Alessandra Saraiva / Valor Econômico
Para especialista do Ibre FGV, após o
resultado do indicador, não está descartado que o PIB, em 2025, possa crescer a
uma taxa mais próxima a 3%, e não de 2% como se imaginava no começo desse ano
O avanço
de 1,6% da economia brasileira no primeiro trimestre na margem foi o
mais forte desde dezembro de 2020 (3,8%), na comparação de trimestre ante
trimestre imediatamente anterior, informou a Fundação Getulio Vargas (FGV), no
âmbito do Monitor do PIB.
“Parece que, no início do ano, a economia
está mais aquecida do que se imaginava”, afirmou Claudio Considera, coordenador
do Núcleo de Contas Nacionais (NCN) do Instituto Brasileiro de Economia da FGV
(FGV/Ibre).
O técnico detalhou ainda que, até o primeiro trimestre, o desempenho da economia no Monitor do PIB não foi puxado por uma ou outra categoria comparativa, e sim favorável, em diferentes comparações.
Em relação ao mesmo trimestre de 2024, o
aumento foi de 3,1%, o mais elevado desde 2024 (3,6%). E, na comparação com
fevereiro, a atividade econômica em março subiu 1,3%, a taxa mais intensa desde
junho de 2024 (1,8%). Esses números levaram a uma taxa acumulada em 12 meses,
até março, de 3,5%, o aumento mais intenso, nessa comparação, desde junho de
2023 (3,7%).
Isso fez com que
Considera não descartasse que o PIB, em 2025, possa crescer a uma taxa mais
próxima a 3%, e não de 2% como se imaginava no começo desse ano.
“O que temos aqui é que todas as principais
categorias [do PIB] mostraram alta, e sobem bem na taxa anualizada, em 12
meses”, notou.
No Monitor do PIB, a agropecuária subiu 12,2%
no primeiro trimestre ante quarto trimestre de 2024, melhor desempenho desde
março de 2023 (13,8%). Nessa mesma comparação, a FGV apurou aumentos de 1,3% em
serviços, que representa quase 70% do PIB; de 1,1% no Consumo das Famílias; e
de 1,4% na Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF). Com isso, esses grandes
grupos acumulam altas de 1,8%, 3,4%, 4,2% e 8,2%, respectivamente, em 12 meses
até março.
“A FBCF ‘explodiu’ [aumentou muito] no
primeiro trimestre.” O técnico informou que isso se deve a uma boa performance
em máquinas e equipamentos nos primeiros três meses do ano. “Em 12 meses, a
atividade de máquinas equipamentos acumula alta de 24,3% [até março]”, disse.
No entendimento do especialista, o bom
desempenho de máquinas e equipamentos responde a uma demanda aquecida no
mercado interno. A compra de maquinário, notou, é impulsionada por desejo de
aumento de capacidade produtiva, o que, na prática, só se eleva quando há
consumo em alta.
“Não podemos nos esquecer que consumo das
famílias continua a crescer bem.”
Assim como parte do mercado, Considera
aguardava uma economia menos aquecida no primeiro trimestre desse ano. Isso
porque há a questão do ciclo de aperto monetário, iniciado pelo Banco Central
(BC) no segundo semestre de 2024. O BC vem promovendo sucessivos aumentos na
taxa básica de juros (Selic), que norteia juros de mercado, para coibir parte
da demanda, sendo essa uma estratégia de combate ao avanço da inflação.
Porém, continuou o economista, o que se vê no
Monitor do PIB é uma demanda ainda em alta, pelo menos até o primeiro trimestre
de 2025.
“Achava que no início do ano se teria menos
crescimento [econômico] durante o primeiro trimestre, que começaríamos mal. Mas
parece que não”, disse. “E também não vejo razão para o segundo trimestre ser
ruim”, adiantou.
O técnico lembrou recentes medidas do governo
que podem ter levado a uma maior movimentação de recursos na economia. Uma
delas foi a possibilidade de 13º antecipado do INSS. Outra, a opção de
consignado pelo regime CLT.
“Se injetou muitos recursos na economia [esse
ano]”, afirmou, ao acrescentar que, em sua análise, essas ações podem ter
ajudado a compor um mercado interno mais aquecido, no começo de 2025 - com
reflexo no Monitor do PIB.
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