- O Estado de S. Paulo
Credibilidade, nos dicionários, é a qualidade de quem ou do que é crível, em resumo, confiável. O Banco Central, no entender do mercado financeiro, para ser crível e, portanto, dispor de credibilidade, deve fazer aquilo que o mercado considera que deve ser feito. Historicamente, o que deve ser feito, segundo o mercado, para que o BC conquiste credibilidade, tem sido elevar as taxas de juros. Só que, agora, parece que não.
Acusado, nos últimos anos, de leniente com as manhas da inflação - e, em consequência, de ter perdido a “credibilidade" -, o BC aproveitou o embalo do clima de ajustes instalado no segundo governo da presidente Dilma Rousseff para mudar o rumo da política monetária e se dedicar a trazer a variação do IPCA para centro da meta o mais rápido possível. Tem promovido, assim, elevações fortes na taxa básica de juros, em linha com a sabedoria convencional do mercado.
Todas as indicações, inclusive as projeções do Boletim Focus, são de que o BC vai estender o mais longo ciclo de alta de juros desde a introdução, em 1999, do regime de metas de inflação, até pelo menos 30 meses, levando a taxa Selic a 14,5% ao ano antes de iniciar um período de redução gradual da taxa. Muitos continuam a insistir que esse seria o preço a pagar para recuperar a credibilidade perdida.
É possível detectar, porém, sinais de incômodo, mesmo entre analistas de bancos e consultores de mercado, com a nova estratégia do BC. Pode-se garantir que levantar dúvidas em relação à “obsessão” do BC com o centro da meta, neste momento, não é mais exercício de algum analista isolado. O conjunto de argumentos expostos no artigo de Luís Eduardo Assis, ex-diretor do BC e experiente gestor de fundos de investimentos, publicado nesta segunda-feira noEstado, resume o que se começa a comentar não tão mais à boca pequena (http://bit.ly/1Lct2V7). “A adoção de uma política estrita de meta de inflação que releva o fato de que a economia brasileira passa por um ajuste de preços represados conduz a um exercício de autoflagelação, ainda mais no contexto de uma política fiscal contracionista”, escreve Assis.
São conhecidos os riscos impostos pela atual política monetária contracionista à estabilidade da relação dívida/PIB, o indicador chave para assegurar a crucial classificação de “grau de investimento” para os títulos brasileiros pelas agências de rating, ao produzir expansão da dívida, de um lado, e contração do PIB, de outro. Conhecidos são também os efeitos negativos de um aperto exagerado nos juros, em ambiente fiscal contido, para o reequilíbrio das contas públicas, na medida em que reforça as tendências recessivas da economia e, em consequência, reduz as receitas públicas recorrentes.
Quando os fatores de contração fiscal e monetária se combinam em ambiente político instável e de fraco apoio a um governo de baixa popularidade, forma-se, como diz um dos mais respeitados economistas de bancos, uma “trindade impossível”. Em seus cálculos, para levar o IPCA ao centro em 2016, a taxa básica de juros deveria se elevar a 16% ao ano, acarretando uma retração da economia de 2% não só em 2015, mas também em 2016. A conclusão é a de que, para que o esforço de reequilíbrio da economia se faça com a maior eficiência possível ao menor custo idem, pelo menos um dos lados desse triângulo deve ceder.
A novidade é que, para crescente número de analistas de mercado, o lado escolhido para ceder deveria ser o monetário. O raciocínio que ganha espaço é o de que, dada a prioridade que deveria ser conferida ao ajuste fiscal - o que, no momento, significa redobrar esforços para reduzir ao mínimo a meta de superávit primário - e a impossibilidade de reverter em prazo curto a falta de apoio ao governo, moderar altas nos juros seria preferível a insistir na contração generalizada. Ainda que essa escolha adie por alguns meses a convergência da inflação para o centro da meta.
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