Revista Será?
No último debate eleitoral, os candidatos trocavam perguntas e acusações, cada um inventando o mundo de fantasias do que seria o Brasil nos seus governos. Até a terceira rodada, o debate estava polarizado entre dois candidatos com maiores chances enquanto os outros se esforçavam para entrar na briga. Quando começou a quarta rodada, Gerson Lima apontou o dedo firme para o candidato à reeleição, Décio Matos, e, num misto de pergunta e acusação, despachou: “O senhor tem insinuado, de forma irresponsável e leviana, que vai suspender todo o esforço dos brasileiros no aproveitamento da poliodramita. Não posso entender, como cidadão e como candidato à Presidência da República, como alguém pode ter um conceito tão mesquinho e antiquado. Agora, quero que o senhor diga para os eleitores que nos acompanham e que precisam de informações para fazer sua escolha, qual é mesmo a sua posição em relação a esta enorme riqueza do país, fonte inestimável de recursos para a educação e a saúde e que, no meu governo projetará o Brasil no futuro das nações?”
Silêncio geral no recinto. Décio Matos, candidato à reeleição, com os olhos assustados e a boca seca, mexia nos papéis para ganhar tempo, olhava para seus assessores e não sabia o que responder. A câmara focou no rosto suando. O Brasil parou diante daquela imagem. De repente, ele conseguiu recuperar o controle e, meio cambaleante, começou a sua resposta àquela intrigante questão. “Isto é uma calúnia, candidato. Eu nunca fui contra a poliandria”. Gerson interrompeu o adversário remendando: “poliodramita, candidato. O senhor não sabe sequer o nome”. O candidato à reeleição, parou, sentiu os olhos dos brasileiros na sua testa suada, olhou desesperado para seus angustiados assessores e tentou retomar a ofensiva. “Ora, como eu poderia ser contra esta riqueza do Brasil se o meu governo investiu mais de 20 bilhões de reais para aproveitamento e já começa a sua produção em larga escala?”. Na outra bancada, Gerson sorria com o discurso e o descontrole do seu adversário. Décio não conseguiu falar mais nada, ainda ouviu o moderador lembrar que teria mais um minuto para concluir, balançou a cabeça indicando que tinha terminado, sentindo uma tontura e um vazio no estômago.
Gerson tinha direito à réplica e quando lhe foi dada a palavra e a câmara deu um close no seu rosto, ele estava quase às gargalhadas, colocava a mão na cabeça, apontava para o adversário num gesto de ironia e sorria, sorria sem parar. O moderador advertiu o candidato para que tivesse compostura e passados alguns segundos, agora sério e com sinais de indignação, Gerson falou olhando direto para a câmara: “Vejam, brasileiros e brasileiras, que impostor é este candidato, que cínico e mentiroso, afirmando em cadeia nacional no último debate dos candidatos à Presidência da República que seu governo investiu R$ 20 bilhões em poliodramita. Mentira, mentira total. Sabem por que? Porque não existe nenhuma poliodramita. Esta palavra eu inventei agora para testar a seriedade do senhor Décio Matos. Se ele fosse um homem sério, olhava nos seus olhos e diria: ‘não sei o que é poliodramita’. Mas não, como poderia demonstrar ignorância? Ele não sabe de nada mesmo, mas não podia ser honesto?”
No último segundo que faltava para sua réplica, Gerson Lima estendeu a mão direita na direção da câmara e perguntou: “Você, eleitor, pode acreditar em alguma coisa que este senhor diz, quando foi desmascarado na sua mentira e esta ridícula invenção de realizações falsas do seu governo?”
Antes que continuasse sua fala, Gerson foi surpreendido por um murro na sua cabeça acompanhado de um grito feroz de ódio e vingança. O debate foi suspenso, Décio Matos foi seguro pelos participantes e assessores. Humilhado e envergonhado, retirou-se do recinto ouvindo uma gargalhada geral da plateia que era acompanhada por milhões de telespectadores Brasil afora.
Sérgio C. Buarque é economista
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