quarta-feira, 8 de março de 2017

'Se for me preocupar, não faço mais nada', diz Temer sobre lista de Janot

Marina Dias, Fabio Victor | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Cercado por políticos e auxiliares, o presidente Michel Temer chegou sorridente ao Piantella, um dos mais tradicionais restaurantes de Brasília, na noite desta terça-feira (7).

À Folha disse não se preocupar com a lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que deve pedir, nos próximos dias, a abertura de inquérito para investigar ministros e aliados de seu governo.

"Se eu for me preocupar com isso, não faço mais nada. Não estou preocupado. Cada Poder cuida de uma coisa", afirmou o presidente.

Exatos 24 minutos e apenas um copo de água depois, Temer já estava postado do lado de fora do Piantella, na Asa Sul da capital federal, à espera do comboio que o levaria de volta ao Palácio do Jaburu. Ali, disse a jornalistas que também não perdia o sono com o julgamento da ação no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que pode resultar na cassação de seu mandato.

"Espero que seja julgada", limitou-se a dizer. Questionado se preferia que o processo que apura o suposto abuso de poder econômico da chapa presidencial composta por ele e Dilma Rousseff em 2014, continuou lacônico. "Para mim tanto faz."

Sobre o ministro relator do processo no tribunal, Herman Benjamin, Temer afirmou que o magistrado está "cumprindo o papel dele". O peemedebista evitou tecer qualquer comentário sobre a maneira que o ministro tem conduzido o caso.

"Meu objetivo é levantar o país. A economia está indo numa onda excepcional, crescendo substancialmente. Meu único objetivo é colocar o país nos trilhos", afirmou o presidente, ressaltando que as coisas estão "melhores do que esperava".

Segundo Temer, "problema sempre houve e sempre haverá". "O que você quer que a oposição faça? Me aplauda?", disse a jornalistas quando questionado sobre o papel dos partidos contrários a seu governo, que creditam a ele a queda de 3,6% do PIB (Produto Interno Bruno) no ano passado.

Dentro do Piantella, porém, onde o jornalista e blogueiro do "O Globo", Ricardo Noblat, comemorou 50 anos de profissão, o presidente não adotou o tom combativo e chegou a brincar com o deputado do PSOL, Chico Alencar (RJ), que estava sentado em uma das mesas.

Quando outro parlamentar disse que Temer ficaria "40 anos no poder", o presidente respondeu que "se for com o aplauso de Chico, tudo bem".

Ouviu do deputado de oposição, descontraído, que "a esquerda gosta de um certo continuísmo". Todos riram.

PADILHA
Questionado sobre a situação do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, licenciado por problemas de saúde e cujo retorno passou a ser motivo de incerteza por causa da Lava Jato, Temer afirmou: "Ele está em convalescença, mas em uma ou duas semanas, estará de volta".

O presidente ressaltou que tem andado pessoalmente nas articulações com o Congresso para a aprovação das reformas que seu governo propôs, como a trabalhista e a previdenciária. "Sempre fiz isso".

O presidente disse que conhece Noblat há 30 anos, desde que chegou a Brasília.

Além de do jornalista, o anfitrião da noite foi o empresário Omar Peres, conhecido como Catito, dono do Piantella.

Mineiro radicado no Rio, conhecido por administrar pontos tradicionais da noite carioca, como o restaurante La Fiorentina e o Bar Lagoa, Catito adquiriu o Piantella do advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, conhecido como Kakay, personagem onipresente na cena brasiliense e que também estava no jantar –o único de camiseta entre os engravatadas presentes, uma de suas marcas.

O evento em homenagem ao jornalista reuniu ministros de Temer, como Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência), Mendonça Filho (Educação), Raul Jungmann (Defesa), Roberto Freire (Cultura), do STF, como Gilmar Mendes, Marco Aurélio Mello e Luís Roberto Barroso, além de parlamentares de todos os matizes, como o senador José Serra (PSDB-SP) e o deputado peemedebista Fábio Ramalho (MG) –representante do baixo clero que anunciou que rompera com Temer mas aproveitou a ocasião para fazer as pazes.

"É impossível brigar com ele", disse Temer ao abraçar o deputado e convidá-lo para uma conversa ainda nesta semana.

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