• Amparados em pesquisas que mostraram rejeição à agressividade do debate anterior, Dilma e Aécio adotam tom propositivo
• Petista fala em 'indícios de desvios' na Petrobras e tucano ironiza, apontando suposto recuo de rival
Catia Seabra, Daniela Lima, Marina Dias, Natuza Nery, José Marques, Gustavo Patu e Ranier Bragon – Folha de S. Paulo
SÃO PAULO, BRASÍLIA - Amparados em pesquisas internas que mostraram certa rejeição à agressividade que predominou no último debate, os dois candidatos à Presidência da República adotaram um tom mais propositivo no confronto deste domingo (19), na TV Record, o penúltimo antes do segundo turno.
Em vez das trocas de acusações pessoais de nepotismo e desvios éticos, Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) discutiram nos primeiros 30 minutos do evento temas como inflação, desemprego e segurança pública.
Apesar disso, focaram na crítica mútua à atuação de uma ou outra gestão, sem a apresentação detalhada do que pretendem de fato fazer.
O escândalo da Petrobras não deixou de ser tema do debate. Desta vez, porém, a petista e o tucano trocaram termos como "mentira" e "leviandade" -repetidos várias vezes no debate de quinta-feira (16), no evento do SBT/UOL/Jovem Pan- por palavras como "estarrecedor".
Depois do virulento debate da quinta, o PT passou a divulgar a versão de que Aécio foi excessivamente agressivo com Dilma -ela chegou a passar mal momentos após o evento-, o que levou os marqueteiros do tucano a aconselhá-lo a colocar o pé no freio.
Já o PT detectou em suas pesquisas rejeição ao tom belicoso praticado por Dilma, que chegou a insinuar que o adversário dirigiu sob efeito de álcool e drogas quando foi pego em uma blitz em 2011 e se recusou a assoprar o bafômetro.
A inflexão dos candidatos também ocorre depois que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) decidiu vetar a veiculação de propagandas com ataques recíprocos.
No confronto de ontem, coube a Aécio abordar o escândalo da Petrobras, já no final do primeiro bloco, citando declaração da Dilma da véspera em que ela reconhecera desvios na estatal.
Ele então perguntou se a petista confiava no tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, apontado como integrante do esquema pelo ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef. Os dois afirmaram à Justiça que Vaccari era o elo do partido com o esquema. Na ocasião, Vaccari e o PT negaram.
Dilma respondeu lembrando que Costa também acusou o ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra, morto neste ano, de receber propina para abafar uma CPI. "Eu acredito no seguinte, eu sei que há indícios de desvio de dinheiro. Agora, o que ninguém sabe, nem o senhor nem eu, é quanto foi e quem foi", disse Dilma.
Aécio ironizou, registrando que a declaração de sábado, de que "houve desvio", virou "indícios de desvio".
E atacou a adversária. "Mais uma vez a senhora não mandou investigar, que triste um país onde o presidente da República é quem determina quem seja investigado. Isso pode funcionar em algumas ditaduras amigas do seu governo, mas não no Brasil."
Ao discutirem a melhor forma de gerir a estatal, Dilma soltou um "candidato, você é engraçado", acusando o PSDB de ter pretendido privatizar a Petrobras.
Intenção essa que, segundo Dilma, os tucanos teriam em maior grau: "Se eu fosse funcionário do Banco do Brasil, da Caixa ou do BNDES ficaria com três pulgas atrás da orelha." Alvo de campanha similar em 2006 e 2010, o PSDB sempre negou intenção de privatizar as principais estatais.
Um dos temas mais debatidos foi a economia, com Dilma repisando a estratégia de sua campanha de tachar o adversário como representante de um grupo político que, uma vez no poder, irá levar o Brasil ao desemprego.
"Vocês sempre gostaram de plantar inflação para colher juros, esta sempre foi a sua política e vocês governaram sim o Brasil. O Fernando Henrique, o senhor foi líder e foi liderança daquele governo naquela época. Então, candidato, não lave suas mãos, o senhor tem responsabilidade no Brasil", afirmou Dilma.
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