- O Estado de S. Paulo
Inflação acelerando, dólar subindo 50% em nove meses, taxa de desemprego acima de 7%, PIB encolhendo, mau humor crescente, maioria achando o governo ruim ou péssimo e o "Fora presidente" na rua. É assim em 2015, foi assim em 1999. A descrição da economia vale para o primeiro ano do segundo mandato tanto de Dilma Rousseff (PT) quanto de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). A diferença, fundamental, está na opinião pública e no apoio político que cada um conseguiu reter.
Embora os petistas tentassem emplacar o "Fora FHC", o então presidente não correu um risco de impeachment tão grave quanto Dilma ainda corre. Sua base de sustentação no Congresso era bem menos movediça do que a atual. Vai ver é porque o ex-presidente era mais sedutor. Bom chiste, má resposta. A pulverização partidária tornou a governabilidade mais cara ao longo dos anos, e o pessimismo é muito mais profundo e generalizado hoje em dia. O pavio do público encurtou.
Seja pelo acúmulo de casos de corrupção, seja porque a ascensão social via consumo mostrou-se limitada e insatisfatória, seja porque as redes tipo Facebook viralizam ideias e críticas instantaneamente, fato é que atinge-se o grau de saturação social com muito mais rapidez. O câmbio de humor é repentino, como foi na avalanche de protestos de junho de 2013. A reação da população a problemas econômicos de intensidade semelhante é muito mais impaciente e virulenta do que era há 16 anos.
A demonstrar isso, um estudo comparativo do Ibope Inteligência mostra os sinais reais da economia e como a população reagiu a eles em três momentos-chave e equivalentes da transição do primeiro para o segundo governos de FHC e de Dilma: dezembro de 1998 e 2014, março de 1999 e 2015 e setembro de 1999 e 2015.
No dezembro do ano em que se reelegeram, tanto Dilma quanto FHC amargaram uma contração de 0,2% do PIB. Essa taxa chegou em março seguinte a -2,0% para a petista e a -2,6% para o tucano. Mais um semestre, e desceram a -2,5% e -3,3%, respectivamente.
Ao mesmo tempo, a taxa de ruim e péssimo de ambos os governos cresceu muito rapidamente, superando as avaliações positivas. Para FHC, de 15%, em dezembro de 1998, para 41% em março de 1999, e 51% em setembro. No caso de Dilma, ela já partiu de um patamar negativo mais alto, mas o crescimento foi equivalente: de 27% (dezembro) para 64% (março), para 69% (setembro). A retração da economia foi menor, mas a da popularidade, maior.
No mesmo período, a inflação sob o tucano dobrou duas vezes, de 1,7% para 3% e para 6,3%. Sob a petista, partiu novamente de um patamar bem mais alto, mas cresceu proporcionalmente menos: de 6,4% para 8,1% e, meses depois, para 9,5%. Porém, o pessimismo é maior hoje: os que acham que a inflação vai aumentar cresceram de 72% para 76%. Sob FHC, atingiram 62%, mas caíram para 51%.
Com o desemprego, foi o oposto: a taxa oficial cresceu mais devagar no governo FHC. De 6,3% para 8,2%, e então refluiu para 7,4%. Com Dilma, pulou de 4,3% para 6,2% e, agora, chegou a 7,6%. Na cabeça da população, os movimentos foram distintos também: o medo de aumento do desemprego cresceu de 68% para 73% sob FHC, mas depois caiu para 62%. Com Dilma, saiu de patamar mais baixo, 55%, mas não parou de subir: 67% e, agora, 70%. Tudo isso pode ser resumido na percepção do público sobre a própria renda. Enquanto sob FHC quem apostava que ia ter menos dinheiro oscilou de 22% para 26% e caiu a 19%, sob Dilma a taxa de quem tem medo de ficar mais pobre disparou de 15% para 39%.
A crise de 2015 se equivale à de 1999 no papel. Mas, na cabeça dos brasileiros, é mais grave (51%) e difícil de superar (71%). Provoca, assim, mais instabilidade para Dilma do que causou a FHC. Essa volatilidade deve assombrar futuros presidentes - ao menos enquanto o preço da governabilidade subir como o dólar.
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