sábado, 15 de fevereiro de 2025

Farra das emendas no salão da corrupção - Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Presença do crime organizado nas instituições também influi na piora do desempenho

O Brasil está empatado com Argélia, Nepal, Tailândia, Maláui e Níger no Índice de Percepção da Corrupção (IPC) da Transparência Internacional. Exibe a pontuação 34, sua pior posição e nota desde 2012, o começo da série histórica. Está nove pontos abaixo da média global e oito abaixo da média das Américas. Mesmo assim, espanta que o país não tenha caído ainda mais quando se sabe que a Polícia Federal investiga uma empresa suspeita de fraude em licitações contratada pela própria Polícia Federal.

A principal evidência de corrupção, segundo a Transparência Internacional, é a presença cada vez maior do crime organizado nas instituições estatais. O assassinato do delator do PCC Vinicius Gritzbach foi mais do que um aviso. As investigações resultaram na prisão ou afastamento de nove integrantes da Polícia Civil de São Paulo; e a Corregedoria indiciou 17 policiais militares.

Há outro fator que, por enquanto, deixa visível apenas a ponta do iceberg: o descontrole no pagamento das emendas parlamentares. Os valores são, como nas atrações circenses, incríveis, fantásticos, extraordinários: mais de R$ 148,9 bilhões em cinco anos. Sem transparência ou rastreamento.

Os casos têm pipocado aqui e ali, mas devem crescer à medida que a PF aprofundar as investigações. A existência do corretor de emendas, com prefeituras pagando a funcionários de gabinetes da Câmara e do Senado para ajudá-las a receber as verbas sob responsabilidade de seus chefes, já era conhecida. Agora descobriram os vendedores de emendas.

O ministro do STF Cristiano Zanin determinou que a denúncia contra os deputados federais Josimar Maranhãozinho e Pastor Gil, ambos do PL do Maranhão, além do suplente Bosco Costa (PL-SE), seja incluída na pauta de julgamento do Supremo. Os três são acusados de pertencer a uma organização que fazia ameaças com armas para comercializar os recursos públicos.

Só a apuração sobre o esquema liderado pelo empresário conhecido como Rei do Lixo acumula 54 celulares e 33 computadores. Um mundo a ser periciado.

 


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