• Presidente nega que contas secretas do deputado na Suíça constranjam país
- O Globo
BRASÍLIA - Após delator acusar o líder do governo no Senado, Delcídio Amaral, já são 62 os políticos investigados. Sobre Eduardo Cunha, a presidente Dilma lamentou, ontem, que “seja um brasileiro” envolvido com contas secretas na Suíça. - BRASÍLIA- Em viagem oficial à Suécia, a presidente Dilma Rousseff lamentou, ontem, diante da repercussão internacional, que o escândalo das contas secretas na Suíça mantidas pelo presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha ( PMDBRJ), envolva um brasileiro. O peemedebista nega ser o titular das contas, apesar de documentos repassados ao Brasil pelo Ministério Público da Suíça mostrarem que Cunha usou passaporte diplomático, endereço residencial no Rio e telefones da Câmara e do Palácio do Planalto para abrir as contas naquele país.
Questionada em entrevista coletiva se causava constrangimento a repercussão internacional do caso Eduardo Cunha, a presidente respondeu:
— Seria estranho que causasse. Ele não integra o meu governo. Eu lamento que seja um brasileiro, se é isso que você está perguntando. Eu acho que se distingue perfeitamente, no mundo, o país de qualquer um de seus integrantes. Nenhum país pode ser julgado por isso ou aquilo. Eu lamento que aconteça com um brasileiro, com um cidadão brasileiro.
Dilma negou que o governo tenha negociado um acordo com o presidente da Câmara para evitar a abertura de um processo de impeachment, em troca da preservação do mandato de Cunha. O PSOL e a Rede protocolaram representação contra ele no Conselho de Ética da Casa.
— Eu acho fantástico essa conversa de que o governo está fazendo acordo com quem quer que seja. Até porque o acordo do Eduardo Cunha não era com o governo, era com a oposição, e é público e notório. Até na nota aparece ( nota em que a oposição defende o afastamento de Cunha do cargo). Acho estranho atribuírem ao governo qualquer tipo de acordo que não seja acordo que se faz com presidente de Poder para passar CPMF, DRU, MPs — afirmou a presidente, referindo-se à pauta legislativa.
Dilma não quis opinar sobre a permanência ou não de Cunha na presidência da Câmara nem sobre as liminares concedidas pelo Supremo Tribunal Federal ( STF), na semana passada, suspendendo o rito estabelecido pelo peemedebista para a tramitação de pedidos de impeachment. Ela alegou serem assuntos do Legislativo e do Judiciário.
Tentativa de blindagem
Em conversa na segunda- feira passada, o presidente da Câmara pediu ao ministro Jaques Wagner ( Casa Civil) que o governo interferisse nas investigações contra ele, sua mulher e sua filha na operação Lava- Jato; no andamento de processo contra ele no Conselho de Ética da Câmara, e ainda na substituição do ministro José Eduardo Cardozo ( Justiça) pelo vice- presidente Michel Temer. Essas foram as condições colocadas para não deflagrar um processo de impeachment, de acordo com relato de Wagner a aliados. Tanto o ministro da Casa Civil quanto Cunha negam ter havido essa negociação.
O governo alegou não ter como entregar o que Cunha pedia, principalmente o controle das investigações do esquema de corrupção na Petrobras. A presidente Dilma também resiste em rifar Cardozo, o que já foi pedido pelo ex- presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que acusa o ministro de ter perdido o controle da Polícia Federal.
Cunha estava especialmente preocupado em tentar blindar sua mulher e sua filha. Documentos enviados pela Suíça e que estão em poder da Procuradoria- Geral da República revelaram que as contas do presidente da Câmara naquele país foram abastecidas com dinheiro desviado da Petrobras e financiaram gastos pessoais de sua família no exterior.
Após a conversa entre Cunha e Wagner, a situação do presidente da Câmara se agravou. A pedido do procurador- geral da República, Rodrigo Janot, o ministro Teori Zavascki, do STF, autorizou, na última quinta- feira, a abertura de novo inquérito para investigar se Cunha, a mulher dele, Cláudia Cruz, e a filha do casal, Danielle Dytz da Cunha Doctorovich, têm dinheiro em contas na Suíça não declaradas.
Janot também enviou ao tribunal uma ampliação da denúncia já apresentada contra o presidente da Câmara em agosto. O pedido tem como base a delação premiada do lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano. Em um dos depoimentos da delação, Baiano disse que entregou entre R$ 1 milhão e R$ 1,5 milhão em espécie ao presidente da Câmara, como informou o “Jornal Nacional”, da Rede Globo.
O dinheiro repassado a Cunha seria parte de propina de US$ 40 milhões que Julio Camargo, outro delator, confessou ter pagado ao parlamentar e a outros investigados em troca da compra de dois navios- sonda da Samsung Heavy Industries pela Petrobras. Baiano disse que entregou o dinheiro no escritório de Cunha, em outubro de 2011, a um homem identificado como Altair.
Cunha já responde a outro inquérito no STF em decorrência da Lava- Jato. Ele foi denunciado pelo procurador- geral da República por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O presidente da Câmara nega todas as acusações.
Depois de já dar como certa a deflagração de um processo de impeachment, o governo ganhou fôlego na última terça- feira quando o STF concedeu as liminares suspendendo o rito estabelecido por Cunha, o que freou as articulações para tentar derrubar Dilma. Tanto o governo quanto Cunha querem tempo. O Planalto para tentar reconstruir sua base aliada e garantir os votos necessários se o processo de impeachment for aberto. E o presidente da Câmara porque, a partir do momento em que tomar uma decisão sobre esse assunto, deve ser abandonado pela oposição.
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