terça-feira, 20 de maio de 2025

Lula vê sua coalizão sorrir com Bolsonaro - Ranier Bragon

Folha de S. Paulo

Cúpula da superfederação União-PP, aliada formal do petista, se empenha em enviar sinais à oposição

Nunca antes na história é um dos bordões queridos de Lula.

De fato, talvez nunca antes tenha havido tamanha tranquilidade de partidos formalmente abrigados no governo operarem em sintonia aberta com a oposição.

União Brasil e PP —que vão formar uma superfederação— controlam quatro ministérios, a Caixa Econômica Federal e uma extensa rede de cargos regionais. Ainda assim, organizam comícios antigoverno, fazem declarações ácidas, impõem ultimatos e votam majoritariamente com a oposição.

Como a bagunça parece instalada com uma desenvoltura digna de álbum, por que não postar fotos?

Nesta segunda-feira (19), os presidentes das duas siglas, Antonio Rueda (União Brasil) e Ciro Nogueira (PP), publicaram registros ao lado de Jair Bolsonaro (PL) —que consta ser o adversário político nº 1 do atual chefe dos ministérios em questão.

"Conversando um pouquinho sobre o Brasil com nosso presidente", escreveu Nogueira, ex-ministro de Bolsonaro.

Dias antes, os mesmos dirigentes já haviam postado fotos à mesa com Eduardo Bolsonaro e Guilherme Derrite, pré-candidatos ao Senado por São Paulo em 2026 —cujas campanhas, por óbvio, não devem pedir votos para o PT.

Mesmo desconsiderando Ciro, cuja oposição é explícita, a presença de Rueda parece não causar maiores abalos. Em março, ele já havia advertido: "Se o governo não melhorar, ninguém vai querer ficar".

No início do mês, ambos assinaram artigo na Folha pedindo "um novo caminho para o Brasil".

Justiça seja feita, Gilberto Kassab (três ministérios) também não esconde a intenção de estar no barco da oposição em 2026.

Leonel Brizola (1922-2004) tinha uma expressão para aliados que ensaiavam defecção. "Estão costeando o alambrado", dizia.

Na coalizão de Lula, não se costeia o alambrado. Marcha-se olimpicamente rumo à saída. E tudo indica que a travessia será feita no momento mais adequado para eles.

Enquanto isso, seguem sorridentes, cargos em mãos. Lula, por ora, assiste. Talvez porque não queira agir. Talvez porque não possa.

 

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