terça-feira, 20 de maio de 2025

Velho, pobre, mal educado - Jorge J. Okubaro

O Estado de S. Paulo

O Brasil envelheceu, não ficou mais rico e continua lendo e escrevendo mal. É este o retrato que pesquisas recentes nos mostram

O País jovem, tendo a porta aberta para um destino de prosperidade e bem-estar ao lado das grandes nações, parece ter-se perdido na história. O Brasil como que se conformou em ficar nas posições intermediárias na corrida mundial pelo progresso. E os brasileiros, em média, concordaram com isso. Muita coisa melhorou – e melhorou muito nas últimas décadas. Mas também em muitas coisas o Brasil patinou, quando não andou para trás. Não se trata de buscar responsáveis. Trata-se de entender como o Estado e a sociedade lidaram e lidam com as grandes questões que afetam a qualidade de vida de cada brasileiro.

O Brasil envelheceu, não ficou mais rico e continua lendo e escrevendo mal. É este o retrato que pesquisas recentes nos mostram. Há informações estimulantes e animadoras, o que nos permite alimentar sonhos. Mas há também a constatação de como nos acostumamos com a mediocridade, o que deveria levarnos a refletir sobre o que temos feito de nós mesmos.

Nascem cada vez menos brasileiros. As Estatísticas do Registro Civil divulgadas na sexta-feira passada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, em 2023, o País manteve a tendência de redução do número de nascimentos, observada por cinco anos consecutivos. Em 2023, foram registradas nos cartórios 2,523 milhões de crianças nascidas naquele ano. É o menor número desde o início da pesquisa, em 2015.

Demógrafos preveem que a queda do número de nascimentos se manterá até o fim do século. A taxa de fecundidade já está abaixo do nível de reposição da população (dois filhos por mulher). Por isso, talvez em menos de duas décadas a população total do Brasil começará a diminuir. E será uma população com idade média mais alta. O chamado bônus demográfico, período em que a proporção da população em idade ativa é maior do que a de idosos e crianças, começou há várias décadas, mas está se esvaindo e se esgotará em algum momento não muito distante.

É uma mudança do padrão demográfico que, nisso sim, iguala o Brasil aos países desenvolvidos. Mas o País chegou a essa condição sem ter alcançado indicadores fundamentais que as nações mais prósperas do planeta já tinham alcançado, como renda média alta, menos desigualdade de renda, escolaridade mais elevada, alto nível de produtividade da economia, bem-estar social como característica predominante de seu padrão de vida, horizonte para a vida dos jovens.

Dados de curto prazo podem instilar algum otimismo. A informalidade no mercado de trabalho baixou para seu menor nível desde a pandemia de covid-19, em 2020. Excetuado esse período, em que os indicadores sociais e econômicos tiveram fortes oscilações (para mais ou para menos, mas superadas nos anos seguintes), a taxa de informalidade aferida pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua atingiu seu nível mais baixo desde o início da série da pesquisa. Também o chamado desperdício de mão de obra, medido pelo critério de taxa de subutilização da força de trabalho, ficou no segundo nível mais baixo de toda a série da Pnad Contínua.

Juntando outras informações recentes, como o aumento da população economicamente ativa (e ainda assim houve queda do índice de desemprego ou sua manutenção em níveis historicamente muito baixos), do número de trabalhadores empregados e da renda real média, vê-se um mercado de trabalho dinâmico.

A mesma Pnad Contínua examinou o padrão de rendimentos da população e constatou que, em 2024, pelo terceiro ano consecutivo cresceu o rendimento domiciliar. É mais dinheiro para as famílias. O aumento veio acompanhado de outro dado animador. O Índice de Gini voltou a cair no ano passado (tinha ficado estável no ano anterior), para 0,506. É o menor nível desde o início da pesquisa, em 2012. O Índice (ou coeficiente) de Gini é o indicador universalmente utilizado para aferir a distribuição de renda de um território, um grupo ou um país. Varia de 0 a 1. Quanto mais próximo de 1, maior é a desigualdade na distribuição. Ou seja, o Brasil ficou menos desigual, ainda que de maneira muito discreta.

Mas esse mesmo país deixou o futuro escapar-lhe das mãos, pois não soube cuidar de outro aspecto essencial para o progresso e o bem-estar de sua sociedade. Tratou e continua a tratar mal o ensino da população. O dado mais impressionante que prova essa desídia social é o que mostra a persistência do analfabetismo. O Brasil tem 29% de analfabetos funcionais. É o mesmo índice de 2018. Não conseguiu melhorar nada. São mais de 60 milhões de pessoas que não conseguem ler palavras ou números ou, quando conseguem, têm dificuldades para entender o texto ou fazer contas com números maiores. O dado faz parte de uma pesquisa de uma instituição privada, com o apoio de empresas privadas. É um triste retrato de um país parado no tempo em matéria de educação, vital para o progresso.

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