- O Estado de S. Paulo
Amanhã se começa a decidir o futuro do Brasil. São 12 anos de governo do PT, que a todo custo pretende permanecer no poder. Lula em discurso recente, segurando os ombros de Dilma, disse pausadamente: "Eles não sabem o que somos capazes de fazer para ter você por mais quatro anos".
Boa parte da sociedade, cerca de 50%, que votará na oposição ao PT, em Marina ou Aécio, no primeiro turno, com certeza teme o que Lula e companheiros possam fazer, mas creio que jamais imaginariam a adoção, na propaganda eleitoral, das táticas desleais próprias do totalitarismo, não sendo admissível que a presidente, com a responsabilidade do cargo, viesse a desinformar a sua população no processo de desconstrução da adversária.
Hitler considerava, como destaca Domenach em conhecido trabalho (La Propagande Politique, Paris, 1950), ter a grande maioria, a massa, disposição a que suas opiniões e seus atos sejam determinados antes pela impressão causada em seus sentidos do que pela reflexão. A tática da propaganda em regime autoritário consiste em alternar terror e exaltação.
O terror infunde-se, como explica em outro trabalho clássico Driencourt (La Propagande, Nouvelle Force Politique, Paris, 1950), pela ligação de situação que a sensibilidade geral aceita integralmente, sem discussão, com uma ideia que se pretende incutir, relacionando-a falsamente com a situação já acolhida. Para a grande maioria, a percepção do papel dos bancos e dos banqueiros é a de explorar os mais fracos e se beneficiar com sua pobreza, refestelando-se com a desgraça alheia para encher as burras (vejam-se juros do cartão de crédito e do cheque especial). A propaganda de Dilma valeu-se dessa posição emocional, aceita sem discussão pela sociedade, e aliou falsamente a proposta de independência do Banco Central a uma liberdade de ação dos bancos comerciais cujo resultado seria o sumiço da comida da mesa dos pobres e a falência da educação, com o desaparecimento dos livros de estudo, ante o sorriso triunfante dos banqueiros.
É evidente a desfaçatez, a desonestidade intelectual, como se o Banco Central, uma autarquia responsável pela definição da política monetária, fosse um banco comercial e sua independência não significasse, como em todos os países desenvolvidos, a garantia de condução da economia e de promoção de estabilidade da moeda, longe dos interesses políticos efêmeros. Pouco importa que Dilma já tenha defendido a autonomia do Banco Central, o que interessa para manter o poder é deslanchar uma artilharia psicológica visando a amedrontar a população, alertando para o desastre da vitória da adversária à qual se atribui, mesmo contra todas as evidências, a instalação do reino dos banqueiros, a desgraça dos pobres com o fim do Bolsa Família. A parcela pensante do eleitorado vê a desgraça em ficar nas mãos de pessoas que mentem descaradamente para assegurar o poder a qualquer custo, como ameaçou Lula.
Hitler, em seu livro Minha Luta, pregava abertamente que a propaganda deve estabelecer o seu nível intelectual segundo a capacidade de compreensão do mais limitado dos seus destinatários. Assim, valeu-se a propaganda dilmista do desconhecimento de boa parte do eleitorado do que seja o Banco Central para unir à proposta de sua autonomia a consequência de plena liberdade dos bancos comerciais, quando a verdade é exatamente o contrário. Sem jamais nenhum candidato ter dito que interromperia o benefício do Bolsa Família, apregoava-se, na propaganda de Dilma, o seu fim iminente com a vitória de Marina ou de Aécio.
Se, de um lado, se cria um clima de terror, de outro se apresenta o Brasil como a Ilha da Fantasia, onde tudo corre às mil maravilhas, com grandes conquistas, num ufanismo graças ao qual se propaga que somos todos felizes e continuaremos felizes se mantivermos Dilma e seu grupo no poder. O cúmulo da exaltação foi a utilização, sem nenhum constrangimento da presidente, da tribuna da ONU na abertura da Assembleia-Geral para falar ao público interno sobre as conquistas do governo Lula e do seu, visando a aparecer nos noticiários televisivos dando a impressão de se constituir numa consagração universal.
Nesta hora de definição, é importante que a decisão seja no sentido de escolher quem possa derrotar Dilma e tenha condições de liderança pessoal para levar à frente a restauração do País nos planos moral e econômico. Marina, por sua trajetória de lutas, pode vir a cumprir esse papel fundamental. E deverá fazê-lo com o apoio do PSDB, tal como sucedeu no governo Itamar Franco, quando esse partido deu respaldo político e massa crítica com a participação de ilustres peessedebistas em órgãos da administração, assegurando governabilidade e condições técnicas para mudar o País, tal como efetivamente mudou com o Plano Real.
O receio de Marina ter sido do PT e ser um PT2 não pode servir de argumento contra a ex-senadora por parte do PSDB, pois todos os seus próceres saíram do PMDB e com ele não mais se identificam, não sendo o PMDB2, muito ao contrário. A origem não indica a linha política atual, a ser apreendida no caminho ora palmilhado, que o programa de Marina revela em muitos temas.
Neste quadro volátil da eleição de amanhã, se Aécio for, por acaso, ao segundo turno contra Dilma, seu passado como governador de Minas o credencia a bem governar o Brasil, mas Marina e o PSB devem se unir ao PSDB, superando os ataques injustos, para compor maioria de sustentação com o PPS de Roberto Freire e o PV, para enfrentar um raivoso PT na oposição. A união é necessária contra a falta total de ética na política, revelada pelas denúncias do conluio da cúpula petista com os "malfeitos" na Petrobrás.
Enfim, ou saímos do pântano onde viceja o aparelhamento do Estado e a corrupção ou submergimos para um afogamento que desonra.
Advogado, professor titular aposentado da Faculdade de Direito da USP, membro da Academia Paulista de Letras, foi ministro da Justiça
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