O resultado das contas do Brasil com o exterior (exceto fluxos de capital) é negativo desde 2008. Mais do que isso, esse déficit vem crescendo e tende a aumentar.
Por enquanto, a cobertura desse rombo é feita, com folga, por meio da entrada de capitais de longo prazo – como se presume serem os Investimentos Estrangeiros Diretos (IEDs). Como são capitais de boa qualidade, digamos assim, não sujeitos a retiradas súbitas, caso dos capitais especulativos, não há, até onde a vista alcança, nenhum perigo de hemorragia de moeda estrangeira, o que deixaria a economia a descoberto.
Além disso, as reservas externas são de US$ 353 bilhões, altas suficiente de modo a desencorajar movimentos de fuga de capitais – risco que pode correr uma economia que gasta mais do que fatura com o resto do mundo.
Em princípio, um país em desenvolvimento como o Brasil tende a ter déficits em Conta Corrente – conjunto de transações com o exterior que englobam o fluxo de mercadorias (comércio), de serviços (transportes, turismo, seguros, juros, royalties, etc.) e de transferências de dinheiro entre parentes.
Déficits crônicos em Conta Corrente refletem, em princípio, consumo interno de bens e serviços além do conveniente. O governo Dilma não trabalha com a hipótese de que essa forte elevação do consumo prejudique o equilíbrio das contas externas, por estar mais interessado em impedir a valorização excessiva do real (alta do dólar) – fator que pode tirar competitividade do produto nacional. Mais despesas pagas ao fornecedor externo impulsionam a demanda de moeda estrangeira no câmbio interno e, pela lei da oferta e da procura, atuam contra a alta do real – consequentemente, a favor do pretendido.
Mas, a longo prazo, a perspectiva de ampliação do rombo nas Contas Correntes com o exterior não é a maior tensão que prevalece sobre as contas externas. Dentro de alguns anos, o País expandirá substancialmente receitas no exterior com exportações de matérias-primas (sobretudo minério de ferro e celulose); alimentos (soja, café, milho, açúcar e carnes); e petróleo. A médio prazo, a tendência à alta dessas commodities deverá multiplicar receitas em moeda estrangeira e reforçar a valorização do real.
O marisco, que ficará entre o rochedo e as ondas, será a indústria, com cada vez mais dificuldades para competir não só lá fora, mas também aqui dentro.
O problema de fundo não é, como tantos pensam ingenuamente, o câmbio adverso, que encarece o produto nacional e barateia o importado. É, sim, a falta de competitividade do setor produtivo brasileiro (não só o da indústria, como mostra o caso do etanol). E, por trás dessa baixa competitividade, está o alto custo Brasil: imposto demais; infraestrutura cara e ruim; juro escorchante; a quarta mais onerosa eletricidade do mundo; Justiça ineficiente; excesso de encargos sociais sobre a folha de pagamentos; burocracia; etc.
E, decididamente, o governo Dilma não está fazendo o suficiente para enfrentar essa enorme debilidade da indústria.
Esta foi a distribuição por segmento do IED em 2011.
De que valeram os testes? Entre razões do FMI para reforçar suas linhas de emergência com US$ 600 bilhões está "a necessidade de fortalecer bancos europeus contra riscos de default (calote)". Ou seja, o Fundo concorre para desmoralizar testes de estresse de autoridades europeias.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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