Folha de S. Paulo
Cúpula da superfederação União-PP, aliada
formal do petista, se empenha em enviar sinais à oposição
Nunca antes na história é um dos bordões
queridos de Lula.
De fato, talvez nunca antes tenha havido
tamanha tranquilidade de partidos formalmente abrigados no governo operarem em
sintonia aberta com a oposição.
União Brasil e PP —que vão formar uma superfederação— controlam quatro ministérios, a Caixa Econômica Federal e uma extensa rede de cargos regionais. Ainda assim, organizam comícios antigoverno, fazem declarações ácidas, impõem ultimatos e votam majoritariamente com a oposição.
Como a bagunça parece instalada com uma
desenvoltura digna de álbum, por que não postar fotos?
Nesta segunda-feira (19), os presidentes das
duas siglas, Antonio Rueda (União Brasil) e Ciro Nogueira (PP),
publicaram registros ao lado de Jair
Bolsonaro (PL)
—que consta ser o adversário político nº 1 do atual chefe dos ministérios em
questão.
"Conversando um pouquinho sobre o Brasil
com nosso presidente", escreveu Nogueira, ex-ministro de Bolsonaro.
Dias antes, os mesmos dirigentes já haviam
postado fotos à mesa com Eduardo Bolsonaro e Guilherme Derrite, pré-candidatos
ao Senado por São Paulo em 2026 —cujas campanhas, por óbvio, não devem pedir
votos para o PT.
Mesmo desconsiderando Ciro, cuja oposição é
explícita, a presença de Rueda parece não causar maiores abalos. Em
março, ele
já havia advertido: "Se o governo não melhorar, ninguém vai querer
ficar".
No início do mês, ambos
assinaram artigo na Folha pedindo "um novo caminho para o
Brasil".
Justiça seja feita, Gilberto Kassab (três
ministérios) também
não esconde a intenção de estar no barco da oposição em 2026.
Leonel Brizola (1922-2004) tinha uma
expressão para aliados que ensaiavam defecção. "Estão costeando o
alambrado", dizia.
Na coalizão de Lula, não se costeia o
alambrado. Marcha-se olimpicamente rumo à saída. E tudo indica que a travessia
será feita no momento mais adequado para eles.
Enquanto isso, seguem sorridentes, cargos em
mãos. Lula, por ora, assiste. Talvez porque não queira agir. Talvez porque não
possa.
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