segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Deputado afirma que resposta ‘ será inevitável’

• Aliados do presidente da Câmara acham que reação pode ser aprovar pedido de impeachment

Simone Iglesias, Maria Lima e Fernanda Krakovics - O Globo

- BRASÍLIA- As declarações da presidente Dilma Rousseff, ontem, em Estocolmo, devem dificultar a semana do governo no Congresso. Com a necessidade de ambos os lados ganharem tempo, a expectativa até o fim de semana era de que Cunha segurasse a análise do novo pedido de impeachment de Dilma que será apresentado amanhã pelos juristas Hélio Bicudo e Miguel Reali Júnior. Ontem à tarde, no entanto, o cenário mudou e o Palácio do Planalto corre o risco de ter desperdiçado o fôlego conquistado.

Segundo pessoas próximas a Cunha, ele ficou irritado com as declarações e não descartam que ele dê “um cavalo de pau”, deferindo a ação contra Dilma. Auxiliares presidenciais, por sua vez, buscam consertar o potencial estrago causado pela presidente a milhares de quilômetros de casa. Os governistas passaram a ver com pessimismo os próximos passos de Cunha:

— Será uma semana de alta adrenalina. Ela botou fogo no estopim da bomba da cassação. No governo, tem sido assim: apagar o incêndio criado por ele mesmo — disse um ministro que pediu reserva ao GLOBO.

Em conversas com aliados ontem à tarde, Cunha disse que não iria “colocar pilha” pelo áudio da entrevista de Dilma que ouviu, mas que deverá respondêla hoje quando chegar na Câmara, depois de avaliar os detalhes da fala da presidente pelas matérias publicadas na imprensa.

— Será inevitável responder — disse Cunha.

Risco de deferimento é alto
Interlocutores do presidente da Câmara dizem que ele não descarta deferir o impeachment, e que tratará da abertura de um eventual processo como algo absolutamente natural, já que é esperada a apresentação de um documento com substância jurídica.

— Não tenha dúvida de que o risco de Eduardo deferir o pedido de Bicudo depois de ser atacado por Dilma é alto. Ele pode ampliar a crise para que seu desgaste seja diluído. Teremos fortes emoções aí pela frente. A situação dele é insustentável, e nós não vamos segurar. Vai perder a presidência da Câmara ou o mandato, ou os dois, dependendo da evolução do quadro. Ele iniciou um namoro com a oposição, que estava interessada em aprovar o pedido de impeachment. Depois, migrou para o governo. Foi abandonado e agora não tem mais conversa com a gente — disse um dos líderes da oposição que ainda mantém diálogo com o presidente da Câmara.

Um dos mais próximos interlocutores de Cunha, o líder do PSC, deputado André Moura ( SE), disse que o presidente da Câmara já sabe exatamente o que fazer quanto ao andamento do impeachment.

— Não vou dizer que ele está tranquilo porque a situação é muito delicada. Mas se mostra consciente de tudo e está sabendo exatamente os próximos passos que irá tomar — disse Moura, que vai se reunir com o presidente da Câmara hoje, em Brasília.

Apesar da avaliação de aliados de que sua situação é frágil porque o processo pode ser contaminado por falta de credibilidade, um peemedebista afirmou ontem que o estilo de Cunha é de se manter em posição de ataque quando ameaçado.

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