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Para Hugo Motta e seus aliados da
extrema-direita, o problema não é a desigualdade brutal que marca nosso país,
mas sim qualquer tentativa de enfrentá-la?
É um cinismo institucionalizado afirmar que
no Brasil "somos todos iguais", ou que não há um conflito entre
classes — o famoso “nós contra eles”. Essa ideia é uma falácia perigosa,
repetida por aqueles que se beneficiam da estrutura desigual do país. Embora o
Brasil figure entre as 10 maiores economias do mundo, ocupa, ao lado do Congo,
o vergonhoso 14º lugar no ranking global de desigualdade social. Na ponta da
nossa pirâmide, o 1% mais rico ganha 32,5 vezes mais que a metade mais pobre da
população. Isso não é acaso, é projeto.
A recente queda de braço entre o governo e o Congresso em torno da alíquota do IOF escancarou esse cenário. O presidente da Câmara, Hugo Motta, acusou o governo de acionar o Supremo Tribunal Federal para “promover a volta da indesejável polarização social”. Ora, então para Motta e seus aliados da extrema-direita, o problema não é a desigualdade brutal que marca nosso país, mas sim qualquer tentativa de enfrentá-la?
Por que é tão difícil, então, cortar os
pequenos e médios privilégios do andar de cima? A resposta é clara: a maioria
dos nossos representantes não representa o povo. Representa o topo. São parte
de uma engrenagem que gira para manter intocados os privilégios do 1% mais
rico.
A pesquisa Genial/Quest, divulgada ontem
(2/7), escancara essa realidade. Ouviu 203 deputados federais — quase 40% da
Câmara — e revelou que:
70% deles são contra o fim da jornada 6x1, ou
seja, acham justo que o trabalhador tenha apenas um dia de descanso por semana.
46% são contra o aumento da alíquota do
imposto de renda para os super-ricos.
Mais da metade se opõe ao projeto que visa
acabar com os supersalários no funcionalismo, sobretudo na Justiça e nas Forças
Armadas.
E 54% apoiam o projeto de anistia alternativa
aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro.
Essas posições não são isoladas. No ano
passado, a Câmara manteve a desoneração da folha de pagamento de grandes
empresas e municípios. O Grupo Globo, por exemplo, deixou de pagar mais de R$
200 milhões ao INSS em 2024. Sozinha, a empresa concentrou mais de 35% de todas
as isenções fiscais concedidas ao setor de mídia no país.
O mais irônico é ver essa mesma pesquisa da
Genial/Quest amplamente divulgada pelos veículos da Globo — a maior beneficiada
pela isenção. Um ciclo fechado entre poder político, mídia corporativa e elite
econômica.
Trata-se de uma afronta direta a todos que
lutam por um país mais justo e igualitário. Uma ofensa à memória de figuras
como Ulysses Guimarães, que ao promulgar a Constituição de 1988 declarou ter
“ódio e nojo da ditadura”. Hoje, seus sucessores negociam anistias para
golpistas e defendem regalias para militares e grandes empresários.
Fica aqui um alerta à bancada da fé: não se
pode servir a dois senhores — a Deus e ao dinheiro. Ao legislarem
sistematicamente em favor dos interesses da elite, traem o voto do fiel e os
princípios cristãos que dizem defender.
A luta de classes continua mais viva do que
nunca. E no Brasil, desde a Proclamação da República, ela se expressa na
resistência dos de baixo contra os privilégios dos de cima. O que está em jogo
não é apenas uma disputa de narrativas, mas o futuro de um país que precisa
urgentemente decidir de que lado está: do capital ou do trabalho.
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