O Estado de S. Paulo
O viajante Hugo Motta, de passagem pela ilha
da fantasia, teve a coragem de publicar isto em rede social: “Comuniquei aos
líderes da Câmara dos Deputados que, na próxima semana, pautarei a urgência de
projetos de lei destinados a impedir fraudes no INSS. Seguindo e sempre
respeitando o regimento da Casa, vamos analisar, reunir e votar tudo o que pode
compor um Pacote Antifraude. Esse tema, que é urgência para milhões de
brasileiros, é urgência para a Câmara dos Deputados”.
Uau! Falou até em urgência. Urgência “para milhões de brasileiros”. Falou isso em 2025. Urgência para os brasileiros roubados desde – pelo menos – 2016. E roubados – o papo aqui é reto – sob chancela do Parlamento, pelo menos desde 2019. O cronista, um cético, desconfiado mesmo diante da previsibilidade com que, assaltado já o trigo, Maria Antonieta propõe brioches, foi ver para crer. Para crer em tamanha audácia. Duvidei de início.
Está lá, no X de Elon, desde sexta-feira, 19
de maio. O presidente da Câmara – informados os pares – comunicando à nação que
pautará, com toda a pressa que a gravidade das fraudes longamente desimpedidas
exige, “projetos de lei destinados a impedir fraudes no INSS”.
Inês mortinha, seca, seca – e o proativo
Motta preocupado em impedir que, quando ressuscitar, ela morra sob o mesmo
chupa-cabra.
Falou até em pacote antifraude. Que
esculacho! Porque, em condições normais, a desconexão dessa rapaziada com o
mundo real impõe presteza somente a que se aumente o número de deputados
(querem ir de 513 a 531), ou a que se garanta o controle e a partilha de
bilhões de reais em emendas parlamentares. Esses, corporativistas, são exemplos
da prontidão regimental da Câmara dos Deputados.
A urgência de milhões de brasileiros – os que
vendem o almoço para ter o que jantar – é por justiça: para que os roubados
sejam ressarcidos, para que os ladrões sejam punidos com cana dura e para que
os responsáveis por assegurar as condições ao pleno exercício da roubalheira
sejam identificados, expostos e responsabilizados.
O Parlamento – papo reto – é pai dessa
criança também. O esquema não seria bilionário – não teria se esparramado
tanto, com tanta segurança – sem estímulos desde o Legislativo. E o senhor
Motta estava lá, no curso da legislatura passada, quando o Congresso trabalhou
para adiar a eficácia dos mecanismos de revalidação dos descontos e afinal de
todo fulminá-los. Com o PT e seus satélites à frente, membros de 11 partidos –
inclusive do PL – operaram para que se pudesse conceder as deduções
descontroladamente.
Sejamos ainda mais claros: o Poder
Legislativo, detentor dos meios, tinha os recursos – estava diante de propostas
concretas, entre 2019 e 2022 – para estabelecer verificação rigorosa sobre as
concessões dos descontos e decidiu deixar a porteira arreganhada. •
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