sábado, 15 de fevereiro de 2025

Inflação de presidentes: como evitá-la - Fabio Gallo

O Estado de S. Paulo

Se os presidentes evitarem declarações e tomarem decisões técnicas, é possível ter estabilidade

Esta semana tivemos a feliz surpresa com a inflação de janeiro. O IPCA foi de 0,16%, a menor taxa para o mês desde o início do Plano Real, em 1994. O índice caiu principalmente devido à redução de tarifas de energia elétrica resultante do bônus de Itaipu. Mas não podemos nos enganar, acreditando que a fera foi dominada – o IPCA de janeiro está escondendo problemas estruturais, que irão manter a inflação alta nos próximos meses.

Por seu lado, o presidente Lula e outras autoridades culpam os supermercados pela alta dos alimentos e dão dicas de como reutilizar pó de café e de outras mudanças de hábitos alimentares. Noutra frente, culpam o Banco Central pela alta de juros. Dizem que o governo está ajudando no controle da inflação com medidas sociais e incentivo ao crescimento econômico. Esquecem de falar nos gastos elevados do governo e desconsideram a inflação de serviços.

Mas esse hábito de culpar os outros pelos problemas não existe somente aqui. Nos EUA, o presidente Trump diz que a inflação é culpa de Biden e começa a aumentar as tarifas de importação para proteger os americanos da alta dos preços. Quer também cortar impostos para estimular a economia sem aumentar o endividamento e, ainda, diz que o Fed (banco central americano) tem de baixar os juros. Em resumo, Trump promete acabar com a inflação, mas suas políticas protecionistas e de cortes de impostos vão, na prática, aumentar os preços e pressionar o Fed.

Isso nos leva a pensar que poderia ser criado um curso bem didático, até com desenhos, para ensinar presidentes a combater a inflação. O título seria: Inflação para Presidentes: Como Não Destruir a Economia. O curso seria composto de módulos: 1 - O que é inflação e por que ela é um problema; 2 - O que REALMENTE causa inflação; 3 - Como NÃO combater a inflação (mas muitos presidentes insistem!); 4 - Como REALMENTE combater a inflação.

Este último seria o módulo mais importante e trataria de temas como: a) manter a disciplina fiscal (se o Congresso deixar); b) garantir a independência do Banco Central; c) estimular o aumento da produtividade; d) garantir previsibilidade e estabilidade.

O fato é que a inflação não é uma força da natureza, mas resultado de decisões econômicas ruins e políticas públicas frágeis. Inflação é a febre da economia, não a doença. Controlá-la é difícil, exige ações concretas e pensadas. Mas se os presidentes e outras autoridades evitarem declarações que assustam os mercados e tomarem decisões técnicas, em vez de populistas, é possível garantir crescimento sustentável e estabilidade econômica. Pronto, quem completar esse programa está preparado para liderar com responsabilidade e manter a inflação sob controle!

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