O Globo
A tecnologia americana é fundamental para o Brasil. Diversos sistemas estratégicos como radares, comunicação criptografada, aviões de caça, embarcações e até munições dependem do suporte técnico dos Estados Unidos.
A crise desencadeada pela batalha tarifária
iniciada pelo presidente Donald Trump contra o mundo — atingindo o Brasil com
intensidade política que até agora só teve igual com a ameaça à Rússia para
terminar a guerra contra a Ucrânia — está reverberando no meio militar. Há o
temor de que as sanções venham a atingir os projetos militares em andamento,
que, em grande parte, são dependentes de tecnologia e equipamentos americanos.
Além disso, há quem veja as sanções pessoais aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) como uma possibilidade de envolver os próprios ministros militares, e o ministro da Defesa, José Mucio, nomeados por Lula. Ao mesmo tempo, ainda há resquícios de bolsonarismo nas Forças Armadas, que atribuem à inclinação à esquerda da nossa política externa, especialmente à aproximação com a China, o gatilho para a dose política da atitude de Trump.
O que consideram desafio do Brics aos Estados
Unidos seria a razão oculta para que os americanos usassem o boicote aos
programas militares brasileiros como resposta ao posicionamento do grupo. A
ameaça de retaliação cruzada sobre os integrantes do Brics que continuem
negociando com a Rússia é um exemplo do que temem os militares, que pedem ações
diplomáticas menos ideológicas e mais pragmáticas, como o histórico do
Itamaraty sugere.
O site DefesaNet, que reverbera o pensamento
militar na área de defesa, vem publicando diversos artigos em que alerta sobre
os perigos de um colapso logístico e operacional em todo o sistema de defesa
nacional, atingindo Exército, Marinha e Força Aérea, se uma sanção americana
for estendida aos acordos militares. A pressão para que o governo Lula use mais
o Itamaraty nas negociações, e menos os arroubos retóricos dos pronunciamentos
políticos, tem aumentado, com receio de que não haja tempo para reverter as
tarifas punitivas já anunciadas.
A tecnologia americana é fundamental para o
Brasil. Diversos sistemas estratégicos como radares, comunicação criptografada,
aviões de caça, embarcações e até munições dependem do suporte técnico dos
Estados Unidos. Sem isso, muitos desses equipamentos simplesmente deixam de
funcionar. O país ficaria “cego”, na definição militar, sem o pleno
funcionamento dessas tecnologias de comunicação. Em meio aos perigos de sanções
mais fortes, os militares reforçam as reclamações sobre a obsolescência dos
equipamentos.
A Força Aérea Brasileira (FAB) utiliza aviões
F-5 com tempo de uso estendido, e seus estoques de munição estariam em níveis
muito baixos. O Exército segue usando blindados Leopard 1A5, veículos que já
deveriam ter sido aposentados, mas continuam em uso porque novos blindados
ainda não chegaram. Na Marinha, o cenário é igualmente preocupante: o projeto
das fragatas Tamandaré ainda não foi concluído, e muitos navios de combate não
estão operacionais. Há, inclusive, relatos de escassez de munição para os armamentos
já em uso.
Se os Estados Unidos aplicarem sanções mais
duras ou suspenderem o suporte técnico e o envio de peças, todo o sistema de
defesa nacional corre o risco de ser paralisado, advertem os especialistas
militares no site DefesaNet, pois um rompimento com os americanos poderá gerar
um colapso logístico e operacional. Na análise dos militares, o confronto
permanente entre o Judiciário, o Legislativo e o Executivo favorece uma
escalada que só enfraquece a reação do governo brasileiro contra as tarifas
impostas como punição ao Brasil e pode, em última instância, acabar
prejudicando a economia do próprio país. A negociação diplomática seria a
melhor maneira de enfrentar essa crise que, de todo modo, não é apenas do
Brasil, mas do mundo. As questões políticas deveriam ser deixadas de lado, para
negociar as sanções econômicas.
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