Correio Braziliense
Há uma explicação para a preferência pela
cidade norte-americana. Ali, estão sediados os grandes bancos capazes de
financiar os megalômanos projetos idealizados por alguns políticos
O exercício da política no Brasil possui características muito especiais. Nos últimos tempos, deputados, senadores, governadores e ministros de Estado têm procurado desenvolver debates e eventuais conchavos no exterior. Já foram realizados vários congressos em Lisboa, inúmeros em Londres, mas é em NovaYork que ocorre o maior número de encontros políticos brasileiros. A todo momento, figuras de destaque no Brasil se reúnem na cidade norte-americana para trocar ideias diante de repórteres convidados para ouvir ideias e presenciais negociações.
Há uma explicação para a preferência pela
cidade norte-americana. Ali, estão sediados os grandes bancos capazes de
financiar os megalômanos projetos idealizados por alguns políticos. São eles,
também, que se encarregam de escorregar um agrado para este ou aquele nome em
posição de solucionar problemas no país. E também é a sede das empresas de
análise de risco, que indicam aos financiadores os países em que se pode
confiar. Ou seja, aquele em que o dinheiro vai e vem com relativa facilidade.
Essas agências costumam errar muito, sobretudo quando está em foco alguma
empresa norte-americana, mas isso é outra história.
O avassalador avanço do PSD sobre os
destroços do PSDB e outras siglas menores está sendo percebido pelos estudiosos
de Brasil no país do norte. Lá, estão sendo fechados os primeiros acordos para
a eleição presidencial de 2026 que terá um forte candidato da direita não
truculenta. Há vários governadores capazes de expor obras significativas
durante seus mandatos em alguns estados brasileiros. Todos eles vão disputar a
vaga até o momento em que terão que fazer acordo. Como acontece nestes momentos
cruciais para a política nacional, os especialistas norte-americanos terão o
privilégio de conhecer o resultado antes dos brasileiros. Nenhuma novidade,
sempre foi assim.
Outro polo da política brasileira foi
estabelecido em Pequim. Lá, por estranho que pareça, foi realizado o encontro
dos países membros da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos
(Celac). O encontro dos dirigentes, que vivem sob a guante dos Estados Unidos
(Washington considera a América Central seu quintal) foi realizado na China,
com a presença do líder máximo chinês, Xi Jinping. Este é um exemplo claríssimo
de que o mundo das relações internacionais mudou muito.
Mas, ao lado dessa reunião, o presidente Lula
assinou acordos em diversas áreas com o supremo governante do país asiático. A
China, que era o principal parceiro econômico do Brasil, agora se transforma
numa superpotência que desembarca no maior país da América do Sul. No terreno
das empresas privadas, apareceu uma mala cheia de promessas. Foram assinados 36
atos de cooperação intergovernamental. Os anúncios de negócios entre empresas
alcançaram a cifra de R$ 27 bilhões. Entre eles, a chegada ao Brasil de uma
nova marca de serviços de entrega (delivery), a Keeta, investimentos em uma
fábrica de trens em São Paulo, uma nova montadora de veículos, a GAC Motor, em
Goiás, e R$ 5 bilhões para produção de SAF (combustível sustentável de aviação)
no Rio. Sistemas de armazenamento de energia, uma plataforma de vacinas,
produção de insulina e equipamentos médicos de imagem. Ainda surgiu a história
de que a primeira dama Janja teria se dirigido ao presidente chinês para pedir
a regulação do Tik Tok. Tremenda gafe diplomática.
Mas o presidente passou por cima do episódio
e disse que "nossa relação não é uma coisa trivial, é muito estratégica. A
gente quer tudo que eles possam compartilhar conosco", definiu o petista.
"Não temos medo de retaliação. Espero que o Trump compreenda bastante bem
a relação de 200 anos entre Brasil e EUA. Quando quero melhorar minha relação
com a China, não quero piorar com ninguém." Nem tudo saiu conforme
esperado. O projeto da ferrovia bioceânica, que pretende ligar a ferrovia norte-sul
ao porto de Chancay, no Peru, continua a ser apenas uma ideia. É possível que
novos anúncios de parceria Brasil-China sejam anunciados em julho, quando será
realizada a Cúpula do Brics, no Rio de Janeiro. Alguma decisão de interesse dos
brasileiros poderá, afinal, ser anunciada no Brasil.
Além do passeio dos presidenciáveis por
várias cidades no exterior, dentro do país o noticiário frequenta as páginas
policiais. Ninguém consegue ocultar o tremendo escândalo da corrupção abissal
ocorrida no INSS. O esquema criminoso começou por volta de 2019, aumentou e se
aperfeiçoou ano a ano. Chegou aos bilhões em benefícios para sindicatos de
diversos calibres. O ex-presidente da instituição chegou a dizer que não havia
qualquer indício de fraude. Ridículo, trágico e criminoso. Este será, sem
dúvida, um bom assunto na campanha eleitoral de 2026.
Nenhum comentário:
Postar um comentário