• Sem ataques pessoais, Dilma e Aécio abordaram questões propositivas no primeiro bloco, e compararam as gestões tucana e petista
Maiá Menezes, Alessandra Duarte, Letícia Fernandes e Fábio Vasconcellos – O Globo
RIO — Em tom mais ameno do que no último confronto e sem ataques pessoais, os presidenciáveis Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PMDB) se enfrentaram neste domingo pela terceira vez no segundo turno, em debate da Rede Record. O primeiro bloco, com oito perguntas diretas, foi tomado por questões propositivas. A corrupção só veio à tona na referência ao escândalo da Petrobras. Aécio trouxe para a pauta o reconhecimento de Dilma, feito na véspera, de que houve, de fato, desvios na estatal. O tucano cobrou da presidente uma posição em relação ao tesoureiro do PT, João Vaccari, que é também conselheiro de Itaipu. Perguntou três vezes à presidente se ela não o puniria, visto que ele fora citado pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, na delação premiada. Aécio deu a entender que Vaccari ocupou o cargo quando Dilma era ministra das Minas e Energia.
— Cobrei nestes últimos debates uma posição em relação à Petrobras e não obtive. Quero fazer um reconhecimento de público: ontem, a senhora reconheceu que houve desvios. Quando apresentamos a proposta da CPI, fomos tachados de aproveitadores eleitorais. A senhora confia no seu tesoureiro, João Vaccari Neto, que é conselheiro de Itaipu? A senhora confia nele? — perguntou Aécio.
Dilma devolveu a pergunta com outra, deixando clara uma estratégia de associar o escândalo também a aliados de Aécio:
— O senhor confia em todos aqueles que, segundo as mesmas fontes que acusam Vaccari, dizem que o ex-presidente do seu partido, lamentavelmente morto, recebeu recursos para acabar com a CPI? — disse Dilma, citando a referência feita por Paulo Roberto Costa ao ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra. — Porque, da última vez que um delator denunciou pessoas do seu partido, no caso do metrô e dos trens, o senhor disse que não ia confiar na palavra de delator.
Dilma, então, disse que sabe que “há indícios de desvio de dinheiro” na Petrobras, e que ela deveria ser cumprimentada porque disse que iria investigar assim que o Ministério Público e o Supremo Tribunal Federal (STF) divulgassem informações e punissem os que cometeram delitos. A petista voltou a lembrar casos de corrupção nos governos tucanos:
— No caso específico do seu governo (gestões tucanas), não podem responder onde estão os corruptos da pasta rosa, da compra de votos para a reeleição, do processo Sivam, dos trens e metrôs. Todos inteiramente soltos. Sou a favor da punição, doa a quem doer. E contra engavetamentos.
Ao comentar as declarações da petista, Aécio disse que teria havido “um recuo'” de Dilma em relação à declaração dada na véspera, de que houve desvios na estatal. Lembrou ainda que o delator citou o nome da senadora Gleisi Hoffman, ex-ministra chefe da Casa Civil, e seu marido, Paulo Bernardo, ministro das Comunicações. E defendeu a profissionalização da Petrobras.
— A senhora não acha mais que houve desvio, mas indícios de desvios — disse o tucano, voltando a perguntar se ela confiava no tesoureiro Vaccari, e a lembrar da presença dele no conselho de Itaipu. — Na Petrobras, onde ele (Vaccari) não tinha acesso formal, dois terços (da propina) eram para ele. E em Itaipu, onde ele tem um crachá, assina documentos? (A corrupção) Está acontecendo também em outras empresas? Governança foi o que faltou.
Aécio: comparação com 'ditaduras amigas'
Ao ouvir de Dilma que foi o governo petista que investigou, Aécio reagiu:
— As instituições é que investigam. Que triste é o país em que o presidente manda investigar. Isso pode funcionar em algumas ditaduras amigas do seu governo — disse Aécio.
Ao defender o Bolsa Família, Dilma se referiu aos projetos sociais da gestão Fernando Henrique como “o seu Bolsa Família”. E, ao comparar com o programa em sua gestão, chamou de “meu Bolsa Família”.
— Não faça isso com os brasileiros. O seu Bolsa Família? Não é seu — retrucou o tucano, citando o “terrorismo eleitoral’’ que a campanha adversária estaria fazendo ao afirmar que ele, caso eleito, acabaria com o programa— (O Bolsa Família) É do povo brasileiro. É uma marca perversa do PT achar que os programas sociais lhe pertencem — disse Aécio, que, ao falar do Mais Médicos, afirmou não querer “um programa para chamar de meu”.
A despeito da discussão em torno da Petrobras, o debate não se aproximou de questões pessoais. Mais suave, vestida de branco e batom roxo, Dilma foi a primeira a perguntar. Quis saber de Aécio se ele se comprometeria com a continuação do Simples, que beneficia os pequenos empreendedores. Na resposta, o tucano afirmou que a posição é “a mesma que tivemos quando criamos o imposto, no governo Fernando Henrique”.
— A minha preocupação, candidata, é que estamos tendo um decréscimo na geração desse emprego — disse Aécio.
Dilma afirmou que universalizou o Simples. O clima estava tão ameno que Aécio chegou a agradecer a qualidade da primeira pergunta feita por Dilma. Afirmou que não é preciso brigar pela paternidade dos projetos. Em seguida, disse que o crescimento do país será “praticamente nulo”, de 0,3%. A partir daí, os candidatos começaram a debater a veracidade dos dados que cada um apresentava.
— Não sei por que o senhor é tão pessimista em relação ao crescimento do país. É melhor rever suas contas. O senhor também está errando nas contas da Segurança. Gasto R$ 4,4 bilhões ao ano. O governo FH gastou R$ 1,2 bilhão ao ano.
Dilma voltou a associar a gestão tucana à privatização de bancos públicos:
—Escutei várias falas do seu candidato a ministro da Fazenda (Arminio Fraga) de que ele iria reduzir o papel dos bancos públicos, e no fim não sabia o que ia ficar. Acho lamentável esse terrorismo em relação aos bancos públicos — disse Dilma.
A gestão em Minas foi usada por Dilma para tentar atacar o tucano. Que reagiu, dizendo que concorria à Presidência. Dilma afirmou que, no Mapa da Violência, o Sudeste registrou queda de 37% nos homicídios — em MG houve um aumento de 52%.
Aos questionamentos sobre sua atuação como governador, Aécio afirmou que “gostaria de repetir no país o que fez em Minas”. Ao lembrar que o MP acionou o governo de Minas porque, na gestão de Aécio, ele não cumpriu o investimento mínimo constitucional em Saúde, Dilma leu o que disse ser uma frase de um conselheiro do Tribunal de Contas de Minas: “É duro engolir que vacina para cavalo seja contabilizada como despesa para Saúde”.
A atuação de Aécio Neves como presidente da Câmara também foi questionada por Dilma. Ela perguntou sobre projeto posto em pauta em 2001 que flexibilizava as leis trabalhistas e “significava perdas históricas para os trabalhadores”. Aécio respondeu lembrando que fora “deputado constituinte” e que sempre garantiu o direito dos trabalhadores. Ao reagir à pergunta sobre a inflação, que estaria fora do controle, Dilma afirmou que “vocês sempre gostaram de plantar inflação para colher juros”.
No terceiro bloco, Aécio se dirigiu aos nordestinos e acusou Dilma de ter deixado obras inacabadas no Nordeste, citando a transposição do Rio São Francisco e a Transnordestina. Segundo ele, os nordestinos não foram beneficiados com sequer “uma gota d’água da transposição”. Dilma respondeu que as obras estão andando e acusou o tucano de ter como obra-modelo de sua gestão em Minas Gerais um centro administrativo superfaturado.
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