Folha de S. Paulo
Livro de acadêmico de Chicago esmiúça facetas
menos conhecidas da violência por armas de fogo nos EUA
Para a esquerda, o crime é resultado de disparidades econômicas. Para a
direita, é uma questão moral. Gente ruim, as famosas maçãs podres, é que se
mete em comportamentos antissociais.
Não é que as duas visões estejam totalmente erradas. Determinantes sociais estão na origem de parte da criminalidade e psicopatas são uma realidade. Mas ambas explicam pouco. E explicam particularmente pouco do tipo de crime que mais nos incomoda, que são os assassinatos.
Em "Unforgiving Places" (lugares
implacáveis), Jens Ludwig (Universidade de Chicago) se propõe a explicar o
fenômeno dos homicídios por armas de fogo nos EUA. Com base em dados e alguns
experimentos naturais, Ludwig mostra que assassinatos são um tipo particular de
crime que não responde muito a estratégias de dissuasão racional, como o
clássico aumento de penas.
É que apenas 20% dos homicídios nos EUA têm motivação econômica. São as
disputas entre quadrilhas e latrocínios. Os outros 80% são conflitos
interpessoais que vão escalando até que alguém puxe a arma e a dispare. É por
isso que há muito mais assassinatos no verão, quando há mais gente interagindo
nas ruas, do que no inverno (especialmente na gélida Chicago).
E o que podemos fazer para reduzir as mortes?
Um experimento natural de Chicago traz pistas interessantes. Great Grand
Crossing e South Shore são dois bairros demograficamente muito semelhantes, com
as mesmas leis e servidos pela mesma polícia, mas o primeiro ostenta taxas de
homicídio bem maiores que o segundo. O que explica a diferença?
Coisas triviais, como a disposição do
transporte urbano, a presença de comerciantes e agentes de segurança privada e
outros elementos que criem o efeito olhos da comunidade, isto é, que façam com
que pessoas que estão nas imediações esfriem as disputas interpessoais antes
que elas se tornem uma briga fatal. Em geral, são dez minutos entre o
desentendimento e o tiro.
Em muitos casos, as soluções têm mais a ver
com urbanismo que com aumento de penas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário