutura logística e de marketing de disputa presidencial. “Foi algo desproporcional”, reclama o candidato do PSOL ao governo, Mário Agra, ex-marido de Heloísa.

A campanha de Renan Filho é quase uma recriação das campanhas de Dilma em 2010 e de Lula em 2006. Mescla que se revela não apenas pela qualidade das peças publicitárias, com tomadas cinematográficas, mas também o uso de jingles petistas, como o feito para chamar voto para o número 13, em forma de repente “chiclete”, agora convertido em 15, do PMDB.

Entre as promessas de Renan Filho estão construir o primeiro hospital da mulher no Estado, criar um polo tecnológico no sertão, construir um ramal de gasoduto e aumentar salários de professores. A origem dos recursos para essas propostas foi outro mote usado em forma de mantra na campanha e que explica também os motivos que levaram Lula, Dilma e Collor a estarem juntos com os Calheiros: a “bancada do PMDB”. Uma garantia ao eleitor de que tudo será realizado, com recursos, projetos e bom trânsito no governo federal e no Congresso.

Em um dos programas veiculados na última semana na TV e no rádio, a campanha de Renan Filho mostrou uma animação registrando que na Câmara, dos 513 postos, 299 eram ocupados por deputados aliados do PMDB. E que no Senado, esse comando se repetia, dos 81 senadores 49 eram do mesmo grupo.

O reencontro político de Collor com Renan – aliados desde a década de 1980, quando ele foi eleito presidente da República – marca também uma mudança de postura do candidato que busca a reeleição ao Senado.

Arco-íris. Evitando o modo severo de discursar, Collor trouxe um marqueteiro da Bahia para a campanha, que o convenceu a trocar a tradicional marca de seu nome com as letras L pintadas de verde e amarelo pelas cores do arco-íris. Um aliado próximo afirmou em reservado, que a tática, faz parte de uma nova fase em que o senador conseguiu superar os estragos causados à sua imagem pela renúncia minutos antes de sua cassação, em 1992.

Para filho de Campos, vitória de Marina é vitória do Nordeste

Entrevista. João Campos

• Herdeiro político de Eduardo Campos, de 20 anos, diz que candidata vai subir a rampa do Planalto com bandeira do Nordeste

Segundo filho de Eduardo Campos e o mais velho dos homens, João Campos, de 20 anos, se dividiu com os irmãos Maria Eduarda, de 22, e Pedro, de 18, na campanha de rua dos candidatos da Frente Popular de Pernambuco na reta final da campanha. João foi o que mais rodou pelo Estado e é apontado como o filho que tem mais forte o DNA político. Seu nome foi cogitado como candidato a deputado federal neste ano, mas ele declinou, aconselhado pela mãe, Renata Campos, a priorizar os estudos neste momento. João cursa o terceiro ano de Engenharia Civil, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e tenta harmonizar estudo e campanha: nos finais de semana viajou para o agreste e sertão - mais distantes - e nos dias de semana atuou à noite em municípios da região metropolitana e zona da mata.

Vai seguir os passos do pai e do avô, ingressando na política?
Na minha família, eu meus irmãos, minha mãe, nós vimos nosso pai dedicar a vida dele a duas coisas: à família e à política, ao povo. Nós sempre participamos, acompanhando nosso pai em todos os atos, eventos políticos de governo e sempre gostamos muito. Mas nunca tínhamos participado da linha de frente. Sempre estávamos presentes nos palanques, escutando e conversando dentro de casa. É natural neste momento que não só eu, mas meu irmão e minha irmã participemos com muito prazer, não por obrigação nem pensando em ter um viés político lá na frente.

Como recebe a crítica de que a campanha de Paulo Câmara, candidato ao governo de Pernambuco pelo PSB, tem usado à exaustão a figura de Eduardo Campos?
É um desejo nosso, da minha família e sempre que a Frente Popular de Pernambuco e companheiros precisarem, vamos ajudar. É algo muito natural. Se meu pai estivesse vivo estaria trabalhando mais de 24 horas por dia, com ao povo, lutando para conquistar a Presidência, o governo de Pernambuco. A gente está apenas fazendo o que meu pai faria e o que ele gostaria que a gente fizesse.

Sente o peso da responsabilidade como representante do legado do seu pai?
Não, porque a responsabilidade não é só minha. Em Pernambuco temos a Frente Popular, formada por 21 partidos, grandes figuras, grandes quadros, esse legado não é só meu e da minha família. É um legado que cabe ao povo de Pernambuco e ao povo brasileiro. Eu poderia ser candidato nesta eleição porque tenho idade, poderia me organizar, andar pelo Estado, mas fiz opção de terminar minha universidade. É o que estou fazendo hoje, estou tendo aula. Daqui a dois anos estarei formado em Engenharia Civil. Minha prioridade hoje é minha formação acadêmica. Antes de querer ter qualquer pretensão política, tenho que ter uma formação, começar a traçar meu caminho para lá na frente pensar o que quero fazer para minha vida pública ou política. Minha prioridade hoje é o estudo.

Esperava contar com o assédio do eleitorado?
É uma coisa nova. Sempre acompanhei meu pai, tive oportunidade de rodar o Estado todo com ele e vários Estados do Brasil. Sempre me mantinha muito discreto, preferia ficar atrás do palanque, atrás dele, não andar junto para escutar os comentários ao redor, entender como era aquela situação vista por fora, como uma pessoa comum. Participei das campanhas em Pernambuco e fazia o serviço de qualquer militante, como colar adesivo, colar faixa e fazer panfletagem porta a porta. Depois da tragédia, na rua, em shopping, nas atividades políticas, aonde eu e meus irmãos vamos, somos reconhecidos e há um carinho muito grande. Vejo isso com muita alegria. Não é um reconhecimento a mim. Devo tudo isso ao meu pai.

Além da eleição de Paulo Câmara, o que você mais deseja?
Meu pai se foi, mas Marina vai subir a rampa com a bandeira do Nordeste e o legado de Eduardo Campos. Eles se juntaram para unir o Brasil.

Sindicato denuncia uso eleitoral dos Correio em MT para favorecer Dilma

• Sindicato diz que diretor regional da estatal enviou cartas a servidores pedindo votos para Dilma e petistas

Anselmo Carvalho Pinto - O Globo

CUIABÁ — O sindicato dos funcionários dos Correios de Mato Grosso protocolou nesta sexta-feira no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MT) um pedido para que seja investigado o uso da estrutura da estatal em favor da candidatura da presidente Dilma Rousseff (PT). Na semana passada, o diretor regional dos Correios em Mato Grosso, Nilton do Nascimento, enviou cartas aos funcionários pedindo votos para Dilma e para candidatos do PT e do PR no estado.

“Pedi seu voto em 2010 e conquistamos muito com isso, por isso volto a pedir seu voto”, escreveu Nascimento na carta endereçada aos funcionários. “Agora o Brasil precisa avançar mais e somente o governo Dilma (...) poderá ampliar os programas sociais e econômicos e fazer o melhor para sua gente”.

Segundo o sindicato, as cartas foram encaminhadas aos trabalhadores nas agências onde eles estão lotados, com preço de postagem abaixo do previsto para esse tipo de correspondência.

— Ele usou o banco de dados dos Correios para saber onde cada funcionário atua. Além disso, uma correspondência deste tipo custa R$ 1,30 e ele pagou R$ 0,60 — disse o presidente do sindicato, Edmar Leite.

Segundo ele, algumas correspondências chegaram um dia depois da postagem:

— Mais rápido que o Sedex!

Esta semana, a oposição denunciou o uso dos Correios na campanha de Dilma e do candidato a governador Fernando Pimentel (PT) em Minas Gerais. Um vídeo divulgado terça-feira pelo jornal “O Estado de S. Paulo” mostrou uma reunião em que o deputado estadual Durval Ângelo (PT-MG) reconhece que o bom desempenho da presidente em Minas tem “o dedo forte dos petistas dos Correios”.

Em nota, a assessoria de imprensa dos Correios em Mato Grosso negou que tenha havido uso de infraestrutura pública para envio das cartas.

“Foram enviadas apenas 670 malas diretas locais e estaduais, para pessoas conhecidas de Nilton do Nascimento”, diz a nota. A assessoria informou ainda que o diretor regional enviou as cartas “na condição de cidadão”, com a postagem paga com dinheiro próprio. “O preço de cada unidade variou de R$ 0,77 (estadual) e R$ 0,72 (local)”.

PSDB pede cassação do registro de Dilma por uso indevido dos Correios

• Tucanos protocolaram nesta sexta-feira ação no Tribunal Superior Eleitoral

Carolina Brígido – O Globo

BRASÍLIA – O PSDB entrou nesta sexta-feira com ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pedindo a investigação de uma série de ilegalidades supostamente cometidas pela campanha da presidente Dilma Rousseff (PT) à reeleição. Entre os fatos citados está o uso dos Correios em benefício da presidente. Os tucanos pedem a cassação do registro de Dilma e de seu vice, Michel Temer, e que eles fiquem inelegíveis por oito anos, além do pagamento de multa de até R$ 100 mil.

“Ao longo da campanha presidencial de 2014, incluída a fase convencional, os representados beneficiaram-se, em caráter continuado, de uma série de irregularidades com o nítido propósito de desequilibrar a disputa”, diz o documento.

Segundo a ação, foram enviadas mais de 4,8 milhões de folders da campanha petista à presidência pelos Correios, sem chancela. Além disso, a empresa teria se recusado a entregar material de propaganda eleitoral do presidenciável Aécio Neves e do candidato a governador de Minas Gerais Pimenta da Veiga, os dois do PSBD.

A ação também pede investigação do uso de outdoors com mais de quatro metros quadrados em bens públicos e particulares pela campanha de Dilma, uma prática vedada pela legislação eleitoral. E acusa a presidente de ter convocado rede de rádio e televisão para pronunciamento oficial, mas o real objetivo era fazer propaganda eleitoral.

Os tucanos também acusam a Central Única dos Trabalhadores (CUT) de ter veiculado propaganda eleitoral em seu site. A Caixa Econômica Federal também teria promovido o governo federal em período vetado. E a Petrobras teria feito o mesmo.

A ação também acusa o ministro-chefe da Casa Civil Aloizio Mercadante de ter feito propaganda eleitoral em espaço público do governo federal. Também teria havido uso de servidores e bens públicos na propaganda eleitoral para divulgação do programa Mais Médicos. E uso de programa social de prótese dentária em favor da propaganda eleitoral de Dilma.

A ação também pede a inelegibilidade de todos os acusados de irregularidades – como Mercadante; a presidente da Petrobras, Graça Foster; e o ministro da Saúde, Arthur Chioro.

Dilma vai a Minas para tentar conter alta de Aécio

• Presidente transfere caminhada para Belo Horizonte, reduto tucano onde o candidato do PSDB está na frente da rival

• Petistas dizem achar melhor enfrentar o tucano do que Marina no segundo turno, mas marqueteiro vê riscos

Valdo Cruz, Natuza Nery – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A campanha da presidente Dilma Rousseff fez mudanças de última hora na sua agenda para permitir um confronto direto na véspera da eleição com seu rival tucano, o senador Aécio Neves, cujas chances de chegar com ela ao segundo turno da eleição aumentaram nos últimos dias.

Dilma programara uma caminhada ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em São Bernardo do Campo (SP) para encerrar sua campanha neste sábado (4).

Com a alta de Aécio, decidiu fazer uma caminhada no centro de Belo Horizonte ao lado do candidato do PT ao governo de Minas Gerais, Fernando Pimentel, favorito para vencer neste domingo e impor uma derrota histórica aos tucanos no Estado, que Aécio governou entre 2003 e 2010.
A mudança começou a ser discutida na quinta-feira (2), depois que o Datafolha apontou empate entre a candidata do PSB, Marina Silva, e Aécio na briga pelo segundo lugar. Marina tem 24% das intenções de voto e Aécio, 21%.

O Datafolha também apontou crescimento do apoio a Dilma no Estado. Ela tem 42% das intenções de voto em Minas e Aécio, 29%. Segundo o instituto, Aécio lidera na capital mineira e Dilma vai melhor no interior do Estado.

A ordem, segundo a equipe de Dilma, é fazer um último esforço para tentar manter o movimento de alta no Estado e deter o avanço de Aécio, que também decidiu ficar em Minas até domingo.

A tática de buscar o confronto com Aécio foi posta em prática pela primeira vez no debate da TV Globo na quinta-feira, quando a presidente dirigiu ao senador mineiro três das seis perguntas que fez, sempre que as regras permitiram que ela o escolhesse.

Aécio decidiu se concentrar em Minas nos últimos dias de campanha para tentar recuperar votos que perdeu para Dilma e Marina, e assim ganhar impulso para chegar ao segundo turno.

A equipe de Dilma avalia que o tucano tem maiores chances de chegar à etapa final. A maior parte da cúpula petista o vê como um rival mais fácil de enfrentar no segundo turno do que Marina.

Numa conversa nesta semana, o ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência, disse que Aécio tem "pés de barros" e o PT sabe como derrotá-lo. Petistas e tucanos se enfrentaram nas últimas cinco eleições presidenciais, das quais três foram vencidas pelo PT.

Outra ala petista, porém, prefere disputar com Marina. Na avaliação do PT, ela foi mal no debate e é vista por muitos eleitores como uma candidata fraca e indecisa.

Há cerca de dez dias, o marqueteiro João Santana disse numa reunião que preferia concorrer contra uma candidata em processo de "desidratação", como Marina, a enfrentar alguém com "acúmulo" de energia, como Aécio.

Marina faz campanha sem apoio do PSB no Rio

• 'Passeio a carro aberto' tinha apenas dois veículos além dos carros da comitiva

• Principais nomes da sigla no Estado, como Romário e Amaral, faltaram ao seu último evento de campanha

Adriano Barcelos – Folha de S. Paulo

RIO - O último evento de campanha de Marina Silva (PSB) no Rio expôs a falta de apoio à candidata no Estado.

Na tarde desta sexta (3), nenhum dos líderes do PSB acompanhou um passeio em carro aberto feito por ela e pelo candidato a vice, Beto Albuquerque (PSB), em um trajeto de menos de um quilômetro na Tijuca, zona norte.

Nem o presidente nacional da sigla, Roberto Amaral, que é do Rio. Nem o candidato ao Senado, Romário. Nem Rubens Bomtempo, vice-presidente nacional do partido e figura constante em outros eventos de Marina na cidade.

Com ela estavam só Carlos Painel, coordenador regional da Rede Sustentabilidade --sigla criada pela candidata, mas ainda não oficializada--, e o vereador Jefferson Moura (PSOL), que se filiará à Rede.

A própria atividade escolhida foi controversa. A agenda oficial chamava para um "passeio em carro aberto". O nome mais popular talvez fosse carreata, mas, conforme Moura, Marina rejeita as carreatas por entender que elas não são "sustentáveis".

Cerca de 50 minutos depois do horário previsto, a atividade começou. Acabou não sendo uma carreata por falta de adesão. A comitiva tinha dois carros: um com Marina e o vice, outro com aparato de som. Outros quatro ou cinco veículos escoltaram a candidata.

Já nos arredores da Praça Saenz Peña, uma das principais da Tijuca, o carro parou no trânsito próximo a uma feira de artesanato. Albuquerque tomou o microfone e fez críticas ao governo.
Disse que os rivais Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) têm campanhas milionárias enquanto a de Marina tem apenas "o povo brasileiro". Repetiu várias vezes uma expressão muito comum na política do Rio Grande do Sul, seu Estado de origem: "É a campanha do tostão contra a campanha do milhão".

Do chão, a coordenadora do programa de governo de Marina, Neca Setúbal, educadora e herdeira do banco Itaú, aplaudia e observava o assédio dos eleitores. Solícita, conversava com militantes e se animava com os apoios.

Com a voz enfraquecida, Marina pegou o microfone do vice e discursou por cerca de um minuto. Questionada sobre o avanço de Aécio, que pode tomar seu o lugar de Marina no segundo turno, Neca respondia aos repórteres que não era hora de debater isso.

"Oposicionistas devem se unir, mas vamos cada passo de uma vez", disse.

No fim do trajeto, ainda sobre o jipe e com o microfone na mão para poupar voz, Marina deu uma entrevista coletiva em que apenas ela ouvia as perguntas dos jornalistas, mas as respostas saíam pelas caixas de som amplificadas.

Fez projeções para o segundo turno e insinuou que o PT preferiria enfrentar Aécio. "Com tempo [ de TV] igual, a gente ganha da Dilma", disse. "O PT quer o PSDB, e o PSDB quer o PT. Eles já se acostumaram, em 20 anos, eles vão pro segundo turno e um ganha e outro perde."

Para dissipar as perguntas em torno de um possível apoio ao PSDB em caso de derrota, Marina atacou o tucano.

"A população brasileira está nos levando para o segundo turno e é maravilhoso o que está acontecendo. A manifestação espontânea dos brasileiros sustentou a nossa campanha porque viram que somos a mudança e apresentamos um programa de governo em respeito aos brasileiros, coisa que os adversários não fizeram. Aécio deixou para apresentar nos últimos segundos da prorrogação e ainda pela metade."

Tucano tem 60% de chances, avalia FHC

• Ex-presidente avalia debate da Rede Globo

- Daniela Lima – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso viveu um dia inédito desde que deixou o poder, em 2002. Pela primeira vez em 12 anos, foi exibido ao público com deferência e destaque por um candidato do PSDB ao Planalto.

Aécio Neves entrou com o aliado nos estúdios da TV Globo. Citou FHC de maneira elogiosa e defendeu o legado do tucano. Entusiasmado, o ex-presidente fez avaliações sobre o desempenho de seu candidato no debate.

"Dilma [Rousseff, do PT] está nervosa. Marina [Silva, do PSB] está cansada. Aécio passa energia", disse. "É possível irmos ao segundo turno. Veja a tendência das pesquisas."

Provocado a estabelecer um percentual comparando as chances de seu candidato contra Marina --eles disputam uma vaga no possível segundo turno contra Dilma-- foi assertivo: "60% a 40%. Temos 60% de chances de virar".

Se por um lado ouviu elogios, por outro FHC viu seu governo ser atacada pela presidente Dilma e por Marina --esta última citou as denúncias de compra de votos para a aprovação da reeleição. Da plateia, sacudiu a cabeça em sinal de reprovação.

Reagiu de forma enfática quando Dilma disse que, na gestão dele, o Brasil "quebrou três vezes". 

"Coisa nenhuma! Quebrou na década de 1980. Eu tirei o país da moratória. Ela parece mesmo não entender nada de economia."

Durante o debate, FHC sentou ao lado do ex-jogador de futebol Ronaldo, o "Fenômeno", na segunda fila da plateia reservada aos apoiadores de Aécio.

Nos intervalos, fotos e análises. "Não pode exagerar", disse quando Aécio polarizou com Marina. FHC sabe que, se for ao segundo turno, seu aliado terá que conquistar eleitores da pessebista.

Marina diz que Aécio é o 'segundo turno de estimação do PT'

• Após carreata no Rio, candidata do PSB diz que Dilma ‘quis dar uma chance’ ao tucano no debate da Globo

Miguel Caballero – O Globo

RIO — Enquanto tenta estancar a perda de intenção de votos demonstradas pelasúltimas pesquisas presidenciais a tempo de não perder a vaga no segundo turno para Aécio Neves (PSDB), a candidata do PSB Marina Silva, fechou a última semana de campanha com uma carreata no Rio, onde teve boa votação em 2010. Depois de percorrer ruas da Tijuca e dar uma rápida entrevista, Marina provocou seu adversário na disputa para ir ao segundo turno.

Segundo os institutos de pesquisas, a disputa entre Marina e Aécio pode ser muito acirrada no domingo, e a candidata do PSB ajusta seu discurso final para conquistar indecisos e deter sua queda nos últimos dias. Antes de embarcar para São Paulo, onde fechará sua campanha neste sábado, ela afirmou que a candidata à reeleição, Dilma Rousseff (PT), “quis dar uma chance” a Aécio no debate da TV Globo por considerar que o tucano é um adversário mais fácil de ser batido.

Marina lembrou as últimas derrotas do PSDB para o PT e provocou Aécio:

— O PSDB é um segundo turno descendente. Nós somos um segundo turno ascendente. O PT sabe disso, tanto é que a presidente Dilma ontem (no debate) quis dar uma chance para o Aécio, porque ele já é o segundo turno de estimação do PT. É assim que o PT ganha as eleições. E o PSDB está se conformando em ser o segundo lugar de estimação do PT — disse Marina, antes de embarcar ao lado de seu vice, Beto Albuquerque, no Aeroporto Santos Dumont.

Ela voltou a criticar os ataques que sofreu durante a campanha, considerados abaixo dos limites éticos.

— É a primeira campanha que você vê prevalecer o marketing selvagem. Só vi acontecer isso na época do Collor. A reedição disso é impressionante.

Mais cedo, durante a carreata, Beto Albuquerque já tinha dado o tom da palavra de ordem final da campanha de Marina de olho em evitar a perda de eleitores para Aécio. Ele também lembrou da “freguesia” dos tucanos para o PT, partido que venceu as últimas três eleições e está no poder há 12 anos.

— Não adianta botar no segundo turno um candidato acostumado a perder para a Dilma, a perder para o PT. Tem que botar quem pode ganhar e fazer a mudança, que é a Marina — discursou o deputado.

O ato de campanha no Rio foi marcado pelo improviso. Além de Beto Albuquerque, Marina esteve acompanhada apenas por mais um político, o vereador Jefferson Moura, que deixará o PSOL para se integrar à Rede quando o partido for criado. Maria Alice Setúbal, a Neca, sua apoiadora, também esteve com Marina, mas não subiu no jipe onde estava a candidata.

No início do trajeto, o carro percorreu ruas vazias da Tijuca, e Marina e Beto em alguns momentos tinham até dificuldades de avistar eleitores para trocar acenos. Quando o veículo chegou à Praça Saens Peña, mais movimentada, Marina e Beto discursaram ao microfone.

PSDB sai na frente no duelo do desempate pela presidência

• Maior número de prefeitos e vereadores é uma das armas tucanas para superar Marina. Em Belo Horizonte, Aécio condena uso dos Correios

Pedro Rocha Franco, Alessandra Mello – Estado de Minas

''Nós não podemos permitir que esse tipo de gestão que o governo do PT estabecelecu na Petrobras, onde uma quadrilha tomou conta da nossa maior empresa (...), se instale aqui em Minas Gerais''

Na contagem regressiva para o pleito de amanhã, os candidatos à Presidência da República Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (PSB) travam uma batalha pelos últimos votos para definir quem disputará o segundo turno com Dilma Rousseff (PT). Empatados tecnicamente nas pesquisas eleitorais, o tucano e a socialista duelam na véspera da eleição para saber quem segue na disputa. Em busca principalmente de indecisos, que, segundo pesquisas, somam aproximadamente 5%, vereadores e prefeitos dos dois partidos devem atuar hoje e amanhã como cabos eleitorais para tentar engrossar o número de votantes em favor dos dois políticos.

Com maior presença em prefeituras e câmaras municipais, o PSDB pode ter vantagem no quesito apoio. São 712 prefeitos espalhados pelo país contra 445 do PSB. Quase metade deles concentrados em São Paulo e Minas, estados com os dois maiores colégios eleitorais do país – 32 milhões e 15,2 milhões, respectivamente. Se considerados os vereadores, a participação é ainda maior, com 5.247 tucanos ante 3.556 socialistas.

O presidente do diretório estadual de Minas do PSDB, deputado federal Marcus Pestana, afirma que a militância tucana está motivada depois do debate da Rede Globo. Segundo ele, Aécio foi superior aos demais candidatos, tornando esse o maior motivador da reta final do primeiro turno. “As pessoas procuraram os comitês de campanha para conseguir material eleitoral. Em Juiz de Fora, acabou todo o material”, afirma Pestana. Ele considera que nas eleições majoritárias a argumentação e a opinião pública têm maior peso que o trabalho de varejo nas ruas, mais decisivo para as eleições de deputados. “O nosso argumento é que o nosso candidato é melhor. E o debate realçou isso”, afirma.

Segundo o presidente do PSB em Belo Horizonte e integrante da direção nacional do partido, João Marcos Lobo, o pedido é de muito apoio e trabalho dos correligionários hoje. Tanto nas redes sociais quanto nas ruas, com a distribuição de muito material de apoio a Marina e aos deputados, os integrantes do partido estão mobilizados para chegar ao segundo turno da campanha presidencial. “Estamos colocando todo mundo para dar um gás na campanha da Marina”, afirma.

Corpo a corpo
Em Minas, a diferença de capilaridade entre os dois partidos é ainda maior. Os tucanos têm 143 prefeitos, enquanto os socialistas comandam 31 dos 853 municípios, incluindo a capital. Apesar de o prefeito Marcio Lacerda ser do mesmo partido da candidata Marina Silva, ele declara seu apoio a Aécio, figura decisiva para alçá-lo ao atual cargo e de quem foi secretário no governo mineiro. O poder de influência dos políticos em cidades de pequeno porte é ainda maior. No tête-à-tête, prefeitos e vereadores podem conseguir convencer nos dois últimos dias os eleitores indecisos a votar em candidatos apoiados por eles.

A distribuição de material e as carreatas e passeatas podem ser feitas até as 22h. Proibição que se estende até as 17h de segunda-feira. A pena prevista em lei para os infratores é de detenção de seis meses a um ano, além de multa que vai até R$ 15,9 mil.

Em campanha ontem, em Belo Horizonte, o candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, disse que correspondências da Força Sindical – central comandada pelo Solidariedade, partido que integra a chapa tucana – para aposentados em Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro não foram entregues pelos Correios. O PSDB protocolou na quinta-feira uma ação de investigação judicial eleitoral no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para que sejam investigadas denúncias de uso dos Correios na campanha da presidente Dilma Rousseff (PT). Os tucanos alegam que a empresa não entregou dois lotes de 5,6 milhões de cartas enviadas pela campanha de Aécio e do candidato do PSDB ao governo de Minas, Pimenta da Veiga, no estado. A representação contra Dilma foi feita depois da revelação de um vídeo em que deputado estadual Durval Ângelo (PT-MG), em reunião com funcionários dos Correios, agradece o empenho dos petistas da empresa na campanha da presidente e do candidato do PT ao governo de Minas, Fernando Pimentel.

Aécio disse também que a campanha de Dilma não prestou conta das correspondências enviadas pela sua campanha no site da Justiça Eleitoral. De acordo com Aécio, os próprios Correios informaram ter recebido pagamentos pela distribuição das cartas da campanha petista em 29 de agosto.

“Tive o cuidado de examinar a prestação de contas da candidata Dilma Rousseff. E repito: quero dar a ela o direito de se explicar. A prestação de contas de 2 de setembro, onde deveriam constar todos as despesas feitas até 31 de agosto, não traz nenhum pagamento para os Correios. E foram pagamentos feitos à vista, não adianta dizer que eles iam ficar para o final da campanha.” Segundo o candidato, essa explicação foi dada pelos próprios Correios em sua página na internet depois de uma reportagem que acusava a empresa estatal de distribuir material da candidata sem a chancela exigida pela legislação eleitoral. Os Correios afirmam que a distribuição sem chancela pode ser pedida por qualquer candidato e que outros partidos fizeram a mesma coisa.

“Nós não podemos permitir que esse tipo de gestão que o governo do PT estabeleceu na Petrobras, onde uma quadrilha tomou conta da nossa maior empresa, essa gestão temerária que se instalou nos nossos principais fundos de pensão, no plano federal, que tem levado todos eles a ter prejuízos sucessivos, se instale aqui em Minas Gerais”, disse o candidato se referindo às denúncias de irregularidades na estatal petrolífera. Aécio disse que não quer que a “Cemig vire uma nova Petrobras” e que “a Copasa vire uma nova Correios, com escândalos sucessivos”.

Minas
Acompanhado de Pimenta da Veiga e do candidato ao Senado Antonio Anastasia, Aécio percorreu ontem quatro aglomerados em Belo Horizonte. Além da Pedreira Prado Lopes, ele visitou o aglomerado da Serra, a barragem Santa Lúcia e também a Cabana do Pai Tomás. Durante a primeira visita, pediu votos para Pimenta e disse que é importante que ele seja eleito. “Eu quero e, no momento, eu reitero esses compromissos, dizer na minha terra e à minha gente, que a eleição de Pimenta da Veiga é tão importante em Minas Gerais, como a minha própria eleição”,

Também na Pedreira Prado Lopes, Pimenta prometeu melhorar a qualidade de vida da população e também a educação. “Nós queremos trazer para cá a melhor qualidade de vida com uma educação no melhor nível. Aqui eu quero praticar a melhor educação de Minas Gerais. Em lugares como esses o diferencial que pode ser feito é por meio da educação”, afirmou o candidato.

Marina: Aécio é o 'segundo turno de estimação do PT'

• Após carreata no Rio, candidata do PSB diz que Dilma ‘quis dar uma chance’ ao tucano no debate da Globo

Miguel Caballero – O Globo

RIO — Enquanto tenta estancar a perda de intenção de votos demonstradas pelasúltimas pesquisas presidenciais a tempo de não perder a vaga no segundo turno para Aécio Neves (PSDB), a candidata do PSB Marina Silva, fechou a última semana de campanha com uma carreata no Rio, onde teve boa votação em 2010. Depois de percorrer ruas da Tijuca e dar uma rápida entrevista, Marina provocou seu adversário na disputa para ir ao segundo turno.

Segundo os institutos de pesquisas, a disputa entre Marina e Aécio pode ser muito acirrada no domingo, e a candidata do PSB ajusta seu discurso final para conquistar indecisos e deter sua queda nos últimos dias. Antes de embarcar para São Paulo, onde fechará sua campanha neste sábado, ela afirmou que a candidata à reeleição, Dilma Rousseff (PT), “quis dar uma chance” a Aécio no debate da TV Globo por considerar que o tucano é um adversário mais fácil de ser batido.

Marina lembrou as últimas derrotas do PSDB para o PT e provocou Aécio:

— O PSDB é um segundo turno descendente. Nós somos um segundo turno ascendente. O PT sabe disso, tanto é que a presidente Dilma ontem (no debate) quis dar uma chance para o Aécio, porque ele já é o segundo turno de estimação do PT. É assim que o PT ganha as eleições. E o PSDB está se conformando em ser o segundo lugar de estimação do PT — disse Marina, antes de embarcar ao lado de seu vice, Beto Albuquerque, no Aeroporto Santos Dumont.

Ela voltou a criticar os ataques que sofreu durante a campanha, considerados abaixo dos limites éticos.

— É a primeira campanha que você vê prevalecer o marketing selvagem. Só vi acontecer isso na época do Collor. A reedição disso é impressionante.

Mais cedo, durante a carreata, Beto Albuquerque já tinha dado o tom da palavra de ordem final da campanha de Marina de olho em evitar a perda de eleitores para Aécio. Ele também lembrou da “freguesia” dos tucanos para o PT, partido que venceu as últimas três eleições e está no poder há 12 anos.

— Não adianta botar no segundo turno um candidato acostumado a perder para a Dilma, a perder para o PT. Tem que botar quem pode ganhar e fazer a mudança, que é a Marina — discursou o deputado.

O ato de campanha no Rio foi marcado pelo improviso. Além de Beto Albuquerque, Marina esteve acompanhada apenas por mais um político, o vereador Jefferson Moura, que deixará o PSOL para se integrar à Rede quando o partido for criado. Maria Alice Setúbal, a Neca, sua apoiadora, também esteve com Marina, mas não subiu no jipe onde estava a candidata.

No início do trajeto, o carro percorreu ruas vazias da Tijuca, e Marina e Beto em alguns momentos tinham até dificuldades de avistar eleitores para trocar acenos. Quando o veículo chegou à Praça Saens Peña, mais movimentada, Marina e Beto discursaram ao microfone.

Marina diz que PSDB está ‘acostumado a perder’ para PT; Aécio poupa adversária

• Às vésperas da votação do 1º turno, que ocorre neste domingo, 5, opositores escancaram suas estratégias para tentar chegar à 2ª etapa da disputa contra Dilma; presidente diz que não tem preferência por oponente, mas dirige as críticas aos tucanos

Luciana Nunes Leal, Valmar Hupsel Filho, Ricardo Galhardo, Pedro Venceslau, Marcelo Portela e Suzana Inhesta - O Estado de S. Paulo

Os três principais candidatos à Presidência explicitaram nesta sexta-feira, 3, penúltimo dia de campanha antes da votação do 1.º turno, as estratégias adotadas na reta final desta disputa.

Em segundo lugar nas pesquisas - tem 24% das intenções de voto, segundo o Ibope -, Marina Silva dirigiu seus ataques a Aécio Neves. O tucano, que se mantém com 19%, mas vem se aproximando do 2.º turno com a queda da candidata do PSB, fugiu da polêmica, já de olho em futuros acordos. Dilma Rousseff, líder da corrida ao Planalto com 40%, disse não ter preferência por adversário numa segunda etapa da campanha. Porém, quando falou publicamente, dirigiu suas críticas ao PSDB, tradicional rival.

Marina cumpriu agenda no Rio de Janeiro. Ao lado do candidato a vice, Beto Albuquerque, e da coordenadora de seu programa de governo, Neca Setubal, percorreu ruas da Tijuca, na zona norte, em um jipe aberto. “Que cada um ganhe mais um voto para que a onda verde e amarela tome conta do Brasil”, discursou a ex-ministra, num rápido pronunciamento. “O outro candidato é acostumado a perder para o PT”, disse, em referência a Aécio.

Em entrevista assistida por vários admiradores, que a aplaudiram em alguns momentos, Marina disse ser a única capaz de derrotar Dilma e quebrar a polarização PT-PSDB. “O PT quer o PSDB e o PSDB quer o PT. Eles se acostumaram, há 20 anos vão para o 2.º turno, um ganha, outro perde. Agora tem uma terceira força, chamada sociedade brasileira, que identificou no nosso projeto a forma de mudar, com respeito aos brasileiros, mantendo as conquistas, sem complacência com a corrupção, com a incompetência, com o desrespeito aos brasileiros.”

Favelas. Aécio esteve em sua terra natal para visitar quatro das maiores favelas de Belo Horizonte. Os locais - Pedreira Prado Lopes, Aglomerado do Cafezal, Morro do Papagaio e Cabana do Pai Tomaz - foram tomados pelos cabos eleitorais. As quatro favelas são tradicionais pontos de tráfico de drogas da capital.

A Pedreira, primeira a ser visitada, tem, inclusive, a mais conhecida cracolândia da cidade, mas nesta sexta os usuários que diariamente ocupam o local haviam desaparecido. Para a visita, a segurança de policiais militares foi reforçada. Apesar disso, vários moradores fumavam maconha na passeata.

Aécio estava acompanhado dos candidatos do PSDB ao governo de Minas, Pimenta da Veiga, e ao Senado, o ex-governador Antonio Anastasia. Na Cabana do Pai Tomaz, três estrondos assustaram os candidatos durante a caminhada. Um deles fez Aécio se abaixar, assustado. Segundo a Polícia Militar, nenhuma ocorrência foi registrada nos locais.

Em entrevista, Aécio evitou confrontos com Marina. “Tenho que ter enorme respeito por todas as candidaturas, em especial pela candidata Marina Silva, que disputa de forma extremamente competitiva a possibilidade democrática de estar no 2.º turno. (Mas) Só falarei de 2.º turno na hora que o resultado for anunciado”, afirmou.

Por outro lado, o tucano reiterou os ataques a Dilma. Ele reforçou as denúncias de uso dos Correios em benefício da candidatura da presidente. Aécio disse que correspondências eleitorais enviadas pela Força Sindical, central sindical que é sua aliada, para aposentados em São Paulo, Minas e no Rio de Janeiro não foram entregues aos destinatários.

Cristal. Em São José dos Campos, no interior, Dilma rebateu as acusações de aparelhamento dos Correios, tentando afastar a ideia de que o partido domina os cargos na estatal e em outras áreas do governo . “No governo federal, 67% dos cargos de comissão são exercidos por funcionários públicos. Isso significa que apenas 23% dos cargos de comissão é de livre nomeação. Não acredito que ocorra isso nos governos estaduais do PSDB”, provocou.

Questionada, a petista disse “não ter preferência” por adversários no 2.º turno. Depois, numa agenda no centro da capital paulista, Dilma ganhou e vestiu um colar de cristal oferecido por um artesão hippie que vende seus produtos na calçada da Praça da República. Ele disse que o cristal tem como função energizar a candidata e “todo o País”.

Antes de a presidente chegar à praça, dois ovos foram jogados de um prédio na esquina da Rua Marconi, sujando jornalistas que aguardavam a comitiva. Por causa disso, a equipe de campanha foi obrigada a colocar um teto de vidro sobre a caçamba onde Dilma desfilou ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Na hora de dar entrevista, Dilma reclamou do cansaço. “Eu não descansei muito não, fiz duas agendas. Mas a minha voz é que continua a mesma”, queixou-se a presidente. Apesar disso, ela falou mais de dez minutos sobre a Petrobrás - alvo de suspeitas de corrupção - e realizações do governo na área da saúde, mas se recusou a responder perguntas, alegando estar sem voz. “Isso é excesso de uso, fiz já um treinamentozinho, mas excesso de uso faz isso. E peguei também um laringite, mas não estou tomando remédio, porque não estou com dor. Prefiro tratamento homeopático.”

24 horas decisivas

• Marina e Aécio disputam quem vai ao 2º turno com Dilma, que diz não distinguir adversário

Silvia Amorim, Sérgio Roxo, Germano Oliveira, Maria Lima e Miguel Caballero – O Globo

SÃO PAULO, BELO HORIZONTE, RIO e BRASÍLIA - As últimas 24 horas que antecedem a eleição de amanhã serão marcadas por um duelo entre Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (PSB) para ver quem irá ao segundo turno contra Dilma Rousseff (PT), que lidera as pesquisas. Aécio e Marina estão empatados tecnicamente no segundo lugar da disputa presidencial, conforme pesquisa Datafolha de intenção de voto divulgada esta semana, e vão hoje para as ruas dos dois maiores colégios eleitorais, Minas Gerais e São Paulo, em clima de tudo ou nada. O candidato tucano aposta na máquina partidária do PSDB para atropelar a adversária na linha de chegada, enquanto Marina investe na internet para compensar a menor estrutura e nos ataques ao adversário. Já Dilma, que ainda tem possibilidade matemática de vencer a eleição em primeiro turno, voltará às origens. Ela fará caminhadas hoje em Belo Horizonte, onde nasceu e foi criada, e em Porto Alegre, onde fez carreira política. A presidente disse que está preparada para qualquer circunstância eleitoral e que não tem preferência por adversário em eventual segundo turno.

Aécio pretende reforçar a ideia de ser o verdadeiro voto útil, por ter mais estrutura que Marina para governar e enfrentar os problemas do país. A candidata do PSB vai apostar no poder de mobilização da internet e insistir em que é o novo e a única capaz de derrotar Dilma. A candidata do PSB começou a bater na tecla de que os tucanos são fregueses do PT e que Aécio é o adversário que a presidente espera.

Na campanha de Aécio, a estrutura partidária do PSDB em Minas Gerais e em São Paulo é a principal aposta para concretizar uma virada eleitoral. No estado paulista, onde o partido tem a sua maior e melhor organização, Aécio deposita suas esperanças na ofensiva final dos candidatos a deputados. A equipe tucana reforçou a distribuição de "colas" com o número e o nome de Aécio ao lado dos candidatos a deputados do PSDB.

Aécio quer virada em Minas Gerais
Em Minas, essa estratégia também estará nas ruas hoje, mas o foco será o corpo a corpo de Aécio na região mais populosa do estado. O núcleo estratégico da campanha acredita que o senador somente conseguirá chegar ao segundo turno se virar a disputa presidencial em Minas. Aécio já conseguiu passar a frente de Dilma e Marina em Belo Horizonte, mas Dilma lidera no estado com 36%. Aécio tem 31%, e Marina, 17%.

Não foi à toa que o candidato fez uma imersão em Minas Gerais nos últimos dias. Somente ontem, visitou cinco favelas em Belo Horizonte.

- Vamos continuar amanhã (hoje) um processo que se intensificou muito nos últimos dias e que tem como maior diferencial a estrutura partidária do PSDB. Temos um volume de campanha muito grande, que ganhou ainda mais força com esse clima de otimismo. O partido está fervendo nas bases. Todos estão ouriçados - afirmou o candidato a vice de Aécio, Aloysio Nunes Ferreira.

Aécio disse ter ficado impressionado com a repercussão de sua participação no debate da TV Globo, na noite de quinta-feira, e com as informações que chegam dos estados sobre seu crescimento nos trakings encomendados pelo partido.

- Que loucura! Hoje nas ruas as velhinhas batiam nas minhas costas e diziam que tinham me visto no debate. O Geraldo (Alckmin, governador de São Paulo) me ligou dizendo que no interior eu já chego a 39% das intenções de votos e no estado estou com 31% nos nossos trakings. Dilma está com 30%, e Marina caiu para 22%. E eu cheguei a cair para 14% lá. Estou feliz porque me manter numa curva ascendente para um eventual segundo turno é muito importante - comemorou Aécio.

Se for para o segundo turno, Aécio disse estar preparado para a "pancadaria":

- Quem entra numa disputa dessas tem que estar preparado. Mas tem que ver o alcance desse terrorismo. Estou acostumado a enfrentar essa gente.

Perguntado sobre a declaração do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso da necessidade de ele e Marina se unirem em eventual segundo turno, Aécio disse que isso é assunto para depois.

- Eu tenho o maior respeito pela Marina, mas sobre o segundo turno eu só falo no segundo turno. O que posso dizer é que temos a convicção do melhor projeto, e temos mais condições de vencer o PT no segundo turno, e enfrentar o grande caos que vamos receber do governo - afirmou Aécio.

A campanha de Marina também adotou o discurso do voto útil. Ontem, no Facebook da candidata, foram postadas mensagens destacando sua maior possibilidade de bater Dilma no segundo turno. Para compensar a menor estrutura partidária, Marina aposta alto na mobilização nas redes sociais, onde tem boa penetração. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os sites, ao contrário das demais propagandas eleitorais, não precisam ser suspensos no dia da eleição.

- A campanha da Marina sempre teve que recorrer muito às redes sociais por conta de uma estrutura partidária muito menor que a dos adversários - disse Caio Túlio Costa, coordenador de mídias digitais da campanha do PSB.

A própria Marina postou ontem um vídeo em que se compromete em fazer as mudanças no país mantendo as conquistas. Na gravação, ela usava o mesmo broche com que foi ao debate da TV Globo com o número 40.

O PSB também está usando as redes para divulgar o número de Marina. De acordo com a pesquisa Datafolha, divulgada na quinta-feira, os eleitores da presidenciável são os que menos conhecem o seu número na urna eletrônica: apenas 53%. Entre os que votam em Aécio, o índice é de 58%, e em Dilma, 68%.

- Mobilizamos os candidatos a deputado para distribuir material informando o número - afirmou Walter Feldman, coordenador-geral da campanha.

Marina diz que Aécio é freguês do PT
Para tentar que a perda de intenção de votos, apontada pelas pesquisas, não perdure numa proporção que permita a ultrapassagem de Aécio, Marina adotou nova palavra de ordem contra o candidato tucano. O discurso para conquistar indecisos e minar o adversário é lembrar as três recentes derrotas do PSDB para o PT em segundo turno para presidente. Marina quer fixar no eleitor a ideia de que ela é mais competitiva para enfrentar Dilma.

- O PSDB é um segundo turno descendente. Nós somos um segundo turno ascendente - disse Marina, recorrendo a uma de suas frases de efeito, antes de embarcar, ao lado de seu vice, Beto Albuquerque, no Aeroporto Santos Dumont, no Rio. - O PT sabe disso, tanto é que a presidente Dilma quis dar uma chance (no debate) para o Aécio, porque ele já é o segundo turno de estimação do PT. É assim que o PT ganha as eleições. E o PSDB está se conformando em ser o segundo lugar de estimação do PT - completou.

Antes, Marina havia feito seu último ato de campanha no Rio, onde ela teve expressiva votação em 2010, com uma carreata pelas ruas da Tijuca, ontem à tarde. Durante o evento, Beto Albuquerque já havia citado a "freguesia" do PSDB para o PT, reforçando a ideia de que o voto em Marina é mais eficaz para quem quer tirar Dilma e o PT do poder.

- Não adianta botar no segundo turno um candidato acostumado a perder para a Dilma, para o PT - discursou Beto.

Ainda na Tijuca, Marina concedeu rápida entrevista em que procurou afastar a imagem de abatimento ou preocupação com as últimas pesquisas.

- A pesquisa definitiva é no dia 5 (amanhã), e nós estaremos no segundo turno. E aí, o tempo de televisão será igual e o debate será sobre propostas. Será o povo que decidirá nossa ida ao segundo turno, e não as estruturas e os marqueteiros - argumentou.

Dilma participou ontem de carreta em São José dos Campos, interior de São Paulo, ao lado de Alexandre Padilha, candidato do PT ao governo do estado, do ex-presidente Lula e do candidato ao Senado, Eduardo Suplicy. A candidata à reeleição se disse preparada para enfrentar Marina ou Aécio.

- Estamos preparados para enfrentar primeiro e segundo turnos. Não tenho preferência (por adversário).

Miguel Reale Júnior: Sair do pântano

- O Estado de S. Paulo

Amanhã se começa a decidir o futuro do Brasil. São 12 anos de governo do PT, que a todo custo pretende permanecer no poder. Lula em discurso recente, segurando os ombros de Dilma, disse pausadamente: "Eles não sabem o que somos capazes de fazer para ter você por mais quatro anos".

Boa parte da sociedade, cerca de 50%, que votará na oposição ao PT, em Marina ou Aécio, no primeiro turno, com certeza teme o que Lula e companheiros possam fazer, mas creio que jamais imaginariam a adoção, na propaganda eleitoral, das táticas desleais próprias do totalitarismo, não sendo admissível que a presidente, com a responsabilidade do cargo, viesse a desinformar a sua população no processo de desconstrução da adversária.

Hitler considerava, como destaca Domenach em conhecido trabalho (La Propagande Politique, Paris, 1950), ter a grande maioria, a massa, disposição a que suas opiniões e seus atos sejam determinados antes pela impressão causada em seus sentidos do que pela reflexão. A tática da propaganda em regime autoritário consiste em alternar terror e exaltação.

O terror infunde-se, como explica em outro trabalho clássico Driencourt (La Propagande, Nouvelle Force Politique, Paris, 1950), pela ligação de situação que a sensibilidade geral aceita integralmente, sem discussão, com uma ideia que se pretende incutir, relacionando-a falsamente com a situação já acolhida. Para a grande maioria, a percepção do papel dos bancos e dos banqueiros é a de explorar os mais fracos e se beneficiar com sua pobreza, refestelando-se com a desgraça alheia para encher as burras (vejam-se juros do cartão de crédito e do cheque especial). A propaganda de Dilma valeu-se dessa posição emocional, aceita sem discussão pela sociedade, e aliou falsamente a proposta de independência do Banco Central a uma liberdade de ação dos bancos comerciais cujo resultado seria o sumiço da comida da mesa dos pobres e a falência da educação, com o desaparecimento dos livros de estudo, ante o sorriso triunfante dos banqueiros.

É evidente a desfaçatez, a desonestidade intelectual, como se o Banco Central, uma autarquia responsável pela definição da política monetária, fosse um banco comercial e sua independência não significasse, como em todos os países desenvolvidos, a garantia de condução da economia e de promoção de estabilidade da moeda, longe dos interesses políticos efêmeros. Pouco importa que Dilma já tenha defendido a autonomia do Banco Central, o que interessa para manter o poder é deslanchar uma artilharia psicológica visando a amedrontar a população, alertando para o desastre da vitória da adversária à qual se atribui, mesmo contra todas as evidências, a instalação do reino dos banqueiros, a desgraça dos pobres com o fim do Bolsa Família. A parcela pensante do eleitorado vê a desgraça em ficar nas mãos de pessoas que mentem descaradamente para assegurar o poder a qualquer custo, como ameaçou Lula.

Hitler, em seu livro Minha Luta, pregava abertamente que a propaganda deve estabelecer o seu nível intelectual segundo a capacidade de compreensão do mais limitado dos seus destinatários. Assim, valeu-se a propaganda dilmista do desconhecimento de boa parte do eleitorado do que seja o Banco Central para unir à proposta de sua autonomia a consequência de plena liberdade dos bancos comerciais, quando a verdade é exatamente o contrário. Sem jamais nenhum candidato ter dito que interromperia o benefício do Bolsa Família, apregoava-se, na propaganda de Dilma, o seu fim iminente com a vitória de Marina ou de Aécio.

Se, de um lado, se cria um clima de terror, de outro se apresenta o Brasil como a Ilha da Fantasia, onde tudo corre às mil maravilhas, com grandes conquistas, num ufanismo graças ao qual se propaga que somos todos felizes e continuaremos felizes se mantivermos Dilma e seu grupo no poder. O cúmulo da exaltação foi a utilização, sem nenhum constrangimento da presidente, da tribuna da ONU na abertura da Assembleia-Geral para falar ao público interno sobre as conquistas do governo Lula e do seu, visando a aparecer nos noticiários televisivos dando a impressão de se constituir numa consagração universal.

Nesta hora de definição, é importante que a decisão seja no sentido de escolher quem possa derrotar Dilma e tenha condições de liderança pessoal para levar à frente a restauração do País nos planos moral e econômico. Marina, por sua trajetória de lutas, pode vir a cumprir esse papel fundamental. E deverá fazê-lo com o apoio do PSDB, tal como sucedeu no governo Itamar Franco, quando esse partido deu respaldo político e massa crítica com a participação de ilustres peessedebistas em órgãos da administração, assegurando governabilidade e condições técnicas para mudar o País, tal como efetivamente mudou com o Plano Real.

O receio de Marina ter sido do PT e ser um PT2 não pode servir de argumento contra a ex-senadora por parte do PSDB, pois todos os seus próceres saíram do PMDB e com ele não mais se identificam, não sendo o PMDB2, muito ao contrário. A origem não indica a linha política atual, a ser apreendida no caminho ora palmilhado, que o programa de Marina revela em muitos temas.

Neste quadro volátil da eleição de amanhã, se Aécio for, por acaso, ao segundo turno contra Dilma, seu passado como governador de Minas o credencia a bem governar o Brasil, mas Marina e o PSB devem se unir ao PSDB, superando os ataques injustos, para compor maioria de sustentação com o PPS de Roberto Freire e o PV, para enfrentar um raivoso PT na oposição. A união é necessária contra a falta total de ética na política, revelada pelas denúncias do conluio da cúpula petista com os "malfeitos" na Petrobrás.

Enfim, ou saímos do pântano onde viceja o aparelhamento do Estado e a corrupção ou submergimos para um afogamento que desonra.

Advogado, professor titular aposentado da Faculdade de Direito da USP, membro da Academia Paulista de Letras, foi ministro da Justiça

Merval Pereira: Sem medo do PT

- O Globo

O debate da Rede Globo de quinta-feira foi o mais acirrado das últimas eleições, e mesmo empolgante em certos momentos. O formato do programa, colocando a cada momento dois concorrentes cara a cara, ajudou muito na sua dinâmica e deu a ele cores novas.

E foi nesse embate olho no olho que um fenômeno ficou explícito: o PT já não mete medo a seus adversários. Seja pela fragilidade da presidente Dilma, tanto nos resultados de seu governo quanto na formulação do seu raciocínio, seja pelos resultados que o partido está obtendo em todo o país, os adversários perderam o medo de se confrontarem com os petistas.

Até mesmo a liderança do ex-presidente Lula está sendo contestada nesta eleição, pois os postes que tentou lançar negaram luz desta vez, seja Alexandre Padilha em São Paulo ou Lindbergh Farias no Rio. Efeito do insucesso dos postes anteriores, a própria Dilma na Presidência e o prefeito paulistano, Fernando Haddad. A trinca de fracassos se fecha com a performance medíocre da ex-chefe da Casa Civil Gleisi Hoffmann, poste de Dilma. Mesmo o provável êxito de Fernando Pimentel em Minas não abafará esses fracassos petistas.

A candidata Marina Silva pôs o dedo na ferida num comentário já com seu tempo esgotado, mas que foi registrado pelos microfones: "A maneira como você fala toda atrapalhada é a maior denunciação...". Era a última chance de Marina, do PSB, e Aécio Neves, do PSDB, firmarem suas posições para uma ampla audiência, em disputa do segundo lugar, e para a presidente Dilma tentar ampliar sua vantagem e fechar a eleição no primeiro turno.

Horas antes, pesquisas do Datafolha e do Ibope mostravam Dilma batendo no seu teto, a poucos pontos da vitória imediata, e os dois rivais em empate técnico, com movimento ascendente do tucano que a pesquisa do Ibope, finda um dia antes da do Datafolha, não captou por inteiro. Provavelmente hoje esse movimento ascensional seja refletido nas últimas pesquisas antes da eleição, já que Aécio saiu-se muito bem no debate.

Ao contrário do que fizeram seus antecessores José Serra e Geraldo Alckmin, nesta campanha Aécio vem defendendo o legado do PSDB sem titubear e, ontem no debate, enfrentado as velhas denúncias do PT contra as privatizações, anunciou a presença do ex-presidente Fernando Henrique na plateia, disse-se honrado com seu apoio e fez ironias com a possibilidade de empresas como as telefônicas ou a Embraer, em vez de privatizadas, ainda pertencerem ao Estado sob o comando do PT:

"Imagine o setor de telefonia, que já funciona tão mal, nas mãos do Estado. A senhora nomeando os dirigentes dessas empresas. Imagine uma Embraer, a grande empresa que compete, hoje, com êxito em outras partes do mundo, nas mãos do PT. Nós fizemos as privatizações de setores importantes. No meu governo, a Petrobras vai ser devolvida aos brasileiros."

Até Luciana Genro, do PSOL, que nestes debates tem feito o papel de metralhadora giratória, também tirou casquinha de Dilma: "Acontece, Dilma, que é o tesoureiro do PT que está envolvido nesse escândalo."

Com a cópia da ata da reunião do Conselho de Administração da Petrobras sobre a saída do diretor Paulo Roberto Costa, preso por corrupção e em processo de delação premiada junto à Justiça, Aécio ressaltou que fora ele quem pedira demissão, e não fora demitido, como afirmava a presidente: "A ata do Conselho da Petrobras diz que o diretor renunciou ao cargo e, pasme, recebe elogios pelos "relevantes serviços" prestados à companhia no desempenho das suas funções. Esse senhor está sendo obrigado a devolver R$ 70 milhões roubados da Petrobras. E o governo do PT o cumprimenta pelos serviços prestados à companhia."

Também Marina foi ao ataque, afirmando que Dilma não cumprira suas promessas de campanha: "A corrupção foi varrida pra baixo do tapete. [...] Você diz que foi o próprio diretor da Petrobras que disse que ia sair porque tinha recebido um recado. Foi negociação premiada. Existe a delação premiada. Houve uma demissão premiada, negociada no seu governo?"

Dilma não encontrou no calhamaço que carrega de um lado para o outro - o formato do debate da Globo deixou mais clara essa dependência - uma explicação razoável para a contradição. Não será surpresa se, em um próximo debate no segundo turno, Aécio ou Marina pedir que Dilma deixe de lado o caderno com as orientações de seu marqueteiro João Santana para responder às perguntas de improviso, no seu peculiar Dilmês .

Cláudio Couto: Frustrações e reviravoltas

- O Estado de S. Paulo

Confirmaram-se as expectativas de que as eleições presidenciais de 2014 seriam as mais disputadas e imprevisíveis desde 1989. Chegamos à véspera do 1.º turno com ao menos duas dúvidas importantes a afetar boa parte do eleitorado: uma, sobre se eleição se resolverá já agora (bem improvável); outra, ainda maior, sobre quem será o adversário de Dilma Rousseff no (muito provável) 2.º turno. Nenhuma eleição presidencial desde a redemocratização apresentou tantas reviravoltas como a atual.

Dois tipos de fatores explicam a imprevisibilidade e as reviravoltas: os conjunturais e os estruturais, que acabam por se entrelaçar. Vejamos os conjunturais: (1) a entrada de Marina Silva na campanha, da forma como se deu, desorganizando as referências eleitorais estabelecidas desde 1994 (a bipolarização PT-PSDB), com o que minguou de início a candidatura de Aécio Neves; (2) a recuperação parcial das popularidades do governo e da presidente, impulsionadas pelo amplo tempo de propaganda na TV e no rádio; (3) os erros, ambiguidades e recuos de Marina - além dos ataques recebidos - que desinflaram sua candidatura e ocasionaram (4) a recuperação de Aécio, cuja curva de intenções de voto convergiu com a da candidata do PSB.

Quanto aos fatores estruturais, de mais longo prazo, destaca-se a melhora significativa das condições de vida no País nos últimos 25 anos e a paradoxal frustração produzida ao final desse período. Temos aí: (1) a universalização de diversos serviços sociais na esteira da Constituição de 1988, que uma vez realizada propiciou um novo tipo de demanda: a da melhora desses serviços; (2) a estabilização monetária propiciada pelo Plano Real, que gerou uma redução inicial da pobreza e possibilitou uma reorganização econômica geral; (3) a grande mobilização social dos anos Lula, com a redução significativa da pobreza e da desigualdade, acompanhada da ascensão econômica de um amplo contingente populacional (a chamada "classe C"), que passou a almejar maior status social e melhores serviços públicos; (4) o estancamento desse progresso no governo Dilma, fazendo com que as expectativas - aumentadas justamente pelos ganhos anteriores - fossem frustradas, alimentando a insatisfação.

Esses fatores estruturais - em particular o quarto - explicam a eclosão das manifestações de junho de 2013, bem como do disseminado anseio por mudança detectado por diversas pesquisas. O progresso social explica o sucesso eleitoral do PT nas duas últimas eleições e o patamar ainda significativo de apoio que o atual governo aufere - a soma de "bom-ótimo" (39%) e "regular" (37%) no penúltimo Datafolha indica que três quartos do eleitorado consideram, no mínimo, satisfatória a atual gestão. Por outro lado, o estancamento da melhora abre espaço para as oposições e aumenta a chance dos desafiantes.

Entre os eleitores mais pobres e os de menor escolaridade (há muita sobreposição aí) Dilma sempre liderou com ampla margem (e vem crescendo) e Aécio ficou o tempo todo atrás de Marina (embora suas intenções de voto tenham começado a convergir). Quando se considera o eleitorado da "classe C" (renda de 2 a 5 salários mínimos), Dilma foi superada por Marina no começo, mas voltou a ultrapassá-la. É esse justamente o setor que mais progrediu socialmente nos anos Lula, por isso mesmo teve suas expectativas mais ampliadas e, consequentemente, frustradas pelo estancamento do governo atual. Foi o que mais oscilou, pareceu dar espaço a Marina e, agora, devolve o favoritismo a Dilma.

Conjuntura e estrutura se entrelaçam: compõem o eleitorado mais volátil exatamente aqueles cuja ascensão anterior mais contrastou com as frustrações recentes. Os da base da pirâmide também progrediram, mas frustraram-se menos, pois seu progresso não os levou a patamar suficiente para clamar por maior status. Por isso mesmo, estão mais satisfeitos e vem deles o grosso do voto governista mais fiel.

Fernando Rodrigues: Três bons candidatos

- Folha de S. Paulo

Petistas, marinistas e tucanos vão discordar. Falo assim mesmo: considero um luxo e uma sorte o Brasil ter chegado hoje, véspera de sua sétima eleição presidencial direta consecutiva, com três candidatos competitivos de excelente qualidade.

Quem estiver em dúvida basta olhar em volta na América Latina. Argentina, Paraguai, Equador e Venezuela, para citar alguns dos mais óbvios, são países com debates ainda enganchados no século 20 (ou 19, em alguns casos). Não que o Brasil seja o berço do iluminismo. Aliás, vai muito mal em costumes. A maioria dos candidatos demonstra covardia quando se trata de modernizar a legislação sobre aborto e drogas.

Mas vamos ao essencial. Para começar, Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB) não representam a mínima ameaça às instituições. Embora possa soar ridículo, nas primeiras eleições presidenciais pós-ditadura havia uma agenda que incluía risco de calote da dívida externa, congelamento de preços, confisco das cadernetas de poupança, revolta dos militares nos quarteis e quebra da ordem democrática. Falar sobre esse tipo de coisa hoje parece maluquice --e é.

Cada um ao seu modo, Dilma, Marina e Aécio tocarão o Brasil mais ou menos dentro dos parâmetros adotados a partir da eleição de Fernando Henrique Cardoso, em 1994 --apesar de os três não serem candidatos idênticos.

Há opções para quem prefere um Estado mais forte, indutor do desenvolvimento. Ou uma proposta que tenta realinhar as forças políticas de dentro e de fora do establishment tradicional. Por fim, tem a bandeira em defesa de um modelo de livre mercado e liberal mais puro.

Como se não bastasse, esta bela eleição terá emoção até o final. Pode terminar neste domingo (5), se Dilma vencer de primeira. Com segundo turno, saberemos só à noite quem foi à rodada final. Viva a democracia. Bom voto a todos.

Cristovam Buarque: Corrupção eleitoral

• Fraude pela mentira é grave porque perverte a própria democracia

- O Globo

O Brasil descobriu o quanto o seu sistema político-administrativo é corrupto no comportamento de seus dirigentes. Não percebeu ainda as outras formas de corrupção que este sistema carrega.

Mesmo quando um político ou administrador não desvia dinheiro para sua conta pessoal, ele está sendo corrupto quando desperdiça recursos, beneficia apenas privilegiados, depreda o meio ambiente, aumenta a violência, provoca escassez ou inflação. Esta é uma forma discreta, às vezes mais grave, de corrupção, pelo seu tamanho e duração nos impactos negativos dos resultados. Por exemplo, em um tempo em que a população não tem água potável, nem tratamento de esgoto e as escolas estão degradadas, é corrupção construir prédios públicos suntuosos, mesmo sem apropriação privada do dinheiro público.

Outra corrupção política é a velha fraude eleitoral que foi praticada no Brasil ao longo da história. As urnas eletrônicas permitem imaginar que esta corrupção foi eliminada, pelo menos até quando algum hacker for capaz de manipular os dados eleitorais. Se esta corrupção parece superada no momento, a atual eleição tem sido exemplo de outra corrupção eleitoral pelo sistemático uso de marketing com mentiras para desconstruir imagens de oponentes. É a corrupção do tipo Joseph Goebbels.

O debate e o enfrentamento de ideias são características fundamentais da democracia. Seria extremamente positivo um debate sério sobre o impacto da autonomia do Banco Central: se esta é uma forma de proteger a moeda ou, ao contrário, de entregá-la à voracidade do sistema financeiro. Mas uma forma de corrupção eleitoral é repetir, até virar verdade na opinião do eleitor, que a autonomia do Banco Central seria a forma encontrada por uma candidata para tirar comida da mesa dos pobres e enriquecer os ricos banqueiros. Dizer que um candidato vai desfazer programas sociais que estão previstos no próprio programa do candidato também é uma forma de corrupção.

A fraude pela mentira é grave porque perverte a própria democracia, graças aos truques de marketing que transformam mentiras em verdades. A fraude corrompe por meio do desconhecimento que o eleitor tem da realidade e pela dificuldade de analisar os discursos no curto período eleitoral. Nas últimas semanas, o candidato Aécio acusou Marina de ser o mesmo que o PT, a candidata Dilma acusou Marina de ser igual ao PSDB e o eleitor acreditou nas duas afirmações, mesmo que uma anule a outra.

Ninguém pode criar regras para impedir a mentira nas campanhas. A única maneira de abortar a corrupção eleitoral da mentira é educar o eleitor. Eis a maior das corrupções da política no Brasil: o desprezo à educação de nossas crianças e, consequentemente, à da população. A esperteza praticada pelo político é a mãe da corrupção, o pai é o desconhecimento do eleitor. Talvez, por isso, a esperteza não trabalhe para eliminar o desconhecimento.

Cristovam Buarque é senador (PDT-DF)

Demétrio Magnoli: Segunda é o dia

• Aécio rotulou Marina como "PT 2", colocando a verossimilhança a serviço da inverdade

- Folha de S. Paulo

A se dar crédito às sondagens, os holofotes devem ser redirecionados do dia do voto, amanhã (5), para o dia seguinte. Na segunda, o candidato barrado --Marina ou, mais provavelmente, Aécio-- terá em suas mãos uma oportunidade, talvez única, de conferir natureza competitiva ao segundo turno. Se tergiversar ou dilatar o prazo, estará sacramentando a vitória de Dilma --e, por consequência, ajudando a parir um governo de crise.

Aécio emergiria da derrota como uma figura menor: a personificação, ainda que circunstancial, da ruína do PSDB. Para reconstruir o partido, os tucanos se veriam na obrigação de revisitar a longa trajetória de uma falência política ilusoriamente obscurecida pelo protagonismo de Alckmin (2006) e Serra (2010), que alcançaram o turno final. O candidato batido sabotará essa tarefa tão traumática quanto indispensável se não declarar um apoio engajado, incondicional, à postulação de Marina.

Premido pela lógica da campanha, Aécio não só bombardeou Marina com críticas legítimas, mas também recorreu a uma arma química, rotulando-a como "PT 2". Nessa trilha, a verossimilhança, derivada do passado da candidata, foi posta a serviço da inverdade. O núcleo econômico da plataforma de Marina quase não se distingue das propostas tucanas. O PT tem razão quando descreve os dois oposicionistas como galhos de uma mesma árvore, pois a convergência situa-se no solo firme da filosofia política: o lugar do Estado e do mercado na economia.

"PT 2" é, portanto, um erro conceitual. Adicionalmente, na hipótese provável, ricochetearia como erro eleitoral, complicando a equação do chamado ao voto em Marina. Aécio pode somar um erro a outro, fazendo do rótulo um álibi para lavar as mãos de modo explícito ou disfarçado. Nesse caso, estaria dizendo aos eleitores que os tucanos nunca levaram a sério suas proclamações de campanha, preferindo conservar a hegemonia do PSDB no campo oposicionista a derrotar o governo. A mensagem equivaleria a uma confirmação do discurso "marineiro" sobre o paralelismo entre PSDB e PT.

Na outra hipótese, de que Marina naufrague no primeiro turno, o cenário é mais complexo. Ao longo dos últimos meses, os "marineiros" difundiram um curioso argumento assimétrico. Dirigindo-se aos eleitores oposicionistas, profetizaram que Marina venceria Dilma no segundo turno agregando os votos de Aécio, mas que o inverso seria inviável, pois o tucano não poderia contar com os votos de sua candidata. A natureza oportunista da profecia evidencia-se pela óbvia circunstância de que, caso seja descartada amanhã, Marina tem o privilégio de prová-la verdadeira, depois de amanhã.

Quatro anos atrás, Marina recusou-se a apoiar Serra, associando-se objetivamente ao triunfo de Dilma. Daquele gesto, extraiu o benefício de consolidar a narrativa da "terceira via", equidistante dos polos do PT e do PSDB, que combinou com o estandarte insubstancial da "nova política" para emergir como favorita nas efêmeras semanas seguintes à morte trágica de Eduardo Campos. No fim, porém, a fórmula "sonhática" não passou na prova de fogo do confronto eleitoral direto. A campanha de Dilma apelou à difamação e à mentira factual, confirmando o desprezo do lulopetismo pelas regras do debate político civilizado. Mas, por essa via pervertida, comprovou que Marina entrega-se a um exercício de futilidade quando descreve o PSDB como a face simétrica e complementar do PT.

Marx assegurou-nos de que a história apresenta-se sempre em duas versõesa primeira, como tragédia; a segunda, como farsa. Não é preciso acreditar nisso para concluir que, repetindo o gesto de 2010, Marina ofereceria um espetáculo farsesco. Ela estaria dizendo que sua plataforma política, nitidamente oposicionista, foi "escrita a lápis". E que, como tantos desconfiam, ela mesma é um rascunho em permanente mutação.

Rolf Kuntz: Os milagres econômicos da incompetência

- O Estado de S. Paulo

É preciso acreditar em milagres. Só uma incompetência milagrosa poderia produzir estragos tão prodigiosos na indústria brasileira, no comércio exterior e nos fundamentos econômicos do País em tão pouco tempo.

A soma de exportações e importações ficou em US$ 347,96 bilhões entre janeiro e setembro, valor 2% menor que o de um ano antes, pela média dos dias úteis. Diminuíram tanto as vendas quanto as compras internacionais e mais uma vez o Brasil mostrou ao mundo uma perversa originalidade. 

Recessão, em outros países, tem normalmente um efeito corretivo. No país da presidente Dilma Rousseff, a inflação anual continua acima de 6%.

A balança de mercadorias acumula um déficit de US$ 690 milhões em nove meses. O governo central, segundo os números do Tesouro, só conseguiu de janeiro a agosto um superávit primário de R$ 4,67 bilhões, 87,8% menor que o de igual período de 2013. Para atingir a meta, R$ 80,8 bilhões, a administração central terá de obter em quatro meses um saldo superior a R$ 76 bilhões, 16 vezes o alcançado no dobro desse tempo.

Em outros países, governados de acordo com padrões mais normais, políticas de austeridade, às vezes com efeito recessivo, são usadas para corrigir desajustes. O caso brasileiro é muito diferente. Não houve nenhum esforço de ajuste. A recessão foi apenas mais um produto de uma incompetência de raras proporções, assim como o fiasco econômico dos três anos anteriores.

A condição precária do comércio exterior é um espelho dos erros cometidos pela administração petista a partir de 2003. A política industrial nunca foi mais que um arremedo, com tinturas nacionalistas e desenvolvimentistas, de estratégias típicas de outras eras. Nunca se cuidou de fato da eficiência econômica e do poder de competição.

A política foi sempre, nos últimos 12 anos, muito mais voltada para o protecionismo do que para a inovação e a produtividade. A isso se acrescentaram estímulos ao consumo bem maiores que os incentivos ao investimento.

No primeiro trimestre deste ano, o coeficiente de exportação da indústria - proporção entre o valor exportado e o produzido - ficou em 19,8%. Nos primeiros três meses de 2007 ainda estava em 22%. 

Ao mesmo tempo, a participação dos importados no consumo de bens industriais passou de 17% para 22,5%, embora o Brasil tenha permanecido uma das economias mais fechadas do mundo. Os dados são da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Na virada do século os manufaturados ainda representavam mais de 50% do valor exportado. A proporção caiu pouco a pouco e de janeiro a setembro deste ano ficou em 34,8%. No mesmo período de 2013 estava em 36,9%, com peso um pouco maior, mas também muito baixo para uma economia com a base industrial do Brasil,

O governo tem uma desculpa também para isso, como para uma porção de outros problemas. A explicação, agora, é a crise da Argentina, principal mercado de exportação para os produtores brasileiros de manufaturados.

Essa versão foi amplamente reproduzida, quando a imprensa divulgou, na quinta-feira, os números do comércio exterior de setembro. Mas ninguém deveria levar muito a sério essa conversa. A crise argentina até serve para esclarecer uma pequena parte da história - só uma pequena parte.

A indústria brasileira vem perdendo capacidade de exportação há muitos anos. As vendas cresceram durante alguns anos, nesse período, mas os produtores tiveram dificuldades crescentes até para preservar sua participação nos mercados. A valorização do real atrapalhou as vendas. Mas uma parte do desajuste cambial é atribuível à inflação, quase sempre maior que a dos concorrentes.

Empresários sempre reclamaram do câmbio valorizado, mas nunca, ou quase nunca, pediram medidas mais sérias para a estabilização dos preços e, portanto, dos custos internos. Acumulada em três anos, uma diferença anual de três pontos porcentuais de inflação pode virar um desastre cambial. A maior parte das pessoas parece desprezar esse detalhe.

Além disso, há o velho e nunca resolvido problema do custo Brasil, formado por uma enorme coleção de ineficiências de origem estritamente nacional. Não dá para culpar o mundo malvado, nem a perversidade das grandes potências, pelo péssimo sistema tributário, pela escassez de mão de obra eficiente, pelas más condições de transporte ou pela incapacidade gerencial do governo - para citar só um pedaço da lista.

Mas pode-se culpar o governo tanto pela incompetência administrativa quanto por erros graves de estratégia.

Durante anos, a administração petista aproveitou a onda internacional de crescimento - e especialmente a expansão chinesa - para aproveitar sem trabalho as vantagens do crescimento econômico e do aumento das exportações. Internamente, a transferência de renda alimentou a expansão do mercado consumidor, mas os formuladores da política se esqueceram de cuidar também do aumento da capacidade de oferta.

Sem atenção a outras oportunidades, o governo aceitou também a transformação do Brasil em fornecedor de matérias-primas para a China e de manufaturados para economias em desenvolvimento, especialmente da vizinhança sul-americana. Foi uma escolha ideológica, apresentada como estratégia inovadora pelos formuladores da diplomacia petista.

Isso explica a vulnerabilidade do País à crise argentina. Ao renegar a política de inserção nos mercados desenvolvidos, o governo deixou à indústria brasileira, até por falta de uma estratégia modernizadora, poucas opções além de jogar na segunda divisão. Mas potências mais competitivas, como a China, podem invadir esse mercado e atropelar os competidores menos eficientes. A indústria brasileira tem perdido espaço também na vizinhança. De milagre em milagre, o Brasil recua à condição de colônia dependente de uma metrópole importadora de matérias-primas.

Jornalista