Correio Braziliense
No futuro, alguém vai estudar como o grupo de
políticos qualificados, que ousaram romper com o poderoso PMDB de Orestes
Quércia, colocaram o país no rumo da social-democracia europeia, mas não
conseguiram fazer sua mensagem chegar a maioria dos brasileiros
O Partido da Social Democracia Brasileira
(PSDB) governou o Brasil por dois mandatos consecutivos, nos governos Fernando
Henrique Cardoso. Governou o estado de São Paulo por mais de 28 anos e, nos
dois longos momentos, teve influência direta sobre a história do país. Ao longo
do mandato presidencial tucano, o crescimento da economia
brasileira foi de 2,3% ao ano. Ocorreram inúmeras privatizações
que precederam a modernização de diversos setores antes controlados
pelo Estado, como as telecomunicações. Ninguém imagina que o PT
tivesse a capacidade de privatizar o imenso e rico setor de telecomunicações e
colocar o sistema de telefones celulares em pleno funcionamento no país.
No governo, FHC terminou com a hiperinflação (que, antes de seu governo, chegou a alcançar de 1.000% ao ano). Acabou a loucura de os preços aumentarem todos os dias. Houve a criação de programas sociais pioneiros, como o Bolsa-Escola, o Auxílio-Gás e o Bolsa-Alimentação (posteriormente unidos em um só programa, o Bolsa Família, pelo governo Lula), além do início da reforma do Estado, com a implantação de Agências Reguladoras, do Ministério da Defesa, da Advocacia-Geral da União (AGU) e da Controladoria Geral da União (CGU). A implantação da Lei de Responsabilidade Fiscal foi um marco na regulação do uso de verbas públicas em todos os níveis administrativos do país.
Neste período, também, ocorreu uma enorme e
profunda reforma na educação brasileira. Foi criado o sistema de vestibular
para todo o país. Melhorada a fiscalização das instituições de ensino superior
e permanente preocupação com o aumento da taxa de alfabetização. O governo
obteve notável resultado, também, com a criação dos remédios chamados
genéricos, que não utilizam a marca de fantasia do produto.
Com isso, os remédios ficaram muito mais
baratos de um dia para o outro. A vida do pobre se facilitou muito. Por último,
houve significativo avanço na área de petróleo, a Petrobras voltou a ser
autônoma e o governo vendeu vários de seus ativos, dispendiosos e deficitários.
Na política internacional, o país transitou
bem porque o presidente Fernando Henrique, um scholar, fluente em inglês,
francês e espanhol, gostava de fazer viagens, conversar e trocar ideias com
líderes de outros países. Desenvolveu uma amizade próxima com Bill Clinton,
então presidente dos Estados Unidos. Foi convidado e aceitou desfrutar de um
fim de semana em Camp David, casa de campo do presidente dos Estados Unidos. Em
momento grave, o governo de Washington auxiliou o Brasil na obtenção de
empréstimos para consolidar o plano real e manter o país com capacidade de
quitar suas dívidas. Foi um período tranquilo de baixa inflação, crescimento
razoável e tranquilidade política, ressalvados os escândalos provocados pela
militância do PT, que criou o famoso "Fora FHC", sem maiores
consequências, além das retóricas.
Depois do PSDB, entrou em cartaz o governo
Dilma Rousseff que governou o país por quase dois mandatos. Foi interrompido
pelo impeachment. A inflação, no período, disparou, o crescimento da economia
caiu, e a administração não conseguiu avançar em nenhum setor. Estacionou nos
discursos ideológicos e não construiu nada substancial para a sociedade. Foi um
tempo perdido, mas de fortes emoções políticas. Até que a presidente, depois de
um patético discurso no Senado Federal, teve seu mandato interrompido. Até hoje
o PT tenta criar a narrativa de que houve um golpe parlamentar. Mas o processo
correu no Congresso Nacional, com amplo direito de defesa, presidido pelo
ministro do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, nomeado pelo
presidente Lula para compor a mais alta corte de justiça brasileira.
Hoje, ele é ministro da Justiça do atual governo.
Historiadores tentam explicar como os
impérios acabam, países terminam e civilizações naufragam. As explicações são
diversas. Edward Gibbon, por exemplo, diz em seu monumental "Declínio e
queda do Império Romano", que o fenômeno do fim de Roma, decorreu de
vários motivos, entre eles, o triunfo da barbárie e da religião, algo
semelhante ao que ocorreu no Brasil nos últimos anos. No futuro, alguém vai
estudar como o grupo de políticos qualificados, que ousaram romper com o
poderoso PMDB de Orestes Quércia, colocaram o país no rumo da social-democracia
europeia, mas não conseguiram fazer sua mensagem chegar a maioria dos
brasileiros. O partido perdeu o poder por não saber dialogar com a história, as
tradições e as características dos brasileiros. O PSDB caminha para se aninhar
no ninho do PSD, ainda neste semestre. E aí se dissolver. Vai perder o pouco
que lhe resta de originalidade. O sonho social-democrata terminou cedo no mundo
latino-americano.
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