O Estado de S. Paulo
Prevost se opôs a um plano peruano de introduzir aulas de gênero nas escolas
A eleição de Robert Prevost revela o desejo
dos cardeais de reconciliar as alas reformista e tradicionalista da Igreja. O
papa Leão XIV compartilha as preocupações de Francisco com os pobres e
imigrantes. Mas é mais conservador do que ele sobre gênero e sexualidade. Na
primeira campanha de Donald Trump, em 2015, o então bispo Prevost retuitou
artigo do cardeal Timothy Dolan condenando a retórica anti-imigrantes.
Em 2018, Prevost compartilhou um post qualificando de “moralmente indefensável” e “vergonhosa” a separação de crianças dos pais imigrantes, adotada por Trump.
No dia 2 de março, o cardeal tuitou: “J.D.
Vance está errado. Jesus não nos pede para ranquear nosso amor pelos outros”,
em referência à interpretação do vice-presidente americano do conceito de
“ordem do amor” proposto por Santo Agostinho. Prevost é da ordem agostiniana.
Vance usa esse conceito para justificar a hostilidade aos estrangeiros.
Francisco também contestou essa interpretação, em carta aos bispos americanos,
compartilhada por Prevost no dia 13 de fevereiro.
Outro ponto em comum com Francisco é o
anticlericalismo. Na homilia da primeira missa como papa, Leão XIV evocou Santo
Inácio, para quem “todos aqueles que na Igreja exercem ministério de autoridade
devem ficar de lado para que Cristo possa ser conhecido e glorificado”.
A sensibilidade com os excluídos não se
estende a homossexuais, pessoas transgênero e vítimas de abusos de padres, ao
contrário de Francisco.
Em 2012, no Sínodo dos Bispos no Vaticano,
Prevost criticou a mídia por promover “simpatia por crenças e práticas que
estão em desacordo com o Evangelho”, citando o “estilo de vida homossexual” e
“famílias alternativas compostas por parceiros do mesmo sexo e seus filhos
adotivos”.
CRÍTICAS. Ele se opôs a um plano do governo
peruano de adotar aulas de gênero nas escolas, dizendo que a “promoção da
ideologia de gênero é confusa, porque cria gêneros que não existem”. É o que
pensa Vance.
Três irmãs peruanas que afirmam terem sido abusadas por dois padres quando eram menores acusam o então bispo de Chiclayo de encobrir o caso, que denunciaram a ele em 2022. Prevost apenas transferiu os padres de diocese, sem punição. A acusação foi encaminhada ao Dicastério para a Doutrina da Fé, no Vaticano, mas não há indícios de que tenha sido investigada. Como prefeito do Dicastério para os Bispos, Prevost já era temido por seu poder de nomear e destituir. Agora, é o chefe da Igreja.
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