O Estado de S. Paulo
Eventos inesperados ou riscos negligenciados já custaram trilhões de dólares à economia
Provavelmente você já deve ter ouvido falar dos chamados cisnes negros – eventos raros e altamente impactantes, particularmente no mercado financeiro, e que têm abalado o mundo com frequência preocupante. Mas esses não são os únicos tipos de eventos que nos trazem tantas dores de cabeça. Usando da criatividade, o mercado tem trazido à tona um verdadeiro zoológico para denominar e segregar os diferentes riscos a que estamos sujeitos.
Eventos inesperados ou riscos negligenciados
custaram à economia global trilhões de dólares nos últimos anos. Não faltam
alertas dos especialistas, que avisam que os prejuízos podem aumentar ainda
mais se a antecipação desses riscos continuar sendo ignorada. Um exemplo
marcante de cisne negro foi a pandemia de covid-19 que, segundo dados do FMI,
causou retração global de 3,5% no PIB mundial em 2020, acumulando perdas
econômicas superiores a US$ 11 trilhões. Outro exemplo clássico, a crise
financeira global de 2008 levou a economia mundial a encolher entre 4% e 6%.
Por outro lado, o mercado chama de
rinocerontes cinzentos aqueles eventos altamente previsíveis, mas
sistematicamente negligenciados, e que também causam danos enormes.
Um caso evidente é a crise climática: de
acordo com um relatório de 2023 do Swiss Re Institute, a inação em relação às
mudanças climáticas poderá custar até 18% do PIB mundial até 2050. Outra ameaça
pouco enfrentada é o endividamento global, que já ultrapassou US$ 300 trilhões
em 2024, representando cerca de 350% do PIB mundial, conforme levantamento da
OCDE.
Há ainda os dragões negros, que denominam os
riscos conhecidos, mas tão catastróficos que são frequentemente suprimidos ou
ignorados pela sociedade. São ameaças como guerras nucleares, colapsos
financeiros sistêmicos ou mudanças climáticas irreversíveis. Diferentemente dos
cisnes e rinocerontes, os dragões negros representam perigos que todos
reconhecem, mas preferem não enfrentar pela magnitude devastadora que carregam.
Exemplo evidente é a guerra entre Rússia e Ucrânia, que já acumulou perdas
globais superiores a US$ 1 trilhão desde seu início em 2022, segundo
estimativas recentes do FMI.
O nosso rinoceronte cinza, em 2024, foi a
dívida pública federal, que cresceu 12,2%, alcançando R$ 7,31 trilhões, ou
76,1% do PIB nacional. Em um mundo cada vez mais instável, ignorar os sinais
não é apenas negligência: é abrir mão do futuro. A coragem de antecipar o
inesperado, construir resiliência e investir em inovação será o verdadeiro
diferencial dos vencedores. Na encíclica Laudato Si, o papa Francisco escreveu:
“Sabemos que estamos destruindo nosso próprio futuro, mas escolhemos a
conveniência do presente”.
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