terça-feira, 22 de setembro de 2015

PMDB rejeita reforma esboçada por Dilma

Por Daniel Rittner, Andrea Jubé e Thiago Resende - Valor Econômico

BRASÍLIA - Na reta final dos preparativos para a reforma administrativa do governo, o PMDB deixou claro à presidente Dilma Rousseff que não discutirá nomes na nova composição da Esplanada dos Ministérios, nem quais pastas deverão ser fundidas ou eliminadas. O recado foi dado a Dilma pelo vice-presidente Michel Temer, em reunião ontem de manhã, e demonstra que o partido não aceita o ônus de ceifar representantes no primeiro escalão.

A postura reforça um distanciamento gradual do PMDB em relação a Dilma. "Ela que defina tudo", disseram interlocutores próximos de Temer, com visível mal-estar, reclamando porque o partido não foi consultado para nada nos planos da reforma.

Para dar um novo sinal de respaldo político à presidente, o Valor apurou que o PMDB estava de olho em uma pasta de grande visibilidade. Três ministérios entraram no radar: Educação, Saúde ou Cidades. "É onde se faz política pública", acrescenta um aliado de Temer, ao explicar que a legenda precisa de bandeiras para 2018, quando pretende ter candidato próprio nas eleições presidenciais. Não houve, porém, qualquer sinal concreto de que obteria o controle de uma dessas áreas.

Na prática, a cúpula do PMDB percebeu que o risco era perder espaço na Esplanada e ficar com apenas três ministérios na reforma: Minas e Energia (que ficaria intacto), Agricultura (que absorveria a Pesca) e a fusão da Aviação Civil com Portos. De início, imaginava-se que haveria uma espécie de "superministério" dos Transportes, sob comando pemedebista, mas o PR não arreda o pé e deve ficar onde está. O Turismo, encabeçado por Henrique Eduardo Alves, pode ser incorporado ao Desenvolvimento ou ao Esporte.

Dilma passou o dia ontem em articulações para tentar evitar a debandada do PMDB do governo e segurar o partido na base aliada. Para isso, ofereceu o Ministério da Saúde ao PMDB do Rio de Janeiro, em conversa com o governador Luiz Fernando Pezão.

Nos bastidores, os aliados de Temer disseram ao Valor que Dilma errou ao excluir a cúpula pemedebista das discussões sobre as reformas administrativas e ministerial. O argumento no PMDB é de que a sigla não é aliado, "é governo", porque tem a vice-presidência da República. E, ao contrário, dizem que tem sido tratados como aliados "de segunda classe". Ontem à noite, a cúpula partidária iria se reunir em um jantar na residência oficial do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para tratar da reforma e do apoio a Dilma.

Ao lado de Dilma, o governador Pezão, atuou como articulador junto ao partido. Primeiro, reuniu-se com a presidente no Planalto, na hora do almoço, fora da agenda oficial. Na sequência, Pezão foi ao Palácio do Jaburu, onde se reuniu com Temer, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e o vice-presidente do Senado Romero Jucá (PMDB-RR).

No meio da tarde, Dilma se reuniu com a cúpula do PMDB no Senado. Dilma recebeu Temer, o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), e o líder do PMDB na Casa, Eunício Oliveira (CE), para tratar da reforma ministerial e da análise dos vetos presidenciais, programada para hoje, em sessão conjunta do Congresso.

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse que, com a substituição de Temer pelo ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, a articulação política do governo não deve melhorar. "Se você estava dialogando com o vice-presidente, ex-presidente da Câmara três vezes, e passar, por melhor que seja o quadro, para qualquer outro obviamente não vai melhorar. Pode até não piorar, mas melhorar não vai."

Nas discussões de mudanças na Esplanada dos Ministérios, o PMDB na Câmara defende a saída de Edinho Araújo da Pasta dos Portos. A bancada alega que Araújo, que é deputado licenciado, teria arbitrado em favor do PMDB do Senado nas decisões sobre cargos do setor, deixando indicações da Câmara de lado.

Por outro lado, o PMDB do Senado não se considera padrinho de Kátia Abreu na Agricultura, que é vista como indicação da própria Dilma. Sua ida para a Casa Civil, entretanto, encontrou forte resistência no PT. Um líder governista no Congresso afirmou que, caso a presidente optasse por essa troca, corria o risco de perder o apoio dos petistas.

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