Fernando Taquari - Valor Econômico
SÃO PAULO - O PSDB beneficiou-se da crise política que atingiu o governo Dilma Rousseff e o PT e registrou o maior número de novas filiações partidárias em termos absolutos desde as eleições de 2014, conforme dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Entre outubro e abril - mês em que a Justiça Eleitoral realiza anualmente a atualização das informações - os tucanos filiaram 24,6 mil pessoas. Trata-se de um resultado significativo dada a superioridade em relação aos demais partidos com registro no TSE. O PSOL aparece em segundo colocado no ranking, com 13,5 mil filiações no mesmo período.
Para integrantes do PSDB, os números refletem a consolidação do partido como a melhor alternativa de poder ao PT. "Não fizemos nenhuma campanha de filiação desde a eleição de outubro. A única iniciativa neste sentido que tivemos foi de lançar uma plataforma na internet que reduziu a burocracia e tornou mais ágil o processo de filiação", diz o diretor de gestão do PSDB, João Almeida, que atribui o aumento da procura pelo partido à crescente insatisfação da população com o governo federal em meio a um cenário de indicadores negativos na economia e os casos de corrupção investigados na Operação Lava-Jato.
Em crise, os petistas filiaram apenas 675 pessoas desde a reeleição da presidente Dilma. Os números da Justiça Eleitoral, no entanto, divergem do cadastro do partido. O secretário de organização do PT, Florisvaldo Souza, explica que os dados do TSE estão desatualizados à medida que até abril o partido não havia concluído ainda o processo de filiação de uma série pessoas que manifestaram interesse em ingressar na sigla. "Costumamos adotar vários procedimentos antes de filiar uma pessoa, inclusive, oferecemos cursos preparatórios de iniciação política", afirma Souza ao destacar que até maio de 2015 são 16,6 mil novos filiados.
Levantamento do PSDB mostra que o partido continuou a crescer em filiações depois de abril. Segundo Almeida, de outubro de 2014 para julho de 2015 são 39 mil novos filiados, sendo a maioria em São Paulo (12 mil), Distrito Federal (10 mil), Minas Gerais (5,7 mil) e Rio de Janeiro (3,3 mil). O crescimento robusto, contudo, está restrito ao Sudeste, tradicional reduto eleitoral dos tucanos. Por isso o partido planeja uma campanha de filiação em agosto a partir do Nordeste. A ideia é aproveitar o momento de fragilidade do governo para avançar na região, que nas últimas eleições foi fundamental para garantir a hegemonia petista.
Apesar do crescimento, o PSDB continua a ser o quarto maior partido, com 1,3 milhão de filiados no total, atrás do PMDB (2,3 milhões), PT (1,5 milhão) e PP (1,4 milhão), de acordo com dados do TSE até abril.
O número de filiados ao PSDB, porém, poderia ser maior se o partido tivesse atendido às reivindicações do movimento Onda Azul. Estruturado no fim de 2014, em sua maioria por profissionais liberais entre 20 e 40 anos em 19 Estados, o grupo defendia uma filiação em massa em troca de uma espécie de refundação do partido, com a reformulação no Instituto Teotônio Vilela (ITV) e a instituição de prévias para a eleição de diretórios e na escolha de candidatos em disputas majoritárias. "Retiramos a proposta de filiação coletiva, pois não tivemos uma resposta às nossas sugestões", diz Humberto Laudares, economista e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV).
O movimento chegou a ser recebido pelas principais lideranças do PSDB, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, os senadores Aécio Neves (MG) e José Serra (SP) e o governador paulista, Geraldo Alckmin. Laudares também manifesta contrariedade com relação a postura adotado pelos tucanos na Câmara. Segundo o economista, os deputados do PSDB estão a reboque do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ao assumir uma agenda conservadora. "Ignoram o DNA do partido ao votar pelo fim da reeleição e do fator previdenciário e a favor da redução da maioridade penal. O que os governos do PSDB nos estados e municípios fazem de diferente para serem alternativa ao PT? O que sobrou de social-democracia nos políticos do PSDB", questiona Laudares.
Integrante do grupo, o cientista político e estudante de direito Miguel Nicácio argumenta que os tucanos não aproveitaram a convenção nacional, realizada há duas semanas, para debater uma agenda para país e se concentraram apenas na disputa interna entre Alckmin e Aécio e nas críticas ao governo Dilma. "Estão presos a polarização com o PT sem entender que as pessoas querem participar do debate sem ficarem restritas a projetos políticos pessoais. A renovação partidária no Brasil hoje se resume a contratação de marqueteiros", afirma.
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