• Entrevista Aloysio Nunes - Candidato a vice na chapa de Aécio Neves
- Zero Hora (RS)
Como o senhor avalia a campanha no segundo turno?
Participo da política há mais de 30 anos e nunca vi tamanha agressividade como essa do PT. Não apenas as mentiras, calúnias, difamações veiculadas na internet, aquela enxurrada de sujeira, mas também o que a Dilma faz na TV. Primeiro, foi a Marina. Antes, o Eduardo Campos e, agora, o Aécio. Nosso interesse é discutir o futuro. Mas ela não tem outra atitude a não ser colocar a faca entre os dentes nos debates. É uma coisa sórdida. Basta você frequentar as redes sociais para ver o quão criminosa é a campanha do PT.
O instituto da reeleição, aprovada no governo FH, tem sido debatido. O senhor é a favor?
Um sistema político é tanto mais democrático quanto mais amplas forem as opções oferecidas ao eleitor. Não vejo por que negar a ele o direito de reconduzir um governador, um prefeito, um presidente que ao seu juízo esteja tendo um bom desempenho. A reeleição não significa a vitória de quem está no cargo. Veja o que está acontecendo com o Tarso, que está no rumo de sofrer uma derrota acachapante. É o que vai acontecer com Dilma.
A reeleição não faz com que os políticos trabalhem pensando no próximo mandato?
Depende do político. Você pode fazer políticas populares, ou seja, que interessem, que promovam a maioria sem ser populista. Agora, este meu ponto de vista é absolutamente minoritário dentro do meu partido e creio que também dentro do Congresso. Hoje, existe ampla maioria pela revisão do instituto, e é essa a posição do Aécio Neves e também da Marina Silva.
O senhor definiu as ciclovias paulistas como um "delírio autoritário" do prefeito. O senhor é contra o uso de bicicletas como meio de transporte?
Sou plenamente a favor. O problema é que, quando as ciclovias são mal planejadas, podem aumentar, agravar o caos das cidades, provocando congestionamentos. As ciclovias são opção de transporte excelente, saudável, não poluidora, mas, se provocam congestionamento, agravam a poluição. Por isso, elas têm de ser bem planejadas. Não é o caso daquelas que são feitas na cidade de São Paulo.
Por que o senhor é favorável à descriminalização do aborto?
Não sou a favor do aborto. O aborto é um trauma. A mulher que é levada, por qualquer que seja a razão, a interromper a gravidez já passa por um sofrimento intenso. Além disso, submetê-la a uma pena de prisão é desumano. Temos de tratar isso de outra forma, prevenindo a gravidez na adolescência e dando às mulheres que não têm condições de criar os filhos políticas públicas adequadas.
Como o PSDB pretende construir maioria para governar?
O PT saiu diminuído da eleição. Os escândalos da Petrobras e outros, revelados depois do mensalão, abalaram o prestígio, diminuíram o voto de legenda e, em consequência, a bancada. Teremos um ponto de partida para a formação de maioria parlamentar que são os deputados e senadores eleitos pela nossa coligação. Agora, penso que o presidente da República, tendo um programa legislativo claro, coisa que o governo atual não tem, tendo uma pauta bem definida, de temas que sejam pertinentes à solução dos problemas do Brasil, pode formar maioria sem prostituir a política como o PT fez.
Caso o PSDB vença, o senhor teme a retomada de protestos de movimentos sociais?
Teremos diálogo com todos os movimentos sociais. Mas não é possível o que aconteceu recentemente em Brasília. Um badernaço organizado pelo MST, com tentativa de invasão do Palácio do Planalto e, no dia seguinte, os seus dirigentes são recebidos como chefes de Estado pela presidente. Isso é inadmissível. E vamos voltar à regra de que terra invadida não pode ser desapropriada. A lei que existe tem de ser respeitada.
Na ditadura, o senhor foi guerrilheiro. Qual sua relação hoje com o seu passado?
Não tenho arrependimento, apenas uma visão crítica da opção que fiz naquele momento, que me parecia o caminho mais eficaz para combater o regime. A revisão sobre a luta armada se deu ainda naquele período, no início dos anos 1970, diante do evidente fracasso desta tática e da percepção crítica em relação à própria ideologia que nos orientava. Porque, se éramos contra a ditadura, tínhamos também uma visão autoritária do que poderia ser a forma de Estado que sucederia a ditadura. Éramos muito próximos do pensamento autoritário de partidos como o comunista cubano. Quem venceu a ditadura foi o movimento de massas, a resistência dos intelectuais, dos artistas e dos sindicatos. O povo brasileiro, na sua maioria, jamais poderia optar pela forma de luta pela qual optamos. Representávamos uma elite com grau profundo de ilusão sobre a própria capacidade de transformar as coisas.
Como o senhor explica a sua mudança de espectro político ao longo das décadas?
Continuo sendo um homem de esquerda, um socialdemocrata, radicalmente democrático, defensor dos direitos humanos, das liberdades, das minorias. Acredito que não podemos nos conformar em viver em um país com tamanho grau de injustiça como o nosso.
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