quinta-feira, 24 de julho de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Liberação de gasto expõe incúria fiscal do governo

O Globo

Decisão de descongelar R$ 20,7 bilhões ignora trajetória alarmante do endividamento público

A decisão do governo de liberar o gasto de R$ 20,7 bilhões que estavam congelados é uma chance perdida — mais uma — de buscar o equilíbrio das contas públicas. Com a medida, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comprova não dar a devida atenção à gravidade da situação fiscal.

De normal, o endividamento brasileiro nada tem. Mantido o rumo atual, a dívida bruta deverá crescer 10 pontos percentuais no atual mandato e chegar, pelos cálculos oficiais, a 82% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2026, bem acima da média dos países emergentes (65%). Preocupado em se reeleger, o presidente prioriza o curto prazo, com mais dinheiro sendo usado para manter a economia aquecida. Mas não é tão difícil entender por que tal situação é insustentável e desastrosa. Uma hora a conta do endividamento descontrolado chega, com investimentos inibidos e queda na criação de postos de trabalho de qualidade.

Receio militar - Merval Pereira

O Globo

A tecnologia americana é fundamental para o Brasil. Diversos sistemas estratégicos como radares, comunicação criptografada, aviões de caça, embarcações e até munições dependem do suporte técnico dos Estados Unidos.

A crise desencadeada pela batalha tarifária iniciada pelo presidente Donald Trump contra o mundo — atingindo o Brasil com intensidade política que até agora só teve igual com a ameaça à Rússia para terminar a guerra contra a Ucrânia — está reverberando no meio militar. Há o temor de que as sanções venham a atingir os projetos militares em andamento, que, em grande parte, são dependentes de tecnologia e equipamentos americanos.

Além disso, há quem veja as sanções pessoais aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) como uma possibilidade de envolver os próprios ministros militares, e o ministro da Defesa, José Mucio, nomeados por Lula. Ao mesmo tempo, ainda há resquícios de bolsonarismo nas Forças Armadas, que atribuem à inclinação à esquerda da nossa política externa, especialmente à aproximação com a China, o gatilho para a dose política da atitude de Trump.

O Supremo e a armadilha de Trump - Malu Gaspar

O Globo

Quando Eduardo Bolsonaro (PL-SP) começou a bradar por sanções financeiras dos Estados Unidos contra Alexandre de Moraes e os integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF), os ministros reagiram com ironia. “Qualquer coisa, é só ir para Nova York. Só que a do Maranhão”, disse Flávio Dino.

Naquele momento, as falas do filho Zero Três de Jair Bolsonaro pareciam bravatas megalômanas. Vieram o tarifaço de Donald Trump, a colocação da tornozeleira no ex-presidente e a revogação dos vistos de Moraes, de outros sete ministros do Supremo e do procurador-geral da República, Paulo Gonet, e a atitude dos magistrados continuou a mesma.

“Sempre teremos Paris”, disse um deles. “O Mickey precisará superar a minha ausência”, caçoou outro.

O tom de “não estou nem aí” só começou a mudar nos últimos dias, depois que Moraes proibiu Bolsonaro de dar entrevistas e esteve perto de mandar prender o ex-presidente por suas falas de protesto ao exibir a tornozeleira eletrônica no Congresso Nacional.

O veto total ou a bagunça ambiental - Míriam Leitão

O Globo

Quem entende do assunto recomenda o veto total do PL do licenciamento. O parcial levaria a uma legislação cheia de buracos e lacunas

No dia 8 de agosto termina o prazo para o presidente Lula decidir o que fazer com o PL que desmonta o licenciamento ambiental no país. Tasso Azevedo, fundador do Serviço Florestal Brasileiro e coordenador do MapBiomas, diz que não dá para vetar parcialmente, ele tem que ser integralmente vetado. “O veto parcial deixará buracos, lacunas”, diz. O veto total poderá ser derrubado pelo Congresso. Nesse caso, tudo terminaria na Justiça, porque o projeto é inconstitucional e conflita com decisões anteriores do Judiciário.

O PL do Licenciamento é mais conhecido como PL da Devastação. E é o nome próprio. Afinal, ele contém tantos absurdos que se entrar em vigor será o desmonte de toda a proteção ambiental que o Brasil construiu por décadas. Uma solução no meio do caminho, o veto parcial, levaria a mais confusão. Como o PL substitui legislação anterior, um veto em alguns pontos produziria uma colcha de retalhos, inconsistente e contraditória.

Brasil aposta no multilateralismo contra as “tarifas arbitrárias”de Trump - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Soberania não é moeda de troca. Proteger a democracia brasileira passa por desarmar, com diplomacia e articulação internacional, as bombas-relógio lançadas por Trump

Menos alegoria de mão e mais samba no pé. É isso que o Brasil precisa fazer para enfrentar a crise diplomática e comercial com os Estados Unidos. O Ministério das Relações Exteriores (MRE), sob o comando do chanceler Mauro Vieira, acerta ao apostar no multilateralismo como linha de resistência às tarifas arbitrárias impostas por Donald Trump. Não será suficiente para conter a pressão de Washington e proteger a soberania nacional, mas é importante externamente, porque mobiliza uma ampla coalizão de países prejudicados pelo tarifaço. E internamente, porque em torno de uma saída diplomática, em vez da escalada do confronto, há amplo consenso político nacional.

Às vésperas do embargo, Alckmin baixa o volume - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Vice-presidente dá entrada em vigor das tarifas como inevitável e vê concessões pontuais dos EUA num embate que ainda pode escalar

Dependendo do interlocutor, o vice-presidente não faz rodeios. É de embargo que se trata. É assim que Geraldo Alckmin se refere ao tarifaço. Contando apenas as audiências oficiais, foram 16 encontros com representantes de vários setores. Somados aos dos fins de semana, todos em Brasília, o número dobra. Ninguém sai de lá indiferente ao clima de constrita preocupação que prevalece naquele gabinete. Pudera. Cada um que lá entra apresenta uma fatura maior de demissões e prejuízos.

A uma semana do prazo estipulado, o principal negociador brasileiro trabalha com a perspectiva de que o tarifaço anunciado entrará em vigor. No limite, Donald Trump pode flexibilizar para um ou outro setor, que faça valer seu poder de barganha, mas a tarifa básica de 50% será, sim, aplicada.

Eu posso, eu prendo e arrebento - José Serra

O Estado de S. Paulo

O mundo mudou e Trump vai decretando um fim melancólico da posição americana como centro hegemônico da economia mundial

Temos de admitir que Donald Trump tem uma capacidade de mobilização sem par na história recente. Infelizmente, seus atos colocam em movimento uma dinâmica econômica e social perversa para o mundo, para o Brasil e para os Estados Unidos da América.

Os últimos dias, no entanto, mostraram que ele consegue sempre fazer mais. O tarifaço que está na boca do povo logrou o inimaginável: resgatou o governo Lula de suas piores avaliações, colocou o governador Tarcísio no fio da navalha e transformou o autoproclamado maior patriota em traidor da Pátria. Isso para não lembrar a opera buffa da tentativa de recuperar o passaporte para o ex-presidente ir falar com Trump.

Ignorando por um momento os episódios mais surrealistas, quero me concentrar na impressionante eficácia com que o governo Trump tem desmantelado pilares do mundo civilizado – um mundo que, até pouco tempo, eu considerava bem mais robusto do que agora aparenta ser. Ironias do sistema: ninguém esperava que o agente corrosivo do capitalismo emergisse justamente de suas entranhas. Três aspectos, em particular, simbolizam com clareza essa derrocada.

O ‘fascio’ do Tio Sam - Eugênio Bucci

O Estado de S. Paulo

Não, isso não é democracia. Isso é convulsão institucional prestes a se assumir como ditadura escancarada

Agora, quem usa a palavra “fascismo” para se referir ao governo de Donald Trump é Robert B. Reich, um intelectual sem nenhum histórico de surtos esquerdistas. Longe disso, Reich tem uma trajetória de ponderada coerência. Advogado, foi secretário do Trabalho (cargo equivalente ao de ministro no Brasil) durante o governo de Bill Clinton, de 1993 a 1997. Era cordial e atencioso no trato com jornalistas – brasileiros, inclusive. Reich foi também professor de Políticas Públicas em Berkeley. Hoje, aposentado, segue em destaque como autor de livros, alguns deles best-sellers e como articulista frequente em jornais e revistas como The New York Times, The New Yorker, The Washington Post, The Wall Street Journal, e The Atlantic. Sua voz não costuma ceder a radicalismos e destemperos.

Escolha sendo feita - William Waack

O Estado de S. Paulo

Representantes de setores da economia que já tiveram conversas nos Estados Unidos em torno do tarifaço têm feito relatos coincidentes. Os americanos não conseguem dizer exatamente até onde querem chegar. E a China é a formidável sombra pairando sobre a crise.

Até onde já se chegou é um bom exemplo da falta de senso estratégico por parte de Donald Trump. Seu ataque a instituições brasileiras equivale a propor “regime change”. Trazendo até aqui benefícios políticos ao incumbente Lula, além de rachar e isolar setores da oposição ao governo brasileiro.

A espada de Trump sobre o Brasil - Celso Ming

O Estado de S. Paulo

O dia 1º de agosto (mês do desgosto) está logo aí e, até lá, não há muito o que fazer para enfrentar a barbaridade do tarifaço do presidente Donald Trump.

Não há abertura para negociação comercial, até porque a questão de fundo não é comercial, é política. Nem mesmo a primeira carta do presidente Lula, enviada por ocasião do anúncio do tarifaço anterior, de 10%, mereceu resposta. Quem recebeu uma carta especial de Trump, com apoio e tudo mais, foi o ex-presidente Bolsonaro. A revogação dos vistos dos ministros do STF é outra demonstração de que o Brasil está sendo castigado para livrar a cara de Bolsonaro. Há outras alegações para a pancada, todas políticas: de que o presidente Lula vem provocando o império com acenos ao inimigo Irã, ou que está empurrando os países membros do Brics a escantear o dólar como moeda para liquidação de contas entre eles.

Boicote quem lucra com genocídio em Gaza - Thiago Amparo

Folha de S. Paulo

Prefeituras e governos estaduais no Brasil devem imediatamente suspender a compra de armamentos de Israel

O genocídio israelense em Gaza continua porque é lucrativo. A princípio, a afirmação pode soar contraintuitiva: como pode ser lucrativo explodir 120 civis atacando escolas usadas como abrigos, ou matar 93 palestinos em centros de ajuda humanitária, ou usar a fome como tática de guerra, como Israel fez na última segunda-feira (21) ao atacar armazéns da OMS (Organização Mundial da Saúde)? Genocídio palestino é lucrativo, porque a economia israelense —em particular os setores militar, tecnológico, financeiro e fundiário— está atrelada umbilicalmente à máquina de moer carne palestina.

Trump pode desafiar o 'TACO' com o Brasil - Adriana Fernandes

Folha de S. Paulo

Para rebater a piada de que 'sempre volta atrás', presidente pode usar o nosso país como exemplo

A ênfase dada pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda) ao revelar que o governo já trabalha com um plano de contingência para socorrer empresas que venham a ter prejuízos com a confirmação da sobretaxa de 50% de Donald Trump é o sinal mais contundente de que Lula vê como baixíssima, para não dizer remota, a chance de negociação de um acordo até o dia 1º de agosto.

Uma tentativa de mostrar que medidas estão sendo preparadas na hora em que o pior cenário chegar, indicando à população que o governo não está de braços cruzados em contraponto ao desfecho previsível. Sem avanços nas conversas, faz uma sutil, mas importante, virada de discurso após a fase inicial da crise de reforçar o patrocínio da família Bolsonaro na ameaça de Trump.

Soberania para quê? Supremacia para quem? - Conrado Hübner Mendes

Folha de S. Paulo

Não se superestime sua abrangência, nem se subestime sua importância

Veio a tornozeleira. A prisão preventiva ficou para depois, mas as práticas de coação e obstrução bolsonaristas continuam.

A semana que passou teve não só eventos de grande importância jurídica e política. Houve episódios de valor didático não ordinários. Daquelas semanas que contam para o resto de nossa vida democrática.

Alexandre de Moraes, em medida cautelar, detalhou a atuação da família Bolsonaro na barganha da anistia e ordenou adoção de tornozeleira e medidas restritivas sobre Jair. Deputados aliados o receberam no Congresso, ouviram lamentos, gritaram por anistia, pressionaram por interromper o recesso e encaminhar votação.

Eduardo Bolsonaro, cuja conspiração se financia por dinheiro da Câmara e do pai, tenta saídas para não perder o mandato, ou, na pior hipótese, não se tornar inelegível. Os mesmos deputados buscam mudar regimento para lhe permitir morar no exterior com salário. Até governadores de SP, SC e MG têm sido sondados para empregar Eduardo no governo estadual, como representante internacional.

Na democracia, 2 e 2 são 5 - Maria Hermínia Tavares

Folha de S. Paulo

A maioria dos brasileiros pensa que governo e oposição deveriam se unir em torno da defesa do país

A se confirmar em 1º de agosto, o tarifaço contra as exportações brasileiras, imposto por Donald Trump, terá efeito negativo, imediato e inevitável na economia do país. Ainda assim, seu simples anúncio engendrou uma oportunidade política única para fortalecer o governo e o jogo democrático —e colocou na berlinda a direita bolsonarista, cúmplice assumida do desastre anunciado— como, merecidamente, será julgada.

Resultados da pesquisa Genial/Quaest, divulgada na quinta-feira 17/07, ajudam a dar nitidez aos desafios tanto para o governo quanto ao bolsonarismo.

Gratidão à moda de Bolsonaro - Ruy Castro

Folha de S. Paulo

São Paulo deu milhões de votos a Bolsonaro, Tarcísio e Eduardo. Agora, eles estão lhe dando o troco

No dia 7 de outubro de 2018, 1,8 milhão de paulistas saíram de casa para eleger Eduardo Bolsonaro para a Câmara dos Deputados. Foi a maior votação para deputado federal na história. Pelos quatro anos seguintes, sua atuação por São Paulo em Brasília não deve ter agradado muito —os Bolsonaros tendem a cuidar mais de si do que de seus eleitores—, porque, em 2022, ele foi reeleito, mas seus votantes caíram para (ainda invejáveis) 741 mil.

Poesia | Ausência, de Vinicius de Moraes - por Júlia Sonati

 

Música | Mônica Salmaso | Quem te viu, quem te vê (Chico Buarque)