Integrantes do partido falam até em ajudar a convocar Pimentel se diretor do Dnocs for demitido
Gerson Camarotti
Mesmo com a decisão já anunciada do Palácio do Planalto de demitir o diretor- geral do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), Elias Fernandes Neto, o líder do PMDB, deputado Henrique Eduardo Alves (RN), decidiu desafiar o governo para tentar manter no cargo o seu afilhado político.
Nos bastidores, aliados do líder peemedebista mandaram recados em tom de ameaça: a concretização da demissão será recebida como uma declaração de guerra. Nesse caso, haverá retaliação. Para dar uma demonstração de força no Congresso, integrantes do PMDB ameaçavam até convocar o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel (PT), para dar esclarecimentos numa comissão da Câmara sobre suas consultorias privadas.
Quando as consultorias que renderam mais de R$ 2 milhões a Pimentel foram reveladas pelo GLOBO, em dezembro passado, o Palácio do Planalto trabalhou ativamente para evitar sua ida ao Congresso. Nas palavras de um parlamentar do grupo de Henrique Alves, a ordem é dar ao Planalto o mesmo tratamento dispensado ao PMDB no episódio do Dnocs.
Henrique Alves, à noite, negou que estivesse ameaçando o governo, mas manteve o tom de desafio: — Quando Fernando Pimentel ficou na vidraça, a Dilma deu a ele direito de defesa.
Eu quero esse mesmo tratamento para o doutor Elias.
Não estou desafiando o Planalto. Eu me disponho a ir ao TCU pedir urgência para avaliação do caso do Dnocs. Não seria justo ter demitido Fernando Pimentel, Fernando Bezerra nem Paulo Bernardo por causa de suspeitas. Dilma fez certo nesses casos, pois é uma questão democrática dar direito ao contraditório. Tirar o doutor Elias neste momento, mesmo dentro do processo de reestruturação, vai parecer uma condenação por desvios de 300 milhões.
Isso é um absurdo.
Dilma já avisou que só aceita saída
A tentativa de uma solução negociada para a saída de Elias acabou em impasse na noite de terça-feira.
Segundo relatos, numa reunião no gabinete da Vice-Presidência, no Planalto, com o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, e o vice Michel Temer, o líder Henrique Alves foi direto e, de forma exaltada, avisou: só aceita tirar Elias depois de uma posição oficial do TCU sobre o relatório da Controladoria Geral da União que aponta irregularidades que somam R$ 312 milhões na gestão do Dnocs.
— Admito a mudança de gestão do Dnocs. Mas não aceito que essa mudança seja feita sob suspeita — disse Henrique Alves, segundo relatos.
O Palácio do Planalto não aceitou a proposta. Pelo argumento de Henrique Alves, o TCU daria posição em até 90 dias. Para o governo, a análise das contas do Dnocs levaria pelo menos um ano. Depois da reunião, Temer ainda recebeu em seu gabinete a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti.
Na reunião, Ideli disse ao vice que não era possível manter Elias Fernandes.
Segundo interlocutores, a presidente Dilma Rousseff quer uma solução imediata e deu como prazo até o seu retorno ao Brasil na próxima quinta-feira, dia 2, depois de sua viagem a Cuba e ao Haiti.
A disposição de Henrique Alves de manter o afilhado no governo foi explicitada na manhã de ontem em mensagens postadas no Twitter logo cedo. Ele condicionou a saída de Elias Fernandes à comprovação de irregularidades no Dnocs, argumentando que é preciso a palavra final do TCU sobre o relatório da CGU, para não fazer um prejulgamento do diretor.
"Com respeito aos que me pediam explicações, dou essa palavra inicial.
Aguardo sereno o julgamento do TCU sobre atuação do Dnocs. Apenas isso", postou o líder no microblog. E, em seguida, negou que haja fogo amigo (do próprio PMDB) no caso: "Não há fogo amigo nenhum. A CGU é um órgão de assessoramento do governo, que respeito. Mas pode se equivocar também . Vamos às provas".
De acordo com relatos, no encontro com Temer e Bezerra, Henrique Alves negou-se a indicar um nome para substituir Elias Fernandes. Essa poderia ser a solução mais simples para o Planalto. Mas na conversa, Alves foi duro e teria feito um desabafo de que no caso das consultorias do ministro Fernando Pimentel, o tratamento do Palácio do Planalto foi diferente.
Hoje, o ministro Fernando Bezerra deve ter novo encontro com o vicepresidente Michel Temer para buscar uma saída negociada para o impasse.
Ele também deve reunir-se com com o diretor-geral do Dnocs, Elias Fernandes Neto. A Henrique Alves, o ministro lembrou que as mudanças nos órgãos vinculados à pasta, como Sudene e Codvasf, tinham sido iniciadas no ano passado.
FONTE: O GLOBO
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