Outro causa importante foi o grande alargamento da autonomia dos parlamentares em relação ao Executivo com o crescimento exponencial do valor das emendas orçamentárias de execução obrigatória e o financiamento público de partidos e campanhas.
A falta de maioria parlamentar tem tido papel
moderador, ao longo do tempo, em relação às tentações autoritárias do
Executivo. Mas também dificultado o encaminhamento de soluções mais profundas
para os dramas brasileiros, sobretudo na economia. Os governos não ousam porque
sabem que o horizonte de apoio político é curto para medidas mais polêmicas e
radicais, às vezes necessárias.
A situação gera situações complexas e esdrúxulas
que poderíamos caracterizar com “parlamentarismo incompleto”. O Congresso tem
muito poder, mas não todas as responsabilidades necessárias com a
governabilidade. Os partidos políticos pragmáticos raciocinam mais ou menos
assim: “O governo, em parte, é meu, afinal tenho três (ou dois) ministérios,
mas as metas fiscais são do Lula e do Haddad, não minhas”. Alguns desses
partidos se dividem ao meio em votações essenciais para o governo. Aliás, é
difícil identificar qual o partido que não está no governo. Todos estão, creio,
exceto PL, NOVO, CIDADANIA E PSDB.
Outra situação incomum, em tempos de reforma
ministerial, é ouvirmos dirigentes partidários dizendo: “Aceitamos ministérios,
mas isso não quer dizer apoio eleitoral em 2026”. Ora, ora, ora, isto revela
explicitamente o descompromisso com os resultados do governo, que serão
avaliados exatamente nas eleições. Se aceito participar de um governo deveria
ser porque acredito nele, quero que ele seja bem-sucedido e bem avaliado, e,
consequentemente, vou apoiá-lo na sucessão. Mas qualquer presidente da
República acaba se rendendo à realpolitick porque depende de apoio parlamentar.
São as agruras do “parlamentarismo incompleto”.
Fui de quatro comissões especiais de reforma
política entre 2011 e 2018. Acompanhei as idas e vindas do tema. Estudo há
décadas o assunto. E creio que essa é uma discussão central no Brasil, embora
seja cético em relação às possibilidades de êxito. É o típico círculo vicioso:
“você não resolve o problema porque tem o problema”.
Para enfrentar o tema e levantar essa
discussão estratégica, em boa hora, os deputados Lafayette de Andrada (REP/MG)
e Luiz Carlos Hauly (PODE/PR) apresentaram a Proposta de Emenda Constitucional
(PEC) 2/25 instituindo duas mudanças essenciais: o semipresidencialismo e o voto
distrital misto. O parlamentar mineiro homenageia assim a memória de nosso
saudoso Bonifácio Andrada, entusiasta da proposta. Outro deles é o
ex-presidente Michel Temer.
Na próxima semana, discutiremos conceitos e problemas envolvidos nesta difícil e decisiva discussão.
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