O Estado de S. Paulo
Gonet presta um favor ao Exército ao pedir a condenação de Cid e sinaliza o mesmo aos demais
As alegações finais do procurador-geral da
República, Paulo Gonet, mostram que nem mesmo o delator Mauro Cid vai escapar
de um tempo de prisão. É bem possível que ele seja superior a dois anos de
prisão, o que permitiria ao comando do Exército expulsá-lo da Força. É que todo
oficial condenado a mais de dois anos de prisão é imediatamente submetido ao
Conselho de Justificação e excluído automaticamente da instituição.
Em caso de condenação, o conselho, automaticamente, declara a indignidade para o oficialato e cassa o posto e a patente do militar. Ora, a verdadeira colaboração prestada por Cid às investigações foi involuntária: ele não apagou a lixeira de sua caixa de e-mails, onde a PF achou as provas que o encurralaram.
Gonet, portanto, presta um serviço ao
Exército ao pedir que Cid não tenha todos os benefícios da colaboração em razão
de seu comportamento. É que o comando da Força, mesmo se tivesse o perdão do
STF, estava decidido a submeter Cid ao Conselho de Justificação, como os demais
réus. O termo mais sóbrio com o qual Cid é tratado no Forte Apache é “crápula”.
Como os generais estão alertando, todos os
envolvidos na operação psicológica feita em 2022 ao arrepio dos comandantes com
o objetivo de desacreditar o Alto-Comando, emparedá-lo e incentivar coronéis a
ultrapassar os generais e tomar a frente de um movimento golpista serão
excluídos do Exército.
Para quem ainda duvida dos planos dos réus,
basta ler o diálogo entre o coronel Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros e o
tenente-coronel Ronald Ferreira de Araújo Junior de 23 de novembro de 2022, no
qual dizem que estão fazendo uma operação psicológica para emparedar os
generais do Alto-Comando.
Ou ainda consultar a conversa do coronel
Reginaldo Vieira de Abreu com o general Mário Fernandes, o kid preto por trás
do Plano Punhal Verde e Amarelo. Disse Abreu: “O Alto-Comando tem que acabar,
mexe na promoção dos generais e só se promove, nos próximos oito anos, só um
general quatro estrelas. Aí acaba essa palhaçada de unanimidade”. Fernandes
concordou: “Tem o dissidente, tem os filha da p... lá já tá comprovado”.
A quebra da hierarquia e da disciplina e a
deslealdade com os comandantes não são coisas que se tolerem no Exército. A
conivência com marujos e sargentos rebelados em 1964 colocou a maioria da Força
a favor da derrubada de João Goulart. Nas suas alegações finais, Gonet citou as
condutas de muitos desses oficiais, hoje réus na ação pelo golpe. O procurador
mostra que o destino deles será o mesmo de Bolsonaro e dos generais de seu
governo. A depender de Gonet, todos terão seus nomes atirados ao rol dos culpados.
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