quarta-feira, 16 de julho de 2025

A condenação do ‘crápula’ - Marcelo Godoy

O Estado de S. Paulo

Gonet presta um favor ao Exército ao pedir a condenação de Cid e sinaliza o mesmo aos demais

As alegações finais do procurador-geral da República, Paulo Gonet, mostram que nem mesmo o delator Mauro Cid vai escapar de um tempo de prisão. É bem possível que ele seja superior a dois anos de prisão, o que permitiria ao comando do Exército expulsá-lo da Força. É que todo oficial condenado a mais de dois anos de prisão é imediatamente submetido ao Conselho de Justificação e excluído automaticamente da instituição.

Em caso de condenação, o conselho, automaticamente, declara a indignidade para o oficialato e cassa o posto e a patente do militar. Ora, a verdadeira colaboração prestada por Cid às investigações foi involuntária: ele não apagou a lixeira de sua caixa de e-mails, onde a PF achou as provas que o encurralaram.

Gonet, portanto, presta um serviço ao Exército ao pedir que Cid não tenha todos os benefícios da colaboração em razão de seu comportamento. É que o comando da Força, mesmo se tivesse o perdão do STF, estava decidido a submeter Cid ao Conselho de Justificação, como os demais réus. O termo mais sóbrio com o qual Cid é tratado no Forte Apache é “crápula”.

Como os generais estão alertando, todos os envolvidos na operação psicológica feita em 2022 ao arrepio dos comandantes com o objetivo de desacreditar o Alto-Comando, emparedá-lo e incentivar coronéis a ultrapassar os generais e tomar a frente de um movimento golpista serão excluídos do Exército.

Para quem ainda duvida dos planos dos réus, basta ler o diálogo entre o coronel Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros e o tenente-coronel Ronald Ferreira de Araújo Junior de 23 de novembro de 2022, no qual dizem que estão fazendo uma operação psicológica para emparedar os generais do Alto-Comando.

Ou ainda consultar a conversa do coronel Reginaldo Vieira de Abreu com o general Mário Fernandes, o kid preto por trás do Plano Punhal Verde e Amarelo. Disse Abreu: “O Alto-Comando tem que acabar, mexe na promoção dos generais e só se promove, nos próximos oito anos, só um general quatro estrelas. Aí acaba essa palhaçada de unanimidade”. Fernandes concordou: “Tem o dissidente, tem os filha da p... lá já tá comprovado”.

A quebra da hierarquia e da disciplina e a deslealdade com os comandantes não são coisas que se tolerem no Exército. A conivência com marujos e sargentos rebelados em 1964 colocou a maioria da Força a favor da derrubada de João Goulart. Nas suas alegações finais, Gonet citou as condutas de muitos desses oficiais, hoje réus na ação pelo golpe. O procurador mostra que o destino deles será o mesmo de Bolsonaro e dos generais de seu governo. A depender de Gonet, todos terão seus nomes atirados ao rol dos culpados.

 

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